1 - Além do Limiar (Versão Res

1 - Além do Limiar (Versão Res



Beggining


 


The moon drops one or two feathers into the field.   


The dark wheat listens.


Be still.


Now.


There they are, the moon‘s young, trying


Their wings.


Between trees, a slender woman lifts up the lovely shadow


Of her face, and now she steps into the air, now she is gone


Wholly, into the air.


I stand alone by an elder tree, I do not dare breathe


Or move.


I listen.


The wheat leans back toward its own darkness,


And I lean toward mine.


                    


                                                                 -  James Wright




Little Hangleton: Janeiro de 1978


 


O frio e a neve mais uma vez castigavam, como costumeiro naquela pequena cidade no Norte da Inglaterra, onde as noites sempre pareciam mais frias do que no resto do país.


Little Hangleton não era exatamente um paraíso, e nem muito mais do que uma minúscula cidade fantasma, que servia a seu propósito de esconder a sede dos Comensais da Morte, mas que sempre dava a todos um enorme desejo de deixá-la. Ou a quase todos, é claro.


Bellatrix Black ainda se encontrava na sede, mesmo que a última reunião tivesse terminado há um longo tempo, ela observava os flocos de neve que caíam e batiam contra a janela levemente congelada a sua frente. Os dedos finos da bruxa faziam arabescos no vidro embaçado, quase de forma involuntária.


Ela gostaria de dizer que seus pensamentos estavam vazios, mas a verdade era que eles não paravam, como uma voz quase inaudível no fundo de sua mente destinada a nunca deixá-la em paz.


Herdeira de uma família à beira da derrocada, a Princesa dos Black, como anos antes fora chamada, dez anos após sua formatura, não era nada daquilo que os Black haviam sonhado para ela. No entanto, Bellatrix era tudo o que havia sonhado para si mesma. A primeira Comensal da Morte mulher, braço direito (“ou esquerdo”, alguns comensais diriam) do Lorde das Trevas, ensinada por ele em pessoa, de longe a melhor em batalha de todas as hordas. Eles estavam em guerra, e tudo com o que ela menos estava preocupada era um casamento, ou filhos. Estes tiveram de esperar.


E já haviam esperado o suficiente, sua família havia decidido. Rodolphus Lestrange fora o escolhido. Linhagem nobre, sangue puro, extremamente rico. O casamento ideal, eles diziam. O anel de brilhantes em seu anelar esquerdo era a prova de seu destino. O Lorde das Trevas havia aprovado, é claro. Para ele, nada mais feliz do que dois de seus melhores Comensais perpertuando linhagens bruxas tão antigas. Ele não amava, ou tampouco incentivava o amor, mas a imortalidade da magia trazida por casamentos e herdeiros, esta sim era extremamente importante para o mestre. Nem todos eram imortais como ele. Alguns a chamariam de louca, mas ela acreditava nos rumores. Ele era imortal.


- O que ainda faz aqui, Bella? - ela foi acordada subitamente de seus pensamentos pela voz de seu mestre, e virou-se de sobressalto em sua direção. Ele estava recostado na porta, estudando-a com os olhos, sua expressão vazia, mas seu tom não parecera de desaprovação. Pelo contrário, parecia quase curioso.


- Milorde, - Bellatrix cumprimentou-o com uma reverência e fitou o chão, esperando que sua mente estivesse correta e ela não o tivesse aborrecido. Não que ela o temesse, não havia motivos para tal, mas a ideia de desapontá-lo a corroía. - eu me distraí com a neve, minhas desculpas se isso o incomodou…


- De forma alguma, - ele deu de ombros - as portas de minha casa estarão sempre abertas para você, minha cara.


Bellatrix quase engasgou com o ar em seus pulmões, e endireitou a postura, para olhá-lo nos olhos. Ouvir aquilo… não podia haver maior honra. Ela mal sabia responder, era como se tivesse esquecido-se das palavras, de como formar frases, de como se dirigir a ele.


- Mesmo porque… - ele deu alguns passos na direção dela, daquela forma quase etérea que ele sempre andava, mal fazendo qualquer tipo de ruído ao se movimentar. Ela acidentalmente o mediu de cima a baixo, as vestes negras que ele usava eram longas, arrastavam-se atrás dele e cobriam seu pescoço, quase camuflando-se com os fios de cabelo negros na nuca do Lorde das Trevas. - Observa-la nestes últimos minutos não foi exatamente desagradável.


- Observar-me? - ela indagou, num tom que nunca tinha ousado usar com o Lorde das Trevas, quase provocante. Ela não se reconhecia. A ideia de ter o Lorde observando-a nas sombras despertara uma insolência que sua sensatez não parecia conseguir controlar. - Esteve me observando, milorde? Interessante, não pensei que algo tão mundano como observar seus comensais lhe trouxesse qualquer tipo de prazer.


As palavras haviam saído de sua boca sem que ela pudesse antes controlá-las, e não havia volta. Ela sabia disso, mas uma parte de si gritava em curiosidade do que podia vir, do que as palavras de seu Lorde incitavam. Talvez ela estivesse sendo louca, é claro, mas ela já havia cruzado uma linha e era muito tarde para se arrepender. O medo de desapontá-lo estava lá, no fundo de sua mente, como sempre… mas o desejo de estar indo na direção certa estava abafando o som.


- Muito pelo contrário, minha cara Bella, o seu caso é digno de longo estudo. - Voldemort não mostrava sinais de ter se enfurecido, e aquela voz preocupada sumiu dos pensamentos de Bellatrix. - Como sua aparência não combina com seus pensamentos e essência…


Bellatrix engoliu seco, ela sempre soubera da Legilimência de Voldemort, e nunca fechara a mente para ele, pelo contrário. Por melhor Oclumente que ela pudesse ser, bloqueá-lo era quase uma heresia para ela.


- Minha aparência? - ela devolveu, com a voz baixa, e a poucos metros de Voldemort, que em algum momento havia terminado de cruzar a sala sem que ela notasse. - Não entendo o que quer dizer, milorde.


- Não se faça de tola, Bellatrix, nem de modesta. - ele devolveu, com uma secura que a perturbou por um momento. - Nenhum dos dois combina com você… sabe muito bem o efeito que tem nas pessoas, e como usá-lo a seu favor. No entanto, - ele a mediu de cima a baixo - por vezes me pergunto o quão medíocre você seria se não tivesse essa essência tão feroz, mesmo com toda a beleza. E você sabe disso, sabe que não seria mais do que uma esposa troféu se tivesse seguido o destino que sua família desenhou, mas isto é inaceitável, não é? - ele estava tão próximo, que Bellatrix praticamente podia sentir o toque das vestes dele nas suas. Ela nunca estivera tão próxima, e os olhos de seu mestre pareciam ainda mais vermelhos àquela distância, alguns pontos ainda permaneciam negros… como seu tio lhe dissera que um dia foram. - Tanto potencial jogado fora, para ser a Madame Lestrange… este é seu medo mais profundo, e não preciso de Legilimência para ver.


Bellatrix não sabia como responder, aquela situação toda estava tomando um rumo que ela não sabia mais controlar, e a proximidade de Voldemort a deixava confusa, muito confusa. Sua garganta estava seca, e sua respiração alterada. Ele, no entanto, não mostrava nenhum sinal de alteração. Aquele assunto era muito pessoal, mas ao mesmo tempo o Lorde tinha total acesso a seus pensamentos.


- Rodolphus… ele vem de uma família ancestral e -


- E você sabe que merece mais. - ele a cortou - Você quermais, Bellatrix…


A bruxa parou de respirar por um momento, ela sabia a que ele estava se referindo. É claro que ele sabia, tendo acesso irrestrito a seus pensamentos, das noites em claro que ela passara pensando em como seria tê-lo próximo como estava naquele momento, e ainda mais próximo… e como ela se satisfizera naquelas noites, deleitando-se em suas fantasias. Por mais que ela tentasse lutar contra, as memórias de seus devaneios inundavam sua mente, e ela se preparava para pedir perdão, quando Voldemort aproximou-se um milímetro mais, com a expressão tipicamente neutra aos poucos transformando-se em algo que ela não conseguia desvendar… interesse, curiosidade? Ela não ousava adivinhar, mas ela já tinha visto fúria naqueles olhos vermelhos, e a reconheceria.


- E acredita que estou errada, milorde? - ela perguntou, quase tendo que forçar as palavras de sua boca, tamanha a ousadia que aquilo parecia a seus ouvidos. - Que não mereço mais? Que meu destino deve definir-se à mercê dos desejos de Rodolphus Lestrange?


Voldemort então fez o inesperado e tocou sua cintura, de forma tão leve que mal poderia-se qualificar como um toque, mas para Bellatrix aquilo foi quase como um choque, arrepiando até seu último fio de cabelo. Ela ficara tão transtornada com o toque inesperado que nem havia notado que ele havia aproximado-se mais e agora tinha a boca próxima de seu ouvido.


- Oh, de forma nenhuma, minha cara. Sendo realista… - ele sussurrou, e Bellatrix engoliu seco, quase desejando que os lábios dele tocassem sua pele. Quase? Era o que ela gostava de dizer a si mesma. A mão livre de Voldemort então fechou-se ao redor de seu pescoço, mas de forma tão delicada que em momento algum lhe causou temor. Aquilo não era sobre violência, e ela já podia perceber. Ele fez com que ela deitasse o pescoço um pouco para o lado, e continuou. - Eu não poderia concordar mais, Bella… é de fato um enorme desperdício, mas eu creio que podemos fazer algo em relação a isso…


 - Sou toda ouvidos, milorde. - ela sussurrou de volta, com seu coração quase explodindo pra fora de seu peito. Não era possível que aquilo estava acontecendo.


Por mais insano ou surreal que aquilo pudesse parecer, Voldemort usou seu corpo próximo ao dela para empurrá-la contra a janela, prendendo-a entre o vidro e si. Não havia retorno mais, aquilo fora uma indicação clara, e a boca de Bellatrix estava seca apenas de imaginar o que estava por vir.


- O que sugere? - ela provocou, mesmo que já soubesse a resposta, e Voldemort usou a mão em seu pescoço para fazê-la olhar em seus olhos, que agora pareciam ter mais negro do que vermelho. Bellatrix lambeu os lábios.


Ele nunca respondeu àquela pergunta, não com palavras, pelo menos… antes que ela pudesse pensar, sentiu os lábios finos de Voldemort pressionando-se contra os seus, e era como se o mundo tivesse parado por um momento. Todas as noites em claro, seus desejos mais ocultos tornados realidade.


Os lábios de Bellatrix abriram-se muito antes de que ele tivesse lhe pedido passagem, pois ele nada precisava pedir - ela só queria entregar-se completamente, de alma e, finalmente, de corpo a ele. Uma parte da bruxa ainda não conseguia compreender a realidade naqueles acontecimentos e, portanto, ela agarrava-se ao pescoço e aos ombros dele com força, quase temendo feri-lo.


A pressão do corpo dele contra o seu, principalmente onde seus quadris se encontravam e a excitação de seu mestre se mostrava imponente, fazia com que trazer o ar para os pulmões se tornasse uma tarefa um tanto quanto complicada, e ela sabia que àquele ponto suas roupas íntimas estavam arruinadas devido à própria excitação. Ela o queria, mais do que nunca, queria serdele de formas que nenhum outro homem poderia.


As mãos do Lorde das Trevas mapeavam seu corpo, famintas, ágeis, enquanto a mente dela lutava para decidir onde colocaria as suas. Nunca, ela imaginava, se cansaria da sensação de tê-lo tão junto a si; era quase sufocante como ele a envolvia até o último centímetro de seu ser, os cantos mais escondidos da mente da bruxa abrindo-se a novas possibilidades à medida em que seu corpo acendia sob o toque de seu mestre. No momento em que ela havia jurado ser dele, servir somente a ele, ela não fazia ideia do que estava prometendo. Não na época, mas, naquele instante, Bellatrix entendia abraçava as implicações daquela promessa. A morena nunca poderia ter compreendido o que era pertencer somente a ele, caso aquela noite não tivesse ocorrido. Para a sorte dela, era tudo mais real do que ela podia absorver.


Homens não eram desconhecidos para Bellatrix, se ela fosse ser sincera, os conhecia bem demais. Seduzi-los, enlouquecê-los, controlá-los haviam se tornado alguns de seus grandes talentos na década anterior e armas valiosas enquanto ela lutava por seu espaço em um mundo primordialmente masculino - não que ela houvesse escapado do julgamento associado ao uso de ditas armas, mas Bellatrix estava longe de se importar com o que pessoas inferiores a ela pensavam. Com efeito, a única opinião que lhe importava era a do homem que estava pressionado contra ela e, até onde ela sabia, ele não exatamente se incomodava com os métodos anteriores dela - não até ali. E, se o que estava acontecendo fosse algum indício, provavelmente se agradavadeles.


Voldemort, por outro lado, tinha uma reputação de manter-se sozinho a todo o tempo. Na posição dele, não impressionava a Bellatrix que este fosse o caso. Não era como se alguém pudesse se igualar a ele, em qualquer situação, e a mulher ainda falhava em entender o que teria feito para merecer tamanha honra. De qualquer maneira, ele sabia exatamente o que estava fazendo. Os lábios dele, então trabalhando no alvo pescoço de Bellatrix, eram precisos demais e faziam-na indagar coisas que não devia, como a boa serva que se gabava tanto de ser… O passado de seu mestre era privado, e ela precisava parar de questionar onde ele havia aprendido aquelas coisas e simplesmente aproveitá-las.


Como um aviso ou repreensão, Bellatrix nunca saberia, Voldemort mordeu a curva entre o pescoço e ombro dela com força o suficiente para quase ultrapassar a linha onde a dor deixaria de ser prazerosa - e em se tratando da resistência que ela tinha para dor, aquilo era muito. Contudo, tendo ele parado no quase, Bellatrix gemeu muito mais alto do que queria em resposta. Sendo algo tão simples, ter sido tão vocal e, conforme percebeu depois, ter cravado as unhas no ombro dele com tanta força era bastante exagerado e definitivamente constrangedor.


O problema era que tudo naquele homem apelava para algo muito primal dentro dela, e controle não era uma palavra que ela conseguia manter em seu vocabulário quando estava intoxicada pelo cheiro e pelos beijos dele. Em todos os seus delírios, ela nunca chegara nem perto de como a realidade seria esmagadoramente deliciosa. Que ele exalava poder não lhe era novidade, Bellatrix adorava este traço dele desde que o conhecera, mas nada era comparado a sentir aquele mesmo poder tomando conta dela enquanto em seus braços.


Perdida na quantidade incompreensível de sensações que Voldemort conseguia lhe causar com o mínimo dos toques, encontrando-se praticamente anestesiada de antecipação e incredulidade, Bellatrix mal percebeu quando ele a pegou no colo e moveu-se com ela na direção da mesa de carvalho onde horas antes ele se reunira com ela e os outros Comensais para discutir assuntos de guerra que, naquele momento, encontravam-se escondidos em algum lugar no fundo de suas mentes, esperando pela manhã quando seriam novamente necessários e ouvidos. Somente quando o corpo dela foi de encontro à superfície da madeira, e Voldemort segurou-a pela nuca como se novamente fosse tomar seus lábios, foi que ela percebeu o que tinha acontecido. Ela estava sentada na cabeceira da mesa, ele em pé acomodado entre suas pernas, encarando-a com uma intensidade quase incômoda. Os olhos do Lorde nunca haviam parecido tão vermelhos ou vivos ou, pelo menos, ela nunca os havia visto tão de perto.


- Milorde…? - ela perguntou alguns segundos depois, sem saber bem de onde tirara forças para falar. Ele a observava e Bellatrix se atrevia a imaginar o que passava pela mente de seu mestre, mas, no fundo, ela sabia que eram os seuspensamentos que ele estava analisando.


O olhar de Voldemort moveu-se entre os olhos e os lábios da morena, então inchados pelos beijos anteriormente trocados, e ele lambeu os próprios lábios, uma sobrancelha arqueando-se no que ela imaginava ser um gesto inconsciente, enquanto ele se preparava para falar. - Estamos perigosamente próximos ao limiar, minha cara. - ele começou, com uma firmeza que ainda assim deixava-se ser perturbada por algo que ela não conseguia explicar, talvez uma antecipação que custava a Bellatrix acreditar que podia existir. Não ele, cada um de seus movimentos era planejado. Um arrepio correu a espinha dela com a simples constatação de que ele havia pensado sobre aquela noite, planejado-a… o que fora e o que prosseguiria.


- Perigosamente? Sempre acreditei que desconhecia o conceito de perigo, milorde. - Bellatrix não resistiu à tentação de provocá-lo. - Quanto ao limiar, perdoe-me se tive a sensação... - uma de suas pernas envolveu o quadril do Lorde das Trevas, puxando-o mesmo que milimetricamente para mais perto, trazendo à vida o ponto que ela queria provar. - de que já o havíamos ultrapassado.


A mão de Voldemort, que descansava em sua nuca, moveu-se para agarrar e puxar os negros cabelos da bruxa, somente o suficiente para puni-la pela sua provocante insolência – de forma mais prazerosa, ela concordaria, do que rigorosa. Afinal, aquele era o novo jogo deles, testar os limites que ainda os separavam. Quais poderiam ou não ser explorados… até onde ambos se permitiriam a aventura.


- Existe uma diferença entre chegar, explorar… - os dedos dele entrelaçaram-se dentre os longos fios, e ela se viu novamente à mercê do olhar dele, mais penetrante do que Bellatrix pensava que jamais poderia entender… tê-lo em sua mente era quase tão excitante quanto os toques dele, ela podia senti-lo abrindo porta atrás de porta, derrubando limites e explorando segredos que ela escondia até de si mesma. - E ultrapassar, Bella. É a diferença entre a antecipação e a realização… e, por mais que eu saiba a resposta para minha próxima pergunta, creio ser necessário deixarmos algo claro: Comensais que fariam o inimaginável em obediência e bajulação não me faltam, Bellatrix. E posso lhe garantir que não é isso que espero, e teria enorme prazer em fazê-la mudar de opinião no caso de uma negativa… Portanto, até onde você deseja ir, Bella?


- É quase uma pena saber que não será necessário, não é mesmo, milorde? Seduzir-me, eu digo. A uma hora dessas, corrija-me se estiver errada, já sabe com sórdidos detalhes como eu quero que esta noite termine, como a fantasiei por noites a fio. - Bellatrix inclinou-se levemente para a frente, parando a uma distância pouco confortável dos lábios do Lorde, que deixava transparecer uma expressão satisfeita. - Soube disso muito antes de me beijar… aparentemente, milorde, suas habilidades de conquista vão além do que poderia imaginar, pois fui seduzida há anos. Assim, creio que o senhor queira apenas que eu admita em voz alta. Como preferir, meu mestre. O que eu desejo? Que eu não saia dessa casa enquanto não for completamente sua, que me tome agora mesmo, nesta mesa ou onde quer que lhe agrade, milorde, que… - ela parou, incerta, mas decidiu continuar, seu orgulho não tinha chances de sobreviver àquela noite. - faça com o meu corpo o que há tanto tempo fez com minha alma, mesmo que tenha certeza que me arruinará para qualquer outro homem, pois não consigo me obrigar a me importar.


Nenhuma outra palavra foi necessária, ou possível, uma vez que Voldemort calou-a com outro beijo, ainda mais dominante e febril do que minutos antes, perigosamente próximo do violento, como se as palavras dela houvessem acordado algo dentro do Lorde, que parecia mais do que inclinado em realizar aquele desejo nos mínimos detalhes.


Novamente, seus sentidos foram inundados por tudo que era característico dele:o perfume que ele usava, a textura das vestes que ela agarrava na vã tentativa de trazê-lo para ainda mais perto, a trilha ardente que os dedos do homem deixavam toda vez que tocavam sua pele, o som da respiração de Voldemort, tão sutil e controlada em comparação à dela, o quase apagado gosto de uísque de fogo em sua boca… antes do que ela gostaria, podia se acostumar com aquilo, se viciar naquele sentimento de pertencer a ele, de se afogar nele.


Subitamente, ela sentiu Voldemort apertar uma de suas coxas por debaixo de suas roupas, sem conseguir precisar quando sua saia fora levantada - não que aquilo fizesse a menor diferença, é claro, era apenas impressionante o quão imersa ficava perto dele.


Os dedos do Lorde eram mais frios do que os de qualquer homem que Bellatrix conhecera, e ela mal podia admitir o quanto aquilo a excitava - era como mais uma das provas de que seu mestre era maisque humano e mesmo assim, por alguma razão, ainda se interessara por ela. No fundo de sua mente, ela tentava se convencer a não pensar em como aquilo mostrava como sua lealdade e fidelidade compensaram, pois ela tinha certeza de que uma coisa não tinha nada a ver com a outra e que precisaria se lembrar de não misturá-las.


Voldemort deixou de beijá-la, em algum momento, e Bellatrix precisou de toda a sua força para não gemer em reprovação - embora a curva sutil no canto dos lábios do Lorde entregasse que ele percebera, como sempre ela se mostrava um livro aberto, mesmo quando não queria ser. Algum mistério devia restar sobre ela, a bruxa imaginava, já que ele era um poço daquilo. A boca do Lorde voltou a distraí-la ao se ocupar com a pele em seu decote e, quase inconscientemente, ela arqueou as costas e agarrou-se aos cabelos negros dele, puxando-o para mais perto de si - considerando que ele insistia em utilizar uma quantidade ínfima de pressão dos lábios, e estava enlouquecendo-a com a tortura - com força o suficiente para se perguntar se não estava sendo insolente. Aquela noção de insolência, no entanto, se tornaria obsoleta para ela em poucos minutos, quando as reações positivas dele a incentivaram a levar suas próprias ações a um novo nível.


Empurrá-lo com força para que ele caísse na cadeira a frente deles não era exatamente o que ela chamaria de sutil, mas o sorriso malicioso de seu mestre, ao cair sentado e ver que ela descera da mesa para se ajoelhar entre suas pernas, fora a prova que ela precisava de que ele estivera lendo sua mente o tempo todo e aprovavaseus planos.


- Sinto a insolência, milorde, e acredito que me castigará mais tarde apropriadamente por meus excessos, mas… - ela parou para começar a abrir as vestes de Voldemort, que a observava atento. - Entendo que não estaríamos aqui caso o senhor desejasse alguém que assentisse com um sorriso. - as mãos dela tocaram o abdômen dele por dentro das vestes abertas, e ela pôde senti-lo tremer de leve quando tocou o cós de sua roupa de baixo.  - Afinal, que graça tem se somente um puder brincar?


Os cabelos da bruxa caíram sobre os verdes olhos, quando - após puxar o cós ligeiramente para baixo - ela se abaixou para mordiscar a pele recém exposta de Voldemort. Bellatrix não podia explicar a satisfação que a marca deixada nele trazia, então ela apenas continuou, deixando sua marca enquanto retirava aquela peça de roupa, eventualmente com alguma ajuda do Lorde, que, pouco depois, decidiu retirar os cabelos que caíam sobre os olhos de Bellatrix, agarrando-os firmemente.


Bellatrix se afastou um pouco, ignorando o puxão nos cabelos - no momento presos no punho fechado do Lorde - causado pelo próprio movimento, para ter a visão dele nu pela primeira vez em sua frente, ou quase isso, se ela considerasse as vestes completamente abertas e quase esquecidas dele.  Ele era magnífico, de uma forma quase sobrenatural que lhe tirava o fôlego: a pele alva parecia brilhar em contraste com os cabelos negros e os olhos intensamente vermelhos, ela podia ver o desenho de cada músculo, e os lugares onde as veias forçavam-se sobre a pele tensa, algumas marcas de batalha em lugares específicos. Ele não parecia completamente confortável estando exposto antes dela, mas Bellatrix sabia a verdade: a partir daquele momento, estava muito mais perdida do que jamais estivera. Sua adoração por ele nunca fora segredo, mas seu desejo pelo homem por trás do mestre era algo que ela guardava para si e não sabia se conseguiria esconder dali pra frente.


Bellatrix o tomara entre os lábios muito antes do que planejara, tomada por puro instinto ao encontrar-se numa situação tão surreal, e precisara abafar um gemido de satisfação ao sentir o gosto dele encher seus sentidos - a excitação do Lorde, se antes não tão visível, era perceptível na ponta de sua língua e a bruxa não conseguia afastar um sorriso perigosamente satisfeito de seu rosto. O gosto dele a inebriava, e toda a situação era excitante o suficiente para que ela se sentisse grata como nunca de estar de joelhos perante a ele mais uma vez, desta servindo-o da maneira mais íntima possível.


Os dedos do Lorde ainda agarravam seus negros cabelos, torcendo as mechas mais e mais perto ao ponto onde a dor e o prazer se confundiam à medida em que ela aumentava seus esforços na tarefa corrente. Por mais enigmático que ele pudesse ser, e controlado como nenhum homem que ela conhecera, ela sabia reconhecer os pequenos sinais que ele lhe dava a honra de transparecer. Voldemort tinha, ela sabia, uma mente fortíssima, mas ela também tinha uma determinação sem igual.


A mão dela subiu pela coxa do Lorde, parando ao chegar à base do membro dele, acariciando os pontos sensíveis da região, enquanto sua boca continuava seu trabalho, cuidando para atingir cada centímetro dele, cada local que o causasse prazer, com uma dedicação que poderia ser confundida com veneração… e, talvez, de fato fosse esse o caso.


Ouvir a mudança na respiração do Lorde fora o suficiente para motivá-la a adicionar sua outra mão à equação, focada nos testículos dele, que respirou ainda mais fundo e puxou dolorosamente os cabelos da bruxa, que não conseguia se importar menos. Por um momento, ela tirou-o completamente da boca, e podia jurar que ele precisara suprimir um som. Bellatrix mordeu o lábio inferior, e o encarou, sorrindo com toda a malícia que não mais precisava esconder.


- Estou tratando-o bem o suficiente, milorde? - ela perguntou, num tom inocente demais para a situação em que se encontravam, e lambeu o membro dele da base à ponta lentamente. - Ou será que meus esforços deverão ser dobrados para satisfazê-lo?


Bellatrix nunca esperou a resposta de Voldemort, no segundo seguinte ela já havia colocado-o de volta na boca, desta vez sugando com ainda mais afinco, aproveitando-se de suas mãos para enlouquecê-lo o máximo que conseguisse. No fundo de sua mente, uma voz dizia que ela nunca mais teria aquela importância e que, além de aproveitar ao máximo, deveria guardar cada segundo, cada cheiro, cada sabor em sua memória. A ideia de nunca mais tê-lo, após deixar-se viciar nele de forma tão irresponsável, era quase cruel e, por isso, ignorada por Bellatrix. Pela manhã, ela teria aquela resposta, então aproveitaria aquela noite como se o sol nunca mais fosse raiar.


Como era de se esperar, muito esforço lhe era necessário para conseguir qualquer reação do Lorde, mas ela acreditava que não saberia o que fazer se fosse diferente daquilo. Voldemort era para ela a imagem do autocontrole e superioridade, portanto aquela situação era mais excitante do que ela gostaria de admitir, trazendo-lhe àquele ponto a clara certeza de que fora ali que ela nascera para estar: aos pés do homem mais poderoso do mundo, o único capaz de entendê-la e, no fundo ela já sabia, de realmente satisfazê-la.


O gosto dele na ponta de sua língua, contudo, não o deixava mentir à medida em que tornava-se mais presente, lubrificando a boca da bruxa e dando-lhe a certeza de que sua lingerie àquele ponto estava arruinada. Não que ela se importasse com aquilo ou com o fato de que seus joelhos doíam, tudo o que ela queria era dar-lhe prazer enquanto ele permitia, por mais que tivesse certeza de que ele não a deixaria levá-lo ao clímax, não tão cedo.


A bruxa relaxou seus músculos até onde era capaz e conseguiu tomá-lo mais profundamente em sua boca, sentindo o membro do Lorde tocar sua garganta, sendo incapaz de conter o sorriso causado pelo suspiro  que ele soltou quando ela engoliu ao redor dele. Ela conhecia alguns truques e não deixaria de usar nenhum naquela noite, que poderia ser sua única. Lentamente, ela o removeu da boca, aproveitando para dar a atenção necessária para cada centímetro. Ela voltou aos movimentos da boca e da língua que estava fazendo anteriormente, focando-se na glande e na parte superior, apenas para, minutos depois, engoli-lo por completo novamente, voltando mais uma vez ao anterior - quase tornando difícil para Voldemort manter sua postura blasé o tempo todo. Não que a postura a incomodasse, é claro, pois adicionava à mitologia da coisa toda, aumentava o desafio… e oh, como ela gostava de um desafio. No fundo de sua mente, ela quase se deixava ansiar pelo dia em que o enlouqueceria.  


Ela não pôde, contudo, divagar por muito mais tempo. No segundo seguinte, Voldemort a puxara com considerável força pelos cabelos, - não que ela se importasse, pelo contrário - e fez com que ela se erguesse até que seus rostos se encontrassem novamente. Ele a encarou por um segundo, sem dúvida passeando por seus pensamentos, e permitiu que ela lentamente se acomodasse em seu colo, com uma perna de cada lado do corpo do Lorde.


A mão livre dele subiu pelas coxas da bruxa, sem nunca quebrar o contato visual, por mais que o rosto dele não demonstrasse sequer uma expressão. Os lapsos de reação haviam ficado para trás, e ela sabia que, pelo menos por enquanto, tudo o que teria eram as pupilas insanamente dilatadas dele para se guiar - e ela gostava mais daquele desafio do que devia ser humanamente aceito. Pelo caminho da mão dele, ela sabia que não teria a capacidade de jogar o mesmo jogo dele, porque no momento em que ele a tocasse, ela desmontaria.


Oh, e como ela desmontou. No momento em que ele afastou a renda da calcinha de Bellatrix, a bruxa tremeu sob o toque dele na região já humilhantemente úmida demais. A expressão de Voldemort mudou apenas por um segundo ao constatar aquilo, e ela sentiu um arrepio correr seu corpo apenas de pensar em como aquilo devia tê-lo agradado para conseguir uma reação. Um arrepio ainda mais forte, intenso o suficiente para fazê-la arquear as costas, sucedeu ao anterior, apenas segundos depois, quando os dedos frios do Lorde tocaram seu clitóris, com uma delicadeza inesperada para um homem tão poderoso e impiedoso. Ele estava testando-a, conhecendo seu corpo, e aproveitando cada segundo daquela deliciosa tortura.  


- Por que a vergonha, minha cara? - ele perguntou, em algum momento que ela não conseguiu registrar. - Estava tão segura de si e insolente há poucos momentos, o que mudou? - E, com isso, ele aumentou a pressão e velocidade de seus dedos, levando-a a morder o lábio para abafar um gemido.  - Estamos aqui porque você não é como os outros… não quer apenas me agradar para receber algo em troca, ou por pensar saber o que eu quero ouvir. Tudo em você é genuíno, e meu desejo é que esta noite também seja, completamente. Não há razões para temer, aqui, esta noite, algumas insolências são toleráveis. - os dedos dele desceram um pouco, abrindo caminho lentamente até encontrarem sua entrada.


Bellatrix diria a si mesma, no futuro, que tentara conter o som que saiu de seus lábios quando Voldemort calmamente introduziu dois de seus dedos nela, movimentando-os apenas o suficiente para ajustá-los, mas a realidade era que ela nem mesmo teve tempo de tentar. A bruxa podia ver por detrás da calma dele, por mais difícil que fosse, e sabia o quão satisfeito ele ficara em vê-la perder o controle que os Black haviam levado tantos anos para ensinar. Bellatrix sempre fora uma pessoa que retira muito mais do que oferece, na vida e principalmente na cama, contudo aqueles poucos minutos eram suficientes para que ela soubesse que aquela balança estava prestes a virar completamente. A pior parte, como ela gostava de acreditar, era o quanto ela estava gostando daquilo, de perder o controle, de deixar alguém ditar as regras uma vez na vida -uma de muitas’, por um segundo deixou-se pensar, por mais improvável que fosse.


Assim que Bellatrix sentiu que começara a tomar o controle de volta, os dedos de Voldemort começaram a se mover dentro de si, curvando-se apenas o suficiente para tocar os lugares certos, aqueles que ela mais gostava, que explorava quando tocava a si mesma. Seus olhos, ela percebeu, estavam fechados e sua cabeça jogada para trás, mas precisava olhá-lo por um segundo, confirmar a suspeita - e quase fantasia, se fosse admitir seus segredos mais bem guardados - de que ele estava, mais uma vez, lendo suas memórias, desvendando-a a partir das próprias experiências.


A sobrancelha do Lorde moveu-se apenas o suficiente para confirmar suas suspeitas, enquanto ele adicionava mais um dedo e criar a pressão perfeita, seu polegar voltou a trabalhar ao redor do clitóris da bruxa, que mais uma vez se viu incapaz de ter pensamentos coerentes. Em algum momento de sua vida, alguém lhe dissera que seguir aquele homem seria sua condenação, e ela percebia que quem quer que fosse tinha de fato um ponto, ela apenas não imaginava que seu fim seria tão prazeroso.


O braço livre dele fechou-se firmemente ao redor da cintura da morena, que agradeceu mentalmente, sabendo que seus braços no encosto da cadeira logo não seriam capazes de sustentá-la. O ritmo dos dedos do Lorde já estava sendo seguido pela respiração de Bellatrix, que sentia uma deliciosa e familiar pressão começar a formar-se em seu abdômen e, por mais que seu corpo gritasse por misericórdia e pelo clímax que já não estava longe, ela queria mais, queria que ele finalmente a tomasse, como fantasiara no passado, e deixara-se desejar nos últimos minutos.


- Posso lhe ajudar em alguma coisa, Bella? - ele perguntou, com um tom diferente de todos que ela havia o ouvido usar, era quase como se ele estivesse se gabando. Voldemort sabia exatamente o que ela queria, mas ele a faria pedir, é claro. A bruxa quase quis rir do quão óbvio e, ainda assim, surpreendente aquilo era. Voldemort era prático, mas mesmo assim gostava de brincar até um certo ponto com suas presas. Naquela noite, ela havia esquecido, elaera a presa. - Você parece querer algo… - os dedos dele pararam completamente de se mover, e ela precisou de todo seu orgulho para não gemer em desaprovação.


Bellatrix suspirou e lambeu os lábios, deixando os olhos vagarem do rosto ao quadril de Voldemort, até a ereção que se mantinha, e deixou a própria respiração falhar um pouco, a própria excitação tomando conta de seu corpo com força o suficiente para fazê-la esquecer qualquer resquício de decoro, orgulho, ou vergonha que pudesse ter tido um dia. A bruxa se inclinou, deixando os lábios tocarem a orelha do Lorde, afinal, ele talvez a fizesse implorar, mas ela teria sua diversão.  


Voldemort retirou os dedos de forma dolorosamente lenta, lembrando-se de tocar cada ponto que havia memorizado na saída, fazendo questão de arrancar alguns suspiros da bruxa, que deixara um dos braços mover-se do encosto da cadeira até a nuca dele, e desatentamente traçava formas na região com as longas unhas.


- Eu tenho certeza, milorde, que sabe muito bem o que eu quero, do que eu preciso, mas já que faz tanta questão de me ouvir dizer... Sinto todo o prazer do mundo em servi-locomo preferir, mestre. - Bellatrix sussurrou, tomando o cuidado de deixar os lábios roçarem no ouvido dele a cada palavra. - E imagino que sentirei ainda mais, assim que realizar seu desejo… Afinal, é e sempre foi imensamente generoso…


- Não tenha dúvida, minha cara. - ele respondeu, com o que se assemelhava a um tom de diversão na voz, ou o mais próximo possível vindo dele. - Estava dizendo…


- Ah, sim… O que eu quero, milorde, é que deixemos as brincadeiras de lado, por mais prazerosas que possam ser, e que dê-me a honra de finalmentetornar reais as noites que presenciou em minha mente… Quero que me tome por completo, que eu possa ser finalmente sua. Quero você, mestre… Pergunto-me se fui clara o suficiente? - Bellatrix provocou, afastando-se o suficiente para olhá-lo nos olhos.  


A capacidade de decifrar o Lorde das Trevas não era um talento que Bellatrix tinha a pretensão de algum dia adquirir, pois em se tratando de seu mestre ela não acreditava que tal feito era possível. Contudo, a expressão no rosto do Mestre era a mais clara desde o início da noite, o desejo tornando-se pela primeira vez evidente, sem o véu de indiferença que ele sempre usava e, segurando-a firmemente pela cintura com ambas as mãos, ele lhe mostrou o quão clara ela havia sido.


De forma lenta e torturante, um centímetro por vez, ele a preencheu, arrepiando até o último fio de cabelo de Bellatrix, cujas unhas não tiveram pudor de se afundar na pele alva da nuca do bruxo. Ele não quebrou o contato visual em momento algum, olhando certamente tudo aquilo que ela um dia desejou esconder, e a forma como aquilo a excitava seria vergonhosa se ela ainda fosse capaz de se importar, o que não era o caso. Eles, naquela sala, naquela noite, eram a única coisa que lhe significava algo naquele momento, e se sua vida alguma vez estivera no rumo em que devia, era naquela noite.


Por mais cliché que pudesse ser, quando ele entrou por completo nela,  parando por apenas um instante, e seus rostos foram colocados no mesmo nível, encaixados quase que perfeitamente, ela sentiu como se estivesse de certa forma destinada a ser dele, a estar ali. E, evidentemente, usou toda a oclumência que havia aprendido para evitar que ele visse aquilo, percebesse o quanto aquela ideia a agradava. Bellatrix sabia que não podia deixar o que quer que estivesse acontecendo entre eles se tornar emocional, mas o que ela poderia fazer se, desde o início, toda sua relação com ele fora mais profunda do que ela mesma conseguia controlar? A devoção absoluta que ela nuncapoderia deixar se tornar algo além, ou seria o seu fim.


Rapidamente, o momento se dissipou, quando Voldemort levantou-se da cadeira, segurando-a firmemente pela cintura, para sentá-la na mesa a frente deles. Quando posicionados, os movimentos do bruxo começaram sem a incerteza comum a novos amantes, e ela sorriu ao lembrar-se do porquê. As mãos do Lorde afundaram-se nos longos cabelos negros de Bellatrix, que agarrou-se às vestes dele e o puxou para mais um beijo, movendo o próprio quadril para encontrar o dele no meio do caminho, na mesma intensidade, no mesmo ritmo.


Quando uma das mãos dele tocou sua coxa, puxando-a para se encaixar na cintura dele, Bellatrix não havia nem percebido que a dita mão havia descido de seus cabelos e traçado o contorno de seu corpo. A mudança no ângulo fora deliberada, e na próxima vez em que seus quadris se encontraram, Voldemort atingiu aquele mesmo ponto delicioso que seus dedos haviam encontrado minutos antes, e ela gemeu contra os lábios do bruxo, que usou a nova posição para aumentar o ritmo das estocadas.


Não mais ele estava seguindo o ritmo que encontrara dentro da mente dela, mas derivando de tudo que aprendera naqueles pequenos momentos, criando um ritmo e uma intensidade própria delese que crescia a cada segundo, assim como a velocidade das batidas do coração de Bellatrix, que sentia como se fosse sufocar naquele espartilho. Talvez, ela pensava, eles devessem ter se livrado de todas aquelas malditas roupas, mas aquele privilégio teria de ser guardado para um futuro que ela esperava ser próximo.


Voldemort partiu o beijo e passou a se concentrar no pescoço dela, com voracidade suficiente para deixar marcas das quais ela teria orgulho na manhã seguinte. A boca do Lorde chegou ao colo de Bellatrix, e suas mãos acariciaram os seios da bruxa por cima das roupas nunca removidas, e ela novamente xingou-se mentalmente por não ter arrancado aquele maldito vestido ela mesma.


Bellatrix deixou seu corpo relaxar até que suas costas encostassem na superfície da mesa, e posicionou sua outra perna na cintura do Lorde, usando ambas as pernas para trazê-lo para ainda mais perto. A deliciosa sensação que crescia no ventre dela e começava a espalhar-se como fogo por seu corpo lhe dizia que ela não estava longe do orgasmo, e a forma abrupta como Voldemort aumentou o ritmo de suas investidas, já não mais mais precisas e contidas como antes, lhe diziam que ele não estava assim tão longe também, por mais controlado que fosse.


Quaisquer restrições que ela tivesse no passado recente estavam esquecidas no fundo de sua mente, e ela deixou os sons de seu próprio prazer misturarem-se ao rangido da antiga mesa abusada pelos movimentos deles, quase brutos naquele ponto, e à respiração pesada e descompassada do bruxo acima de si, que escondia o próprio prazer na forma como segurava fortemente sua cintura e na tensão de seu corpo, mas que era denunciado pela próprio corpo e pelos olhos, completamente negros.  A mão livre de Voldemort repousou-se na base do pescoço de Bellatrix, sem apertar ou fazer qualquer tipo de força, em contraste à mão que marcava sua cintura e, pela primeira vez, ela o viu desviar o olhar, fechando os olhos por uma fração de segundo.


Aquela ação, ela entenderia logo, foi deliberada, pois no segundo seguinte, ele alterou o ângulo do quadril e a penetrou ainda mais fundo e acertou com mais precisão o ponto dentro dela que a fazia perder o chão, arrancando da bruxa um longo e alto gemido, que foi apenas o primeiro de muitos do tipo, pois dali para frente, Voldemort a penetrou com força e velocidade o suficiente para que ela não conseguisse pensar entre uma estocada e outra, principalmente naquele maldito e delicioso ângulo.


Se o que ele queria era que ela chegasse ao orgasmo antes, estava fazendo um ótimo trabalho, porque ela tinha certeza de que tinha poucos segundos antes que isso acontecesse, seu prazer à beira de explodir. Bellatrix agarrou-se à beira da mesa, e ao braço dele que repousava em seu pescoço, unhas arranhando a madeira, e desfiando o tecido das vestes dele.


As camadas de prazer se empilhavam, como um castelo de cartas lentamente sendo construído no interior da bruxa, que havia esquecido completamente como respirar propriamente. Ela agia por instinto, seu corpo agindo quase que por conta própria, ativo em busca de satisfação, em contraste com uma mente anestesiada, entorpecida pelo prazer.


Os olhos verdes se renderam ao sedutor impulso de se fecharem, ajudando-a a praticamente esquecer onde estava, mesmo que nunca com quem estava, quem estava tomando-a, fazendo-a sua de forma que nenhum antes fizera, numa experiência que ia muito além da física e era quase espiritual. Ela sentia Voldemort alojar-se em cada célula de seu corpo e canto de sua alma, e sabia que estava arruinada para qualquer homem, pois não importava para onde eles iriam daí, ela seria para sempre dele.   


Ah, mas como ele poderia admitir? Não ele. Ser o senhor da vida de outros não lhe era novidade, e quando se tratava de sua melhor Comensal da Morte, começava a parecer natural - pelo menos na mente de Bellatrix - e até mesmo justo que ele a possuísse por completo.  


De repente, a mão antes repousada na base de seu pescoço apertou apenas o suficiente para que tomar sua atenção, e a voz de seu Lorde invadiu seus ouvidos, ou fora sua mente? Nem mesmo Bellatrix sabia diferenciar, não naquela situação. - Abra os olhos. - ele ordenou, num tom grave e severo, que a fizera estremecer por completo. - Você sonhou tanto com esse momento, não foi Bellatrix? Quando eute daria um orgasmo e não os seus dedos...Então não ouse desviar o olhar. - aquela era uma ordem que ela nunca ousaria desrespeitar. Bellatrix abriu os olhos novamente, focando-os, por mais turvos que estivessem no resto de vermelho presente nas bordas dos olhos de seu Lorde, sentindo seu corpo dar os sinais finais do orgasmo tão antecipado.


Voldemort investiu mais uma vez contra seu corpo, com ainda mais intensidade do que anteriormente, e ela não pôde ou quis ir contra o orgasmo que tomou conta de seu corpo, irradiando ondas de prazer por cada centímetro, suas paredes internas se contraindo ao redor dele enquanto suas pernas tremiam e seu coração martelava contra seu peito como se quisesse abri-lo. Ela não sabia o quanto fora capaz de controlar sua voz quando chegou ao ápice, mas desconfiava que muito menos do que gostaria.


Seu corpo fervia, em todas as extremidades, a pouca pele à mostra rubra com a quantidade aumentada de sangue vindo à superfície, e ela não tinha controle dos próprios membros, mal conseguindo se manter na mesma posição ao passo que ele continuava entrando e saindo dela em busca de sua própria satisfação, acordando os nervos sensibilizados dela a cada movimento.  


Como ou em que momento ela mudou de posição, voltando a se sentar na mesa, próxima a ele, eram perguntas que Bellatrix não sabia responder. Contudo, se as mãos dele firmemente espalmadas em suas costelas e lombar eram algum indicativo, ele tivera muito a ver com a mudança. Bellatrix entenderia em segundos o motivo daquilo, pois ele se aproveitara da posição para esconder o rosto na curva entre o pescoço e o ombro da bruxa, no momento em que seu orgasmo o atingiu, abafando com a pele dela quaisquer sons que ele não conseguisse reprimir.


Voldemort se manteve parado por um segundo, enquanto ela era preenchida pelo calor de seu prazer, sentindo-se muito mais satisfeita com aquela situação do que deveria. Ainda lhe era impressionante o estado de quase hipnose em que ele a colocava, e como as simples palavras dele eram o suficiente para enlouquecê-la. O segundo durou pouco demais e, quando ele se moveu, saindo por fim dela, não sem antes mordiscar a sensível pele logo atrás da orelha da bruxa, Bellatrix sentiu a esmagadora realidade. Estava acabado… o que quer que aquilo tivesse sido, estava acabado. Um terror tomou conta de seu corpo, e ela permaneceu ali, sentada na mesma posição, pelo o que pareceu uma eternidade.  


- Sinto lhe informar, Srta Black. - a voz dele a despertou, e Bellatrix seguiu-a até encontrá-lo sentado na mesa cadeira que estivera pouco antes. - Mas não é assim que as coisas funcionam… - Bellatrix franziu o cenho, incerta do significado das palavras de seu Lorde. - Imaginei que, após todos esses anos, você já teria aprendido a maior lição que um Comensal da Morte pode aprender: A palavra final é sempre minha. Nadaestá acabado até eu dizer que está.


O corpo inteiro de Bellatrix enrijeceu, o calor anterior substituído por um frio avassalador, e as palavras pareciam difíceis demais de processar. Ela não sabia o que dizer, ou o que pensar, ou se havia entendido direito. Uma das coisas mais interessantes sobre ele era como conseguia confundir e tirar os eixos uma mulher que sempre fora uma rocha, mas também, era com o Lorde das Trevas que ela lidava. No entanto, se aquela noite lhe ensinara alguma coisa, era que ele a escolhera para estar ali porque dois podiam jogar aquele jogo.


- Perdoe-me, milorde, por meu devaneio… mas em meu entendimento, as regras dos Comensais da Morte não se aplicam a isto. - ela gesticulou os braços ao redor de si, e Voldemort arqueou a sobrancelha. - Já que fez tanta questão de se certificar que estivéssemos na mesma página…


Voldemort a observou por um momento, a mão repousada no queixo, e a expressão similar àquela que ele reservava para os momentos em que ela havia excedido suas expectativas. - Touché, minha cara… Devo admitir que está completamente correta, mas se entendo bem sua linha de pensamento, imagino que deseja encerrar a noite por aqui?


A incapacidade que ela encontrou de controlar a própria expressão facial irritou Bellatrix muito mais do que a expressão de completo horror que ela não conseguiu  evitar. Era quase humilhante, mas não era como se ele não pudesse ler seus pensamentos de qualquer forma. Ela era melhor do que aquilo, mas apenas a ideia de ir embora naquele momento foi o suficiente para desestabilizá-la.


- Não, é claro que não, milorde! Não foi o que eu quis dizer, nem o que desejo, muito pelo contrário. Se o senhor assim o desejar também, é claro... - pelo menos a voz ela conseguiu controlar melhor do que esperava, não soando nem um terço tão horrorizada quanto parecia. Voldemort parecia extremamente satisfeito consigo mesmo, e a respondeu com um aceno de cabeça. - Assim sendo, - ela parecia finalmente ter tomado controle de suas expressões e corpo. - Como posso continuar servindo-o, mestre?


O mesmo Voldemort que minutos antes fizera questão de controlar suas expressões e reações o máximo possível, não parecia fazer tanta questão mais de ser indiferente, e deixou os olhos correrem pelo corpo de Bellatrix, que sentiu-se completamente nua debaixo do olhar do Lorde. Cada fio de cabelo arrepiando-se com a intensidade com que ele a estudava, como se estivesse despindo-a peça por peça em sua mente, e ela tinha uma aposta do que estava por vir.  - Pode começar livrando-se do vestido…


 


Dois dias haviam se passado desde que Bellatrix havia deixado aquela mesma casa no meio da madrugada, após o que parecera a mais longa e prazerosa noite de sua vida, e voltara a sua  rotina normal - provando-se completamente incapaz de tal feito.


Quarenta e oito horas até que sua marca finalmente ardera e, muito para seu desprazer, a de todos os outros Comensais da Morte junto. Seu mestre os havia convocado para uma reunião de emergência, devido à derrota dos gigantes em batalha e as implicações daquilo para a guerra.


Voldemort discursava eloquentemente, mantendo a atenção de todos, inclusive a dela, por mais difícil que fosse se concentrar no que ele dizia, no conteúdo e nos receios em relação à guerra, em quais novas estratégias implementar, e como reagir àquele obstáculo. A palavra final, evidentemente, seria de Voldemort, mas os Comensais não tinham pudor algum de fornecê-lo com alternativas.


- Bella… - ela ouviu seu nome ser chamado, e encontrou a mesa toda encarando-a. - Está terrivelmente quieta esta noite, teria a derrota dos gigantes inspirado temor logo em quem sempre foi tão destemida?


Bellatrix olhou a seu redor e viu alguns de seus colegas encarando-a num misto de desprezo e deboche, mas era o olhar severo e sério de Voldemort que lhe fazia alguma diferença… somente ele importava, os Comensais da Morte podiam pensar o que quisessem.


- Não, milorde, de forma alguma. - ela pigarreou e ajeitou-se na cadeira, - Sou apenas cautelosa o suficiente para não lhe oferecer soluções paliativas ou ineficazes. Com um problema deste tipo, precisamos, e creio que o mestre verá acerto em meu ponto de vista, agir de forma direta, quase cauterizadora. Uma derrota pode, e vai certamente, dar a nossos inimigos novo fôlego. Da forma que eu vejo, se for de seu agrado, o que precisamos fazer é controlar como este fôlego será usado… - ela girou a própria varinha entre os dedos, controlando a própria mente para permanecer focada no problema a frente, e não no que acontecera dias antes. Ela podia e seria mais profissional do que aquilo, por mais que aquela mesa lhe trouxesse lembranças maravilhosas demais para serem completamente ignoradas.


- E o que sugere? - Voldemort relaxou na enorme cadeira, e apoiou o próprio queixo na mão, observando-a atentamente.


- Deixe-os criar confiança, inflarem os próprios egos, acreditarem que tem qualquer chance de vencer essa guerra, tornarem-se tolos e esperançosos… Descuidados. - os lábios da bruxa curvaram-se em um sorriso involuntário, carregado de sadismo e antecipação para o que estava prestes a dizer. - E, então, deixamos que se enforquem na própria corda que teceram.  


- Albus Dumbledore não se tornará descuidado, minha cara, por mais corda que eu o deixe tecer…


- Com todo o respeito, mestre, Albus Dumbledore não é o Ministro da Magia. E, até onde fomos informados, o Ministro não o ouve tanto quanto se imagina... - ela respondeu, deixando a própria mente vagar além do que deveria, a lembranças proibidas que ela devia deixar enterradas. - Dumbledore é apenas um homem, milorde, em meio a um sistema egocêntrico e falido…


- A Ordem da Fênix dirá aos seus que eusou um homem, Bellatrix… em meio a um bando de bajuladores, talvez. - Voldemort arrancou uma risada dos Comensais presentes, e Bellatrix mordeu o lábio para não rir junto, porque a verdade não era nem um pouco engraçada.


- A Ordem da Fênix pode dizer o que quiser, mas nóssabemos a verdade: neste bando de ‘bajuladores’, cada Comensal vale pelo menos dez aurores, e milorde… Está longe de ser apenasum homem, vale mais do que todos aqueles idiotas do Ministério juntos, e derrotaria Dumbledore e Grindelwald ao mesmo tempo, se tivesse a oportunidade. Estamos na presença do bruxo mais poderoso da história, e o mundo bruxo sabe disso, ou não temeriam a menção de seu nome. - Bellatrix sentia o próprio coração disparar, apenas por falar dele daquela forma tão sincera, e precisava controlar-se para não colocar mais paixão do que devia nas palavras. - Deixe-os acreditar que Dumbledore pode os salvar, e quando o momento chegar, mostre o Ministro e o velho pela farsa que realmente são…  Mostre a todos esses traidores o que verdadeiro poder é, logo quando acreditavam estar salvos… E a guerra estará ganha de uma vez por todas, e poderá reinar sobre todos sem essas moscas no caminho.


Voldemort levantou-se da cadeira, seguido por todos os presentes, incluindo Bellatrix. Ele parecia pensativo, e ficou calado por vários segundos, observando as expressões - e possivelmente as mentes - daqueles a seu redor. Os documentos da mesa foram guardados magicamente nos armários da sala, antes que Voldemort novamente se dirigisse a eles. - Deram-me muito a refletir sobre nossos próximos passos, e logo os informarei de minha decisão de percurso a ser tomado. Estão dispensados… - com reverências, os Comensais se retiraram um a um, até que apenas Bellatrix permaneceu na sala, observando o Lorde que se afastava casa adentro. Ele nunca olhou para trás, e ela imaginava que seria a vida deles dali pra frente. Como sempre fora, a mesma relação de sempre, como se aquela noite nunca tivesse acontecido e fosse apenas mais uma de suas fantasias noturnas.


Bellatrix suspirou, irritada com os próprios devaneios e tolices. Obviamente, a vida seguiria como sempre, por que seria diferente? Como poderia ser? Ela era uma Comensal da Morte, e Voldemort seu mestre, por mais que ele lhe tivesse concedido a honra daquela noite, era tudo o que teria, e provavelmente nunca nem mesmo tocariam no assunto. Uma noite memorável que devia ser esquecida.


- Não vai me seguir? - ela ouviu a voz dele, vinda da porta.


- Milorde? - Bellatrix curvou-se rapidamente, confusa pelo retorno de Voldemort.


- Para o escritório, Bellatrix. - Voldemort respondeu, sem demonstrar paciência. - Foi por isso que ficou depois dos outros, não? Sua sessão de tutoria…


Sessão de tutoria. Por anos, Voldemort a ensinara tudo o podia ser aprendido sobre artes das trevas, como dominá-las, usá-las, amá-las. Ela tivera a honra e o privilégio de receber aquelas aulas diretamente de seu mestre, de ter sido treinada pelo homem que mais admirou na vida, e em meio a sua loucura dos últimos dias, havia esquecido que tinha mais uma marcada para aquela noite. Era vergonhoso o esquecimento, e ela lembraria de se odiar mais tarde, quando houvesse tempo. Voldemort provavelmente havia lhe falado do conteúdo na sessão anterior, e lhe passado algo para ler e, pela primeira vez em anos, ela estava completamente despreparada.


- É claro, milorde, foi por isso que fiquei… O seguiria em um segundo, - ela forçou um sorriso e seguiu Voldemort até o escritório, tentando imaginar o que estava por vir, mas a verdade é que, por mais que tivesse lido todos os materiais entregues, ela nuncaestaria preparada.


 


Maldição Imperius. Não era a primeira vez que eles lidavam com aquele assunto naquelas sessões, diversas vezes ela havia aplicado e recebido a maldição, aprendendo sobre todos os diversos aspectos da mesma. A Imperius nunca fora a sua favorita, sempre vira a Cruciatus como a mais interessante das três imperdoáveis, mas ela tinha seus usos, era inegável.


A adaga de prata repousava em suas mãos, enquanto Voldemort a observava encostado à mesa. Ela estava parada no meio da sala, e a varinha do Lorde estava apontada para seu peito.


- Até o momento, tratamos de todas as esferas da Imperius, Bellatrix, mas existe uma única parte que você ainda não conseguiu dominar. - Voldemort começou, sem olhar diretamente para a bruxa, que o estudava confusa. - Você sabe aplicar a maldição, resistir a ela quando aplicada por bruxos inferiores a você, mas nunca conseguiu resistir a mim.


Bellatrix congelou no lugar em que estava, de fato eles haviam passado por diversas tentativas de resistência, mas ela nunca fora capaz de desobedecer as ordens dele e a verdade era que isso acontecia porque ela queriaobedecê-lo, ele nunca precisaria de uma maldição para conseguir sua cega obediência, e isso dificultava todo o processo.


- De fato, milorde, sempre falhei neste quesito… - ela admitiu, sem conseguir mascarar o orgulho que sentia de não conseguir desobedecê-lo por mais que tentasse, mas a expressão séria dele lhe mostrou uma outra realidade: Voldemort queria que ela resistisse a ele, que dominasse aquela habilidade.


- E não podemos ter isso, Bella, por mais que seja eu… preciso saber que é forte o bastante, pelo menos no que importa. - ele parou por um momento, - E foi por isso que te entreguei essa adaga… Vamos tentar novamente, que tal?


Bellatrix assentiu e respirou fundo, concentrando toda a força mental que tinha, e esperando ser finalmente capaz de corresponder às expectativas de Voldemort. Tudo o que ela quisera na vida fora agradá-lo e servi-lo, Voldemort dera à sua vida um propósito e significado que sua criação dos Black falhara em lhe fornecer - pelo menos algo em que ela visse valor, muito longe da ideia de garantir a pureza de sangue apenas dando à luz mais sangue puros. Ela podia fazer mais, ela fariamais, e Voldemort lhe puxara na direção da grandiosidade, muito além do conformismo de seus pais.


- Imperio. - ele sibilou, a palavra mal chegando aos ouvidos dela antes que ela perdesse qualquer controle sobre a própria mente. O efeito da Maldição Imperius no corpo de uma pessoa era muito curioso, ele inicialmente causava uma certa sensação de anestesia, como se seus pensamentos estivessem muito baixos, quase inexistentes, e seu corpo mais leve do que jamais fora. Todo o poder que teve sobre si mesmo rendido a um outro alguém, e todo o peso das decisões com ele. - Bellatrix… Eu quero que você pegue a adaga em suas mãos e a crave no meu coração.


A mulher havia experimentado anteriormente a mudança brusca na Maldição Imperius quando a vítima começa a tentar resistir: a anterior sensação de leveza é substituída pelo o que ela gostava de descrever como cordas invisíveis que controlam cada movimento como o de uma marionete, machucando e forçando o afetado a deixar de resistir.


A diferença era que quanto mais se resistia, pior o efeito e, no momento em que aquela ordem fora dada, Bellatrix sentira como se correntes em brasa a puxassem na direção dele, e estendessem sua mão para frente, apontando-lhe a adaga.


Seus olhos imediatamente encheram-se de lágrimas, cada passo era fisicamente doloroso, e parecia pesar uma tonelada. A mente da bruxa lutava freneticamente contra o poderoso feitiço que a controlava, seus membros superiores e inferiores tremendo e sua cabeça já explodindo com uma dor que duraria pelo resto do dia.


- Milorde… é, é muito forte. - ela conseguiu falar, após alguns segundos, quando já estava próxima demais dele para ser seguro. - Eu não vou conseguir!


Voldemort não pareceu se abalar pelas preocupações dela, e se manteve imóvel, recostado à mesa como estivera segundos antes, provavelmente monitorando a luta interna de sua pupila, que já não conseguia conter as lágrimas, de dor, desespero e frustração. Ferir Voldemort estava completamente fora de cogitação para a bruxa, que se desesperava com a culpa em relação a algo que ainda não havia feito, e não tinha metade da confiança que seu mestre parecia ter no resultado daquela sessão.


- Não tente me usar como muleta para sua própria incapacidade, Black. - ele vociferou, quando os joelhos dela encostaram aos dele. - Eu não vou pará-la e, se eu sangrar nesta sala hoje, a culpa será completamente sua. Lute, Bellatrix, torne-se dona de sua mente mais uma vez! Mostre-me o seu valor, mostre-me que é capaz de ultrapassar seu último desafio!


Dentro de sua cabeça, Bellatrix sentia-se como uma criança aprisionada dentro de diversas caixas acorrentadas, gritando por socorro e sem ser ouvida, com seu corpo sendo completamente alheio a seus pensamentos. Ela conseguira, com muito custo, arrebentar paredes mentais o suficiente para que seu corpo permanecesse congelado, ainda que trêmulo, exatamente em frente a ele, com a adaga apontada, quase encostada à camisa do Lorde, que a encarava sereno. Voldemort tinha uma confiança que ela estava longe de ser capaz de ter, e seus tremores eram tanto de medo quanto eram de exaustão devido à toda a força física e mental que ela estava tendo que usar contra si mesma.


Num acesso de confiança, ou numa tentativa de forçá-la ainda além, o Lorde abriu alguns botões de sua camisa, e apontou seu indicador para um ponto no lado esquerdo de seu peito. Bellatrix não precisava que ele dissesse as palavras, ali era onde estava exatamente seu coração.


- O que está te impedindo, Bella? É bem aqui, - ele segurou a mão dela com a adaga, e a puxou apenas alguns centímetros para mais perto, encostando a ponta contra a alva pele. A bruxa sentiu outro enorme tremor correr seu corpo, e as lágrimas que ela não queria derramar começaram a manchar seu belo rosto. - Termine sua tarefa, Bellatrix! Faça o que eu ordenei!


Em sua visão periférica, ela conseguiu ver que ele tinha a varinha próxima da mão direita - uma medida de emergência caso ela não conseguisse se soltar, talvez? Era o que ela esperava, pois o feitiço era forte demais e a cada corrente que ela conseguia soltar em sua mente, outra surgia.


- Milorde, libere-me, por favor, eu não quero feri-lo! - ela suplicou, a voz já embargada pelo choro incontrolável.


- Mas eu quero que você me machuque, e no momento sua vontade não importa, Bella. Termine sua missão. Agora.


Contra sua vontade, Bellatrix sentiu sua mão se mover, ainda que muito pouco, e ouviu o Lorde soltar um quase inaudível som. Ao olhar para onde a lâmina encostava na pele dele, ela pôde notar uma pequena mancha vermelha. Ainda que pequeno, o corte lhe encheu de horror, mas não fez com que Voldemort a liberasse da Maldição.


- Somente você pode se libertar, minha cara… Termine logo com isso!


Bellatrix fechou os olhos e precisou usar toda a sua força física e mental para evitar que a adaga entrasse ainda mais. Ela sentia como se não fosse conseguir se manter de pé por muito mais tempo, seu corpo exaurido pelo esforço de formas que ela não lembrava de ter experimentado. Ele era muito forte, seu controle ainda mais, mas algo dentro dela lutava com uma intensidade que ela não sabia explicar.


O sangue, ainda que pouco, fora o último alerta, dizendo-lhe que seu tempo estava acabando, que se não tomasse cuidado logo teria feito algo de que se arrependeria para o fim de seus dias. O Lorde das Trevas tinha um tipo de fé nela, ela percebera durante o pequeno experimento, de que ela seria capaz de lutar contra aquele absurdo e se libertar. Ela queria apenas entender de onde aquilo partia, pois ela sentia-se mais vulnerável do que nunca.


Não havia escapatória fácil, ele não a ajudaria, não a libertaria. De alguma forma, a bruxa precisava buscar forças para ir além de travar seu próprio corpo, ela precisava quebrar o fio que unia a vontade de Voldemort à sua, desfazer a conexão por completo. Ela só não sabia como.


Freneticamente, sua mente começou a buscar as formas como ela fora capaz de fugir do controle de outros e lembrara-se apenas de lutar contra e vencer bruxos menos poderosos do que si. Devia existir outra forma, algo mais simples, pois nunca poderia superar o poder de Voldemort. Bellatrix tentava agarrar-se a sua própria essência, lembrando-se constantemente de quem era, de onde estava, do que devia fazer no dia seguinte, do que jurara fazer. A marca em seu braço pareceu queimar mais uma vez, e ela lembrou-se das promessas, não, do juramento que havia feito, de que morreria antes de permitir que ele morresse, que daria a própria vida pela dele. Portanto, ela nunca poderia ser a pessoa a tirá-la.


Sua mão pareceu a voltar a seu controle por alguns segundos e, agarrando-se àquele pensamento, ela começou a mover a adaga - que parecia estar ligada de forma magnética ao corpo dele - até que a lâmina estivesse apontada em sua direção, e não mais na dele.


Voldemort movimentou-se sutilmente, de forma que ela percebeu apenas quando o corpo do bruxo tocou o seu, até ficar completamente de pé, e Bellatrix conseguiu forçar-se a dar um passo para trás. Ele parecia, depois ela se lembraria, quase orgulhoso. Ela, no entanto, ainda estava sob o efeito, podia sentir. Lutava, com muita força, mas não estava liberta.


Engolindo seco, ela o olhou uma última vez, antes de respirar fundo e forçar o braço para trás, trazendo a adaga em sua direção. Sua vida pela dele, fora a promessa, uma que estava queimada em sua pele, e não iria quebrar, mesmo que elelhe ordenasse a fazer. O fio invisível que a ligava a ele rompeu-se um segundo antes da lâmina alcançar sua barriga, e ela fechou os olhos se preparando para uma dor que nunca chegou.


O som da adaga atingindo o chão a trouxe de volta para a realidade, e Bellatrix olhou para cima para encontrar Voldemort com a varinha em uma mão, e a outra estendida na direção em que a adaga caíra. Ela olhou para baixo, entendendo finalmente que Voldemort a desarmara com magia antes que pudesse se ferir, e seus joelhos falharam.


A dor que ela sentiu quando caiu bruscamente no chão, seu corpo desistindo de fazer qualquer tipo de esforço, não foi nada comparada ao que acontecera nos últimos minutos. Cobrir o rosto com as mãos fora o único impulso que ela conseguiu seguir, tentando desesperadamente engolir um choro que insistia em vir. Não choraria novamente na frente dele, não demonstraria aquele tipo de fraqueza novamente, não o decepcionaria no momento em que conseguira se mostrar forte o suficiente.


- Neste exato momento, não conseguiria me decepcionar mesmo que tentasse, Bella. - ela o ouviu pegar a adaga caída no chão, e levantou o rosto para encará-lo.


Voldemort limpou a ponta da adaga com magia, e fechou o pequeno corte em seu peito como se não fosse importante e, ela entendia, não era. Não mais. Aquilo era algum tipo de teste e, por mais difícil que tivesse sido, ela havia passado. Sua mente ainda estava cansada demais para processar todas as implicações daquilo, ou para pensar em próximos passos, ou mesmo em como faria para se movimentar.


- Fico feliz, milorde, que tenha lhe agradado. - ela respondeu, juntando qualquer resquício de voz que conseguira. - Estou aqui para servi-lo.


Bellatrix tentou se levantar, apenas para ver seus músculos falharem e cair novamente. Ela havia imaginado que em pouco tempo estaria em condições, mas a luta fora maior do que ela mesma pensara. Voldemort deixou a adaga em cima da mesa, e se aproximou da bruxa.


- Eu não tentaria nada brusco, se eu fosse você. - ele comentou, e abaixou-se para ficar no mesmo nível que ela, que o olhou confusa. - Você vai experimentar dores por alguns dias, imagino eu, e um certo tipo de fraqueza, mas nada que não possa ser curado em alguns dias, ou horas com a poção certa. - Bellatrix assentiu, e conformou-se com a falta de dignidade com a qual teria que sair daquela sala para voltar à Mansão Black.


O que ela sequer considerara nos poucos segundos em que teve para digerir aquela informação, era que Voldemort não pretendia deixá-la sair daquela sala de forma tão indigna. O Lorde, muito para a surpresa e encanto da mulher, a pegou nos braços, para levá-la até a cadeira mais próxima deles.


Bellatrix não conseguiu evitar, enquanto firmava seus fracos braços ao redor do pescoço dele, que sua mente a levasse à última vez que estivera tão próxima, numa noite não muito distante que ela apenas minutos antes prometera esquecer. A proximidade não era seu único incômodo, o firme toque em sua cintura e pernas, o perfume dele, tudo se tornava um gatilho que a levava de volta àquela maldita noite, que parecia querer assombrá-la pelo resto da vida.


Cuidado com o que deseja’, ela conhecia o ditado, mas o vivia pela primeira vez. Seus sonhos haviam se tornado realidade, apenas para jogá-la em um pesadelo do qual ela não sabia como escapar. Era quase cruel conhecer o que não podia-se ter, e ela esperava que o tempo a ajudasse a lidar melhor com a coisa toda.


Voldemort não disse uma palavra até sentá-la na cadeira e se afastar, o que quase fez com que a bruxa agradecesse mentalmente.  Ele andou ao redor da mesa, sentou-se na cadeira oposta à dela e a observou por alguns segundos, os olhos vermelhos fixos nos verdes dela, que não conseguia desviar o olhar por mais que tentasse. Uma parte dela chegou a se perguntar se a Imperius estava ou não quebrada, mas ela imaginava que sim. Ela sentiraa quebra da conexão.


- Eu a libertei do feitiço, por mais que a ligação estivesse quebrada. - ele comentou, apoiando os braços na mesa, e ela conseguiu desviar o olhar para o próprio colo. - Não precisa se preocupar. De qualquer forma, acredito que temos algumas coisas a discutir. O que aprendeu hoje, Srta. Black?


Bellatrix respirou profundamente, sentindo cada músculo de seu corpo gritar em resposta, sem saber o quão capaz seria de responder aquela pergunta, mas precisava tentar. Se aquela noite a ensinara alguma coisa… - Aprendi que minha capacidade, a capacidade todos nós, imagino eu, não deve ser medida apenas por meus próprios padrões e opiniões. - ela lambeu os lábios, incerta. - Que uma visão de fora, de alguém mais experiente e poderoso, pode provar-se mais correta, pois está sem o viés do ego ou da insegurança. Principalmente quando este alguém é você, milorde.


- E como chegou a essa conclusão?


- Por meses, havia dito que eu era capaz de escapar da Maldição Imperius, não importando quem a lançasse contra mim, e sempre acreditei que não seria capaz de cortar a conexão quando se tratava de você, milorde. Eu estava errada em não acreditar no que havia me dito, mas estava certo disso, ou não teria feito o experimento que fez hoje. Sou capaz não somente daquilo que creio ser capaz, mas do que aqueles melhores do que eu veem em mim.


- O quão interessante é esta conclusão, quando tão poucos se mostraram capazes de serem superiores a você, minha cara. - Voldemort respondeu, de forma quase introspectiva, e ela resistiu ao instinto de contrariá-lo. - Falsa modéstia nunca lhe caiu bem, Bellatrix.


- Não… É só que, ouvi-lo dizer isso significa muito, milorde…


- Eu diria que já ouviu elogios muito mais desconcertantes vindos de mim, Bella, principalmente nos últimos dias. - ele cruzou os braços e deixou-se relaxar na cadeira em que estava sentado. - Imaginei que a este ponto estaria mais acostumada.


Bellatrix o encarou sem palavras pelo o que pareceu uma eternidade, uma vez que não conseguia acreditar que ele estava levantando aquele assunto. Devia estar louca, ou algo do tipo.  


A bruxa fez menção de falar algo, mas não conseguiu organizar seus pensamentos e achar as palavras certas. A verdade era que não sabia se era mais difícil enterrar o assunto ou discuti-lo. A coisa complicada sobre quando sonhos se realizam é o vazio subsequente, quando não se sabe bem o próximo passo a ser tomado, o que almejar após a satisfação daquilo que o movia no passado. Este era o ponto em que Bellatrix estivera nos dias anteriores e, ao que parecia, aquela conversa pautaria suas novas metas. Àquele ponto, ela ainda não sabia, mas nada poderia tê-la preparado para o desenrolar que estava prestes a testemunhar.


- Creio que jamais seria capaz de me acostumar com tamanha honra, milorde. - ela lambeu os lábios, após ter se encontrado capaz de finalmente falar. - Seus elogios, sejam de cunho físico ou de habilidade, são mais do que poderia desejar e sinto-me… lisonjeada além do que sabia poder sentir.


Voldemort fitou a mesa por um segundo de modo que, se ela não o conhecesse melhor, parecia estar ponderando sobre seus próximos passos. Conhecendo-o, no entanto, ela tinha a certeza de que ele sabia exatamente o que ia falar e fazer, uma vez que seu mestre sempre fizera questão de estar no controle de todas as situações em que se envolvia.


- A sessão de hoje, Bella, tinha um ponto, evidentemente, e ele ia além de treinar mais uma habilidade em você. - o que parecia um desvio para o assunto de momentos antes a intrigou, mas ela não era prepotente o suficiente para tentar decifrar o que Voldemort pretendia com aquele retorno ao tópico anterior. - Você estava absolutamente correta em sua associação do que ocorreu com um teste, pois de fato esta era minha intenção. De tudo o que eu podia lhe ensinar, Bella, essa era a única coisa que ainda não havia dominado: resistir a mim. E, hoje, você preencheu essa lacuna de conhecimento e habilidade. Seu teste final, minha cara, passado com louvor.


- Final? - a pergunta saiu num impulso, enquanto a mente de Bellatrix processava o significado daquilo, e a verdade era que não queria estar certa em suas suposições.


- Final. - Voldemort confirmou suas suspeitas, num tom calmo e contido. - Meus parabéns, Srta Black. A meu ver não há mais nada que eu possa ensiná-la. - Voldemort passou a adaga para ela por cima da mesa. - Considere um presente de formatura, um souvenir de seu treinamento.


Bellatrix segurou a adaga entre os dedos, passando os dedos pelas demarcações que em sua angústia não notara, a prata bem trabalhada trazendo mais tristeza do que encanto. Se o Lorde das Trevas acreditava que já não podia ensinar-lhe mais nada, então não havia porque discutir, como a sessão daquela noite lhe provara. Além do que, eleera o professor e cabia somente a ele controlar até onde o conhecimento dela iria. Bellatrix não ambicionava ter o mesmo conhecimento que ele, nem era tola de imaginar que Voldemort lhe ensinara tudo o que sabia, mas sabia que não teria se tornado um terço da bruxa que era sem aquelas aulas. Uma sensação de melancolia tomou conta de si, uma saudade dolorosa de algo que mal havia acabado. Com as aulas, a proximidade que era somente dela - sua única pupila - também estava acabada. Ou era isso que ela pensava.


- Em todo desenvolvimento, é claro, temos níveis. Em Hogwarts, por exemplo, você e eu tiramos nossos NOMs e posteriormente os NIEMs. - ela assentiu, ainda que parcialmente ausente. - E alguns conhecimentos são adquiridos por estudo, enquanto outros na prática. Digamos que você acabou de tirar seus NOMs em artes das trevas, Bella, resta a você escolher se prestará ou não os NIEMs.


Bellatrix voltou a encara-lo, a adaga deixando seu foco de atenção para descansar em seu colo. NIEMs? Mas se ele não podia ensinar-lhe mais nada, isso só podia significar que ele se referia a algo de cunho prático.


- Milorde?


- Bella, a razão pela qual eu te fiz passar por tudo isso hoje é porque eu notei há dias, semanas, que já não tinha mais o que ensinar a você. Os acontecimentos de hoje foram uma mera formalidade para mostrar a você algo que eu já sabia. Minha cara, creio que depois de uma década conheça-me bem o suficiente para saber que não faço nada simplesmente por diversão, por mais prazerosa que possa ser a atividade ou mais sedutora seja a companhia. - Bellatrix não pode segurar o sorriso que tomou conta de seus lábios. - O que aconteceu há duas noites não foi um impulso, ou uma decisão momentânea baseada em simples luxúria, por mais que o ato em si estivesse carregado dela. Não se perguntou porque a confrontei apenas agora, sendo que suas fantasias começaram há tanto tempo e sei delas desde o princípio? Se estava disposto a transformá-las em realidade junto quem sabe com as minhas próprias, se o desejo era recíproco como era, por que esperei tanto? Porque, assim como você quer mais da vida, minha cara, eu quero mais de você.


Bellatrix não sabia lidar com tudo o que havia sido dito, com as confissões que ele fizera sobre seus desejos e com a abertura que ele demonstrava em relação a ela, ao que acontecera. Ela queria responder, ser capaz de dizer alguma coisa, fazer algum comentário minimamente inteligente, mas a única coisa que saiu de seus lábios foi a pergunta que mais fizera a ele em suas vidas.


- O que quer de mim, milorde?


- Muito além de uma noite para ser esquecida, ou de aulas e mais aulas a fio para torná-la mais uma tenente num campo de batalha. A razão pela qual escolhi aquela noite foi porque sabia que estava pronta, Bella, não para ser minha amante ou minha tenente, mas para ser a pessoa a quem entrego a missão mais importante que já deleguei a alguém. Algo vital para mim e para a causa, mas que não posso realizar sozinho. - Voldemort pausou por um momento, dando a ela tempo para processar suas palavras. - Eu posso ser invencível, ser imortal, mas este tipo de poder causa uma separação, uma certa desconfiança que não posso deixar de sentir. Existe uma necessidade de proteger meu legado, de formas que nenhum comensal compreenderia, que somente alguém diretamente afetado poderia entender. Alguém que fizesse do meu legado o seu. Não tenho pretensão alguma de morrer, ou de abdicar de meu poder um dia, mas sinto que está na hora de expandir minha cadeia de poder, de ter olhos e ouvidos em que confie com toda a certeza. - ela assentiu. - E esse tipo de conexão existe apenas por sangue. Está na hora, Bellatrix, de eu dar continuidade à linhagem de Salazar Slytherin… e, quem sabe, também da mui antiga e nobre casa dos Black.



________________________________________________

N/A: Oi gente! 

Quanto tempo desde a última Nota da Autora, hein? ahaahhah 

Bom, rescrever a HdM 1 é um sonho antigo, muitos de vocês provavelmente já me ouviram falar disso inclusive, que eu finalmente consegui começar. 


A lógica dos capitulos e os acontecimentos vão mudar um pouco, como vocês viram, mas no fim das contas a história é mesma só que - espero eu - melhorada! 


Obrigada pelos quase onze anos de HdM! Por todo o apoio e amor! 


Espero que, com todo o sofrimento e desespero acontecendo na HdM 3, a rescrita da 1 traga um pouquinho de felicidade e que não piore muito a saudade de um tempo onde tudo entre esses dois idiotas era mais simples hahaahah 


Beijos! 


Mel Black 


 

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.