O Vampiro do Sótão



Capítulo 5 - O Vampiro do Sótão

- Draco Comensal Malfoy... caindo direto nas teias da lei. – disse num tom visivelmente satisfeito. Olho-Tonto estava com a varinha apontada para Draco, que permanecia deitado no chão, sem reação. Sentiu o sangue ferver quando uma porção generosa de cordas enrolaram-se por todo o seu corpo. – Só por precaução. – agarrou a varinha que Draco ainda segurava em uma das mãos.

Seu corpo levitou no ar e, completamente embaraçado e humilhado, Draco passou pela porta, sendo jogado sem cuidado no chão da sala. Olhou ao redor, ou pelo menos ao que lhe era possível ser visto, já que estava impossibilitado de qualquer movimento graças às cordas conjuradas por Moody.

- E então, menino? O que fazia aqui? – Olho-Tonto perguntou enquanto o analisava profundamente. – Será que precisarei utilizar de um meio menos cordial para conseguir alguma resposta?

“Ótimo!” pensou desesperado. “Só me faltava mais essa.”

- Bem, eu posso explicar tudo, sr Moody. Apenas me deixe sentar, eu já estou desarmado, como bem sabe. – tentou, em uma voz calma, que estava longe de ser verdadeira.


- Eu sei bem como vocês comensais são... deve ter algum truque na manga, é claro. – Moody girava seu olho tonto para todos os lados, à procura de algo que pudesse ameaçá-lo de qualquer maneira.

Draco bufou. Já conhecia a fama de desconfiado de Olho-Tonto Moody, seria um terrível desperdício de tempo tentar conquistar sua simpatia. Achou que deveria abordá-lo de outra maneira, pelo menos para ganhar algum tempo.

- Vim até aqui à mando do Lord das Trevas. – os olhos de Moody se preencheram com um brilho estranho, dando à Draco a certeza de que deveria continuar com o teatro. Poderia manter-se a salvo desse maluco até que os Weasleys chegassem, provavelmente estariam em Hogwarts. Mas o que estava pensando? Que eles iriam salvá-lo de Moody? Encarou o chão que estava a poucos centímetros do seu nariz e sentenciou. – Estou em uma missão.

- Pois vá em frente e fale, garoto! Eu sempre digo que devemos nos manter alertas! Tenho certeza de que se Molly e Arthur estivessem aqui se deixariam enganar pela sua carinha de coitado. – dizia para si mesmo, num tom quase psicótico. – E então? Comece a falar!

Ainda não tinha pensado bem no que dizer quando decidiu abordá-lo dessa maneira e estava se sentindo um completo idiota por tentar algo do tipo. Agora ele estava realmente ferrado, com todas as letras.

- Eu... bem, eu aprovetei a ausência de todos para vasculhar a propriedade em busca de algo que meu Lord deseja ter em suas mãos. – notou um lampejo de curiosidade e excitação nascendo nos olhos de Moody e decidiu que deveria mantê-lo assim.

- E está esperando o que para me dizer o que é? – bradou impaciente, apontando a varinha para Draco que apertou os olhos com força. Ele sabia que não deveria brincar com Moody, mas não era uma questão de brincar ou não, sua sobrevivência dependia disso.

- Não posso lhe dizer o que é. – Moody rugiu alto e grudou a mão gorda nos cabelos de Draco, forçando-o a olhar em sua direção.

- Escute aqui, menino, eu não estou para brincadeiras! É melhor dizer logo o que é ou então transformarei você em tempero pra salada!

- Não, por favor! Eu não posso lhe dizer porque Vol... digo, meu Lord enfeitiçou-me para garantir que eu não falasse nada à ninguém caso algo desse errado! – falou tudo de uma só vez, em seguida respirou fundo, sentindo o couro cabeludo ficar quase dormente. Moody soltou-o enfurecido, esmurrando o canto do sofá. Percebendo a sua frustração, Draco continuou, agora mais confiante. – Mas... caso eu o encontre, posso lhe mostrar e você fará aquilo que achar conveniente.

Olho-Tonto pareceu ponderar sobre o que deveria fazer, a curiosidade lutando contra os avisos de alerta que passavam por sua mente. Draco não aguentava mais ficar naquela posição incômoda, já tinha decorado quantas teias de aranha haviam debaixo do sofá surrado.

- Pois bem... eu terei que ir à Hogwarts, mas providenciarei para que você tenha o tratamento adequado enquanto eu estiver fora. – olhou Draco ferozmente nos olhos e acrescentou. – E quando eu voltar, junto com os Weasleys, presumo, nós retomaremos nosso assunto antes de sua viagem à Azkaban. Prepare as malas, garoto... sua estadia será longa. – Olho-Tonto exibia um cruel sorriso no rosto deformado, fazendo os pelos da nuca de Draco se arrepiarem em terror.

Moody não desamarrou Draco, apenas o levitou novamente, guiando-o em direção ao topo da casa torta pelas escadas. Quando chegaram ao final dos degraus, Olho-Tonto parou e abriu uma velha porta meio apodrecida com estrondo. Um guincho horrível veio lá de dentro assustando Draco, mas Olho-Tonto não parecia nem um pouco alarmado e fechou a porta pela qual passaram com o mesmo estrondo de antes.

Tudo ali dentro era escuridão e Draco, com o coração aos pulos, apertou fortemente os olhos, tentando não imaginar de onde saíra o tal guincho. Moody iluminou o local com a varinha, acendendo uma tora em um dos cantos do aposento. Jogou Draco com força ao lado do que parecia ser um baú, fazendo-o cair sentado. As cordas impediam qualquer movimento que ele quisesse fazer, então desistindo, apoiou sua cabeça na lateral do baú.

- E então, confortável? – perguntou Moody em um tom falsamente cordial. – Espero que estes aposentos estejam à altura de um Malfoy, certamente é muito mais agradável do que Azkaban, posso lhe garantir. Caso precise de alguma coisa, peça ao nosso gentil colega, que lhe fará companhia até que eu retorne de Hogwarts. – e sem desamarrar Draco, Olho-Tonto saiu porta afora, fazendo um feitiço para que ela não pudesse ser aberta.

Draco preferia não saber quem seria sua companhia durante a ausência de Moody, mas logo o “colega” saiu de trás de um amontoado de caixas, derrubando algumas com estardalhaço. A pouca luz que iluminava o lugar deixava Draco mais assustado do que o tranquilizava. Se não houvesse luz ele não teria visto a face pálida e sombria do homem à sua frente, que fitava-o com curiosidade e apreensão.

- Quem é você? – perguntou o vampiro, com a voz falha, como se não a usasse à muito tempo.

- E-eu sou Draco Malfoy. – respondeu rapidamente, esperando que ele não tivesse nada contra sua família. – E você, quem é?

O vampiro não lhe respondeu, apenas examinou-o por alguns instantes, em seguida levando a mão ao queixo.

- Nunca imaginei que viveria o suficiente para ver um Malfoy nesse estado. – disse distraído em seus pensamentos, fazendo Draco se sentir pior do que já estava antes de chegar lá.

- Você... você é um vampiro, certo? – Draco perguntou de súbito, temeroso com a reação do outro. – Eu... bem, meu sangue não está entre os dez mais do mundo bruxo, sabe, eu tive uma doença muito grave quando era mais novo, creio que meu sangue não lhe cairá bem e... – se atrapalhou, tentando inventar algo que pudesse mantê-lo longe de seu pescoço.

- Oh, isso... ora, não se preocupe jovem Malfoy, eu somente me alimento de ratos e vez ou outra de alguns outros bichos que porventura visitam o sótão. – Draco não conseguiu evitar a expressão de asco que surgiu em seu rosto, não passando despercebida ao estranho vampiro. – Sei que é repugnante, mas não me agrada nem um pouco beber o sangue de outras pessoas, compreenda, prefiro contentar-me dessa maneira.

- Claro, claro... eu compreendo. – disse rapidamente, temendo fazê-lo mudar de idéia.

Mais uma vez sentiu a garganta se fechar, o desespero veio à toda quando se deu conta de que não havia como alcançar a poção em seu bolso, rolou para o chão procurando derrubá-la mas era inútil, as cordas passavam por quase todo seu corpo, prendendo boa parte de suas vestes negras.

Já podia sentir o gosto da morte em seus lábios, mas logo cuspiu-o e notou que o sangue se tornara mais denso do que antes. Transferiu todo o ódio que sentira de Snape para o ex-professor Moody, zangado por não ter tido a chance de deixar uma carta acusando-o de sua morte precoce.

- O que acontece, jovem Malfoy? – perguntou o vampiro calmamente, observando a figura de Draco remexer-se freneticamente no chão, quase entrando em convulsão. – Posso ajudá-lo em algo?

- No meu bolso... – Draco respondeu num fio de voz, a garganta fechada impedindo-o de proferir qualquer som. – A poção... rápido...

O velho vampiro agachou-se ao lado de Draco, tentando mantê-lo parado enquanto tateava em busca do pequeno vidro. Os olhos de Draco giraram nas órbitas, ele teve certeza de que aquele era realmente o fim e pensava – com uma imensa pena de si mesmo – o quão desonrado seria morrer ali, no velho sótão da casa maluca dos Weasleys, até que sentiu um líquido descer queimando, quase rasgando-o por dentro. Mas dessa vez ele sentiu-se aliviado pela terrível sensação. Pelo menos não morreria agora.

Isso já estava se tornando cansativo demais na sua opinião. Quando sua respiração voltou ao normal, Draco murmurou um agradecimento ao vampiro e ele ajudou-o a se sentar novamente, não parecendo nem um pouco penalizado com o seu estado.

- O que exatamente foi isso? – perguntou-lhe no mesmo tom calmo de antes.

Devagar e pausadamente, Draco narrou o acontecido ao vampiro, que escutava-o com interesse e soltava pequenas exclamações de terror quando ele pronunciava o nome de Voldemort. Sentiu-se estranhamente mais forte quando percebeu que o nome não lhe amedrontava mais.

- Então você já tinha ouvido falar de Voldemort? – perguntou Draco, curioso.

- Oh sim, meu caro. Os Weasleys me mantém informado sobre o que anda acontecendo no mundo mágico. – fez uma pausa e logo acrescentou. – Não que eles tragam regularmente o Profeta Diário até mim, mas costumo escutar muitas conversas aqui dentro dessa casa e os únicos que já ouvi pronunciar esse maldito nome foram Dumbledore e aquele menino, Harry Potter. Me admira a sua coragem... ou tolice.

- E desde quando você se esconde nesse sótão? – percebendo o olhar de desagrado do vampiro tentou logo consertar. – Digo, desde quando mora aqui? É tão precário o lugar, não tem medo de que tudo venha abaixo qualquer dia? Eu não duvido que isso aconteça... – disse, fazendo pouco caso da casa dos Weasleys.

O velho vampiro narrou uma breve história, dizendo que alguns anos depois de se tornar um deles decidiu manter uma vida – ou semi vida, como gostava de dizer – afastada de todos, mas que gostara particularmente da Toca porque ali era muito raro momentos de silêncio e isso era algo que o incomodava terrivelmente.

- Eu não gosto do silêncio, quando as coisas ficam calmas demais eu começo a me recordar de acontecimentos ruins, se é que me entende.

Draco concordou com a cabeça, pensando que ele mesmo não gostava mais do silêncio desde que tudo acontecera. O vampiro retirou um jogo de xadrez bruxo muito antigo de dentro de uma das caixas amontoadas e jogaram durante um certo tempo, aliviando Draco de ter que pensar no que aconteceria após a volta de Olho-Tonto Moody.

Percebeu como tudo em sua vida tinha um quê de bizarro, a começar pela facilidade que ele tinha de fazer amizades com tipos estranhos. Primeiro a Murta, agora o Vampiro, que não fez questão de se apresentar.

As horas se passaram rapidamente, Draco estava com fome e podia ouvir o barulho de seu estômago como se fosse um trovão rasgando os céus. Tentou pensar em algo que não tivesse a ver com comida, mas logo todos os seus pensamentos estavam envoltos em fantasias comestíveis, nos doces enviados por sua mãe enquanto ainda estava em Hogwarts e a lembrança não o fez sentir-se melhor.

Sabia que dali para a frente tudo seria ainda mais difícil do que imaginara até então. Não conseguiu descobrir uma maneira de continuar enrolando Moody e torcia desesperadamente para que os Weasleys estivessem na Toca antes dele. Apesar de que não adiantaria muita coisa, já que Moody o havia trancado dentro do sótão e as possibilidades da família Weasley o descobrirem antes que ele chegasse eram praticamente nulas.

Estava muito cansado e resolveu dormir um pouco. Procurou desviar seus pensamentos da mesa farta que sempre conhecera em casa e concentrou-se apenas em seu sono. Aos poucos Draco adormeceu e mesmo com o barulho que o velho vampiro fazia, batendo nas paredes e derrubando caixas, nada foi capaz de tirá-lo de seus sonhos.

Alguns raios de sol brotavam pela janela anunciando um novo dia e Draco despertou vagarosamente. Olhou para os lados, esperando que aquilo não fosse real, mas com toda a sorte que costumava ter, não se assustou quando percebeu que era.

Sentiu-se ainda mais incomodado com a posição em que dormira quando seu pescoço deu sinais de cãibra. Relaxou o máximo que podia, tentando livrar-se da sensação desagradável, conseguindo bons resultados, mas não bons o suficiente para livrá-lo da dor que instalou-se ao longo de seu pescoço.

Tentou inutilmente se levantar, todo o esforço que fizera na noite anteiror para ignorar a fome tinha sido em vão, já que acordara com mais fome ainda, sentindo-se fraco e com uma sede insuportável. A idéia de se alimentar de ratos não lhe parecia tão repugnante assim agora, mas as cordas o lembravam de que teria muita sorte se alguma mosca pousasse por engano em sua boca.

Se deu conta de que o frasco com a poção já estava no fim, daria para uma ou, com sorte, duas vezes ainda. E como a sorte havia lhe abandonado completamente, Draco teve certeza de que acabaria derrubando o frasco na próxima tentativa de tomar a maldita poção.

E falando em sorte – ou na falta dela – ouviu passos no andar de baixo, vários passos, aliás. Sentiu-se estranhamente satisfeito quando percebeu que a família Weasley voltara, se acompanhados de Moody ou não, Draco não poderia saber, mas certamente eles não o deixariam morrer. Pelo menos não tão cedo, ainda teria a chance de manter-se vivo enquanto se explicava. Sufocou um desejo interno de acrescentar novos acontecimentos para que sua história se tornasse mais longa, assim como o seu tempo de vida.

Um estrondo tirou-o imediatamente de seus devaneios e o contorno de várias cabeças apareceu por detrás da porta aberta. Os reflexos ruivos não deixavam dúvida alguma: eram os Weasleys.


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N/A: Well, well, well... taí mais um capítulo, espero que tenham curtido e que não estejam querendo me amaldiçoar pela demora dos “actions” entre Draco e Gina! Mas eles estão chegando... :D

Bom, resolvi postar 5 capítulos de uma só vez, se minha fic agradar e tiver alguma review, posto mais 5 capítulos amanhã! Só pra constar, a partir do 14 eu vou estar escrevendo quase em tempo real e as atualizações vão ficar mais demoradas...

Com carinho,

Mila Fawkes.

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