Capitulo III



Capitulo III

Lilian viu nos olhos de Tiago que ele também a reconhecera.

- Que surpresa – disse Sara, sorrindo, apontando para uma cadeira vazia junto a elas. – Queres sentar-te?

- Claro – lançando a Lilian um olhar interrogante, Tiago pegou numa cadeira e sentou-se.

Era terrivelmente bonito. A sua camisa creme acentuava a sua cor bronzeada e fazia com que os seus olhos parecessem ainda mais escuros. As suas calças castanhas eram feitas à medida e, se não se enganava, o cinto que usava devia custar mais do que toda a roupa que ela tinha nos sacos.

Quando revivia a noite que passaram juntos, Lilian dizia-se que não podia ser tão bonito como imaginava. Tinha de ter sido o vinho e o sonho a darem-lhe uma imagem distorcida dele. No entanto enganara-se. Os seus traços eram bem definidos, o nariz longo e aristocrático, o queixo forte e os lábios perfeitamente esculpidos.

O seu cabelo despenteado, quase gritava que o acariciassem.

- Tiago, esta é a minha amiga Lilian Evans. – apresentou Sara. – Lily, Tiago Potter. Tiago vai-se encarregar de coordenar a minha viagem pela Europa.
O olhar de Lilian encontrou-se com o de Tiago. Ela sabia muito bem como lidar com aquela situação.

- A tua cara é-me familiar. Não dançamos juntos no casamento de Melanie?
- Acho que sim – pegou-lhe na mão e levou-a aos lábios. – Enchanté. ( Encantado)

Ela tremeu ao sentir os seus lábios na sua mão e sentiu-se corar.

- Devia ter-te avisado, lily - Sara riu-se. – Tiago é muito europeu.

- Não é americano? – perguntou ela, muito surpreendida.

Ele sorriu e fez um gesto ao empregado para pedir um expresso antes de continuar a conversa.

- O meu pai é americano. Contudo, a minha mãe é de Carpegnia.

- Carpegnia? – a geografia nunca fora o seu forte. – Isso fica no mediterrâneo, não é?

- Sim. Na costa sul de França.

- Porem, não tem sotaque – disse Lilian.

- Às vezes, sim. – ele sorriu.

« Ma chérie». ( Meu amor)

Quando fizeram amor, repetira estas palavras varias vezes. Lilian ganhou fôlego.

- Portanto falas inglês e francês …

- E outras línguas – disse ele, como se não tivesse importância.

- Quando entrevistei Tiago apercebi-me de que era precisamente o que procurava – disse Sara. – Não só fala fluentemente varias línguas, como conhece bem a Europa.

- Conheço-a intimamente – disse ele.

Era imaginação sua ou ele pronunciara a ultima palavra de um modo sensual?

Lilian sentiu um aperto no coração. Todavia ele lançou-lhe um olhar de advertência. Sara não era parva, se não tomasse cuidado, dar-se-ia conta de que o seu novo empregado e a sua melhor amiga se conheciam melhor do que deixavam transparecer.

- O seu café, cavalheiro – disse o empregado e Tiago sorriu.

- Lilian está à procura de alguém com quem dividir o apartamento – disse Sara, quando o empregado se foi embora. – Perguntou-me se conhecia alguém e pensei que se calhar estarias interessado.

- Partilhar o apartamento? – a covinha engraçada de que Lilian se recordava tão bem, voltou a desenhar-se no seu rosto. Então, ela apercebeu-se que estaria mais segura com Jack, o estripador, que com ele.

- O apartamento é muito pequeno – disse Lilian.

- Então! – protestou Sara. – É muito espaçoso e muito bonito.

- Não teríamos muito espaço …

- Não me importam as distâncias curtas – disse Tiago, bebendo outro gole de café, com um olhar travesso nos olhos.

Sara espantada, levantou as sobrancelhas. Lilian deu um pontapé a Tiago por debaixo da mesa.

- O quarto de hóspedes e a casa de banho ficam no piso inferior.

O piso inferior tinha umas janelas enormes e era bastante arejado. No entanto, Tiago não tinha que saber disso.

- Parece ser acolhedor – disse Tiago, que não parecia absolutamente dissuadido. – Estou a gostar do que estou a ouvir.

Fez uma careta ao sentir novamente o bico afiado do sapato dela na sua perna.

- Ah! Não me dei conta das horas – disse Sara, levantando-se. – Tenho de ir buscar a menina.

- Vemo-nos às sete? – perguntou Tiago, pondo-se também de pé.

Sara hesitou um instante.

- Com certeza.

Lilian ocultou um sorriso. Estava claro que a sua amiga tinha esquecido o compromisso. Desde que tivera a menina, que o super-lotado horário de

Sara se tornara completamente disparatado. Chegara a dizer a Lilian que às vezes não sabia se ia ou se vinha.

- Lilian, eu adoraria que viesses. A mãe de Remus mandou-nos umas daquelas lasanhas esta manha. Provavelmente farei uma salada para acompanhar. Há séculos que não vais lá a casa …

Lilian revolveu-se na sua cadeira. Não se conseguia imaginar na mesma sala que Tiago toda a noite. Até mesmo naquele momento, a faísca entre eles era evidente.

- Esta noite tenho de trabalhar.

- Vá lá, Lily – disse Sara, pondo as mãos nas ancas. – Há pouco disseste-me que não tinhas planos para esta noite.

Lilian olhou para Tiago e viu que estava a sorrir.

- Jantamos às sete – disse Sara, como se já tivesse decidido. – Remus provavelmente irá querer rever as condições de segurança da viagem com
Tiago depois do jantar e isso dá-nos tempo para conversar mais um pouco.

Lilian sorriu. A presença de Tiago faria com que a sua noite de paixão em Chicago continua-se a ser um segredo.

A não ser que ele decidisse falar …

Lilian esperou que a sua amiga se fosse embora, então virou-se para ele e perguntou-lhe:

- O que é que se está a passar aqui?

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Tiago olhou para ela sem pestanejar. O tom de aborrecimento da sua voz apanhou-o de surpresa. Ao principio pensara que ela se alegrava de o ver.
No entanto, já não tinha a certeza.

- O que queres dizer?

- Disseste que não tinhas trabalho.

- Também te disse que tinha umas entrevistas – replicou ele.

- Podias ter-me dito que conhecias Sara.

- Não fazia ideia que eram amigas – disse ele. – Fiquei tão surpreendido como tu ao ver-vos juntas.

Surpresa não era a palavra mais exacta para descrever o que tinha sentido ao ver Lilian sentada no café junto à sua nova chefe. Por instantes, pensou se estaria despedido antes mesmo de começar a trabalhar. Sara era uma cristã fervorosa e embora Tiago estivesse convencido de que não se tinha aproveitado absolutamente de Lilian, sabia que Sara o veria de outro modo.

- Deduzo que não lhe tenhas dito nada sobre aquela noite – embora um comentário de Sara o tivesse feito pensar de outro modo, Tiago quis ter a certeza.

Ela hesitou. Tiago sentiu que se afundava num poço sem fundo.

- Por Deus, o que haveria de lhe dizer? Sara, sei o que pensas acerca de sexo fora do casamento, porem, queres que te conte a minha aventura de fim-de-semana?

Ele riu-se. Contudo ficou sério ao ver o olhar dela.

- Ninguém sabe o que se passou nessa noite – disse Lilian. – Quero que continue assim.

- Compreendo.

- Achas que sim? – Lilian inclinou-se sobre a mesa e disse em voz baixa. –
As minhas amigas são todas muito puritanas e a escola onde trabalho é muito conservadora. Isto não se pode saber.

- Tens razão. As professoras não têm sexo. – Tiago tentou conter o sorriso, sem sucesso.

- Falo a sério – disse ela, apertando os lábios.

Ficava linda quando os olhos cor de esmeralda brilhavam e um rubor invadia o seu rosto. Sentiu-se tentado a brincar um pouco mais com ela. Porem, as rugas de preocupação que lhe apareceram na testa dissuadiram-no.

- Da minha parte, ninguém saberá de nada disto – disse ele.

- Obrigada – disse, num suspiro pouco audível.

- Todavia, se os teus amigos são tão conservados como tu dizes – continuou ele – o que vão pensar sobre o facto de irmos viver juntos?

- Não importa – disse Lilian. – Decidi que não é boa ideia vivermos sob o mesmo tecto.

Ele pensava o mesmo. Tiago precisava do trabalho e não se podia permitir ter uma inimizade com Sara. Viver na mesma casa com a amiga poderia trazer-lhe problemas.

Um homem razoável teria deixado correr o assunto. Mas Tiago nunca fora especialmente razoável e nunca tinha gostado da ideia de viver com um estranho.

Lilian não era uma estranha.

Desde a noite no hotel, que ocupava os seus pensamentos. Tiago tinha-se amaldiçoado a si mesmo por não lhe ter pedido o numero de telefone e a morada. Pensara que seria fácil: quando chegasse a Saint Louis, procuraria o seu nome na lista e telefonaria. O problema era que não havia qualquer Lilian Evans na lista e, precisamente quando tinha acabado de aceitar que nunca mais voltaria a ve-la, os seus caminhos voltaram a cruzar-se. Parecia obra do destino.

- Não vejo qual é o problema – disse Tiago, num tom conciliador. – Será um acordo formal. Tu precisas de dinheiro e eu de um lugar onde viver.

- Sei que pode ser difícil de acreditar, especialmente depois da maneira como que comportei na outra noite. Porem, normalmente, não tenho problemas em manter-me afastada dos outros homens – disse ela. – A questão é que contigo é diferente.

Ele percebeu a importância daquele comentário, portanto analisou as suas palavras antes de responder.

- O que está a dizer é que consegues partilhar o apartamento com outro homem, mas, não comigo?

Ela corou ainda mais.

- Fomos para a cama.

- Eu sei – Tiago olhou-a nos olhos. – No entanto, também sei que somos adultos e que podemos fazer o que quisermos.

Lilian encostou-se na cadeira.

- Aconteceu uma vez, não quer dizer que se repetirá.

Gostaria de lhe ter recordado que não fora uma vez, mas duas. O problema é que ela parecia não querer que voltasse a repetir.

- Já te prometi – disse ele, com um sorriso tranquilizador, - que saberia manter a distancia.

Embora Tiago falasse sério, perguntava-se se seria capaz de cumprir a sua promessa. Nem sequer agora lhe era fácil manter a distância dela. Lilian era bonita. O cabelo ruivo chegava aos ombros e tinha olhos verdes enormes. A sua pele era suave e branca e tinha a tendência encantadora de corar, à mínima provocação.

Passar os seis meses seguintes com ela seria um prazer, embora tivesse de pagar por isso, pensou Tiago, com um sorriso trocista.

- Porque não me mostras o apartamento? Se eu gostar, podemos começar a falar de dinheiro.

Até àquele ano nunca pensara no custo das coisas. Agora não pensava noutra coisa. Parecia-lhe brusco discutir cada dólar, cada cêntimo. Contudo, não tinha alternativa.

- Não vai funcionar – disse Lilian.

Tiago franziu o sobrolho.

- O que não vai funcionar? Mostras-me a casa? Ou esperarmos até combinarmos um preço?

- As duas coisas - disse Lilian - vou dizer-te pela ultima vez: não vais viver comigo.



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Fim do cap.

Por favor comentem!!!!!!!!

bjs

Sandra

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