Capítulo 2



Capítulo 2

Jaque tirou-me do hospital alguns dias depois. Ela reservara uma passagem para mim e minha filha num vôo apenas de ida para Londres. Achamos melhor isso que aparatar ou usar chave de portal. Eu não podia aparatar com uma bebê de meses e estava sem tempo e cabeça pra criar uma chave de portal, e Jaque não confiava em si mesmo para criar uma chave. Levou-me para casa a fim de fazer as malas.

Nesse ínterim, não tive qualquer notícia de Rony. Cambaleava de um lado para outro numa espécie de nevoeiro cheio de dor. Só sabia que não me achava capaz de ser feliz novamente.

Algumas vezes, simplesmente não conseguia acreditar naquilo. Tudo que ele me dissera parecia um sonho. Eu não podia realmente me lembrar dos detalhes, mas sim do sentimento. Aquele sentimento doentio de que alguma coisa estava errada. E realmente estava. Como era possível tudo aquilo ter acontecido há apenas alguns dias?

Mas algumas vezes a perda aparecia como astro especialmente convidado.
Ela me invadia. Tomava conta de mim. Era como uma força física. Batia em mim, tirando-me a vida. Tirava-me o fôlego. Era selvagem.

A perda me odiava. E eu a odiava.

Só assim se explicaria que me magoasse tanto.

Não consigo realmente lembrar como passei aqueles dias no hospital.

Só me lembro vagamente de minha perplexidade, quando todas as outras novas mães falavam de como suas vidas agora estavam mudadas para sempre, de como as coisas jamais tornariam a ser as mesmas, os problemas de terem de ajustar suas vidas à chegada do novo bebê e tudo isso.

Mas eu não podia ver qual era o problema. Já não podia imaginar a vida sem minha filha. "Somos eu e você, querida", sussurrava para ela.

O fato de termos sido abandonadas pelo homem de nossas vidas provavelmente intensificou nosso processo de ligação. Nada como uma crise para juntar as pessoas, como dizem. Será que os bebês tem alguma ligação mágica com as mães quando nascem? Não lembro de ter lido isso em algum livro em Hogwarts mas certamente alguma conexão tem.

Passava muito tempo sentada, quieta, segurando-a.

Tocar seus minúsculos, realmente minúsculos pezinhos de boneca, seus perfeitos dedinhos rosados em miniatura, seus punhos bem fechados e revirados para cima, seu rostinho inacreditavelmente pequeno, imaginando de que cor seriam seus olhos. Será que seriam castanhos como os meus ou azuis como o do pai? Será que havia alguma possibilidade de serem verdes?

Cada coisa que eu penso...

Ela era tão linda, tão perfeita, um verdadeiro milagre.

Tinham-me dito que eu sentiria um amor total por minha filha; sabe Deus que ninguém pode dizer que eu não fora avisada. Mas nada poderia ter-me preparado para aquela intensidade. Aquela sensação de que eu mataria qualquer pessoa que tentasse tocar num fio de cabelo de sua cabecinha macia. Eu a amava demais.

Eu podia entender que Rony me deixasse - bem, falando a verdade eu não podia -mas realmente não podia entender que ele deixasse aquela criancinha linda e perfeita. Nossa filha...nossa primeira filha.

Ela chorava muito.

Mas, na verdade, não posso queixar-me, porque eu também chorava.

Tentava repetidas vezes consolá-la, mas ela raramente parava. Talvez porque nem eu parava.

Depois de chorar por cerca de oito horas seguidas no primeiro dia, e após mudar sua fralda 120 vezes e tê-la alimentado 49, fiquei ligeiramente histérica e pedi que um médico a examinasse. Talvez tenha exagerado um pouco mas era algo por aí. E sem poder usar magia por se tratar de um hospital trouxa, uma péssima idéia minha admito, não havia nada que pudesse fazer a não ser chamar o médico.

Deve haver alguma coisa terrivelmente errada com ela - declarei ao jovem com aspecto exausto que era o médico. - Ela não pode estar com fome e não está (eu ria, levemente, enquanto dizia isso) "suja", mas não pára de chorar.

Bem, nós a examinamos e não há nada, absolutamente nada errado com ela, até onde posso observar - ele me explicou, com paciência.

Mas por que ela está chorando?

- Porque é um bebê - respondeu. - É isso que eles fazem. Ele estudara medicina durante sete anos e essa era a explicação que tinha para dar?

Não fiquei convencida. Talvez fosse algum trauma mágico que um médico trouxa não pudesse identificar. Poderia leva-la a um curandeiro quando chegasse em Londres. Apesar de não me agradar visitar a parte bruxa de Londres.

Talvez ela estivesse chorando porque, de alguma maneira, sentia que o pai a abandonara. O que era possível se eu mesma, uma adulta grande e vacinada ainda chorava.

Ou talvez - grande pontada de culpa - estivesse chorando porque eu não a estava amamentando. Talvez ela se ressentisse profundamente por estar sendo alimentada com uma mamadeira. Sim, eu sei, você provavelmente está no auge da indignação porque não a amamentei. Acha, com certeza, que não fui uma boa mãe. Mas, há muito tempo, antes de ter minha filha, pensei que seria lícito que meu antigo corpo me fosse devolvido, depois de emprestá-lo por nove meses. Sabia que já não seria capaz de chamar minha alma de minha, agora que era mãe. Mas tinha uma leve esperança de que ainda poderia chamar meus seios de meus. E estou envergonhada de dizer que tinha medo de que, se amamentasse, seria vítima da síndrome do "seio encolhido, achatado, caído". Eu sei isso é ridículo nem acredito agora que pensei numa coisa dessas.

Agora que eu estava com minha linda e perfeita criança, minhas preocupações a respeito da amamentação pareciam mesquinhas e egoístas.

Tudo realmente muda, quando se dá à luz. Nunca pensei que chegaria o dia em que colocaria as necessidades de outra pessoa à frente da boa aparência dos meus seios. Eu havia me tornado fútil, mas precisava voltar a ser uma pessoa desapegada as coisas materiais e isso inclui o meu corpo que nem era tão bom assim.

Então, se minha queridinha não parasse logo de chorar, consideraria a possibilidade de amamentá-la. Se isso a tornasse feliz, suportaria mamilos gretados e vazando e meninos bobos de 13 anos tentando olhar minhas "leiteiras" no ônibus. Talvez eu pudesse enfeitiça-los mais tarde para ter pesadelos com seios gigantes perseguindo-os. Hermione maquiavélica se apresentando ao serviço.

Jaque, minha filha e eu chegamos em casa. Entramos no apartamento e, embora Rony me dissesse que estava saindo, eu ainda não estava preparada para os espaços desocupados no banheiro, o armário vazio, a ausência de livros na estante. Não que fossem muitos, Rony não adquirira o habito de leitura que sempre tive, mas era obrigado a rever sempre os livros de contabilidade de Grincotes, alem dos seus livros de quadribol que possuía desde a escola.

Foi tão terrível.

Sentei-me vagarosamente em nossa cama. O travesseiro ainda tinha seu cheiro. E senti tanto sua falta. Era uma dor alucinante que dilacerava meu peito.

- Não consigo acreditar - disse eu a Jaque, soluçando. - Ele foi mesmo embora. Eu sei que ele havia dito que iria, mas pensei que talvez ele demorasse um pouco mais para ir, afinal eram tantas coisas...- esqueci por um momento que Rony poderia em um aceno de varinha levar todas as coisas.

Minha filha também começou a chorar, como se sentisse igualmente o vazio.

E não chorava há apenas uns cinco minutos.

A pobre Jaque parecia atrapalhada. Não sabia a qual de nós duas consolar.

Eu devia ter me portado melhor e a ajudado na escolha.

Depois de algum tempo, parei de chorar e virei vagarosamente para Jaque meu rosto molhado de lágrimas. Sentia-me exausta de tanta dor.

- Vamos - disse eu. - É melhor fazermos as malas.

- Ótimo - ela sussurrou, me abraçando com uma das mãos, e a minha filha, em seus braços.

Comecei a jogar as coisas dentro de um saco de viagem. Nem me ocorreu o uso da magia e da varinha para isso. Coloquei tudo que julguei necessário.

Preparava-me para levar uma pilha de fraldas descartáveis do tamanho de um pequeno país sul-americano, mas Jaque me convenceu a deixá-las.

- Você pode comprar isso em Londres ou conjura-la...- lembrou-me, com delicadeza.

Joguei dentro do saco mamadeiras, um aquecedor de mamadeiras com o desenho de uma vaca pulando por cima da lua, chupetas, brinquedos, chocalhos, macacões, meias do tamanho de selos de correio, tudo o que me veio à cabeça para minha pobre filhinha sem pai. Agia como uma trouxa, tanto no sentido não bruxo, como uma idiota.

Como agora eu era uma família com genitor único, estava obviamente super compensando a ausência do outro como podia.

- Sinto muito, querida, privei você do seu pai porque não fui suficientemente bonita ou inteligente para fazê-lo prender-se a mim, mas deixe que compense isso cobrindo você de bens materiais.

Depois, pedi a Jaque para me devolver algumas fraldas.

- Para quê? - perguntou ela, segurando as com força.

- Para a eventualidade de termos uma emergência no avião - argumentei, tentando arrancá-las de suas mãos – não posso usar mágica num avião trouxa.

- Eles não lhe deram toalhas sanitárias no hospital? - perguntou ela, com um tom de voz chocado .

- Jaqueline sua estúpida, estou falando da minha filhinha...

Ela estendeu três fraldas. Mas com relutância.

- Sabe, você não pode continuar a chamá-la "minha filha" - disse Jaque. - Tem de lhe dar um nome. Já pensou em tantos....

- Mas não consigo pensar nisso agora - disse eu, começando a entrar em pânico.

- Mas o que andou fazendo durante os últimos nove meses? – Você só fez isso praticamente – Falou Jaque...

- Pensei, sim - murmurei, com meus lábios começando a tremer. - Mas pensei neles com Rony. E não iria me sentir bem se desse a ela um deles.

Jaque parecia um pouco aborrecida comigo. Mas eu estava novamente à beira das lágrimas, e então ela não disse mais nada. Acho que estava sendo muito chata. Mas não podia evitar.

Para mim, levei muito pouca coisa, além de um punhado de livros sobre bebês. Nem me preocupei em levar outro tipo de leitura. Não conseguiria levar ler 2 letras. Por que me preocuparia em levar alguma coisa para mim, pensei, agora que minha vida tinha terminado? Nada mais tinha sentido. Só queria...acabar com essa dor que ainda era tão intensa como no primeiro dia.

E, além disso, nada mais me servia. Literalmente.

Abri meu armário e recuei, com a repugnância que meus vestidinhos me davam. Não havia dúvida a respeito. Todos falavam de mim. Eu não os enfeiticei mas eles falavam comigo praticamente.

Eu quase podia vê-los acotovelando-se e dizendo: "Olhem para ela, vejam seu tamanho. Será que pensa, honestamente, que elegantes e pequenos tamanhos P, como nós, caberiam em qualquer corpo tipo caminhão, na faixa do GG, como o que ela está arrastando de um lado para outro? Não é de admirar que seu marido tenha fugido com outra mulher".

Sabia o que eles pensavam. Eu estava horrorosa. Nem a mais poderosa magia me colocaria no lugar.

"Você se desleixou. E sempre disse que não faria isso. Você nos abandonou e abandonou a si mesma."

- Desculpem - disse eu, servilmente. - Vou perder peso. Voltarei para vocês, prometo. Logo que tiver condições. E prometo fazer isso sem enfeitiçar vocês para servirem.

O ceticismo deles era ostensivo. Ninguém acreditava em mim. Eu não acreditava em mim. Não depois de me olhar no espelho.

Eu podia escolher entre usar minhas roupas de grávida ou uma calça jeans que Rony deixara para trás, em sua pressa de partir. Isso demonstrava meu estado humilhante. Usei a calça e avistei meu revoltante corpo gordo no espelho do quarto, de novo. Meu Deus, eu estava horrorosa. Mais que horrorosa, nem aquele trasgo que me atacou no primeiro ano era tão feio quanto eu! Nem parecia que eu havia tido bebê porque parecia ainda estar grávida.

Nas poucas semanas antes de dar à luz, eu estava absolutamente enorme.
Inteiramente redonda. Como a única coisa que cabia em mim era minha bata de lã verde, combinando com meu rosto sempre verde, por causa do enjôo contínuo, fiquei com a aparência de uma melancia usando botas e um pouco de batom. Mas pensei: “Hermione, assim que você tiver sua filhinha vai voltar a ter seu manequim” Ta bom...não pensei exatamente isso, mas parecia que um M poderia sonhar, quem sabe com alguma cinta...

Agora, embora não estivesse mais verde, ainda parecia uma melancia, sob todos os outros aspectos.

O que estava acontecendo comigo? Para onde tinham ido meu verdadeiro eu e minha vida de verdade? Isso não podia ser real. Sei que pensei nisso varias vezes, e sei que é real...mas...não sei explicar...

Com um coração que não era a única coisa pesada em mim, fui telefonar para pedir um táxi, a fim de nos levar para o aeroporto. Continuava a usar métodos trouxas.

O interfone tocou. Dei uma última olhada na minha sala, as prateleiras que mais pareciam uma boca com alguns dentes faltando, a reluzente e nova babá eletrônica na parede (que desperdício.), o montículo de fraldas abandonadas no chão. Tive vontade de fazer tudo aquilo desaparecer. Mas me contive.

Fechei a porta atrás de mim antes que começasse novamente a chorar.
Firme. Nem tanto.

Sim, eu sei. Um simbolismo muito pouco sutil. Desculpe por isso. Ando ficando muito óbvia.

E então percebi que faltava algo.

- Ah, meu Deus! Minhas alianças!

Corri outra vez para dentro e peguei no meu quarto minhas alianças de noivado e casamento. Tinham ficado na penteadeira durante os dois últimos meses, porque meus dedos estavam tão gordos e inchados que eu não podia usá-las. Enfiei-as em meu dedo, e mais ou menos couberam. Não sei porque as pus. Devia ter deixado-as lá, mas não fui capaz.

Percebi que Jaque me lançava um olhar engraçado.

- Ele ainda é meu marido, você sabe - disse-lhe eu, desafiadoramente. - O que significa que ainda sou casada! – coisa mais ridícula de se dizer eu sei.

- Eu não disse nada - falou ela, com uma expressão inocente. De inocente ela não tinha nada, sabia disso. Jaque e eu descemos com dificuldade pelo elevador, carregando,como duas malabaristas, malas, sacos, bolsas e uma criança de dois dias em seu berço portátil. Porque Hermione Granger usaria magia para isso? Parecia que meus dons mágicos estavam atrofiados novamente.

E há outra coisa que ninguém nos diz sobre o fato de ter um bebê! Os manuais deveriam dizer algo como: "É imprescindível que seu marido não deixe você nos primeiros meses depois do nascimento do seu bebê, pois, do contrário, você terá de carregar tudo sozinha". Não tinha isso em Hogwarts.

Não tinha em nenhum livro trouxa. Era só uma lição de vida, que Rony mesmo tendo tido 7 irmãos não percebeu.

Jaque estava enfiando tudo no táxi de qualquer jeito, quando vi, com horror, Draco Malfoy vindo pela rua. Devia estar a caminho de casa, voltando do trabalho. Parecia calmo, com seu sorriso sarcástico no rosto como sempre, e até quem sabe feliz. Ele estava livre de Pansy, afinal. Passara a bomba para outro tonto desavisado, Rony.

- Que é? - perguntou Jaque, alarmada, com o rosto vermelho e suado, por causa dos seus esforços, vendo meu olhar estático.

- O marido da Pansy - falei

- E daí? - perguntou ela, em voz alta – Eu conheço Draco Malfoy...aliás...nossa como ele ficou tão bonito assim? Que corpo...

Eu estava alarmada com tudo aquilo, óbvio...Jaqueline Whinter, minha melhor amiga, babava literalmente por Draco Malfoy. Lógico ele era, bem muito bonito sempre foi. Sempre achei até mais bonito que Rony, só não mais bonito que...deixa pra lá, mas Rony é o homem que eu amo. Talvez eu só estivesse alarmada, porque eu esperava alguma crise passional, um Draco furioso, dizendo que iria matar o Weasley, como era em Hogwarts.

Talvez ele me culpasse por ser tão feia, gorda, desleixada e sangue-ruim, e ter deixado meu marido ir atrás da esposa dele. Talvez ele até tivesse feliz por eu ser tão ridícula e ter feito com que Rony levasse a esposa horrenda dele, que eu conseguia ser ainda pior. Provavelmente isso.

O encarei...se ele estivesse fazendo piada de mim, mentalmente não ficaria por baixo. Não foi assim em Hogwarts e não seria agora. Afinal ele casou com a vadia destruidora de lares não eu...se alguém tinha culpa nessa história era ele, por trazer de Londres a cobra venenosa.

Provavelmente, eu fazia ao pobre homem, mesmo ele sendo Draco Malfoy, uma terrível injustiça. Ele não me disse nada. Apenas me olhou com uma espécie de expressão misteriosa, típica dele.

Abracei Jaque, em despedida. Ambas chorávamos. Para variar, minha filha não, acreditem se quiserem.

- Aeroporto, Terminal Um - disse eu, em lágrimas, ao motorista do táxi, e nos afastamos em alta velocidade do meio fio, deixando Draco Malfoy a nos olhar surpreso.

Enquanto eu seguia com esforço pelo corredor do avião, esbarrei em vários passageiros irados com minha mala de acessórios de bebê. Bando de insensíveis. Quando, afinal, localizei meu assento, um homem levantou-se para me ajudar a guardar minhas coisas. Quando sorri para lhe agradecer, automaticamente imaginei se ele não desejaria ter alguma coisa comigo.

Sei que é ridículo. Mas quando se é casada, para de se preocupar com relacionamentos. Lógico ainda sou viva, e reconhecia caras bonitos, mas era apenas aquele olhar de, nossa que bonito, mas não é para mim. Afinal eu tinha meu homem, e era só dele o meu coração. As mulheres quando solteiras, ficam a perspectiva de achar o homem ideal. Aquele que vai ser seu marido pela vida inteira. Não importa se bruxas ou trouxas, é sempre assim. Pensei que havia achado o meu, mas acho que me enganei.

Agora eu estava de volta à situação em que todo homem é um namorado em potencial. Estava de volta a um mundo onde há 800 mulheres maravilhosamente lindas para um único homem solteiro. E isso antes mesmo de começarmos a eliminar os verdadeiramente medonhos. E eu bem, no momento estava mais para mulher realmente medonha do que para uma caçadora.

Olhei com atenção para o homem prestativo. Ele não era sequer tão atraente. Era provavelmente gay. Ou, quem sabe, um padre. Ou quem sabe os dois? Só assim para ser tão caridoso no mundo de hoje.

Quanto a mim, uma esposa abandonada, com um bebê de dois dias, o amor-próprio de uma ameba (será que era tudo isso?), 14 quilos acima do peso, na iminência de uma depressão pós-parto e com uma vagina dez vezes o seu tamanho normal, eu própria não chegava a ser exatamente uma conquista apreciável. Ninguém em sã consciência, olharia para mim. Acho que nem com um Imperius, ou sob a ameaça de um Avada. Pensando bem acho que do jeito que estou seria uma ótima arma contra Voldemort. Largue os trouxas ou te aprisionaremos com Hermione a enorme. Acho que ele mesmo se mataria antes disso. Teríamos poupado muito tempo e até quem sabe vidas...

O avião decolou, e casas, prédios e ruas de Nova Iorque circularam distantes, sob mim. Olhei para baixo, enquanto as avenidas e ruas da cidade ficavam cada vez menores. Deixava para trás seis anos da minha vida. Seis anos que achei que havia sido feliz em comparação a tudo que sofri.

Meu marido estava lá embaixo, em alguma parte. Meu apartamento estava lá embaixo, em alguma parte. Meus amigos estavam lá embaixo, em alguma parte. Minha vida estava lá embaixo, em alguma parte. Poderia ter usado magia para achar Rony. Não usei. De algum modo não achava que adiantaria.

Recostei-me em meu assento, com meu bebê no colo. Suponho que devia parecer, para todos os outros passageiros, exatamente uma mãe normal. Mas, e o pensamento me dominou com muita força, eu não era. Era uma bruxa e agora era uma Esposa Abandonada.

Tinha sido uma porção de coisas em minha vida. Fora Hermione, a filha cumpridora dos seus deveres e amorosa. Fora Hermione, a melhor estudante de Hogwarts, a melhor estudante nascida trouxa. Fora Hermione o braço direito e a mente astuta por trás da Ordem da Fenix. Fora Hermione a amiga cega e incondicional. Fora Hermione, a órfã. Fora Hermione a vagabunda (acho melhor não comentar isso, não foi um comentário de alguém que vale a pena). Fora Hermione, a garçonete. Fora Hermione, a esposa. E, agora, era Hermione, mãe e esposa abandonada. E isso era uma das piores situações que já passei.

Eu sempre pensara (apesar do meu declarado liberalismo) que as esposas abandonadas eram mulheres que moravam em apartamentos pobres e que seus maridos, parando apenas um minuto para lhes dar um soco no olho, partiam com uma garrafa de vodca e o carnê das pensões das crianças, deixando-as aos prantos, com uma imensa pilha de contas a pagar de artigos domésticos, uma desculpa esfarrapada para o olho roxo do tipo "dei uma testada na porta" e quatro crianças problemáticas, todas com menos de seis anos, em suma, mulheres para quem os homens só servem para dar uma voltinha. Que eram culpa delas serem abandonadas, por não conseguirem ser uma boa esposa, por não serem como seus maridos desejavam.

Era uma experiência de humildade e esclarecimento descobrir como eu estava errada. Eu era uma esposa abandonada. Eu, a Hermione, certinha.

Bem, seria uma experiência de humildade e esclarecimento se eu não me sentisse tão amargurada, zangada e traída. Afinal, quem era eu? Algum tipo de deusa, perfeita em tudo? Estava longe disso e sabia.

Mas percebi, realmente, de uma maneira engraçada, através da autopiedade e da hipocrisia, que algum dia, quando tudo aquilo tivesse terminado, eu poderia ser uma pessoa melhor, já que estaria mais forte, sábia e compassiva. Porque nunca havia sido assim. Sempre me achei a dona da razão, apesar de ser frágil e ligar tanto para o que os outros achavam de mim. Por isso notei que não estava pronta para isso.

- Seu pai é um filho da puta - sussurrei para minha filha.

O prestativo padre gay teve um sobressalto.

Devia ter ouvido o que eu dissera. Quando fiquei tão mal educada?

Em cerca de 8 horas, começamos a descida para o Aeroporto de Londres. Vi aquelas construções tão familiares, as pessoas com o seu jeito inglês de ser.

Em Nova Iorque era tudo tão diferente, tão agitado.

Deixara Londres há seis anos, cheia de euforia com relação ao futuro. Tudo tinha sido tão ruim em Londres nos últimos anos. Sonhava em reconstruir minha vida na América. Ter um grande emprego como sempre sonhei em Londres e encontrar meu homem perfeito. E conseguira um grande emprego, tivera um homem maravilhoso e vivera feliz para sempre - bem, pelo menos durante algum tempo - mas, de alguma forma, tudo dera errado, e agora estava eu de volta a Londres, quase tão desiludida quanto quando eu partira.

Mas uma coisa importante mudara.

Agora eu tinha uma criança. Uma criança perfeita, bela, maravilhosa. Eu não mudaria isso por nada neste mundo. Nem por 1000 Rony’s

O prestativo padre gay, ao meu lado, ficou meio sem graça, enquanto eu chorava, desamparada. Que show eu estava dando.
"Dane-se", pensei. "Pode ficar sem graça o quanto quiser. Você é um homem. Provavelmente também já fez um bom número de mulheres chorar desse mesmo jeito. Isso se fosse mesmo homem..."

Eu já tivera dias mais racionais. Aliás, sempre fui racional, pelo menos era o que sempre me dziam.

Ele saiu às pressas, logo que aterrissamos. Na verdade, não poderia ter saído mais rápido. Sem nenhuma oferta para me ajudar a tirar as malas. Eu não poderia culpá-lo. Até eu correria de mim.

N/A - Segundo Capítulo...essa não é a minha parte favorita da história...eu não gosto de ver a Hermione triste. Mas ela vai ficar muito tempo assim ainda = (...Mas vamos indo um Capítulo de cada vez...eu pretendo atualizar todo sábado, mas talvez num dê certo quando eu começar a faculdade, então talvez demore um pouco mais.

Nannah: Que bom que achou a fic interessante...continue lendo e comentando que ainda vai ficar muito melhor.

Leandra Barcellos: Ahuahuaha...ainda tem muito mais coisa engraçada! Eu ri muito quando li o livro. Continue lendo que eu vou tentar postar o mais rápido possível.

Rhina: Hauhauhauha...Pobre Hermione mesmo...mas calma...ela sai da deprê ainda...mas talvez não tão cedo!!!

✿ Luisa k. Malfoy ✿: Que bom que está gostando da fic! Muito obrigada...mas eu não sou muito criativa...estou mais copiando do livro que criando neh, mais...garanto que lendo a fic, vai ter uma noção muito boa do livro.

Bruh ternicelli: Eu odeiooo o Rony nessa fic também...nossa eu acho que a Mione até que se controlou demais também, mas você sabe, ela estava ainda meia aérea da anestesia. Ele foi sacana, foi em um momento que ela estava vuneravel. Mas ele ainda vai ter a dele. Vou te avisar sim quando atualizar e vou ler sua fic assim que puder. beijooooo e continue acompanhando a fic!

Natália Regina: Confesso que não gostei do final do livro também...achei que ficou muito mau explicado e nos deixou com aquela incerteza. Por isso sim eu vou fazer o final diferente, até porque eu pretendo fazer um Epílogo. Continue acompanhando para ver direitinho, se bem que o final ainda está muito longe...

Agradecimento especial a Isa_amÉba³ & Ana Flávia Feia ^^....hauhuaha
Meninas super gente boa, que sem pedir nada em troca fizeram uma super capa pra mim...Obrigada mesmo!!!!

Bem gente...é isso...continue lendo e comentando, obrigada a quem já comentou...^^
Muitos beijos!!!!
Até semana que vem *-*

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