UM DIA EM FAMÍLIA







QUANDO HARRY DESCEU AS ESCADAS DA CASA DOS GRANGER, deparou-se com um amplo hall decorado com um papel de parede branco adornado por flores em um tom rosa bem opaco, realmente muito bonito, e então se surpreendeu ao notar que nem percebera tal decoração quando chegou, coisa que qualquer outra pessoa faria logo de cara.

Decididamente a família Granger tinha bom gosto para escolher seus móveis e decoração interna, tudo dava um ar de rusticidade e elegância, sem exceder, era calmo e ao mesmo tempo agitado, um paradoxo de cores e tons que despertavam climas dos mais variados tipos dentro da casa. Estavam todos de parabéns, os Granger, que fizeram daquele lugar (não tão grande quanto Harry outrora chegara a imaginar), um local confortável e aconchegante.

Assim que fora seguindo o corredor, deparou-se com uma ampla sala de estar que tinha um piso mais inferior no centro, onde se acomodavam alguns sofás num tom bege, mais ao fundo encontrava-se uma lareira que jazia acesa oferecendo um calorzinho um tanto quanto convidativo.

Nas paredes, alguns quadros de pintores famosos jaziam adornando o lugar, passando assim uma mensagem de sofisticação, e quando se aproximou da lareira, percebeu uma série de porta-retratos da família, da infância de Hermione, dos avós da moça, de festividades, das viagens que fizeram, incluindo aquela do quinto ano, quando Hermione largou tudo e voltou para o mundo mágico, e até Grimmauld Place, 12, para tirá-lo de dentro daquela sala na qual ele se isolara.

Hermione nesse momento aparecerá às suas costas, Harry, no entanto, não deu importância e preferiu continuar a fitar um dos porta-retratos ali existentes, ali jazia uma foto de Hermione quando a mesma tinha quatro anos de idade, ela parecia feliz, sorrindo junto com seus pais sentada em um banco de praça, em Londres. E no minuto seguinte, tomou o mesmo em suas mãos e passou o dedo indicador sobre o vidro. Hermione ainda continuava a observá-lo.

— Você costumava ser mais feliz antes de me conhecer, não é mesmo? — Disse ele à moça que se assustou quando descobriu que ele sabia exatamente onde ele se encontrava.
— Como você sabia que eu estava aqui? — Perguntou ela surpresa.
— Você faz mais barulho do que percebe, e eu senti o seu perfume! — Disse Harry ainda olhando o retrato.

Hermione ruborizou repentinamente, sentia as maçãs de seu rosto fervendo. Ele senta o seu perfume? Como se ela mal tinha passado o mesmo?

— Uma mistura de rosas do campo e canela, ah... Um toque maça, também! — Comentou o rapaz ao encará-la! — Ótima escolha!
— Obrigada! Por que você disse aquilo?
— Aquilo o que? — O desentendido respondeu.
— Que eu costumava ser mais feliz antes de conhecer você?! — Repetiu a moça as palavras dele.

Harry permaneceu calado, colocou o porta-retratos no devido lugar e pôs as mãos nos bolsos, e continuou fitando-a nos olhos. Não sabia o que dizer, nunca imaginaria ter de passar por isso, afinal, nem ele sabia ao certo por que dissera tais palavras. Ela fez sinal para que ele falasse.

— Não sei! — disse ele. — Você parecia tão feliz naquelas fotos. — fez uma pausa. — E agora, toda vez que eu olho para você me sinto extremamente culpado de ter colocado você nessa, sempre que olho para você, você parece estar com uma ruga de preocupação...
— Não seja bobo! — Repreendeu Hermione.
— Hum... Onde estão seus pais?
— Estão na sala de janta, esperando por nós!
— Então não vamos deixá-los esperando! — Disse o rapaz sentido que essa válvula de escape da qual ele precisava.

Então ele pôs-se a caminhar até a moça e logo em direção a sala de janta, entretanto, quando ele passou ao lado da moça que jazia de braços cruzados como que insatisfeita ou impaciente, ela o segurou pelo braço, ele a fitou em sobressalto.

— Não estrague tudo, Harry! — Ela lhe disse. — Eu preciso de você tanto quanto você precisa de mim.

Ele arregalou os olhos para isso, e ela encarou-o profundamente. Por um momento, Harry considerou para onde o chão sumira abaixo de seus pés, Hermione, no entanto, não parecia dar à mínima.

— Vamos... Papai e mamãe estão nos esperando! — Disse ela sorrindo e o puxando pelo braço, ele, levemente atordoado deixou-se levar.

Harry, diante da cena que acabara de ocorrer, não conseguia acompanhar os fatos, não compreendera ao certo o que a amiga queria dizer com: “não estrague tudo”, estragar o quê? Sua amizade? Seria ela tão frágil ao ponto de ser abalada por um simples momento de desespero misturado à culpa de tudo o que aconteceu, ter sido proveniente de sua simples, porém indesejada existência? Sua cabeça não parava de funcionar, esperava o dia em que poderia estar quieto, calado, sem pensar em nada, adormecer calmamente sem pesadelos nem dores em sua cicatriz, ou então o medo da ameaça de Voldemort à espreita em cada esquina e a cada passo seu.

Entretanto, quando os dois adentraram a sala de janta, Harry optou por tentar esquecer por um instante de que era Harry Potter, o Escolhido, e apreciar um ótimo jantar na companhia de pessoas adoráveis. Assim, deparou-se com um pensativo Sr. Granger, a mãe de Hermione jazia na cozinha, onde a comida esquentava. O cômodo era amplo, como a maioria dos demais, tinha uma decoração em um tom azul claro e uma mesa grande ao centro, onde estava o pai da moça. Hermione tratou de ocupar o lugar do outro lado da mesa, já que o Sr. Granger havia se sentado na cabeceira da mesma. Harry sentou-se de frente para Hermione.

No momento em que a Sra. Granger chegou à sala de jantar, ela tinha em suas mãos uma travessa de carne assada, trazia-a com o maior cuidado, pois deveria estar bem quente. Assim que a pôs na mesa, junto dos demais pratos, sentou-se na outra cabeceira e sorriu.

— Harry! Eu não falei muito com você desde que chegou. — Disse a Sra. Granger, sorrindo amigavelmente. — Como você está?
— Bem, Senhora. — Disse ele à mãe de Hermione. — Obrigado por me hospedarem, o quarto é ótimo.
— Não se preocupe querido! — Disse a Sra. Granger.
— Olhe Harry, você vai se divertir muito aqui, durante as férias, amanhã eu te mostro o quintal daqui, vai se muito legal. — Disse Hermione satisfeita.
— Ouvimos dizer que você é um ótimo jogador de quadribol! — Exclamou o Sr. Granger interessado.
— Bem, nem tanto... Meu pai era bem melhor que eu! — Respondeu Harry humilde, o garoto estranhou que o Sr. Granger como trouxa, se interessasse por algo bruxo como o quadribol.
— Deixe de conversa, Harry, ele é o melhor jogador da escola! — Disse Hermione cheia de orgulho.
— Não, ela está exagerando... Eu apenas tenho alguma sorte porque faço o que gosto! — Disse Harry francamente a eles. — Todos no nosso time jogam excepcionalmente bem.
— E a escola... Como vai ficar a situação da vida escolar de vocês dois? Já sabem? — Perguntou a Sra. Granger.
— Bem, mãe, a professora Minerva acha que eles terão de fechar a escola se a situação não mudar! — Respondeu Hermione pensativa, assim como os demais até que Harry tomou a palavra.
— Olhe Hermione, talvez seja melhor que nós nem retornemos àquele lugar por enquanto... — Falou Harry fitando-a seriamente. — Sabemos que Scrimgeur vai reconstituir toda a proteção que Hogwarts possuía, mas não será a mesma coisa que Dumbledore fazendo isso. E se a segurança ficar igual ao do Departamento de Mistérios... Sinto muito.
— Scrimgeur não é Fudge, Harry!
— Mas é “cria” dele... Segue os mesmos caminhos!

Hermione permaneceu calada diante desde argumento, a moça achava difícil vencerem a guerra bruxa quando Ministério e as entidades que lutam contra o vilão estavam tão fragmentados e em caminhos totalmente dicotômicos. Se as nações mágicas não se unissem em prol dessa causa, nada jamais daria certo, não adianta quantos bruxos de elite eles possuíssem em seu exercito, seria sua derrocada.

Era decididamente uma situação difícil, Harry pensava da mesma forma, porém, agora se concentrava apenas no assado da Sra. Granger que exalava um cheiro maravilhoso, e se Hermione estava correta durante todos esses anos, o que era mais provável e plausível, o gosto também estaria. Dessa forma, todos se calaram durante o resto do jantar, ao final, divertiram-se com uma conversa sobre as viagens em família, alguns jogos interessantes que o Sr. Granger sugerira, as piadas do patriarca da família e outras coisas.

Quando a noite foi embora e o céu trouxe o dia, Harry ainda permanecia em sua cama, ainda não deviam passar das sete da manhã e ele dormia um sono profundo. Tudo estava calmo e sereno, e os primeiros raios de sol já transpassavam levemente as cortinas brancas da casa dos Granger.

Ao que parecia ninguém jazia acordado ainda, mas era apenas mera impressão, Hermione estava saindo do banho nesse exato momento, e por um instante pegou-se ponderando à respeito do futuro da escola, as palavras de Harry na noite anterior ainda habitavam sua mente, o que seria feito da escola dali em diante? Que futuro teriam eles, bruxos, em um mundo cada vez mais negro?

Quando terminou de se vestir, resolveu ir tomar café e ler algo, coisa que ela não fazia há dias, tinha conseguido permissão da Diretora Minerva para trazer alguns livros que ela encontrara ao vasculhar a área restrita de da biblioteca de Hogwarts sob os olhares cuidadosos da bibliotecária que não achava certo um aluno levar seus preciosos livros emprestados em um momento tão incerto na vida da escola.

No entanto, quando adentrou o corredor, seu olhar foi instintivamente guiado até o fim do corredor, na porta próxima á janela. Harry estava ali dentro, teria ele acordado? Ela mansamente caminhou preocupando-se em não acordar ninguém, não sabia ao certo o que queria fazer, mas apenas foi movida pelo impulso, talvez quisesse apenas dar bom dia ao amigo, ou chama-lo para tomar café.

Assim, quando chegou à porta, encostou-se na mesma para tentar ouvir algo, em seguida, sem resposta, deu três batidelas com a ponta do indicador como se não quisesse realmente incomodar Harry. A porta com isso se abriu, indicando que ela estivera simplesmente encostada durante toda a noite. A moça adiantou, sem saber o que estava fazendo ao certo, pô-se para dentro do quarto. Procurou por sinal de seu amigo, mas ele não se encontrava em lugar algum, passou pela sua cabeça a possibilidade de ele já estar de pé em algum outro lugar da casa.

Preparava-se para retirar-se do quarto quando notou sobre a cama de solteiro que jazia no canto da parede, a varinha de Harry, estava jogada por baixo do travesseiro dando para ver apenas seu cabo, Hermione se aproximou e pegou a mesma, nesse momento, uma descarga de energia tão grande passou da varinha para a mão da moça que ela acabou por largar instantaneamente a varinha sobre a cama, com um grito de dor e susto e caiu sentada apertando a palma de sua própria mão.

— HERMIONE! — Chamou Harry enquanto saía do banheiro enrolado precariamente em sua toalha.
— Harry! Ahhhh! — e virou-se de costas ruborizando violentamente. — Volta para o banheiro!
—Tudo bem com você? — Perguntou ele preocupado.
— VOLTA!
— Ta bom! — Respondeu ele ríspido.

Uns cinco minutos depois ele retornou vestido com um short pequeno deixando amostra suas coxas. Hermione desviou o olhar, um pouco envergonhada. Ele a olhou por um instante, antes de virar-se para o guarda-roupa, pegou uma blusa e um jeans e segurou embaixo do braço.

— O que foi? — Perguntou ele notando que ela o olhava às suas costas.
— Hum... Nada! —Respondeu ela sem jeito, agora um pouco mais calma.
— O que você veio fazer aqui há essa hora? —Perguntou ele.
— Oras... O que você acha? Ver você de toalha? — Respondeu ela irônica.
— Não sei... Sabe se lá o que se passa nessa sua cabeça... — Disse ele.
— Harry!? — Repreendeu-o em tom de brincadeira arremessando o travesseiro contra ele.
— Por que guarda sua varinha embaixo do travesseiro? — Perguntou Hermione interessada?
— Medida de segurança eu acho! — Exclamou ele. — Tenho feito isso desde o quarto ano. Com a volta de Voldemort e todo o resto, acho que se tornou um hábito.
— Quando eu a toquei, ela simplesmente me repeliu com um choque... — Disse ela correndo os dedos sobre a mão que fora repelida pela varinha de Harry momentos atrás. — Por isso eu gritei!
— Estranho! — E passou a mão direita no ar, e a varinha voou para a mesma.

Quando convocou sua varinha, ela atingiu sua mão livre em cheio, nada aconteceu, ela simplesmente estava com seu dono, nada mais. Nem um brilho, nem sinal choque, absolutamente nada.

— Não sinto nada, Hermione! — Relatou Harry à moça.

Hermione permaneceu pensativa por um instante, se de supetão, saltou da cama e caminhou rumo à porta, Harry permaneceu olhando suas costas, quando finalmente a alcançou, virou o rosto para o rapaz e disse:

— Deixa pra lá! Talvez eu procure algo à esse respeito mais tarde nos livros, não se demore...
— Por quê?
—Meus pais ainda devem estar no quarto, logo, terei de preparar o café da manhã!
— Oh... Droga... Vou morrer envenenado!
— Você vai ficar é babando!
— Veremos — Disse o rapaz de olhos verdes, sorrindo.

Quando Harry desceu as escadas para o Hall da casa de Hermione, rapidamente seu olfato fora inundado por um delicioso cheiro de bacon, ovos e outras guloseimas maravilhosas. Ele caminhou rumo à cozinha, o estomago roncando, ia meio que guiado pelo cheiro que o viciava mais e mais, no momento em que ele cruzou a porta para a cozinha, deu de cara com uma Hermione que ele nunca vira.

A moça jazia na frente do fogão fritando alguns bacons e depois, esporadicamente, os despejando em um prato, sobre a mesa jaziam uma jarra de suco de laranja, algumas torradas, biscoitos de coco, manteiga, dois copos com talheres devidamente posicionados ali mesmo na mesa da cozinha. Aquela visão só fez ficar mais faminto.

Dessa forma, Harry adiantou-se para o centro do recinto, próximo à mesa, estava fascinado pela amiga cozinhando, não pelo fato de ela cozinhar, pois ela mesma já o havia relatado, mas sim por que não era algo que ele via em Hermione todos os dias. Voltou-se para pegar algumas torradas, entretanto, no momento em que ele aproximou seus dedos das mesmas, Hermione girou seu corpo ficando de frente para ele com a própria varinha apontada com extrema agilidade, Harry naquele mesmo segundo sentiu as torradas fervendo.

— Ai! Está maluca? — Perguntou ele.
— Nem pense nisso, Sr. Potter, me deixe terminar aqui primeiro e então comeremos juntos! — Declarou Hermione sorrindo.

Após o café da manhã eles se encaminharam para o quintal dos Granger, quando Harry pisou no lugar, pode notar por que Hermione fazia tanta questão de levá-lo lá. Era um espaço com um gramado bem aparado e verdinho por toda a sua extensão, pelas laterais do lugar, podiam-se várias árvores podadas em diversos formatos como estatuas e outras coisas, segundo Hermione, aquilo era tudo obra de seu pai, dava pra perceber que ele realmente tinha talento para a coisa.

Ao fundo existia uma grande e robusta árvore que jazia imponente entre as demais, suas folhas chegavam a ficar há um metro e meio do chão apenas, entretanto, do caule até sua copa deveria ter, no mínimo uns quatro metros. Hermione agarrou Harry pelo punho e o rebocou até próximo da mesma. Quando chegaram lá, o garoto parou de correr atraindo a atenção da moça para si. Ele fitou o lugar por um tempo e sua expressão mudou repentinamente.

— O que foi Harry? — Perguntou a moça preocupada.
— Estranho...
— O quê é estranho?
— Eu sinto... Sinto uma paz tão grande próximo dessa árvore...
— Ah... Que alívio... Você me assustou! — Exclamou a moça mais clama. — E por que sentir paz lhe seria estranho?
— Por que isso é uma das coisas que eu não sinto há muito tempo! — Isso com certeza fez Hermione refletir, realmente ele não tivera muita paz nesses últimos tempos, Voldemort sempre estivera à espreita desde que Harry descobriu que era bruxo, não sabia como se sentiria ou agiria se estivesse em seu lugar. Nesse momento Hermione esboçou um sorriso em seu rosto, Harry, no entanto, não percebeu.

— Vem! — Chamou ela.
— O que? — E seguiu a moça para debaixo da grande árvore.
— Olhe! — E indicou uma inscrição que jazia no tronco. Harry olhou.

Passando levemente os dedos sobre o local da inscrição, ele pode notar que havia algo escrito, mas que não era inglês ou qualquer outra língua que conhecesse. Eram pequenos riscos dispostos alternadamente entre si, deviam ter sido feitos à lâmina de uma navalha ou outro objeto de corte pequeno, um estilete talvez.

— Que língua é essa? — Perguntou ele à Hermione que alargou ainda mais o sorriso.
— É runas...
— Runas antigas?
— Isso... “Kannahk hanzonif aobnit dorask” — leu a morena diante dos olhos de Harry.
— Hum... — Fez Harry. — Interessante. — Hermione ergueu a sobrancelha para o rapaz, teria ele entendido?
Harry por sua vez olhou a moça em questionamento. — Que quer dizer?

Hermione riu.

— Quer dizer: “Esta é a árvore dos desejos”. — Disse a moça.
— É mágica? — Perguntou Harry.
— Não sei ao certo. — disse Hermione à Harry. — Mas todas as vezes que venho aqui, sinto uma paz tão grande... — e olhando agora nos olhos verdes do rapaz. — Agora vejo que não sou a única.
— Há quanto tempo esta árvore está aqui? — perguntou Harry.
— Desde que compramos este lugar. — explicou Hermione. — Quer dizer, já estava aqui quando chegamos.
— Sabe... Aqui deve ser um ótimo lugar para se tirar uma soneca, não?
— Você ta ficando relaxado, não Potter? — Fez Hermione em uma ridicularizadora imitação de Draco Malfoy.
— Um pouco, Granger! — Respondeu Harry entrando na brincadeira.

Hermione riu.

— Sabe... — Começou Harry se jogando no chão, caindo sentado. — Tem um tempo que a gente não conversa a sós, não?
— Como assim? — Questionou-o a moça.
— Sei lá! Nunca mais me falou da sua vida pessoal, de seus projetos, sonhos... Essas coisas que fazíamos antes.
— Ah! Harry... Nós estivemos realmente ocupados todos esses dias, quer dizer... Com tudo o que aconteceu esse ano... Seu relacionamento com a Gina... Nem me preocupei com isso. — Respondeu a garota, sentando-se ao seu lado à sombra da grande árvore.
— O que tem o meu namoro com a Gina a ver com o nosso relacionamento, Hermione? — Perguntou Harry interessado.
— Bem, convenhamos que ela não te deixa em paz nem por um instante, não é? — Hermione disse.
— Como assim?
— Olhe... Sempre que eu tentava falar com você sobre algo realmente sério, ela vinha com alguma futilidade e preenchia o espaço entre nós, entende? Não que eu não goste, não tenho nada com isso, ela é sua namorada e tem todo o direito, mas é que eu realmente não tive como falar sabe?

Agora foi a vez de Harry rir, Hermione estava certa, Gina não dava descanso. Estava sempre grudada em seu pescoço, às vezes chegava a ser sufocante, mas ele relevava, sabia que ela gostava dele assim como ele dela. Só não sabia que Hermione se importava com isso...

— É! Não sei se você concorda, mas às vezes parece que Rony e Gina não estão sintonizados no mesmo canal que nós! — Exclamou Harry e Hermione acenou com a cabeça em concordância.
— Às vezes eu me pego pensando... — Continuou Harry mudando o rumo da conversa novamente. — Quantos dias bonitos como esse teremos no futuro? Iremos ver nossos netos? Aliás, teremos nós nossos próprios filhos daqui há alguns anos?
— Sabe que eu penso a mesma coisa... Francamente? — Fez Hermione, Harry acenou para que a moça continuasse. — Acho isso um tanto depressivo, por que nos leva a pensar em coisas ruins como ‘conseguiremos vencer Voldemort?’, essas coisas.
— Entendo.


O dia seguiu animado e Harry sentia-se cada vez mais feliz, era como se pela primeira vez estivesse totalmente em família, não desmerecendo os Weasley, claro, porém, os Granger eram uma família de trouxas, então era algo novo para ele e era algo que ele adorava, simplesmente. Ainda mais quando participou do churrasco que houve naquela tarde, foi até ajudar o Sr. Granger a preparar a carne.

Quando a noite caiu, todos foram se deitar, a casa e a rua estavam caladas, apenas o vento movimentava-se criando assim uma melodia bela e hipnotizante, levemente mórbida e angelical, etérea acima de tudo. As silenciosas cortinas do quarto em que Harry estava hospedado balançavam para lá e para cá, ao passo da valsa que o vento lhe concedia. Sobre a cama, o moço jazia deitado, concentrado em seu sono de forma a pensar que não havia no mundo nada melhor que aquilo a que se propusera horas atrás ao deitar-se.

Sua expressão era serena, finalmente era chegada a noite em que a sobra do mal não reinaria em seus sonhos, rezava para que não acontecesse. Queria desesperadamente isso, precisava disso. No entanto, contradizendo todos os seus desejos, ele já não estava mais repousando na casa dos Granger, agora, ele jazia em uma paisagem mórbida, à sua frente, o que restara de uma cidade, esta jazia destruída como se alguém a tivesse atacado sem deixar sobreviventes, o céu trazia um tom acinzentado, e forçando mais ainda à vista, ele percebera que conhecia o lugar, era Hogsmeade, e ao fundo, uma Hogwarts irreconhecível, toda destruída e desabitada de seres humanos, em seu lugar era visível a seus olhos, algumas criaturas como dementadores e espectros malévolos rondando o lugar, era uma visão abominável.

E quando achava que já havia visto o bastante, acima de toda aquela devastação, a caveira com língua de serpente, símbolo das trevas, flutuava mansamente sobre a área. A marca negra jazia imponente como que confirmando o poder de seu mestre, um nó em sua garganta se formou, seria aquela a visão do inferno, ou apenas era o futuro do mundo bruxo? Uma sensação de angustia extrema se formou em seu peito quando, ao longe pode avistar um grupo de bruxos assassinando uma moça e logo depois a jogando aos pés do bruxo a quem ele aprendera a odiar, aquele que habitava seus piores pesadelos e seus mais nebulosos dias... Lorde Voldemort.

E no instante seguinte já não estava mais em Hogsmeade e sim no quarto da casa dos Granger, o chão sumiu, um frio invadiu suas entranhas, sentia a sua alma congelar, da mesma forma que tudo a seu redor. Tateou a procura de seus óculos na mesinha de cabeceira e quando os colocou, pode finalmente vislumbrar, por meio de uma visão um tanto deturpada pela mistura de suor e desespero em que seu corpo jazia com seu coração acelerado, do outro lado do recinto um vulto ia se formando envolto numa nuvem negra de fumaça fantasmagórica.

Parecia uma criatura espectral e horripilante, com seus braços em decomposição, flutuando pelo ar com criaturas negras do inferno, cada golfada do ar gélido da noite inspirado pela criatura parecia que levava um pouco da essência de Harry e sua respiração parecia cada vez mais pesada e dolorosa, o ar parecia uma série de navalhas afiadíssimas perpassando seus pulmões, rasgando-os numa sensação aterradora. Não havia mais esperança.

Seus olhos estavam vidrados naquela imagem desesperadora, não podia mover um centímetro sequer, seu corpo estava enrijecido de tal maneira que ele começara a ponderar se a criatura teria lançado algum encantamento não verbal nele. Para piorar ainda mais as coisas o dementador adiantava-se contra o rapaz impotente. Quando sentiu o hálito pútrido daquele ser invadir seus pulmões, tinha vontade de gritar, queria ajuda, mas seus membros não respondiam.

E por fim a criatura começava a respirar a alma de Harry, a primeira tragada, depois veio a segunda, o desespero de Harry aumentou misturado a uma fúria que nem ele sabia de onde viera, parecia ser devido ao fato de estar impotente, seria ele tão fraco a ponto de perder as esperanças para um simples dementador? Onde estava Harry Potter? Sua mente urrava em pensamentos furiosos, gritava por dentro já que sua boca não respondia.

O dementador recuou, talvez estranhando a mudança de comportamento de sua vítima, e a despeito disso, avançou contra o rapaz, no entanto, já não era o dementador que jazia ali e sim Lorde Voldemort com sua coloração corporal extremamente pálida, olhos vermelhos e profundos de ódio, narinas de serpente, ausência de nariz e dentes afiados, um demônio das profundezas jazia em sua frente, sua cicatriz parecia que iria se abrir a qualquer momento, pequenas lágrimas de medo misturados à dor e ódio formavam-se na face de Harry.

— NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! — Gritava Harry desesperadamente, fora de si na realidade quando acordara em sua cama na casa dos Granger. — VOLDEMORT, NÃO! NÃO ME MATE!
— HARRY! — Hermione praticamente arrombara a porta ao entrar. — Harry... Harry, calma! Está tudo bem! — Mais atrás os pais de Hermione amontoavam-se na porta agora aberta do quarto do garoto.
— Era ele... Ele estava aqui, Hermione...
— Calma, Harry... Foi apenas um pesadelo!
— Não, Hermione... Você não entende! — Harry estava fora de si, os olhos arregalados em uma expressão assustadora. — Ele estava aqui...

Hermione então o olhou profundamente e sem nem perceber o que estava fazendo, o abraçou bem forte aconchegando a cabeça do rapaz em seu ombro, bem próximo de seu pescoço. Harry, entretanto, não notara, apenas a abraçara de volta, ela o reconfortava. Ele tinha medo, dor, fúria, angustia... Um misto de sensações desagradáveis que enegreciam o seu mundo. Tudo o que o afligira nos últimos dias e seus temores pareciam se dispersar ao simples toque da moça, permaneceram assim por cerca de meia hora, até que Harry tivesse condições de conversar normalmente, os pais da moça foram extremamente atenciosos, bem como Hermione, e assim, pela primeira vez Harry se sentia em família novamente.

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