Ovos de Chocolate




Era a terceira vez em uma semana que Harry ia a Hogsmeade, especialmente na Dedosdemel. Estava parado em frente à vitrine da loja de doces, contemplando as várias formas dos Ovos de chocolate que tinha. A Páscoa finalmente havia chegado, junto com a paz e a tranqüilidade para os bruxos. Harry finalmente derrotara Voldemort e seus comensais, destruindo o último fragmento de Horcrux que existia. Foi uma batalha longa e cansativa, mas ele conseguira sobreviver junto com Rony, Hermione e Gina, que foram essências na guerra, e claro, em conseqüência, ficaram mais de um mês no St. Mungus.

Agora, com dezenove anos, fazia o curso dos Aurores junto com Rony, que sempre reclamava dos incansáveis treinamentos que o curso exigia, e se perguntava por que tinha que escolher uma profissão tão cansativa como aquela. Hermione alfinetava dizendo que agora ele tinha que agüentar, esta, conseguiu um espaço no Ministério para o F.A.L.E que a cada dia crescia. Os dois finalmente haviam se acertado depois de muitas brigas e conversas, antes da guerra, ficando juntos desde então.

Quanto a ele, não tinha conversado com Gina desde o fim da batalha. Não havia conseguido reunir toda aquela coragem que teve quando a tinha beijado no 6º ano. A criatura ainda habitava em seu peito, sempre ronronando triste. Toda vez que ele via Gina, o monstrinho parecia um cãozinho saltitante dentro de si.

Gina estava mais linda ainda, na opinião de Harry, que ficava pensando na ruiva em seu pequeno apartamento em Londres nas horas vagas... Corrigindo, o tempo todo. Ele achava tudo lindo nela, as sardas, que combinavam perfeitamente com sua pele alva e macia, os olhos cor de âmbar, que brilhavam como duas estrelas perdidas numa constelação, os cabelos, que concentravam o perfume floral que Harry tanto amava, o corpo, que havia assumido uma forma escultural, o sorriso inocente que ela lhe dava, o fazendo perder a cabeça. Resumindo, Gina era perfeita para seus olhos.

Você deve estar se perguntando o porquê dele estar indo tanto na Dedosdemel. A Resposta era óbvia, como dizia Hermione, ele apenas queria comprar um ovo de chocolate... Para Gina. Esta gostava muito de chocolate.

Sorriu. Lembrou no quinto ano, quando ela foi lhe entregar o ovo de chocolate que a Sra. Weasley havia lhe presenteado na Páscoa. Ele se encontrava na biblioteca, pensando em alguma forma de falar com Sirius na época. Ela o ajudou, enquanto dividiam o chocolate, esquecendo-se, para variar, das normas da escola, que era proibido comer qualquer tipo de alimento na biblioteca. Não era preciso adivinhar que Madame Pince tinha ficado uma fera, os expulsando a livradas da velha biblioteca de Hogwarts. Harry nunca esquecera daquele episódio, o fazendo rir toda vez em que pensava. Vivera momentos muito divertidos e tristes com Gina. Ela era a única que o fazia sorrir de verdade, ela era a única que podia afagar suas tristezas mais profundas, Gina era um verdadeiro anjo que Deus havia lhe concebido. E esse anjo estava escapando de suas mãos, e ele não fazia nada para impedir.

Queria agora, comprar o maior ovo de chocolate que tinha na loja para a ruiva. Quem sabe eles não o dividissem de novo e acabassem se acertando? Era isso que fazia Harry ir ali quase todos os dias. As crianças estavam pregadas no vidro da vitrine, os olhos arregalados para o enorme ovo de chocolate que se encontrava lá.

- Mamãe! Mamãe! – gritou um garotinho loiro para a mãe, que ele puxava com toda força da rua para a loja – Olha só esse ovo gigante! Eu quero! Compra pra mim, mamãe! Por favor!

- Mas é muito grande pra você comer sozinho querido... – falou a senhora, também loira.

- Não importa! Eu divido com você e o papai... Assim economizamos três ovos, e compramos apenas um! – a criança estava com os olhos brilhando, e a mãe, visivelmente, não queria comprar aquele ovo tão caro, que era 12 galeões.

- Er... Tudo bem, você venceu Brian. – falou a mulher por fim, sorrindo. Tirou da bolsa doze moedas de ouro e entregou ao menino. – Anda, vai comprar o seu ovo gigante!

- Te amo mãe! – gritou Brian, quando o sino da porta fora ouvido, o garoto entrara como um furacão dentro da loja.

- Ai... Essas crianças.. – disse a mulher sorrindo para Harry, que ainda hesitante sorriu. – Vai comprar um ovo de chocolate para a namorada?

Porque a mulher o perguntara aquilo? Não sabia. Ele disfarçou uma tosse, e gaguejou:

- Er... Ahn.. Eu não tenho namorada senhora. – era visível o embaraço do rapaz, que tinha corado.

- Ah que pena. Saiu uma nota no Profeta Diário, de que você estaria namorando uma moça chamada Gina Weasley, ela é realmente linda.

- É...ela é linda mesmo. – falou sorrindo sonhadoramente – mas é apenas mais um boato de Rita Sketer.

- Olha aqui mamãe! – Brian havia saído da loja com um ovo maior que seu corpo, a mãe se adiantou para ajudá-lo. – Agora podemos ir! Papai vai ficar alegre!!

- Tudo bem, vamos! – concordou a mãe, ela deu um aceno de despedida para Harry que retribuiu.

O rapaz voltou a encarar o grande ovo, pensando: Bem, não custava tentar, não era? E sem pestanejar, entrou na loja com o sininho da porta latejando em seus ouvidos. Olhou para os lados. Estava completamente lotada! Não era surpresa, ainda mais naquela época do ano. Mas estava sendo muito difícil para Harry se locomover em meio a tanta gente, principalmente crianças. Ele avançou com cautela até uma vendedora próxima, que tinha o emblema da Dedosdemel na camisa.

- Com licença, moça... – Harry tocou-lhe o ombro gentilmente. A mulher se virou, e logo um largo sorriso tomou conta de seus grandes lábios. Ela olhou para Harry como se ele fosse uma barra de chocolate pronta para ser devorada. O moreno imediatamente pensou que não tinha sido uma boa idéia ter chamado logo aquela mulher para atendê-lo.

- Deseja alguma coisa... Sr. Potter? – ela tentou parecer sensual o olhando de cima a baixo, mas para Harry aquilo estava longe de ser sensual.

- E-Eu acho que posso me virar sozinho... – o rapaz ia dando meia volta, mas a mulher o segurou pelo braço.

- Não se incomode! Afinal, esse é meu trabalho. – falou passando a mão nos cabelos. – O que deseja?

- Tudo bem... Er.. Eu quero aquele ovo de chocolate da vitrine, o maior. – disse por fim.

- Uau... é para alguém em especial? – ela piscou para Harry, que pensava que aquela mulher era uma cópia perfeita da Murta-que-geme, só que em carne e osso.

- Bem... É sim... Muito especial.

Repentinamente ela murchou desapontada. Harry suspirou aliviado quando ela se dirigiu à porta que tinha acesso a vitrine e lhe trouxe o ovo. Empurrou o grande embrulho em suas mãos com certa violência, e ele teve que se equilibrar para o ovo de chocolate não lhe escapar das mãos.

- Doze galeões, pague ali no caixa. – disse friamente. Harry deu de ombros, dando graças a Merlim aquela frieza, melhor do que ser novamente flertado.

- Ai meu Deus... – murmurou os ombros caindo. A fila do caixa estava enorme, diga-se de passagem. – O que eu não faço por você Gi...

[...]

Eram três horas da tarde. Ouviu-se novamente o sininho da porta da loja soar, e Harry sair dela com um enorme pacote nas mãos. Ele contou. Passara exatamente uma hora e dez minutos naquela fila que ele julgava de idiota.

- Uma hora e dez minutos! UMA hora e DEZ míseros minutos! – gritou para si mesmo. As pessoas o olharam com interrogação, balançando a cabeça negativamente – É... Vai passar uma hora em pé e depois me diz quem é louco, idiota! – gritou para um homem que o chamara de louco negando com a cabeça.

Escorou-se na parede, arfando. Estava muito cansado, uma hora e dez minutos em pé não era nada fácil. Seus tendões do joelho doíam, dobrou estes. TRACK!

- Ai...! – exclamou pondo a mão livre protetoramente sobre o joelho que havia estralado – Dói... Dói... preciso sentar...

Precisava urgentemente de uma bebida também. Pensou no Três Vassouras. Era para lá que iria agora. Deu um passo para atravessar a rua quando um forte trovão ecoou por todo o povoado. Harry sabia que se ele não tinha morrido agora, não morreria nunca, porque o susto que ele teve não foi pequeno. Pobre do Ovo de Chocolate, será que sobreviveria a tantas chacoalhadas que o moreno dava no pacote?

Ótimo... Para completar meu dia.. Pensou.

Olhou para o céu. Nuvens negras se formavam, outro trovão soou. Uma corrente de ar fria arrepiou seus cabelos, ele se encolheu tentando se aquecer. Decidiu que se ficasse mais tempo ali, com certeza o temporal iria lhe pegar. A primavera deste ano estava sendo um pouco chuvosa.

Caminhou até chagar a porta do bar.

Estava tocando na maçaneta da porta do pub, quando ouviu uma voz fina lhe cantar os ouvidos.

- POÇÃO CAPILAR REDUTORA DE VOLUME! – Harry girou a cabeça, mas não tinha visto ninguém – É ISSO MESMO! POÇÃO CAPILAR REDUTORA DE VOLUME! EFEITO IMEDIATO! SE VOCÊ QUER UM CABELO LISO E SEM FIOS REBELDES, EIS A SOLUÇÃO! É PEGAR OU LARGAR! SÓ EXISTEM 3 NO ESTOQUE! VAMOS PESSOAL!

Foi aí que Harry viu que se tratava de um duende. Tinha três frascos de poção nas mãos. Instantaneamente, a visão de um Harry com os cabelos negros lisos e incrivelmente alinhados, povoou a sua mente. A imagem de Gina surpresa com seus cabelos, os tocando pela nuca...

- Ei! – gritou para o duende que havia acabado de vender duas poções. – pode me vender essa última!?

- Claro... Apenas 20 galeões! – disse o pequeno satisfeito.

- Apenas 20 galeões?!?! – ironizou Harry. – Você ‘tá brincando?

- É pegar ou largar panaca! – Harry arregalou os olhos, pronto para puxar a varinha de seu bolso traseiro e azarar aquele duende trapaceiro.

- O que disse?!

- Olha aqui! Vai querer ou não?! Tem outras pessoas interessadas, ok!?

O moreno pensou um instante. Gina poderia gostar daquela mudança nele. E seria um ponto a seu favor. Os duendes são ótimos em poções, e também em construir artefatos valiosos, não me admira que a tia da Sra. Weasley tenha uma tiara feita por eles, estavam em moda naquela época... A voz de Hermione também passou pela cabeça de Harry. A garota lhe falara aquilo no dia do casamento de Gui e Fleur, quando esta usava uma linda tiara feita pelos duendes.

- Tudo bem. – se convenceu tirando um saquinho de moedas douradas do bolso da jeans. O duende esfregou as mãozinhas, ansioso. Entregou as vinte moedas para a criatura, que lhe deu o frasco de poção, e saiu no meio do amontoado de pessoas que caminhavam na rua, preparando seus guarda-chuvas para os chuviscos que já caiam.

O moreno olhou para a poção e sorriu de lado.

Empurrou a porta do pub e entrou.

Não estava tão lotado para o alivio de Harry. Sentou-se numa mesa mais afastada de todos, e acenou para madame Rosmerta, que imediatamente veio atendê-lo.

- Olá Harry! – cumprimentou – Faz tempo que não o vejo!

- É..o curso de Aurores vem exigindo muito de mim, não tenho tempo para sair. – explicou simpaticamente.

- Ah, é claro! Esses cursos exigem muito mesmo... Principalmente de Aurores – Harry balançou a cabeça concordando, a mulher sorriu – Bom, o que deseja?

- Uma cerveja amanteigada.

- Num minuto. – ela disse saindo em seguida.

Harry aguardou, tamborilando os dedos na mesa. Olhou de esguelha para a poção e pegou-a, analisando. No verso do frasco tinha escrito:

Modo de uso:

Aplique a poção nos cabelos secos, e espere agir por 1 minuto. E Pronto! Cabelos lisos, sedosos, e principalmente sem nem um fio em pé!

Uma ruga se formou na sua testa quando a franziu.

- Está aqui, Harry. – Madame Rosmerta depositou a cerveja em cima da mesa em frente ao rapaz, que lhe pagou de imediato.

- Obrigado Madame Rosmerta. – a dona do bar saiu, o deixando com seus devaneios.

Tomou um gole da cerveja.

Se Gina gostasse mesmo de seus novos cabelos... E até que ele queria um cabelo menos desalinhado...

Tomou outro gole.

Ouviu um click de uma porta se abrindo, olhou para sua esquerda e viu um homem com uma expressão de alívio sair do banheiro. Observou o frasco de poção por alguns segundos, olhou para o banheiro, mordeu os lábios...

[...]

Certo. Ele podia fazer aquilo em seu próprio banheiro no seu próprio apartamento. Mas a ansiedade foi maior do que isso.

Estava parado, em frente a pia, no banheiro do Três Vassouras, com o vidro da poção aberta em suas mãos.

Era um banheiro super-apertado. Continha apenas um vaso sanitário, a pia, e um pequeno espelho, sem contar que ainda continha o odor horrível que o homem que Harry viu sair, deixara. Fora isso, estava tudo bem.

- Seja o que Merlim quiser... – sussurrou Harry antes de colocar uma considerável dose da poção na palma da mão, e aplicar nos cabelos secos, como dizia no rótulo.

Harry colocou todo o líquido no cabelo, os deixando levemente molhados. Observou seu reflexo no pequeno espelho, e esperou.

- Está dando certo! – falou rindo, seus cabelos estavam lisos, sem nenhum fio em pé. Seu sorriso, no entanto, não durou muito. – mas... mas... O QUE É ISSO?!!? – berrou.

Não podia acreditar.. Não está acontecendo... Por favor..

- EU MATO AQUELE DUENDE DESGRAÇADO! – berrou outra vez.

Toc-toc-toc.

Batidas seguidas interromperam Harry.

- Harry?! – era Madame Rosmerta – Está tudo bem?!

- Er...sim, senhora... não se preocupe comigo...

- Mas por que esse grito?

- Foi... Er.. Foi só um... Um rato! Mas eu já estuporei! Não se incomode... Está tudo bem agora.

- Aah.. Então tudo bem. Mas você não disse duende?

- Duende?? – perguntou fingindo. – Não... acho que a senhora confundiu com “’tô doente”... – fingiu uma tosse – Estou doente da garganta.

- Ah...

Ouviu os passos da mulher se afastando.

Suspirou. Pegou umas mexas de seu cabelo, olhando seu reflexo no espelho, horrorizado. Estava perdido. Seu cabelo estava completamente... Verde!

O que faria agora? Teria que aparatar, não podia simplesmente sair normalmente do pub, não com esse cabelo verde. Também não podia aparatar em casa, não sabia como remover aquela tinta.

Só tinha uma pessoa que podia fazer isso. Hermione, é claro! Gravou em sua cabeça a sala do apartamento da amiga, o ovo de chocolate bem seguro em sua mão, e logo depois aparatou.

[...]

Abriu os olhos e reconheceu imediatamente a sala de Hermione. Estava no hall de entrada. Depois que se formou em Hogwarts, a amiga comprara também um pequeno apartamento, porém bastante confortável. Não queria se manter afastada de todos os amigos, principalmente de Ron, muito menos de seus pais, que a visitavam constantemente.

Deu um passo à frente, e escutou ruídos. Harry apurou os ouvidos...

O que era aquilo? Juras de amor?

-...eu te amo...

-...também meu ruivo...

Uma expressão de entendimento se espalhou por seu rosto enquanto ele virava os olhos. Já sabia do que se tratava. Atravessou o hall e se posicionou em frente ao sofá, mas na mesma hora que viu se virou.

- Ah, pelo amor de Deus! Será que vocês podem fazer o favor de ficarem comportados?! Meu dia não foi muito bom, querem estragar ele completamente com uma cena dessas?

Ron e Hermione estavam no maior amasso no sofá, trocando beijos quentes e apaixonados. Assim que viram Harry pularam do sofá, cada um arrumando as roupas e os respectivos cabelos. Principalmente Hermione, com sua juba de cabelos castanhos.

- Harry!? – perguntou Rony com as orelhas vermelhas.

- Não Rony, é o Dobby.

- O que faz aqui...? Que cabelo é esse? – acrescentou com ar de riso. Foi aí que Hermione também levantou a cabeça para o amigo tirando sua atenção do suéter que arrumava. O casal começou a gargalhar.

- hahahaha... Pensei que só existisse carnaval no Brasil...hahahaha! – falou Ron deitando-se no sofá com a mão na barriga de tanto rir.

- Pode rir Rony... Quando chegar sua hora eu não vou aliviar.

- Harry... Hahahaha... O que aconteceu? – perguntou Hermione tentando controlar o riso.

- Será que vocês podem se controlar para que eu possa contar o que houve?

As expressões de Rony e Hermione tornaram-se sérias.

- Conte. – pediu Rony, ficando vermelho, com muito esforço, ele prendia o riso.

Harry o olhou desconfiado, mas prosseguiu.

- Eu estava em Hogsmeade...

- Você estava em Hogsmeade... – disse Rony, levando em seguida uma almofada na cabeça de Hermione.

- Ron! Deixe o Harry falar!

- Obrigado por me defender Mione. – agradeceu irônico. – Bem, eu estava em Hogsmeade...

- Isso você já disse...

- Ron... – Harry estava com os olhos fechados, crispando os lábios. – Você é meu melhor amigo... Mas se não me deixar falar... Vou dar um soco bem no meio desse seu narigão! – vendo que Ron não tinha contestado, ele continuou. – Eu estava na Dedosdemel...

[...]

-...E foi isso que aconteceu. – terminou cabisbaixo.

- Cara, eu não acredito que você comprou uma poção de um duende... que te chamou de... Panaca?! – Rony disse erguendo a sobrancelha.

- Foi... – Harry respondeu envergonhado. –Eu lembrei quando a Mione disse que os duendes são ótimos em poções.. – Completou imitando Hermione numa voz fina.

- E artefatos valiosos também. – a morena interviu com sua postura acadêmica. – Mas está na cara que você foi enganado, Harry.

- E tudo isso por causa da minha irmã... Até que combinou com seus olhos!

Harry abaixou a cabeça, olhando os tênis, não ligando para a piadinha de Rony. Tudo por causa de Gina.

- É... Tudo por causa dela... Eu... Pensei que ela iria gostar... e... e facilitaria as coisas... entende...? Mas, não deu certo... eu pareço um gafanhoto verde agora!

- Não fique assim Harry... – Hermione consolou com solidariedade - Vou remover essa tinta do seu cabelo num segund...

Dim Dom.

A campainha tocou. Ron se levantou apreensivo.

Harry olhou para a porta hesitante quando Hermione se levantou para abri-la.

- NÃO...! abre essa porta. – pediu Harry levantando-se da poltrona. – Quem é? – pronunciou mexendo apenas os lábios, sem emitir nenhum som.

Hermione olhou no pequeno buraco da porta e arregalou os olhos.

- É a Gina!! – disse alto, Harry mexeu as mãos freneticamente para que ela falasse mais baixo.

- Sou eu mesmo! – falou Gina com a voz abafada devido à porta fechada. – Dá para abrir a porta?

- Não.abre.essa.porta. – disse Harry fazendo todos os gestos de negação possíveis.

- Harry.sai.daqui! – Hermione retrucou.

- Para.onde.eu.vou!

A garota passou os olhos pelo apartamento.

- Mioneeeeee! – Gina falou outra vez.

- Vai.pro.banheiro!

Sem pensar duas vezes Harry correu para o corredor, onde ficava o banheiro, fechando a porta com cuidado para não fazer ruído. Tudo o que menos queria era que Gina o visse com o cabelo verde.

Hermione respirou fundo, sorriu convincente e abriu a porta.

- Gina! Você por aqui!

- Ainda bem... pensei que iria me deixar aqui para sempre! – alfinetou a ruiva empurrando a amiga de leve para adentrar no apartamento. Seus olhos pousaram em um Ron desconfiado, que sentava no sofá, levemente desarrumado. Gina abriu um sorriso maroto – Por isso demorou não é? Meu irmão querido te atrasou. Rony, quem te viu quem te vê, hein?

- Sem gracinhas Gina. – o ruivo adiantou.

- Okay... – a ruiva levantou as mãos na defensiva.

- Algum problema, Gi? – Hermione perguntou, dando olhadas de vez em quando para a porta do banheiro.

- Não... nossa, não posso visitar minha melhor amiga?

- Claro que sim... é que, bem... – gaguejou a morena, esfregando as mãos nervosa.

- Eu não só vim te visitar. – começou Gina – É que Fred e Jorge, para variar, soltaram uma bomba de bosta na cozinha lá de casa. Mamãe ficou uma fera...

- Mas porque eles fizeram isso? – perguntou Ron, tentado prolongar o assunto.

- Eles alegaram que tinha um exercito de gnomos roubando comida do armário. – disse Gina displicentemente enquanto analisava as unhas. – O cheiro ficou insuportável lá em casa... por isso que eu vim aqui... para dar tempo.

- Anh... eles não tem jeito mesmo... em plenos vinte e um anos... – Hermione argumentou ainda esfregando as mãos e ainda dando olhares furtivos para o banheiro.

- Se um dia eles criarem juízo, tenha certeza de que uma coisa realmente grave aconteceu... – disse Gina.

- Com certeza... – concordou Ron num sorriso nervoso.

Ficaram em silêncio por um tempo, menos Gina, que cantarolava baixinho, batendo os pés no chão.

- Er... Gina, você não tem nada melhor para fazer não? – perguntou o irmão.

- Vocês estão estranhos... – disse Gina franzindo a testa – Estou atrapalhando alguma coisa?

- Que nada Gina... – Hermione disse arregalando os olhos para Ron, o advertindo – Não liga para o Ronald.


[...]

-Vocês estão estranhos... estou atrapalhando alguma coisa?

- Que nada Gina... não liga para o Ronald.


Foram as últimas palavras que Harry havia escutado antes que todos ficassem silenciosos novamente.

Por quanto tempo teria que ficar preso naquele banheiro? Certo que era mais espaçoso que o do Três Vassouras, mas ele estava muito inquieto. Principalmente sem paciência.

Tudo o que ele queria era impressionar Gina, por isso comprou uma poção “Redutora Capilar”, que por sua vez, deixou seu cabelo verde. Sem sugestões, aparatou no apartamento de sua melhor amiga, que estava se agarrando no sofá com seu melhor amigo, que começou a zoar com a sua cara.

Tudo para impressionar uma garota. E quando Hermione estava prestes a desfazer o feitiço, “essa” garota toca a campainha, e ele tem que se esconder no banheiro, para ela não vê-lo com o cabelo verde. Tudo isso... por ela. Sem contar nas uma hora e dez minutos que passara numa fila para comprar um ovo de chocolate... Para ela.

- É Harry... Hoje, definitivamente, não é seu dia de sorte... – murmurou desolado, sentando-se em cima da tampa do vaso, batendo os pés.

[...]

- Bem Gina, o F.A.L.E está progredindo – contou Hermione com entusiasmo – Todos gostaram muito da idéia, e eu não era a única que não gostava do tratamento que davam aos elfos domésticos. Muitas pessoas estão comigo agora.

- Que bom pra você! – disse Gina sinceramente – Os testes para Auror estão me tirando do sério. Parece que estou estudando para os N.I.E.M.s em Hogwarts!

- Se eu fosse você, não faria os testes... – Ron opinou.

- Só porque você não agüenta o tranco Ron, não quer dizer que eu também não agüente...

- Eu agüento o tranco SIM Gininha! – a ruiva revirou os olhos – Mas tenho que admitir que é muito cansativo... quando você começar os treinos, não reclame.

- Não vou reclamar, Roniquinho... bem, Hermione... eu acho que já vou.

Foi visível para Gina quando os dois suspiraram aliviados. Esta enrugou a testa, mas não ligou. Pensava que os dois queriam ficar sozinhos.

- Mas antes... será que posso ir ao banheiro?

- Clar... – Hermione quase disse sem pensar.

- NÃO! – Ron se apressou a dizer.

[...]

NÃO! pensou Harry em desespero.

Por que? Por que? Por que tudo tinha que acontecer com ele? Por que ele é sempre o azarado? Por que o destino queria levar Gina a ver seu cabelo verde? Por que ele não podia se safar pelo menos essa vez?

Tenho que fazer alguma coisa.. pensou andando de lá para cá.

[...]

- Por que não Ron? – perguntou Gina olhando para o irmão com expressão de desentendimento.

- Er.. Gina – apressou Hermione, tentando conter Gina que avançava em direção ao banheiro. – O banheiro está uma bagunça... Er... o Bichento! O Bichento revirou tudo! Eu tive que deixar ele de castigo, sem comer a comida preferida dele... ainda não fiz um feitiço para limpar... e.. não quero que veja tudo desarrumado...

- Não tem problema Mione. – disse Gina sorrindo – Quantas vezes eu não vi seu apartamento desarrumado?

Hermione sorriu amarelo.

- Gina.. é melhor você ir pra casa.. tenho certeza de que não vai gostar de ver o banheiro desse jeito... é nojento e... – Ron tentou, mas a ruiva já tinha aberto a porta do banheiro, ela deu uma olhada e se voltou para os outros dois.

- Vocês estão malucos? – perguntou sorrindo divertida – O banheiro está impecável, Hermione.

Hermione olhou dentro, nenhum sinal de Harry. Gina entrou e fechou a porta, ainda murmurando “Vocês estão muito estranhos”.

Hermione olhou para Ron, que também não entendia o que havia acontecido. A garota escutou um zumbido vindo na direção do fundo do corredor, e girou a cabeça para verificar.

- Hermione!

Foi aí que viu Harry com a cabeça para fora do quarto dela a chamando. Ron também viu, e os dois correram onde estava o amigo.

- Como veio parar aqui? – Hermione perguntou eufórica.

- Aparatei, se não tivesse o feito Gina me veria. – explicou apressado. – Anda logo Hermione, remove essa tinta!

- Está bem. – a morena, afoita, puxou a varinha do cós da calça, e murmurou um feitiço apontando para os cabelos de Harry.

Lentamente os cabelos de Harry voltaram a ficar pretos e desalinhados. Ele se olhou no espelho do quarto desanimado. Queria que tudo fosse perfeito. Sua idéia não dera muito certo.

- É melhor do que verde, meu amigo. – argumentou o ruivo dando umas palmadinhas nas costas de Harry.

- É melhor eu ir andando. – disse enquanto conjurava o ovo de chocolate, que estava na sala, e em seguida aparatava num estalo.

[...]

Passara exatamente uma hora deitado na cama de seu quarto revivendo tudo que acontecera naquele dia, ou o que poderia ainda vir a acontecer. Ele não queria esperar, como já pensara antes, Gina era popular demais para o seu próprio bem, doce demais, linda demais. Como ficara triste quando ela começou a namorar com um rapaz que ela conhecera no Ministério. Um rapaz que Harry tinha que suportar ver todos os dias, afinal, ele era seu colega no curso de Aurores. Foi a época mais difícil que ele passou, em que não prestava atenção em nada, em que era estuporado a cada minuto no treino, coisa que raramente acontecia. Sentira-se em plenos dezesseis anos, no sexto ano em Hogwarts, quando Gina namorava Dino, quando ele era pego a olhando cada vez mais, quando caiu em seus encantos e jamais se salvaria. Porque não queria se salvar, pois a amava intensamente. Nunca imaginava que iria sentir isso por alguém, um único alguém. Um sentimento tão forte e inimaginável se tornou presente em sua vida, seu amor por Gina seria eterno, mesmo que esta não correspondesse.

Sentou-se de súbito na cama. E se ela não correspondesse? Como ele viveria? Teria que vê-la sair com outros caras e no máximo ser convidado para o casamento?

- Não... – murmurou numa voz rouca - De hoje não passa! – falou alto dirigindo-se ao banheiro. Tomaria um banho, pegaria seu ovo de chocolate e iria à Toca. A criatura em seu peito ronronou feliz, afinal, já não era sem tempo.

Edwiges soltou um pio em apoio ao dono, que se sentiu mais confiável.

[...]

Já era noite e Gina chegou em seu quarto as gargalhadas. Jogou a bolsa na cama e sentou-se na poltrona pesadamente. Encostou a cabeça nesta fitando o teto, nos olhos um brilho já conhecido, um frio percorrendo a espinha. Respirou fundo num sorriso bobo. Lembranças agradáveis lhe vieram à mente, lembranças vividas quando adolescente, mas já ciente de seus sentimentos.

Mas ela nunca desistira... não de verdade.

Levantou-se e caminhou em direção a janela de seu quarto. Afastou a cortina rosa com a estampa de bonequinhas, que sua mãe fazia questão de preservar, e se pôs a observar o céu. Céu este que continuava nublado, Gina fez uma careta engraçada e de soslaio olhou para os jardins da Toca. Voltou seu olhar para os jardins e quando o viu, lentamente um sorriso surpreso, porém feliz, se formou em seus finos lábios. Curvou-se no parapeito para ver melhor, sem duvidas, era Harry.

[...]

- Oi Gina... Er.. vim aqui te entregar esse ovo de chocolate, e dizer que ainda não te esqueci... não, não! Droga! – disse Harry meneando a cabeça, enquanto ensaiava seu “discurso”, no jardim da Toca. – O que ela vai pensar?! Que você é um idiota e...

O rapaz estava a alguns metros da porta de entrada da casa dos Weasley, quando a viu abrir.

Ficou alguns instantes parado, sem saber o que fazer. Gina estava em frente à porta olhando para ele com um sorriso amigável no rosto. Instantaneamente um frio subiu a espinha, e borboletas no estômago faziam companhia à criatura em seu peito.

- Harry? – perguntou Gina ainda num sorriso amigável.

- Erm... Gina?! O que faz aqui? – disse num tom nervoso. Suas mãos suavam e não parava de mexer o ovo de chocolate.

- Eu é que devia perguntar. – ela se aproximou mais. Harry hesitou, mas riu nervoso, Gina o acompanhou.

- Você está certa. – falou sem graça – Eu vim aqui... ver você.

Gina não se surpreendeu com o que o moreno lhe disse, mas não pode deixar de escapar um sorriso.

- E a que devo esta honra? – perguntou brincalhona.

- Toma! – exclamou Harry mostrando o ovo de chocolate para Gina, que recuou o rosto, para que o chocolate não lhe batesse. –Desculpe..

Ela acenou afirmativamente com a cabeça, e pegou o ovo delicadamente em suas mãos.

- Legal! Faz tempo que não como um bom chocolate. Obrigada. – agradeceu –Lembra quando dividimos chocolate na biblioteca no seu quinto ano, e que Madame Pince – riu em meio à frase –Nos expulsou à livradas da biblioteca?

- Claro! Lembro disso de vez em quando – ou sempre, pensou - ... Foi engraçado, quando paro para pensar.

- É, foi mesmo. – ela analisou o belo ovo de chocolate em suas mãos e depois voltou-se para ele –É bem grande, né?

- Você não gostou? – perguntou Harry murchando.

- Amei! – acrescentou rapidamente –Mas deve ter sido caro, não? Não se vendem muitos ovos assim na Páscoa devido ao preço...

- Não se preocupe com isso – falou aliviado – Isso não é problema, e você adora chocolate!

- Obrigada de novo.

Ela sorriu. Ele também.

Harry sentiu que era hora de lhe dizer tudo, antes que acabasse por falando absolutamente nada.

- Gin...

- Você quer entrar?! – ela perguntou interrompendo-o. – Mamãe está fazendo sopa de cebola para o jantar.

- Na verdade Gina, eu queria falar com você.

Vendo que Gina não iria falar mais nada, ele continuou.

- Sei que demorei muito pra falar isso para você, e me arrependo de não ter feito isso antes. – respirou fundo – Meu maior medo no auge da guerra, era perder as pessoas que amava. Queria todos afastados de mim, para que não corressem riscos, como se isso funcionasse. Você não sabe como doeu em mim ter que terminar o nosso namoro, porque eu havia descoberto que você era essencial pra mim, e que eu te amava muito. Eu perdi meus pais, Sirius, Dumbledore, e não queria perder a mais nova pessoa que se tornara importante em minha vida. Foi inevitável ter que fazer isso, porque você é tão teimosa – sorriu – Que acabou indo comigo para a batalha. E confesso que sem você lá, eu não teria conseguido. Você me deu forças pra continuar o que meus pais tinham feito por metade no passado. Eu consegui. – ele olhou um momento para o chão, e voltou-se para Gina, fitando seus olhos castanhos – Mas eu não me acertei com você. E deixei passar... foi passando, passando... tive que ver você saindo com aquela cara, e foi ruim, viu? Eu nunca te esqueci, e nunca vou te esquecer, porque eu te amo, e eu não posso e nem consigo tirar você de dentro de mim. Você já faz parte de mim Gina.

Harry terminou seu tão “ensaiado discurso”, comovendo Gina, que tinha os olhos levemente marejados. Ele mordeu o lábio inferior, esperando uma reação mais clara de “sua” ruiva.

- Não vai dizer nada? – perguntou. Gina sorrindo se aproximou, o fazendo prender a respiração.

- Lembra quando eu disse que nunca tinha desistido de você? – Harry balançou a cabeça freneticamente, estava muito nervoso. – Bem... – aproximou-se ainda mais – Isso ainda tá valendo agora. E sempre valerá.

- E-então, q-quer dizer que v-você...

- Sim Harry, eu amo você. Você também faz parte de mim, sempre fez. – ele sorriu exultante. Timidamente, eles se abraçaram num beijo, lento e apaixonado, sem pressa. Gina envolveu seus braços no pescoço do rapaz, enquanto este a apertava pela cintura. Uma coisa os atrapalhava. O ovo de chocolate. Sem cerimônias, Gina o soltou, ouvindo-o se partir ao contato no chão. Ela acariciou a nuca de Harry, passando os dedos entre seus negros e desalinhados cabelos. Ficou na ponta do pé para aprofundar ainda mais aquele beijo, que tanto sentira falta.

Separaram-se com a respiração acelerada, mas felizes por dentro.

- Seria engraçado ver você de cabelo verde... – disse Gina. Harry franziu as sobrancelhas.

- Mas como...?

- Hermione me contou, não fique bravo com ela. Eu ouvi um estalo de alguém aparatando. Eles estavam estranhos e os obriguei a falar o que estava acontecendo. Fez tudo isso por mim?

Harry encostou sua testa na dela.

- Foi sim. Queria que fosse tudo perfeito.

- E foi, meu querido. – riu – Eu amo seu cabelo bagunçado.

- E eu amo seu cabelo ruivo, e suas sardinhas. – ela gargalhou e lhe deu um beijo rápido.

- Sabe, eu não quero mais a sopa de cebola da mamãe pra jantar. – informou brincando com os cabelos de “seu Harry”.

- Não?

Gina negou com a cabeça. Largou-se de Harry, que protestou, pegou o ovo de chocolate no chão, e conduziu seu namorado pela mão até uma parte mais afastada dos jardins. Sentaram-se na grama, com Gina entre as pernas de Harry, e esta abriu o chocolate, que por sinal estava partido em pedaços.

- Você quebrou o ovo, Gi. – disse Harry fingindo estar chateado.

- Bem, não deixa de ser chocolate, deixa? – falou inocentemente.

Harry lhe beijou na bochecha enquanto pegava um pedaço de chocolate e abocanhava.

Ficaram naquele cantinho, dividindo aquele chocolate, como da primeira vez, só que de um jeito melhor.



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