As duas faces de um crime



O vento cortante e o céu em coloração cinza escuro evidenciavam que aquela seria uma noite singular. Um clarão. Feitiços sendo conjurados por todos os lados. Uma cabana coberta em chamas. Vultos que corriam pelo gramado. Entre eles, um homem de cabelos pretos e nariz adunco que caminhava apressado para passar os portões de Hogwarts, seguido por um aluno que tentava lançar-lhe feitiços da autoria do próprio professor. Essas eram algumas das peculiaridades que se apresentavam naquele cenário. “Maldito Potter sempre tentando estragar tudo! Aliás, malditos sejam todos os Potter por sempre tentarem estragar tudo”, pensou Snape.


Ao sair dos limites de Hogwarts, Snape e Malfoy desaparataram e aparataram em frente a uma casa antiga, parcialmente destruída, em um pequeno vilarejo fantasma. Qualquer um pensaria que a casa estava abandonada há anos, mas Snape sabia que não. Aquela era a casa de seu mestre.


O Lorde das Trevas não estava tão forte quanto antes. A sua horda de Comensais era composta, em maioria, por jovens e incompetentes como Draco Malfoy, que agora seguia Snape para dentro da casa, muito quieto. Parecia estar consciente do que lhe esperava. O Lorde certamente estaria pronto para castigá-lo e mandá-lo a uma missão ainda mais suicida do que aquela: matar Dumbledore. Hmpf, só um doido inconseqüente mandaria um estudante de dezesseis anos matar o diretor de sua escola, ainda mais em se tratando de Albus Dumbledore.


Desde que descobrira a missão de Draco, sabia que o garoto não seria capaz de realizá-la, que não haveria nenhuma desculpa para que ele próprio não terminasse o serviço. Aquela era a prova que Voldemort precisava para ter certeza de que Snape estava do lado das trevas. E, então, apareceu Narcisa, desesperada, pois seu filhinho mimado jamais teria capacidade para aquilo. Ela não deixou escolhas a Snape, mostrou-lhe claramente qual era o caminho a ser tomado.


Estava decidido, não arriscaria sua vida por ninguém. Ninguém, muito menos por um velho que estava claramente biruta: usando anéis enfeitiçados, deixando que um filhote de comensal continuasse tentando matar-lhe bem debaixo de seu nariz torto e, ainda por cima, apostando todas as suas chances de ganhar aquela guerra em um pirralho sem talento. Aliás, parecia-lhe que pirralhos sem talento eram as grandes apostas dos bruxos insanos nesses tempos.


De um lado, Voldemort ,com seu filhote de comensal que só sabia gabar-se do que não fazia; do outro Dumbledore, com seu filhote de sangue-ruim "superstar" que pensava poder tudo só porque tinha uma rachadura na testa.

O mundo estava mesmo perdido e o que havia de fazer um homem que quisesse sobreviver em meio a esta loucura? Escolher um lado: o lado vencedor. Sem Dumbledore por perto, o lado certo era o das trevas. E, se esse lado, coincidentemente, era contrário a Potter, melhor. Era a união do útil ao agradável.


Depois de uma longa caminhada pelos corredores mal-iluminados da casa, chegaram a uma ampla sala, adornada por objetos envelhecidos e claramente úteis para bruxos das trevas, onde encontraram Rabicho:


- Snape...Malfoy - disse ele no tom mais digno que conseguiu com a sua voz estridente, tirando Snape de seus pensamentos. - O Lorde estava mesmo esperando por vocês - disse indicando a porta à direita da sala.


Snape atravessou a sala com uma postura de superioridade e olhar triunfante, certamente receberia toda a glória. Havia feito o serviço de Draco, havia matado o velho diretor. Era uma tarefa que poucos seriam capazes de realizar, mas não queria as honras de herói, pois esse era desejo dos fracos. Sempre estivera acima daquilo.


Draco, por sua vez, estava desconcertado. Seu andar era hesitante. Não havia cumprido a sua missão e o Lorde não o perdoaria por isso. Ele não era do tipo que aceitava falhas dos seus servos. Permitiu-se encarar a porta entreaberta por Snape por um segundo. Respirou fundo e entrou.


***
Prometo que no próximo capítulo o Harry aparece ;)

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