As Verdadeiras Artes das Treva



~~~que só está atualizando isso porque realmente precisa matar tempo.



Her pura and eloquent blood,

Spoke in her cheeks, and so distinctly wrought,

That one might almost say, her body wrought.

John Donne




Capítulo 2 – As Verdadeiras Artes das Trevas




— Andrômeda, tente controlar sua ansiedade. É inconveniente — minha mãe vociferou enquanto íamos para Londres. Narcissa, sentada do lado oposto a mim, tentou controlar um sorriso. Ela tinha crescido cansada dos meus constantes interrogatórios sobre Hogwarts. Minha irmã mais velha tinha voltado com um ar de superioridade que enfureceu Bella e eu. Embora tivesse voltado um pouco ao normal durante o verão, ela tinha mostrado menos interesse em se juntar à nós em nossas brincadeiras. Em vez disso, tinha passado seu tempo fazendo compras com nossa mãe. Ela parecia apreciar ser exibida para os amigos de nossos pais usando suas roupas novas. Na viagem para Hogwarts passou a maior parte do tempo escovando o cabelo e arrumando-o em volta da cabeça fazendo parecer uma coroa dourada.

Olhei pela janela para a figura perfeita dos campos abaixo de nós. Era de conhecimento comum que meus pais possuíam uma carruagem voadora puxada por dois testrálios. Foi aceito que os Black estavam acima das regras triviais do Ministério; porém, mamãe estacionou a carruagem um pouco distante de King’s Cross e nós três (e os dois elfos carregando nossos malões) usamos uma Chave de Portal para viajar até a plataforma 9½. Mamãe atravessou a plataforma a passos largos como uma mulher de negócios conosco em seus calcanhares. Quando ela passou, vários bruxos e bruxas a cumprimentaram. Para a maioria ela só acenou, dificilmente consciente de sua presença. A felizarda minoria com quem ela falou eu reconheci como velhos amigos da família, muitos com postos altos no Ministério, que compareciam às festas de meus pais e com os filhos dos quais eu brincava.

— Cassandra! — Vadimir Malfoy, um homem loiro e alto com um olhar atraente, beijou a mão de minha mãe delicadamente. — Radiante como nunca.

Mamãe sorriu friamente. Os Malfoy eram um pouco “sangue novo” para seu gosto, tendo somente sete gerações de patrimônio bruxo puro. Porém, eram ricos e poderosos, o que compensava.

— Minha filha mais velha, Narcissa — ela disse, se virando para nos apresentar.

— Extraordinária — disse Vladimir olhando-a de cima a baixo com seus olhos perfurantes. — Suponho que ela esteja no mesmo ano que meu filho Lucius?

— Um ano abaixo, senhor — Narcissa disse suavemente com os cílios baixos.

— Ah! Madame Black! — disse uma mulher alta de cabelos negros com uma leve inflexão na voz. O rumor era que a bela esposa francesa de Helios Avery tinha estado determinada a mandar seus filhos a Beauxbatons; obviamente ela tinha perdido a batalha.

— Madeline, eu estava agora mesmo apresentando milhas filhas, Narcissa e Andrômeda.

— Mais beldades Black — seu marido disse secamente, e virou-se para falar com Malfoy.

Oui, elas são magníficas — disse Madeline. — Odette está começando seu primeiro ano, não está, ma petite? —, Odette Avery era pequena, sombria e magra. Ela me deu um meio sorriso e, depois de um cutucão de sua mãe, disse olá docemente. Atrás de nós o trem soltou um pequeno sopro de vapor.

— Venham, garotas — mamãe disse, acenando para os Avery. Os elfos saltaram cuidando de nossa bagagem. Ela nos inspecionou uma última vez antes de embarcarmos no trem.

— Não seja desleixada, Andrômeda, e eu não quero ouvir que você passou o ano com o nariz enfiado em livros — ela balançou a cabeça com uma expressão exasperada.

— Sim, mãe — eu disse.

— E, Narcissa, tome conta de sua irmã. Talvez ela possa te ensinar uma coisa ou outra sobre notas aceitáveis.

— Sim, mãe — disse Narcissa.

— Lembrem-se, eu espero que vocês se comportem. Eu preferiria vê-las mortas a meus pés uma vez que tenham desgraçado o nome da família — disse friamente, dedilhando seu colar ornamentado com os brasões dos Black e dos Rookwood entrelaçados.

— Sim, mãe — nós dissemos em coro. Não duvidamos nem por um minuto de que ela quisera dizer o que tinha dito; porém, isso dificilmente nos afligia. Desde o início da infância tínhamos sido ensinadas que era uma honra nascer uma Black. Uma filha que não mantinha a honra com a qual tinha tido a sorte de nascer não tinha utilidade.

— Bem, tenham um bom semestre — ela beijou o ar acima de nossas cabeças e foi embora majestosamente como uma brisa gelada.






— Posso ir no barco com você? — Odette Avery perguntou depois que eu me despedi de Narcissa na plataforma de Hogwarts. Eu tinha passado grande parte do tempo da viagem sendo apresentada às amigas de minha irmã. A maioria delas eu já conhecia. Elas me aceitaram instantaneamente, embora com a presença de Narcissa não prestassem muita atenção em mim.
O modo que Narcissa se comportava me encheu com uma mistura de orgulho e confusão. Ela praticamente não disse uma palavra, rindo silenciosamente das piadas de Aléxis Wilkes. Quando falou, para dizer que estava com calor, houve uma corrida entre os garotos para abrir as janelas até que tivesse vento por todo o vagão. As garotas mantinham distância dela. Havia ciúme óbvio nos olhos delas quando Lucius Malfoy, o tácito líder do grupo, conjurou um copo d’água para Narcissa e ordenou nitidamente que o resto parasse de se amontoar em volta dela. Odette também pareceu reparar o efeito dela nas pessoas. — Sua irmã é muito bonita — ela disse, fascinada, quando sentamos no mesmo barquinho.

— Claro que é — eu disse orgulhosa.

— Você também é, vocês tem muita sorte! Como faz para seu cabelo ficar tão liso? O meu tem um monte de cachinhos irritantes! — Odette disse animada, e então parou. — Ah... oi?

Um quase imperceptível garoto gorducho de cabelos pretos com uma face convidativa e uma garota loira se sentaram em nosso barco. O garoto sorriu e disse:

— Olá. Frank Longbottom.

— Andrômeda Black — eu disse.

— Uma Black de verdade? — perguntou a garota, impressionada. Eu acenei.

— E você é?

— Alice De Winter — disse a garota timidamente. Ela corou um pouco quando falou e logo entendi por que. Eu tinha ouvido o nome De Winter nos lábios de meus pais muitas vezes recentemente, sempre com um sorrisinho de desprezo. Odette, de um modo insensível, deu voz a meus pensamentos.

— Merlin! Sua irmã fugiu com um sangue ruim, não fugiu? — ela exclamou, recuando discretamente para longe de Alice, que mordeu o lábio e abriu a boca para falar, mas Odette a cortou. — Aaaaaaa... Isso deve ser terrível — ela disse entusiasmadamente. — Imagine só, ter um sangue ruim sujo na família.

Alice parecia que estava prestes a chorar e Frank a defendeu.

— A irmã dela ainda esta viva e bem. Ela não contraiu nenhum tipo de doença, sabe — disse ele sarcasticamente. Odette deu a ele um olhar incrédulo.

— Nós não a vimos mais, ninguém foi ao casamento nem nada — Alice disse baixinho. Eu podia ver que ela estava olhando para mim como se estivesse desesperada para que eu entendesse.

— Acho que está tudo bem então — disse Odette, incerta. — Sou Odette Avery, de qualquer forma.

— Como a princesa cisne? — eu perguntei, subitamente me lembrando do livro de contos de fadas de Narcissa e sorrindo mais para mim que para os outros.

— Ah, sim! — disse Alice, que parecia aliviada em descobrir que a atenção não estava mais voltada para ela. — Ela estava sob o efeito de uma maldição maligna e só se transformava em princesa sob o luar?

— Não é uma maldição. É um feitiço chamado Transfiguração Lupina e sua vítima precisa beber Mata-Cão líquido antes — eu disse imediatamente, me lembrando de uma tarde que tinha gastado na biblioteca de meu pai.

— É magia negra muito avançada. Como você sabe disso? — disse Frank me dando um olhar desconfiado.

— Bem, como você sabe que é magia negra muito avançada? — eu disse olhando de volta e gostando cada vez menos dele.

— Meu pai é um auror. Eu sei tudo sobre o seu pai, é claro — ele disse, sua voz indecifrável.

— Não fale desse jeito sobre a minha família! — eu respondi bruscamente, completamente estarrecida e secretamente confusa. O pai de Frank era importante no departamento de aurores e era muito respeitado. Ele agia similarmente ao nosso pai, embora fosse de conhecimento comum que a linhagem deles não era tão pura como a nossa. Eu nunca tinha ouvido uma palavra contra minha família e de repente me senti incerta de mim mesma.

— Os Black? Eu não me atreveria — ele disse baixo, sua voz com uma pequena vantagem.

Alice e Odette pareciam confusas. Felizmente, naquele momento o castelo de Hogwarts surgiu para fora do anoitecer e todos nós esquecemos da discussão enquanto olhávamos de olhos arregalados. Durante minha vida curta eu tinha visitado e ficado em muitos casarões e castelos. A mansão Black em si, a casa na qual eu tinha nascido, dado meus primeiros passos e dormido quase todas as noites de minha vida era grande e imponente e cheia de passagens secretas e quartos trancados. Porém, Hogwarts tirou o meu fôlego. Finalmente, Odette quebrou o silêncio.

— Alguém tem uma escova de cabelo? — ela sussurrou teatralmente.






— Então, outra Black, heim? — por baixo da aba do Chapéu Seletor eu podia ver o cabelo loiro de Narcissa faiscando à luz das velas na mesa da Sonserina. — Ah, vejo que você não gosta do meu tom. Não. Sua irmã também não gostou, nem sua mãe, pai, avô ou avó. Eu selecionei gerações de Blacks e nenhum deles gostou de ser tratado com superioridade. Engraçado, não é? — mordi meu lábio me sentindo completamente desamparada. Narcissa e Bellatrix sempre tinham me importunado por causa da minha falta de habilidade de mostrar emoções. Enquanto criança, quando me sentia triste eu simplesmente me afundava em livros ou mundos imaginários, Bella costumava ficar horas tentando me fazer rir. Porém, somente sua expressão estranha de nossa tia Black (que fazia Narcissa se sentir um pouco culpada) podia conseguir mais que um sorriso. Durante toda a minha infância eu tinha vivido junto de minhas irmãs. Dormíamos juntas toda noite e brincávamos juntas todos os dias em nossos mundos mágicos. Eu sentia as emoções delas como se fossem minhas; porém, as minhas eram uma área particular. Ter minha mente lida me dava um arrepio na espinha. Desejei saber Legilimência, então poderia bloquear o chapéu seletor. — Hmmm, deixe-me ver... você tem uma boa mente aqui... sim, tem atitude e sede por conhecimento, você daria uma boa Corvinal — disse o Chapéu. — Mas espere, o que é isto? Ah, sim... você não pode esconder isso de mim, embora eu saiba que você quer. Você tem uma forte linha de diligência e independência. O que é isso? Ah, você acha que eu estou brincando, mas está aqui. Você só tem que descobrir. Bem, isto é interessante... agora, onde te colocar? Você se daria bem na Corvinal. Sim, mas é uma Black. Assim só há um lugar ao qual pertence... SONSERINA! — o chapéu anunciou e eu soltei um suspiro de alívio quando a mesa aplaudiu.






Eu me apaixonei por Hogwarts. Fui instantaneamente aceita como a irmã da garota mais bonita do segundo ano e outra Black. Nenhuma pergunta foi feita; também não foram precisas. A sala comunal da Sonserina poderia ter sido uma das festas de meus pais. Eu conhecia a maioria dos habitantes desde a infância. Conhecíamos os pais, irmãos aniversários, casas e comidas favoritas um do outro. Tínhamos brincado juntos, brigado juntos e tido paixonites um pelo outro antes mesmo de embarcarmos no Expresso de Hogwarts. Juntos formávamos um estranho tipo de família, unidos, desprezando nossas diferenças com um tipo de lealdade incondicional. Eu não me esforcei para fazer amigos ou criar relações íntimas. Como crianças tínhamos aprendido maneiras impecáveis, mas não perícias sociais — parecia quase degradante admitir que “Os Black” talvez precisassem delas. Agora, com uma nova biblioteca inteira para explorar, outras pessoas eram a última coisa em minha mente.

Minha mãe e Narcissa tinham me ensinado que “agir como uma sabe-tudo” era inadequado para uma garota, até para uma Black. Então, durante a primeira semana mantive minha boca calada, deixando os garotos responderem todas as perguntas, sorrindo docemente e mordendo minha língua; porém, em nossa primeira aula de Defesa Contra Artes das Trevas eu finalmente sucumbi.

O Professor Blake era um homem alto e rude que passara dez anos nas selvas do Peru lutando com dragões dente-de-víbora. Infelizmente, uma mordida especialmente maldosa tinha-no mandado de volta para a Grã-Bretanha, onde ele tinha assumido relutantemente o posto de professor de Defesa Contra Artes das Trevas. Desconsiderando o fato de que ele estava sendo pago para nos ensinar, ele constantemente nos lembrava que isso era muito pouco para ele e que era um desperdício de suas habilidades e talentos.

— Acalmem-se, primeiranistas, guardem suas varinhas. Elas não são brinquedos... e eu não ligo se vocês conseguem transformar uma aranha num besouro, Sr. Nott. Já vi truques mais impressionantes feitos por elfos domésticos — ele disse, indiferentemente. Theo enrubesceu e derrubou a tampa de sua carteira com um ruído. Perto de mim, Odette lançou a ele um olhar simpático e seu sorriso mais bonito. Minha pequena companheira de quarto morena tinha tentado conquistar Lucius Malfoy desde o primeiro dia, mas até ela não podia fazer nada além de notar a gama dele por minha irmã, então tinha feito uma pequena troca por Theodore Nott que, por causa dos fortes contatos de sua família e de suas habilidades no Quadribol, estava se tornando particularmente popular entre as garotas do primeiro ano.

— Certo — disse o Professor Blake. — Pequena e inconseqüente como sua inteligência deve ser, estou certo de que nenhum de vocês pode falhar em me dar uma definição de Artes das Trevas.

Eu podia ver as expressões gravadas nos rostos de meus colegas de classe enquanto eles evitavam contato visual com ele. O que eram Artes das Trevas? Eram coisas que nossos pais praticavam por trás de portas fechadas, livros nas bibliotecas de nossos pais que nós não podíamos tocar e conversas sussurradas que não tínhamos permissão para ouvir. Eram o que era esperado que todo sangue puro respeitável realizasse, mas nunca mencionasse. Para mim, eram tardes quentes no bosque com Bella cantarolando livros de feitiços e os olhos brilhando.

O Professor Blake deu uma volta procurando por uma vítima e fixou seus olhos num pequeno Corvinal com sardas indomáveis e cabelos castanhos cacheados.

— Ah, Sr...?

— Tonks, senhor — disse o garoto e eu o reconheci como um dos amigos sangue ruins de Frank Longbottom. A minha volta as pessoas relaxaram. Obviamente, se Blake estava escolhendo sangue ruins, então ele estava do nosso lado.

— Bem, Sr... umm... Tonks, se importa de nos esclarecer? — disse Blake, anunciando o sobrenome trouxa óbvio dele com um sorrido gélido.

— As Artes das Trevas são séries de feitiços, maldiçoes e encantos ilegais que são usados com a intenção de causar dano ou destruição — disse Tonks sorrindo timidamente, mas certo do que estava falando. Ele tinha um sotaque estranho que eu nunca tinha ouvido antes, mas que soava mais fino que o meu.

Eu fui lenta; obviamente não era a única pessoa que tinha memorizado o livro texto. Próxima a mim, Odette fez um pequeno som indignado e eu senti minha mão se erguer.

— Muito bom, Sr. Tonks, cinco pontos para a Corvinal — ele se virou para mim.

— Eu discordo — eu disse.

— Srta...? — Blake ergueu uma sobrancelha.

— Black, professor. Essa pode ser a definição do livro texto para Artes das Trevas, mas ela só generaliza o problema. Certamente, “Artes das Trevas” é um termo vago para qualquer feitiço que o ministério considera digno de proibição. As reais Artes das Trevas foram inventadas no início da magia e seus segredos foram perdidos desde então. Hoje em dia, para determinar que feitiço é realmente das Artes das Trevas, ele tem que ser analisado no contexto em que é usado. — Por para fora um pouco do conhecimento que brotou de dentro de mim me encheu metade de euforia e metade de choque em meu rápido flash de confiança.

Meu coração batia selvagemente em meu peito, mas eu desejava que ele desacelerasse. “Você é uma Black,” eu disse para mim mesma. “Uma Black e uma Rookwood...” As palavras me fortaleceram como sempre fizeram, e de repente me ouvi falando denovo.

— É claro que eu não esperava que Tonks soubesse disso — dei um rápido sorriso condescendente para Ted Tonks, para desfazê-lo e sentar-me novamente em minha cadeira.

— Quinze pontos para a Sonserina. Muito bom, Srta. Black — disse Blake me dando um olhar perfurante e então se virando para o resto da classe. — Bem, não fiquem sentados aí olhando para a garota só porque ela ousou fazer um comentário válido! Escrevam!

Por um momento não pude impedir que os cantos de minha boca tremessem.






Àquela noite, na sala comunal, Lucius Malfoy se separou da multidão que estava sentada jogando cartas junto ao fogo e andou distraidamente até onde eu estava profundamente absorta numa longa carta para Bella. Eu tinha mantido minha promessa de escrever para minha irmã mais nova todos os dias, minha pena flutuando pelo pergaminho. Às vezes eu tinha tanta saudade de Bellatrix que quase não podia respirar. Minhas cartas eram complexas e sistemáticas, descrevendo todas as voltas da vida em Hogwarts com a mesma precisão que eu fazia minhas lições. As respostas pelas mãos de aranha de Bella eram tipicamente erradas, cheias de riscos e asteriscos complicados. Suas cartas falavam um pouco sobre seu dia-a-dia.
Elas me abriam uma estranha janela ao mundo dela. Aprendi a sensação de suas pernas queimadas pelo sol no riacho gelado, o cheiro da fumaça da fogueira da vila trouxa próxima, e o creque das folhas caídas em baixo dos corpos dela e de Sirius quando eles brincavam de luta no chão. Enquanto lia, eu era transportada para os bosques e a orla segura de nossa infância. Era durante a noite, deitada sozinha em minha cama larga e tateando o brasão da família em torno de meu pescoço enquanto ouvia os roncos de Odette, que eu sentia falta da minha irmãzinha mais do que tudo.

Mergulhada em pensamentos, eu mal notei que Lucius estava em pé na minha frente e que o grupo em frente ao fogo estava olhando em minha direção e cochichando.

— É verdade o que aconteceu na aula do Blake? — ele perguntou me fitando com interesse. Eu acenei e olhei de relance para onde Odette estava me fitando com curiosidade absorta. Lucius acenou de volta e apertou minha mão. — Parabéns — disse ele. — Alguém tinha que deixar os sangue ruins saberem quem manda no seu ano.

— Obrigado.

— Como você pode ser tão inteligente sendo uma garota? — perguntou com interesse.

— Sou uma Black — informei simplesmente e ele acenou, satisfeito, e disse:

— Bem, continue assim.

E assim o fiz, e meu caso de amor com Hogwarts continuou. Eu me dedicava ao meu trabalho com todas as minhas energias, deixando o mundo dos pensamentos me consumir. Em aula era sempre a primeira a responder, e fazia pergunta atrás de pergunta até começar a enfurecer até a tranqüila Profª Sprout. Meus colegas de classe ficavam perplexos, mas me deixavam continuar assim. Afinal, esperavam que as Black fossem um pouco diferentes dos outros. As garotas do meu dormitório diziam “Andrômeda está desligada denovo”, querendo que eu pusesse meus livros de lado e me juntasse a elas em suas sessões de cuidados para cabelos (elas pareciam achar que por ser irmã de Narcissa eu era uma expert nesse assunto).

— Mas você é tão bonita! — Odette murmurou quando me encontrou absorta numa redação de Poções. — Você podia ter qualquer garoto para fazer isso para você.

Só havia um garoto a quem eu teria confiado minhas notas de poções, embora nunca tenha admitido isso. Ted Tonks estava brigando por meu posto de melhor aluno no ano. A primeira vista eu não tinha notado isso. Apesar de tudo, ele era só um sangue ruim e supostamente não uma ameaça real. Porém, parecia estar aprendendo rápido sobre o mundo bruxo e em breve estaríamos iguais, tirando as maiores notas no mesmo número de aulas. Por sorte nós não dividíamos muitas aulas, mas aquelas que dividíamos se tornavam um campo de batalha de inteligência, como se jogássemos argolas um no outro. Eu não o odiava. Não pensava nele o suficiente para isso, mas eu tinha sido educada para garantir ser sempre a melhor e me perturbava que um garoto com roupas surradas e pais trouxas podia ousar desafiar uma Black.

— Está perdendo o seu tempo, sangue ruim — eu disse a ele no final de uma aula particularmente agitada de Defesa Contra Artes das Trevas próxima do final do semestre. O resto de nossos colegas tinha saído da classe, mas ele tinha ficado para fechar sua mochila estropiada, que tinha estourado denovo. Ele não olhou para cima, mas perguntou do chão:

— Por que isso?

— Olhe, Tonks — eu dei um rápido sorriso frio —, meu tataravô foi diretor dessa escola. Minha família tem estado nessa escola desde que ela foi fundada. Meu pai foi monitor, como foi o pai dele. Metade dos governadores tem parentesco comigo... Dumbledore mesmo é meu primo de terceiro grau.

— E você está querendo dizer que...? — ele perguntou levianamente.

— Estou querendo dizer que você não sabe com o que está lidando — eu disse estritamente, minha mão instantaneamente indo ao meu colar. Ele sorriu.

— Bem, obrigado por me contar. Não vou conseguir dormir hoje à noite, tenho certeza.

— Você está perdendo o seu tempo — repeti, aborrecida porque ele não estava reagindo como eu esperava.

— Veremos — disse levemente, jogando a mochila em suas costas e mordendo seu lábio quando metade de seus livros caiu no chão, como se nunca tivesse ocorrido à ele que isso pudesse acontecer. Nós consideramos um ao outro por um momento: o pequeno trouxa desarrumado com suas roupas de segunda mão e sardas por todo o seu rosto sorridente e a sangue puro imaculadamente vestida com longos cabelos castanhos e olhos cinzentos aborrecidos. Tínhamos a mesma idade, mas nossos mundos eram tão diferentes que tentar entender um ao outro exigiria mais forças que podíamos controlar com doze anos, mesmo que tivéssemos tentado.
Mas o semestre estava rapidamente chegando ao final e Ted Tonks era a última coisa em minha mente.

Em breve eu estaria em casa com Bella. Quase podia ouvir sua voz cantando músicas natalinas e podia imaginar seus olhos cinzentos brilhando enquanto ela me abraçava na estação. Em breve eu teria meu outro eu de volta. Em breve eu estaria completa denovo.

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