O segundo acidente



5. O Segundo Acidente



A cena era embaraçosa. Como podia imaginar aquilo? Sirius Black, seu namorado, o rapaz que dizia adorá-la há poucas horas atrás, quem lhe garantira ter seus momentos de vagabundagem extintos, a única pessoa que depositara certa confiança naquele lugar, estar naquela cena, posição, situação com uma garota. E pior, não era qualquer garota, e sim ela. A maldita Belatriz Black, a mesma que no dia anterior possuiu a ousadia de tentar humilhá-la perante a escola inteira. Por que? Por que? O que fizera de tão grave na vida para ter um pagamento como aquele?
Passaram-se incontáveis segundos para que algum dos três tomasse alguma atitude. Quem visse Fernanda assim diria que estaria levemente adoentada por causa de sua cor alva mais acentuada do que nunca. Sentiu-se fria e toda a força que dominava para se sustentar, extraviou-se. Prevendo que poderia desmaiar ali mesmo, apoiou-se no pequeno bar onde as bebidas ardentes descansavam e jogou a cabeça para frente, esforçando para a visão sumir de sua frente e, o que foi pior e mais trabalhoso, tentar esquecer. Porém, foi em vão.
O casal, entretanto, permanecia na mesmíssima fotografia, até que o grifinório novamente empurrou a prima para longe de si, deixando-a dessa vez colidir com o chão, amortecido pelo tapete persa. Ao se pôr de pé, Sirius discretamente puxou seu sobretudo para baixo, desamassando-o e não saiu dali. Apenas sussurrou ao franzir as sobrancelhas:
— Fefa...
A novata não mostrou indícios de ter ouvido o apelo, pois continuou a chorar
compulsivamente cabisbaixa.
— Fefa — insistiu — não é o que você está pensando. Eu não estava te traindo. Você
entendeu tudo errado. Eu não estava com a Belatriz. Não somos nada demais. Por favor. É de você quem gosto.
Mas nem o pedido entrecortado e suplicante de Black a fez reconsiderar. E pudera.
Fora flagrado numa ocasião sem volta, num contexto sem explicações, num sofá, aos beijos. O que queria? Ser perdoado de primeira? Não. Sabia que não seria fácil ganhar o perdão. O maroto olhou para a ex ainda imóvel e viu, além de ter os cabelos desgrenhados loucamente, ao mesmo tempo um sorriso vitorioso e sedutor. Maldita. Cachorra. Poderia jurar que tivera algo a ver com alguma armação.Como pôde confiar que uma “conversa” com ela seria...inocente? Voltou-se para a namorada, aproximando daquela figura trêmula e disse:
— Fefa, por favor vamos conversar.
— NÃO! – sem avisos a morena, cujos cabelos tão rebeldes quanto os de Belatriz foram
atirados para longe do rosto com violência, encarou aqueles olhos que a faziam sonhar nos últimos dias. — COMO PUDE SER TÃO TAPADA? FOI ESSA SUA MUDANÇA? É ESSA A IMAGEM QUE QUERIA QUE EU CONHECESSE, BLACK? É? POIS BEM, VOCÊ VENCEU!
— Não Fefa, não. Espere, temos muito o que esclarecer. Não vim aqui por que quis,
não. Essa maldita me trouxe! Fefa, tem que acreditar em mim!
Os olhos do maroto pareciam saltar das órbitas de tanta tensão. Agarrou os braços
da morena e sacudiu-a enquanto argumentava, contudo ela afastou-se dele com brusquidão. Não suportava ficar um segundo sequer presa àquele ser.
— Me deixe, Black! Me deixe! Você conseguiu: usufruiu de mim, se divertiu às minhas
custas. Mas acabou, entendeu? Acabou!
Nervosa e sem ter os pensamentos no lugar, deu meia volta e saiu por onde viera.
O animago, respirando com dificuldade, sacudiu freneticamente a cabeça como se quisesse afastar alguma coisa de suas madeixas e a seguiu.



— Fernanda, por favor! Pare, temos que conversar. — gritou Sirius ao ver uma cascata
de cabelos lisos e negros se afastando a metros em sua frente. Não se rendendo, pôs-se ao seu encalço. — Não vou parar até esclarecermos tudo.
Com sua agilidade alcançada graças às constantes aventuras com os marotos, não
foi difícil parear com a moça, puxá-la pelos cotovelos e contemplar seu rosto, agora mais inchado, vermelho e molhado do que nunca.
— Me dê uma chance de contar como tudo aconteceu.
Ela fungou e estremeceu, sem olhar para os seus olhos. Sabia que se houvesse um
jeito de fraquejar, seria fazê-lo; não agüentaria a pressão vinda dele. Fracamente, revelou:
— Você não podia ter feito isso comigo, Sirius! — suas lágrimas a banhavam por inteiro.
— Você não entendeu. Me deixe explicar! — pediu ele em desespero tentando agarrar seus pulsos ensandecidos.
— NÃO! Não entende? Enganei minha avó, minhas amigas e a mim mesma! Tudo foi
um erro! — declarou num ofengante gesto de repulsa. Ficando de costas, passou a se afastar, mas desta vez com lentidão.
De repente, ela estancou e o maroto sentiu seu estômago revirar-se. Dera-lhe
outra chance? Parara para ouvir-lhe? Poderiam conversar? Sentiu uma agradável sensação de alívio e sorriu satisfeito. Quando Fefa voltou-se para ele, seu choro havia sido segurado e era evidente que existia um enorme esforço seu para tal coisa.
— Me esqueci — sem mais palavras, a morena tirou um papel de dentro de um dos
bolsos das vestes e atirou-o aos pés do homem. Em seguida, girou os calcanhares e continuou o caminho de antes, apenas andando.
Não tinha o que fazer? O que? Nada! A menos...saber do que se tratava tal folha. Foi até ela e a pegou num rápido movimento do braço direito. Abriu-a, porque estava amassada e, aparentemente, molhada. Percorreu sem demorar os olhos. A identificação daquilo foi rápida: era a letra de Tiago, um papel de Tiago, a última carta de Tiago; a que fora escrita na noite anterior e lida ao pé da escada da Sala Comunal da Grifinória. Só ali, relendo-a com calma, concluiu como perigosa e injusta aquilo era. Tiago pegou pesado com ele, difamando-o. E Fefa leu aquilo! Leu tudo! Podia jurar que aquela umidade vinda do papel se originaram de lágrima. Então, seu rosto, quando o vira na Sala Precisa, já passou por sofrimentos além daquele naquele dia. Tinha a pior imagem que se pode ter de um homem! Como conseguiu ser tão burro e não ter se desfeito do bilhete, como sempre fez? Por que esquecera de queimá-lo? Muito azar! Ou seria alguma brincadeira? Seria alguma vingança? Ao ter esse pensamento, sentiu um choque interno. Vingança...poderia ser? Sim e até tinha uma sugestão da autora...


Correndo repetidamente, retornou à Sala Precisa desesperançoso, afinal decorreu muito tempo que a abandonara. Para sua surpresa ao entrar, viu sua prima lá, mas não mais jogada no chão. Dessa vez, acomodara-se num dos braços do sofá “tão usado” a pouco, com as pernas cruzadas, os cabelos devidamente penteados e, curiosamente, sua maquiagem mais forte que outrora. Belatriz tinha a arte da sedução consigo. Fitando de uma forma desafiadora, não falou nada. Ao contrário: seu olhar dizia tudo. Sirius não acreditava que a mulher demoraria muito por ali depois da confusão, mas teve a sutil impressão que era esperado a cada minuto depois de sua fuga atrás de Fefa. Sem perder mais tempo, aproximou-se junto dela com passos firmes e uma cara longe de ser amigável; mesmo assim, a expressão feminina não se transformou.
— Foi você não? Você que a trouxe para cá, não?
— Como poderia querido? Estava aqui o tempo todo. Com você. — e sorriu
descaradamente. Indo até a sonserina, tirou-a do sofá ao pegá-la pelo braço sem delicadeza e trouxe para si, sendo que seus rostos não se tocaram por centímetros.
— Não banque a espertinha comigo, Belatriz. Sei que está envolvida nisso tudo. Sei que
me trouxe aqui com essa decoração com alguma finalidade. Sei que pretendia desde o começo me beijar e mostrar a Fefa. O que não sei é como a Fefa me encontrou aqui, com a Sala nessa estrutura e..detalhe, ela nem conhece a Sala Precisa. Quem a guiou? Com quem vou combinou tudo?
— Ninguém, oras! O que? Acha que aquelazinha não tem capacidade suficiente para
descobrir tudo sem ajuda?
— NUNCA MAIS CHAME A FERNANDA ASSIM! — bradou. — SEI QUE TUDO
ISSO VEIO DESSA CABEÇA INESCRUPULOSA QUE VOCÊ TEM, BELATRIZ, E NÃO VOU DESCANSAR ATÉ SABER TUDO.
Raivosamente, jogou a puro sangue longe e, por sorte, caiu deitada no sofá de
couro. Mesmo com a explosão alheia, não tirava o sorriso irreverente de sua perfeita face.
— Boa sorte então, meu amor. — provocou alto ao mexer em seus cabelos manhosamente e ver Sirius se afastando mais alterado do que nunca. Em contrapartida, antes que sua figura sumisse por completo, a bruxa cochichou, apontando a varinha para suas costas — Souvenir bloccate.




Era verdade, era verdade, era verdade! Tudo era verdade! Se em algum minuto das últimas horas tivera uma dúvida sobre a verossímil carta, já dissipavam as inseguranças. Era verdade. Era a outro enquanto Belatriz fazia o papel de namorada oficial! Então...era ela mesmo. Era Fernanda Carvalho o estímulo que traria Sirius Black de volta à vida boemia; o velho “cachorrão conquistador”, segundo Tiago. Sim, sem dúvidas! E fizera. Sirius, se algum dia abandonara a rival, agora retomou tudo. Bem que o seboso lhe alertara. Sempre fizera papel de burra? Desde quando planejara tudo? Desde do início do compromisso? Desde do primeiro beijo, noite passada? Desde de que se viram? Ou muito antes disso?
Sua avó estava certa. Sempre estivera. Ela, Lílian, as meninas. Hogwarts! Por que viera? Para sofrer igual a uma menina mimada? Onde já se viu? Conhece um cara num dia, começa a namorá-lo no mesmo, já se sente apaixonada de uma hora para outra e, quando sabe de um deslize já sente como se fosse o fim do mundo. Imatura. Essa é a palavra e defeito de Fefa. Não estava pronta para os golpes da vida. Se entregara muito rápido e aí estavam as conseqüências: sofrimento. Como podia acabar com tudo? Como se distanciar daquilo e viver normal como há três dias atrás? “Tenho que aprender”passou a murmurar em seu caminho desnorteado para qualquer parte do Castelo “tenho que aprender; tenho que aprender”. Como se não fosse pouco, havia toda a confusão da manhã com Lílian para resolver.
Ninguém a encontraria. Nem que tivesse que se esconder, o faria. Nem que tivesse que receber detenção, o faria. Mas não queria ser encontrada. Continuou a andar por um dos corredores desertos.




A Sala Comunal da grifinória geralmente se encontraria vazia se fosse um dia comum na escola, porém, os dias decisivos de provas retinham os grande parte dos estudantes até a madrugada mergulhados nos livros e anotações a parte; isso sem falar dos que se entregaram ao sono em pleno estudo. Alguns quintanistas se preparavam para o último dia de NOM’s e terminaria com Feitiços. Em geral, não era uma disciplina preocupante, mas se não prestasse atenção nos nomes, havia a possibilidade de confundi-los. Praticamente, todos os setianistas dedicavam-se ao último NIEM, o de poções. Ambos anos não queriam perder nenhum minuto de conhecimento até o fim e não era os únicos nessa fase. Havia alguns alunos de outros anos do curso de bruxaria por ali estudando para suas provas finais; uma paranóia geral.
— Está muito tarde, Almofadinhas. Já são..humm...— e Tiago consultou o relógio de
pulso — duas da madrugada! O Aluado deve estar se divertindo sem a gente.
Num dos sofás, Sirius, Tiago e Pedro aguardavam algo em silêncio. Não
conversavam não apenas por respeito aos estudantes, mas também nenhum dos três possuía ânimo para trocar palavras.
— Já disse que pode ir Pontas. Logo eu alcanço vocês. É sério, não se preocupem
comigo. Leve a capa com vocês, me viro depois. — pediu Sirius sem muita convicção e sem encarar os amigos. Não tinha o mínimo humor para andar por Hogsmeade naquela noite com os amigos animagos e um lobisomem para dominar. — Tenho uma coisa para fazer.
— Bom, disse isso nas últimas cinco horas. Seja lá o que for, não pode deixar para
amanhã? — insistiu o apanhador.
— Não! Tenho que fazer hoje! Não importa até que horas eu fique, entendeu? — Sirius
aumentou um pouco o tom de sua voz, mal- humorado, ao olhar para o amigo, o que chamou um pouco da atenção de alguns alunos. — Vá vocês. Querem que eu repita quantas vezes?
— Nhá — resmungou — Sem você é sem graça e impossível praticamente — Não sabe
o que eu e Rabicho pastamos ontem sem você.
— Não posso fazer nada — o rapaz deu de ombros.
— Afinal de contas, o que querem tanto fazer aqui? — indagou Pedro, até então
esquecido na ponta do sofá.
— Sem querem tanto ir, vão e não me encham mais o saco! — reclamou Sirius, agora
com os braços cruzados e com o olhar de poucos amigos, fixo num dos quadros de cavaleiros da Idade Média.
— Pode ir Rabicho. Não vamos ficar bravos com você. — falou Tiago, mais paciente
que o amigo.
— Ah, não vou sem vocês.
E assim os três continuaram por mais alguns minutos. Dois ou três alunos fecharam
seus materiais e subiram para dormir quando Fernanda entrou pelo quadro da Mulher Gorda, o que fez todos se assustar, já que aquilo não era muito comum acontecer a mais de duas horas da manhã. De ímpeto, o conquistador da grifinória se levantou e foi até ela no meio da sala. Podia ver que seu rosto continuava inchado, porém menos vermelho que antes. Ao colocar-se no meio de seu caminho, Sirius sussurrou:
— Você está horrível! Não devia ter chorado tanto.
Ela apenas o fitou, sem expressão alguma. Poucos alunos pararam o que fazia para
assistir, mesmo porque um espetáculo envolvendo Sirius Black nunca era demais. Os dois marotos sentados não fizeram diferente.
— Me deixa. — Pediu a morena.
— Temos que conversar.
— Não sei sobre o que. — rebateu com o coração carregado. Desviando dele, tomou
rumo ao quarto, entretanto não foi o suficientemente rápida e, pela segunda vez naquele dia, foi pega pelo braço e forçada a girar seu corpo para trás.
— Você sabe muito bem. Já reparou que temos muito a esclarecer?
— Engana-se Black. Não tenho e não quero esclarecer nada. Me deixa.
— Não, não deixo! Foi a Belatriz quem planejou tudo. Ela armou para te levar na Sala Precisa.
— Agora vai culpar sua prima pelo o que você fez? — o interessante foi desde que
adentrou o cômodo não o olhou nos olhos. Sabia que, mesmo com o decorrer das horas do flagra, cederia.
— Escuta, ela planejou tudo. Fez você chegar lá, entende? Tinha tudo pronto. Mas quero
que me ajude Fefa. Vamos, me diga quem te levou.
— Eu...
— Você não conhecia o lugar, não minta. Vamos quem foi? — interrompeu-a — Eu
juro que a pessoa terá os próximos dias azarados.
Pela primeira vez nos últimos minutos, a moça o encarou diretamente. “Agüente firme, agüente firme” implorava internamente para si. Não podia jogar fora todo o seu desprezo. Por mais raiva que sentia se Snape, não diria nada, pois apesar de doloroso, ele abriu seus olhos; revelou-lhe toda a verdade sobre o tão cobiçado Sirius Black. E se acontecesse coisa mais grave entre os dois? E se tivessem tido algo mais envolvente e íntimo que simples beijos? Graças a Merlim que não acontecera.
— Pela vigésima vez, me esquece. — exigiu com firmeza e superioridade. Sem usar
muita força, tentou afastar seu braço de sua mão, contudo não houve êxito. Sem escolha, teve que apelar. O puro sangue, sem saber de onde e com enorme velocidade, distinguiu uma das mãos da namorada sacar uma varinha e investir contra ele em milésimos de segundos. Um raio vermelho atravessou o recinto, atingido a presa bem no peito. Tal ação provocou um lançamento de seu corpo a metros de distância atrás, tanto que colidiu com uma das paredes. Quem ainda não se distraíra com a discussão até agora, não tinha como não fazê-lo: todos os presentes olhavam atônitos o que acontecia. Como o arremesso do feitiço, um dos quadros se desprendeu da parede e caiu justamente em cima da cabeça de Almofadinhas, deixando-o zonzo.
Fernanda direcionou-se para o dormitório e deu alguns passos. Contudo, treinada bem em Beauxbatons, não esperava que tudo acabaria ali e assim. Sirius reagiria a qualquer momento rapidamente. Quase subindo as escadas, uma mão tocou-a com brutalidade, dolorindo a região da clavícula. Por impulso, virou-se e reclamou:
— Mandei me deixar, Black!
Mas não era Sirius; a pessoa em questão era linda também, mas não seu maroto.
Possuía cabelos rebeldes e pretos, olhos castanhos- esverdeados, óculos, feições nem um pouco pacíficas e uma varinha erguida com alvo definido.
— Um aviso, garota. Não me agradou em nada a sua atitude com a Lílian e o Aluado
esta manhã. Ela está desaparecida desde aquela pequena “brincadeirinha” sua. Apareceu para fazer a prova e sumiu. É bom que ela esteje bem, do contrário, tomarei uma atitude contra você.
— A Lily ... sumiu? — gaguejou. Céus, o que era aquilo? Nunca em sua vida quisera tal
coisa.
— Agora já sabe Carvalho. Já causou muitos problemas por aqui e agora o Sirius. Você
não devia ter saído da França — Fefa soluçou e recomeçou a chorar — Já sabe: Você não é mais bem-vinda!
Antes que pudesse reagir, Sirius veio em sua defesa.
— Pega leve, Pontas. Está falando com minha namorada. Abaixe isso.
— É melhor você pegar leve, Almofadinhas. Essa sua amiguinha mexeu com a Lily e
mexeu com a Lily, mexeu comigo. — Tiago não era mais o rapaz bem-humorado e piadista agora. Quem o conhecia, não diria que era ele. Existia fúria em seu olhar e a têmpora saltando; sentia o sangue correndo mais espesso nas veias. — Digo o mesmo da Fernanda. — na discussão, os olhos de Sirius brilharam de excitação. Entendera afinal, mas defenderia Fefa até o fim. — Ah, era isso que tinha que fazer? Esperá-la para brigar por causa de sua ruiva?
— Sim e parece que era o mesmo que você queria fazer, mas com outro assunto.
— Vamos indo? Está tarde. Amanhã vocês brigam. — interveio Pedro. Assistir à duelos
e richas sempre fora divertido, mas pelo horário e por prever que aquilo poderia sobrar para si mesmo, melhor tirar o corpo da reta, como diziam.
— Se tiver algum problema com ela, Pontas, tire a limpo comigo, ok?
— Claro, menos quando se trata da Lílian. Essa menina merece uma punição pelo o que
fez. Todos das escola estão falando dela e fazendo mal imagem, ah, sem falar do Remo.
— Você nem se preocupa com Remo, Tiago.
Com isso, houve a deixa: o jogador de quadribol levantou mais alto sua varinha e, com isso, Sirius tirou a sua de suas vestes para o caso de um duelo.
— Ah, parem com isso, vamos. Almofadinhas, Pontas, guardem isso. Temos o que fazer
ainda, lembram? Não podem por tudo a perder.
Surgiu o silêncio, tanto dos alunos, que há muito tempo não ousavam fazer
barulho e mal piscavam, como pelos envolvidos na crise. Aquilo era inédito e, com certeza, na manhã seguinte seria a fofoca do dia; perfeita para o fim do ano letivo. Tiago, desviou sua cara da cena, depositou seu objeto na roupa e virou-se, indo para o amigo.
— Sim vamos. Melhor esquecermos isso Almofadinhas. Vamos indo.
Ainda olhando para a novata, o rapaz assentiu, se desarmou e juntou-se aos
marotos, para logo saírem sem falar ou olhar para nenhum dos presentes. Mesmo assim, ainda havia uma platéia em choque ali e, sabendo que se tornaria o assunto da madrugada, decidiu ir para cama sem mais delongas.
Ao chegar lá, pensou encontrar todos seus ocupantes dormindo, mas lamentavelmente se enganara. A cama de Lily, de fato, estava vazia, uma outra cama, cuja noite passada não havia ninguém usando-a, possuía uma morena também de cabelos lisos dormindo pesadamente; concluiu então ser a tal Alice que recebera uma detenção por namorar num dos corredores. Sortuda. Se Sirius fosse como os outros namorados que levam o relacionamento a sério, ficaria com todo prazer cumprindo detenções.
As camas de Emily e Jessie não estavam vazias e sem sustentar seus corpos adormecidos. Ambas, as quais instalações eram bem próximas uma da outra, separadas por um abajur de meia luz, conversavam baixinho. Quando as duas colocaram seus olhos sobre Fefa, uma sensação desagradável apoderou-se da menina. Sabia perfeitamente que era odiada naquele lugar. Sozinha, sem amigos e sem previsão para voltar à França. As meninas disfarçaram, olhando uma para outra, mas sem falarem nada. Parecia que apenas o contato visual já bastava para se comunicarem. Após se trocar, Fernanda se deitou logo, embora pudesse sentir a maledicência às suas costas. O que mais poderiam estar falando de si ali? Sabia, claro que sim. Não apenas as meninas, mas o resto da escola. Fechando os olhos com força, sentiu duas lágrimas deixar suas fontes até que adormeceu a muito custo.




“ Devem estar no meio da prova” mentalizou. Tinha tempo. Andava apressada pela rua comercializada. Lojas abertas, vitrines exibindo atraente produtos, muitos os quais a bruxa nem sabia a utilidade e as casas de chá praticamente vazias. As mesmas pedras de sempre na trilha, os mesmo vendedores , cujo trabalho era pequeno naquela manhã, pois com os alunos da escola o movimento dali triplicava. Os negócios apenas se resumiam praticamente a compras sem importâncias ou urgência, o que a facilitaria em seu trânsito pelas ruas, fazendo retornar à escola antes que notassem sua ausência.
Em menos de cinco minutos que deixara a escola, chegou na casa de sua avó em Hogsmeade. O sumiço da noite anterior não tivera outro motivo senão para ir falar com sua parente, entretanto, até encontrar uma saída segura para o vilarejo gastara várias horas e quando encontrou o ponto pretendido, já passava da uma da madrugada. Se importunasse a mulher a uma hora daquelas levaria uma grande bronca: ela não era exatamente uma avó atenciosa e carinhosa com o próximo. Se descobrisse o que lhe fizeram nas últimas horas. Ainda não se conformava. Por que? Por que? Bem, aquilo não importava no momento. Veio apenas para visitar sua avó doente enquanto era dispensada dos NOM’s e não diria nada a ela. Nada.
Em frente da casa finalmente, sacou a varinha e encostou duas vezes a ponta de sua varinha na porta consecutivamente. De dentro do imóvel, pôde ouvir uma campainha aguda, mas não muito alta. “Até a campainha ela mudou”sorriu sacudindo a cabeça. Ora ou outra imaginava o que os elfos teriam passado nos últimos tempos com aquela esclerosada. Coitados. A porta se abriu e um monstrinho colocou sua cabeça oval e verde envelhecido para fora, espreitando já que naquela época não era muito seguro para sua espécie, mesmo com Dumbledore para protegê-los. Tremendo da cabeça aos pés, o bichinho avistou a moça e se apressou em reverenciar.
— Srta. Carvalho. Tão cedo. Veio falar com a senhora Endora?
— Sim Winnie, ela está? — questionou, perguntando-se o motivo de tanta enrolação. Se
viera até ali, não poderia haver outro motivo.
— É claro. Minha patroa nunca sae de casa. Siga-me menina.
Fernanda concordou e assim o fez. Ao percorrer os olhos para o lugar, percebeu
que aquela casa nunca mudaria: paredes, chão, janelas, quadros, móveis, tudo em excelente estado de conservação. Os tapetes tinha menos sujeira comparando-os aos seus sapatos, tinha certeza. Aquela mania de limpeza era quase uma doença para sua avó, porque, como todo puro-sangue valorizava o passado. A dupla subiu as escadas e Fefa riu saudosista ao ver o corrimão de madeira. As poucas vezes que vinha com seus falecidos pais para Hogsmeade, adorava fazer daquele objeto polido um escorregador. Bons tempo aqueles. Se pudesse voltar o tempo e ser criança para sempre...
Ao terminar o corredor com quadros de gerações de sua avó materna, entrou num
quarto, cuja porta estava aberta e segura nas mãos de Winnie. Não demorou nada para localizar sua avó no tocador, como sempre tentando retardar a idade com poções e feitiço. E não deu outra. Em frente do espelho havia uma quantidade generosa de potes e frascos, além de revistas de beleza bruxa.
— Madame... — iniciou o elfo, mas foi interrompido quando sua senhora se levantou,
arrastando as vestes verde-oliva para longe da banqueta para se locomover melhor.
— Pode sair Winnie. — ao por seus olhos azuis e contornados por forte sombra verde
em cima da neta fez uma breve careta, o que lhe deu uma aparência medonha: era uma mulher magra, alta, corpulenta e com cabelos até os ombros, encaracolados e ruivos.A garota nem estranhou sua reação ao vê-la: havia puxado muito da família de sua nora e pouco de seu filho.
Ao ver o criado sair e fechar a porta, a mulher deu um sorriso.
— Ora, já veio me visitar? Tão rápido?
— Como a senhora está? Melhorou? — perguntou Fefa preocupada.
— Na mesma — deu de ombros. Deu-lhe as costas e passou a andar pelo quarto sem
encarar a neta, só ouvindo-a. Com a indiferença, a morena soube mais do que nunca que o gênio de sua avó nunca mudaria, nem com a debilitação recente. Em controvérsia, nunca acho sua avó mais saudável e disposta.
— Parece estar muito melhor.
— Fico feliz que tenha vindo aqui Fernanda. Tenho que te falar. — cortou-a com se
não a escutasse. Ainda sem encará-la, ordenou.
— Você tomar-te-á rumo amanhã mesmo para a França.
Seu coração parou e sentiu toda pouca cor que tinha deixar-lhe. Foi uma
sensação horrível, como se fosse enlaçada por um cabo de aço com toda força na barriga e lhe tirasse indelicadamente seu ar dos pulmões. Deixar a Grã- Bretanha? Deixar Hogwarts? Deixar Sí....? Não! Não! Como assim? Tão rápido?
— Tão rápido? — pronunciou.
— Estive pensando desde o dia que te mandei para aquela escola ridícula de protetores
de sangues-ruins. Nunca devia ter te tirado de Beauxbatons. Uma verdadeira dama deve ter sua educação em Paris!
— Mas, a senhora estava doente.
Contra a luz, pôde ver a bruxa de perfil entortar os lábios e fazer um ruído com a
boca.
— Acho que foi um artifício para chamar atenção. Estou tão sozinha que adoro quando
me mimam. — fez uma pausa — Mas passei dos limites. Esse lugar não é para você — e apontou o Castelo pela janela. Devo ter te feito muito mal, fazendo-a se misturar com aquela ralé. Nunca devia ter te chamado para morar aqui. Bom, está decidido. Os alunos de Hogwarts voltar-se-ão para suas casas amanhã e você para a França. Está decidido, portanto arrume tudo.
Ainda não acreditando, a jovem sentou-se na beirada da cama de casal, forrada de
pele unicórnio, e, ao sentir seus olhos embargarem por água, levou suas mãos no rosto e tampou, passando a chorar sem pausa. Por que se sentia assim? Hogwarts fora a pior coisa nos últimos tempos em sua vida, então porque lamentava deixá-la? Pessoas que lhe fizeram tanto mal, nunca mais as veria, por que sofria? Ninguém mais lhe apontaria nos corredores para xingá-la ou desprezá-la como no último dia. E “aquele rapaz” estaria longe! Longe, com suas namoradas e amizades coloridas, seja lá o que mais! Nunca mais precisaria encarar Lílian ou Remo. Por que, por que sofria tanto, Merlim? Devia agradecer!
— Fernanda, não me venha com isso! Já nos separamos antes e... — mas parou sua fala,
arregalando os olhos quando prendeu-os no couro cabeludo; sua expressão foi se tornando cada vez mais incrédula ao contemplar furtivamente a neta. Até que num momento, se distanciou dela, como se possuísse uma doença contagiosa, até que suas costas trombaram com a parede oposta. Sua expressão agora era desespero e asco.
— Vo...você...você — gaguejou e tampou a boca com uma das mãos, fazendo o som
sair mais abafado. — Você..
A estudante, ainda chorando, ergueu a cabeça.
— Você se apaixonou por um daqueles?! Você...oras...como pôde?
— A senhora usou legilimência de novo? Contra mim?
— Usei! Sempre u...uso e não pense que preciso de uma varinha para isso. Tenho anos
de experiência...
— De artes das trevas! — completou.
— Eu..eu te disse para não te envolver com ninguém lá! Disse-te para não ser amiga, te
afastar. E o que me faz? Tudo o contrário! Menina burra!
— Não perm..
— CALE A BOCA! Agora mais do que nunca voltará para a França.
— Chega! Está bem! Confesso que te desobedeci e cometi um erro.
— E então? — seus olhos quase saltaram das órbitas de tanta raiva. Quem visse a cena
nunca acreditaria que a tal pomposa mulher estaria se descabelando num nível tão baixo a que está acostumada.
— Farei como quiser, vovó. Irei para Beauxbatons de onde nunca devia ter saído.
Endora sorriu, se aproximou da neta e a beijou na testa, um dos poucos lugares de seu rosto sem estar molhado.
— É o melhor, querida.
Ela sacudiu insistentemente a cabeça em tom de afirmação. Verdade; o único jeito
de se livrar de tudo aquilo era voltar para sua antiga vida, com antigos hábitos, com antigas amigas, antiga vida. Sabia, sempre soube. Devia ter imaginado que aquele homem tão lindo e sedutor devia ter aqueles costumes. Devia ter imaginado que Hogwarts estava sendo muito boa para ela e isso era muito bom para ser verdade. Devia ter imaginado que não daria certo nada!
— Adeus — despediu-se. Não havia a menor vontade de ser mais calorosa com a mãe
de seu pai; sempre fora fria consigo e aquele encontro apenas seria mais um para a lista. Sem resposta nem olhar de volta, saiu a passos largos da moradia nem dando atenção a Winnie, que lustrava zelosamente a lareira da sala. Desvairada, correu pelo povoado em direção ao seu lar, por hora.



— Ei Fefa, ei Fefa? — até quando? Até quando aquela voz carismática que tanto a
seduzia iria persegui-la? Até em Hogsmeade podia ouvi-la? Todos seus esforços em esquecê-la haviam sido em vão! Não podia simplesmente sair daquele universo e daqueles problemas que nada desaparecia? Sua voz, seu corpo em sua mente, seu rosto, seus lábios..
— Fefa? — mais uma vez a maldita voz. A adolescente até parou, sacudiu a cabeça em
tom negativo e prosseguiu.
— Fernanda, espere! — não tinha como imaginar aquilo. Era real e não fruto de seus
devaneios. Parando abruptamente, virou-se e encarou o tão perverso rapaz moreno vindo em seu encalço e três marotos mais atrás e paradas; praticamente no fim da rua principal do povoado. Um ou outro transeunte olhava incrédulo um aluno de Hogwarts por ali num dia daquele, sendo que não era visita. Levando seriamente a hipótese de ser mal-educada (o que não seria nada mais justo) e deixá-lo falando sozinho, tornou a girar os calcanhares e tinha o intuito de retomar seu caminho inicial, entretanto uma mão forte a segurou pelo cotovelo. Puxa, se ganhasse um galeão por cada vez que alguém fizesse isso nela, teria uma fortuna pessoal muito generosa. Fazendo cara de mal-humorada, chiou:
— Até quando isso, Black?
— Até você prestar atenção em mim — respondeu ofegando. Fefa pôde jurar ter visto
brilharem seus olhos de excitação, como se tivesse alguma esperança. “Bobagem!”— E já disse para não me chamar de Back!
— Não tem nada para eu te ouvir, Black — fingindo que não ouvira a exigência.
— Você não precisa ouvir; apenas ver.
Com um olhar curioso (sim, essa era seu ponto fraco. Tinha que mudar
imediatamente isso), o fitou. O que viria agora?
— Sei como resolver aquele mal- entendido. Olha, só precisamos de uma penseira. Já
combinei tudo com Remo, sabe, ele é monitor, para invadirmos a sala de Dumbledore ainda hoje. Tudo o que precisamos é disso...— e apontou sua varinha recém-tirada das roupas e postou sua ponta na linha dos olhos. Desencostando lentamente, esperava tirar um fio prateado. Mas não veio.
Ao ver que falhara, tentou novamente. Nada. E mais uma vez. Nada. E de novo. Um fracasso atrás do outro. Sabendo a intenção daquilo, Fernanda suspirou aborrecida.
— Eu... eu não sei o que aconteceu porque devia estar saindo! Essa droga deve estar
com problema — começou a movimentar sua varinha para cima e para baixo como se fosse tentasse abaixar a temperatura de um termômetro à moda trouxa.
— Que gracinha! Bom, se me der licença...
— Não vai a lugar nenhum! Espere... — interrompeu e, mudando a direção do pescoço
para a direção dos amigos, gritou — Pontas!
Ele olhou, mas não saiu do lugar; apenas cruzou os braços.
— Vem aqui, me ajude!
O apanhador, de longe, sacudiu a cabeça.
— Não acredito! — urrou o moreno, coçando o couro cabeludo e fazendo uma careta,
visivelmente confuso com o que fazer ao ser deixado na mão.
— Olha Sirius, pára. Esquece porque não há chances para nós. Mesmo porque é
impossível nesse momento. — e suspirou, tentando conter furiosamente uma lágrima.
— O que quer dizer? — Seu coração batia mais rápido e podia sentir seu sangue fluir
mais rapidamente.
— Que volto para Paris amanhã ao mesmo tempo que vocês voltam para casa.
Satisfeito?
Sirius piscou várias vezes. Era alguma brincadeira aquilo? Primeiro, aquela idiotice
que Bela lhe aprontou; segundo, a briga com os marotos; e agora isso? Qual era o problema do mundo? Será que tava pagando seus pecados por ser um menino rebelde e ter abandonado o lar? O que fizera? Não acreditando ainda ou pensando que não ouvira certo, questionou:
— O que? Não pode! Fique, vamos!
— O que ouviu! Nunca devia ter saído de lá. Passar bem.— e, sabendo que correria
risco em ser abordada pela milésima vez, decidiu voltar a Hogwarts como fizera antes do encontro. Sabia que ele poderia impedi-la e recomeçar a conversa, mas queria ser forte; mostrar que não tentava se livrar daquelas lembranças. E falhava drasticamente.
Indo de encontro aos amigos, como o maior perdedor da face da Terra, parou na
rodinha e encarou Tiago veementemente.
— Muito obrigado pela sua ajuda, Pontas!
— Já disse antes, Almofadinhas. Lamento muito por você, mas não quero nem papo
com a novata. Por causa dela a Lílian está sumida. Caso não tenha reparado, ela só aparece para fazer os NOM’s e somem sem vestígios. A Emily tentou segui-la e logo perdeu seu rastro rapidinho. Espero que o meu lírio não ande aos beijos por aí. — e olhou nitidamente enviesado Lupin, cujo rosto corou. Seu rosto havia mais cicatrizes e vermelhidões do que nunca por não ter recebido ajuda suficiente dos marotos aquele mês.
Tentando escapar do assunto, esclareceu ao amigo:
— Não acho que seja sua varinha que tenha pifado, Almofadinhas. Resolveu muito bem
a prova de feitiços a pouco e aposto que irá bem na teórica também.
— Então o que houve Aluado? Por que minha memória não saiu? — uma cara doce e
chantagiosa de cachorro abandonado.
— Talvez não tenha se concentrado direito. — interveio Rabicho.
— Não, não, me concentrei bem. Mas, não entendo. O que aconteceu?
Ninguém falou. Sirius, enrugando a testa, parou para pensar nos últimos tempos. Já tinha tirado inúmeras lembranças de seu mente; por que não dera certo no momento quando mais precisava? Seus feitiços, como Remo argumentou, estão ótimos. Provavelmente tiraria um “O” na matéria. Qual era o problema? Não havia sido atingido recentemente por ninguém...pelo menos não sabia.
Estreitou os olhos ao dar voltinhas sem sair do lugar, tentando achar uma explicação lógica para aquilo. E se fosse atingido por algum feitiço ou poção sem saber?
Poção não! Tudo o que bebia era da mesma fonte que os marotos e eles não estavam com aquele empecilho; segundo Rabicho, fora obrigado a convocar uma lembrança na prova prática de feitiços, segundo soubera. Então, a questão era ele. Haviam lhe enfeitiçado. Quem? Ranhoso? Podia ser. Tiveram um desentendimento não muito bom há três dias atrás e sua vontade de vingança certamente nunca esteve tão alta como devia estar naquele momento. E qual seria sua vantagem se bloqueasse sua mente? Oras, nenhuma! Seus poderes sim, entretanto sua mente não. E seus amigos? Bem, Lúcio nunca fora nenhum santinho e, vez ou outra, duelavam nos corredores. Mesmo assim, fazia meses que não acontecia. Havia os Lestrange; esses nunca trocaram uma palavra com grifinórios. Deveria ser muito humilhante para sangues-puros como eles. Yaxley, bom, esse era mais idiota que qualquer outro, nunca seria capaz. Lorena e Maryen, suas ex ficantes. Apesar das evidências, não acreditaria que ambas pudessem ter feito algo contra ele depois de tanto tempo de término.Belatriz e...Sirius parou. Ela. Sua única explicação e última hipótese. Fora Belatriz quem que lançara alguma maldição, com certeza!
Quando? Que horas? Em seus encontros raramente a via com a varinha empunhada (mesmo porque, os amassos não davam oportunidades) e nunca tiveram um duelo declarado. A não ser...ontem, na Sala Precisa. Não chegaram a fazê-lo, porém não tinham boas intenções. Ah, com certeza lhe mandara um feitiço ao ficar distraído. Vaca. Até nisso odiava-a: sua ardilosidade! Realmente, como uma aranha.
Ela devia ter dito algum feitiço quando não prestava atenção. Sim, dito sim, pois como eram quintanistas, não aprenderam a executar feitiços não verbais e, por mais que fosse, inteligente, a moça não tinha tal potencial no momento e nem treino suficiente caso tentasse sozinha; era necessário um qualificado instrutor.
Talvez, na Sala, devesse ter lançado a maldição ou no começo, não no meio da conversa; observava-a a todo instante; e no fim! Sim...fim. Podia jurar que, ao deixar o lugar, a teria ouvido murmurar algo. Verdade! Não estava louco; não ainda. Belatriz dissera algo, sim senhor. Fechou os olhos com força e quase os fez lagrimejar por isso.
Sur..Sur...Survina? Survina Bleca? Não. Survina, ah, Souven Bleccate? Não, quase. Souvenir ...sim..era isso. Souvenir bleccate? Nao, estava perto... Souvenir bloccate. Isso! Esse mesmo. Ouvira aquilo baixinho ao largar a prima em ira.
— Souvenir bloccate!
— Ahn? — resmungou Remo.
— Souvenir bloccate! Feitiço que Belatriz jogou em mim ontem à tarde. Alguém sabe se
estou certo? Se ele impede a saída de lembranças? Aluado?
O lobisomem, pensativo, tirou seus olhos do chão, há muito tempo estacionados.
— Nunca ouvi esse feitiço, cara. E o pior é que nem sei o contrafeitiço.
— Não vai ser fácil — alertou a voz de Tiago, pela primeira vez se interessando pela
conversa. Aparentemente sem mostrar ressentimentos, o que era muito comum quando ele e Sirius voltavam de um atrito: nenhum dos dois parecia lembrar do passado. — Souvenir bloccate é artes das trevas. Sei disso porque meus pais comentaram que o tal Lord Voldemort está usando muito nas vítimas. Tem certeza que sua prima...?
— Sim, sim — fez gestos rápidos com a mão, ainda andando em círculos — Belatriz
sempre foi fascinada por essas coisas. Tio Cygnus tem dúzias e dúzias de livros assim na biblioteca. Aposto que ela pegou de lá.
— Bom, então temos que te curar logo. E se falarmos com Madame Pomfrey?
— Está louco? — ralhou Tiago com Pedro —Duvido que ela entenda algo do assunto. E
também, somos marotos não? Acharemos a cura. Se conseguimos nos transformar em animagos, o resto é moleza.
— Vai acertar as contas com a Black, Almofadinhas? — perguntou Pettigrew,
mordendo o lábio inferior, numa crescente excitação em saber que poderia se divertir num possível duelo.
— Depois, tenho outras coisas para resolver até amanhã — e foi-se, em direção à saída
de Hogsmeade, tendo os demais garotos seguindo-o de perto.




Nove horas. Quando em sua vida fora dormir tão cedo como agora? Nunca, provavelmente e ainda mais numa noite de lua cheia como aquela; sorte a de Lupin por estar acabando o ciclo. E pela segunda vez em meses, não pôde acompanhar os amigos naquela empreitada. Primeiro, por esperar Fefa voltar depois de uma breve briga na porta da enfermaria praticamente; e agora ali, quando a senhorita já havia se retirado, segundo Alice. Parece que, com o desaparecimento de Lílian, Jessie e Emily pretendiam procurá-la por todos os cantos e, aproveitando não ter ninguém no dormitório, a iniciante preferiu subir e se ajeitar mais cedo dessa vez. E lá estava ele, Sirius Black, com a parte de baixo de pijama de cetim azul turquesa, deitado em sua cama de dorsel, confortável, apenas esperando a boa vontade do sono chegar e tirá-lo daquele mundo real, levando-o para sonhos que não lembrassem os acontecimentos das últimas trinta horas.

I asked her to stay, but she wouldn't listen
Eu pedi para ela ficar, mas ela não me ouviu

She left before I had the chance to say
Ela foi embora antes que eu tivesse a chance de dizer

The words that would mend the things that were broken
As palavras que consertariam as coisas que estavam quebradas

But now it's far too late, she's gone away
Mas agora é tarde demais, ela foi embora

Não muito longe dali, alguém, mais uma vez de rosto inchado e molhado, jogava seus cabelos para trás, tentando tira-lo de sua visão chorosa. última noite e depois, tudo de novo. Suas amigas a esperavam, professoras, Madame Maxime; pessoas que realmente lhe foram leais e verdadeiras, que nunca lhe enganaram e sempre passaram bons momentos juntas. Há quase uma semana, abandonara quase tudo isso..e pelo o que?

Every night you cry yourself to sleep
Toda noite você chora até dormir

Thinking: "Why does this happen to me?
Pensando "Por que isso acontece comigo?

"Why does every moment have to be so hard?"
"Por que todo momento tem que ser tão difícil?"

Hard to believe that
Difícil acreditar nisso

It's not over tonight
Não acabou esta noite

Just give me one more chance to make it right
Apenas me dê mais uma chance para me redimir

I may not make it through the night
Eu posso não sobreviver durante a noite

I won't go home without you
Eu não irei para casa sem você

A única que lhe mudara. A única que fizera levar a vida mais a sério e valer a pena ...e ia embora. Simplesmente a tiravam de perto de ti para nunca mais voltar a vê-la. Diversões noturnas em Hogsmeade não o satisfaziam mais, as garotas mais lindas da escola não dava nenhum sentimento ou prazer pessoal. Sempre rotina. Zuar professores, corredores, atormentar Pirraça ou Filch, pendurar Madame Nor-r-ra pela cauda nos archotes.

The taste of her breath, I'll never get over
O gosto do hálito dela, eu nunca superarei

The noises that she made kept me awake
Os barulhos que ela fazia me deixavam acordado

The weight of things that remained unspoken
O peso das coisas que não foram ditas

Built up so much it crushed us everyday
Aumentou tanto que nos esmagava todos os dias

Por que, de tantos alunos lindos e carismáticos, por que se encantara por um vadio? Poderia ser até mesmo alguém não tão charmoso e bonito como Remo, mas por que tinha que atrair aquilo como um imã atrai ferro? Fazia tempo que ninguém a amava, desde de a morte de seus pais. Sua avó nem se importava com a neta a menos que lhe traga orgulho e honra para a família. Nunca tivera um irmão ou irmã para confidenciar algo, consolar ou ser consolada. Amigas são muito legais e divertidas, apenas em assuntos fúteis. Em Paris, cada uma com seus problemas, sim. Independência acima de tudo. O vento leve e impiedoso da noite fazia as cortinas ondularem como uma dança sem som, num ritmo pausado.

Every night you cry yourself to sleep
Toda noite você chora até dormir

Thinking: "Why does this happen to me?
Pensando "Por que isso acontece comigo?

Why does every moment have to be so hard?"
Por que todo momento tem que ser tão difícil?"

Hard to believe that
Difícil acreditar nisso


It's not over tonight
Não acabou esta noite

Just give me one more chance to make it right
Apenas me dê mais uma chance para me redimir

I may not make it through the night
Eu posso não sobreviver durante a noite

I won't go home without you
Eu não irei para casa sem você

Dez horas.

It's not over tonight
Não acabou esta noite

Just give me one more chance to make it right
Apenas me dê mais uma chance para me redimir

I may not make it through the night
Eu posso não sobreviver durante a noite

I won't go home without you
Eu não irei para casa sem você




Todos os prazeres da vida lhe foram oferecidos, mesmo depois de tudo nos últimos dias. Dispensara. Por que? Nem ele sabia. Oh...sim....sabia. Estava apaixonada pela primeira vez em dezesseis anos. E não era aquele amor ou atração física ou interesseiro; dessa vez era algo puro. Sim, não bastava apenas seu sangue ser puro, possuía também pela primeira vez na vida um sentimento puro, casto, imaculado por uma garota. Não, garota, não, mulher. Fernanda devia estar para fazer aniversário e também completar dezesseis anos. Uma mulher experiente, madura, que o colocasse nos eixos e sentisse vontade de se importar com o futuro e não só com o presente. Mostrar que, além de seu próprio umbigo, havia um mundo não apenas de travessuras e brincadeiras.

Of all the things I felt but never really shown
De todas as coisas que eu senti, mas nunca demonstrei

Perhaps the worst is that I ever let you go
Talvez a pior seja que eu te deixei partir

I should not ever let you go, oh oh oh
Eu nunca deveria ter te deixado partir, oh oh oh


It's not over tonight
Não acabou esta noite

Just give me one more chance to make it right
Apenas me dê mais uma chance para me redimir

I may not make it through the night
Eu posso não sobreviver durante a noite

I won't go home without you
Eu não irei para casa sem você


E ela ia embora. Toda sua evolução como ser humano ia-se com ela. E, levando junto, a pessoa que mais amava. Totalmente loucura e incompatível! Mal se conheciam, pouco se falaram...mas combinavam tão bem! Sirius Black era o perfeito....perfeito conquistador. Contudo, se fosse perfeito, não deixaria se dominar como agora. Tudo muda e nunca podemos desprezar um duende velho, pois ele pode se voltar contra você na primeira oportunidade. Assim era o destino. Para homens como aquele, amor à primeira vista era para fracos e tolos e olhe o que lhe aconteceu! Tendo insônia por uma moça! Talvez castigo? Talvez azar? Talvez oportunidade?
Virou-se mais uma vez, surrou o travesseiro e olhou o relógio de cabeceira. Onze horas. Dali a mais doze horas, com a saída do Expresso de Hogwarts, sua vida tomaria outro rumo.

It's not over tonight
Não acabou esta noite

Just give me one more chance to make it right
Apenas me dê mais uma chance para me redimir

I may not make it through the night
Eu posso não sobreviver durante a noite

I won't go home without you
Eu não irei para casa sem você

And I won't go home without you
E eu não irei para casa sem você

And I won't go home without you
E eu não irei para casa sem você

And I won't go home without you
E eu não irei para casa sem você

+_+

N/A : Depois de sei lá quanto tempo...acabo de postar outro cap...huauahauhauahau, mas, pelo andar da fic...ele nao é o penultimo como pensei...acho q a fic se prolonga em mais um ou dois cap ( o que aconteceu com a fic d 5 caps que falei no inicio? huahauahauahau)

Sem comentários.

Bem...estou totalmente perdida com agradecimentos e tenho que atualizar TODAS minhas outras fics nos outros sites..Me perdoem de novo...

MUUUUUUUUITO OBRIGADA A TODOS PELO CARINHO E ESPERO QUE A FEFA TENHA GOSTADO DE MAIS ESSE CAP..
BJS A TODOS!!!
ESPERO VOLTAR LOGO.
GUDE POTTER

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