AMANHÃ, QUEM SABE...?



AMANHÃ, QUEM SABE...?








Um estalido metálico e depois o som crepitante do atrito entre metal e sílex, acompanhado por uma forte chama e um cheiro de fluido, seguidos pelo odor acre da fumaça exalada, depois de uma tragada em um Gauloises de baixo teor.
Trés bien, o bom comportamento rendeu alguns benefícios pour moi. Pude manter meu isqueiro, mon pére pode me mandar mes cigarettes e consegui esta cela, individual e com vista para a praia, maior e diferente daquela que eu ocupava antes, sem janelas. Não que seja uma grande vantagem, olhar para cette plage em uma ilha no meio do Mar do Norte. Mas, de qualquer modo, é melhor do que nada e tenho mais espaço para me exercitar.”
“Será que eu poderia imaginar, em minha infância, que meus passos me trariam para cá? E, se eu soubesse, teria feito algo para evitar ou faria as coisas exatamente como fiz? Je ne sais pas. Não podemos mudar o passado. O que está feito, feito está.”
“Minhas lembranças mais felizes são os passeios pelos vinhedos, em companhia do meu pai e de minha mãe, além das brincadeiras com meu primo, ‘Mon Petit Dragon’. Certo dia ele veio me visitar, com a esposa. Me trouxeram fotos do filho, chamado Adriano. Era esse o nome do pai dela. Mas que belo garoto! Nem acredito que quase matei sua mãe. Bien, ela escapou e ainda me deu uma grande surra. Melhor assim.”
“Papai é um grande vinicultor e, além disso, um renomado enólogo, o que o faz gozar de certo prestígio entre a Bruxidade e também entre os trouxas. Nos círculos dos apreciadores de bons vinhos, o nome de René Malfoy é conhecido e respeitado. Mas pouquíssimos sabiam de la verité, de que mon pére era, na verdade, um importante agente da Ordem das Trevas na França, o principal coletor de informações no Vale do Loire e, embora fosse um Death Eater, assim como todos os irmãos, não lhe havia sido exigido o “sacrifício do cordeiro” como prova de lealdade e ele ocupava uma posição de destaque entre os seguidores do Lorde no país. Mas não era um bruxo grosseiro e violento, como vários outros que já vi. Pelo contrário, sempre foi muito gentil e carinhoso, tanto com ma mére quanto comigo. Lembro-me dele a me passar seus conhecimentos de Enologia, sempre que visitávamos as adegas. Ele dizia: ‘Valérie, ma petite, o vinho é um ser vivo. Ele nasce, respira, amadurece, envelhece e, como qualquer criatura, tem seu tempo de vida útil e morre. Você pode, com um pouco de experiência, saber em que fase de sua vida ele está apenas com o paladar e assim render-se ao prazer da experiência sublime da degustação. Mas lembre-se, ma chérie, que mesmo e principalmente os prazeres devem ser apreciados com moderação’ e então vertia uma pequena dose de cada um dos seus produtos em uma taça, para que eu aprendesse a identificar as diferentes castas de uva e as características dos vinhos.”
“Mamãe era uma mulher bastante bonita, chamava-se Vivienne. Era uma bruxa da família St. Clair, com um parentesco meio afastado com um ramo dos Yaxley da Inglaterra... com Lysandra Yaxley, se não me engano. Que interessante... isso me torna parente meio distante dos Black e mesmo dos Weasley já que sua filha, Cedrella Black, morava em Dublin e casou-se com Septimus Ronald Weasley, pai do atual Ministro da Magia, Arthur. Isso acabou valendo a Cedrella a detonação da árvore genealógica. Se a lenda for verdadeira, isso nos coloca como membros da Linhagem Merovíngia. Quem saberá la verité? Lembro-me do seu perfume, quando ela me abraçava e do quanto chorei quando ela morreu. Eu tinha dez anos, foi pouco depois de receber a carta de Beauxbatons. Ela ficou tão contente... pelo menos não viveu para ver o que aconteceu comigo. Melhor assim.”
“Beauxbatons, que bela escola. A tradição dos Malfoy é de que parte da família estude lá e parte vá para Hogwarts. Foi assim desde há muito tempo atrás, sendo que todos respeitavam-na. Meu avô, Abraxas Malfoy, estudou em Hogwarts. Ele era o mais velho de quatro irmãos. Os outros chamavam-se Jean-Marc, Gryphus e Gérard. Uma coisa interessante é que Abraxas e Jean-Marc eram gêmeos, assim como Gryphus e Gérard. Estes dois últimos estudaram em Beauxbatons e também tornaram-se Death Eaters. Morreram em confrontos com Aurores, sem deixar descendentes. Eu não sabia, mas Abraxas e Jean-Marc foram (obviamente) alunos da Sonserina e colegas de turma do Lorde das Trevas, quando ele era estudante e ainda se chamava Tom Marvolo Riddle, juntamente com os pais do Prof. Mason, a avó materna de Neville Longbottom e a Profª McGonnagall. Era uma turma bastante inteligente e divertida, segundo eu soube.”
“É interessante, quase todos os Malfoy aderiram às Trevas, desde os tempos mais antigos, criando a mística da ‘Natureza Malfoy’, uma tendência para o mal. Raras foram as exceções, tais como Jean-Marc e, mais recentemente, Draco. Principalmente no caso dele a coisa foi um espanto, pois o Lorde em pessoa o queria como sucesssor. Achei estranho o fato de Draco ter rompido com as Trevas, pois ele sempre havia se mostrado tão promissor, segundo as expectativas do Tio Lucius. Se bem que era bem peculiar a desenvoltura que Draco mostrava com coisas trouxas, desde os doze anos. Ele sempre dizia que era para poder se disfarçar melhor e obter informações para o Lorde. Tá bom, eu acredito... A cultura trouxa é muito rica e sedutora e, afinal de contas, não é nada decadente, ao contrário do que acham alguns bruxos mais radicais. Lembro-me de que, na última vez em que ele nos visitou na França, nas férias do segundo para o terceiro ano, nós fomos a Paris com papai, para um curso de Enologia no qual ele ia dar uma aula especial. Saímos para dar uma volta e Draco entrou comigo em uma cafeteria, um Cybercafé, como ele o chamou. Tomamos um Espresso e ele acionou uma daquelas máquinas, um computador. Perguntei o que ele estava fazendo e ele me disse: ‘Entrando na internet’. Eu não fazia a menor idéia do que ele estava falando, até que ele me mostrou imagens, músicas e outras coisas que eu jamais sonhava existirem. Inclusive, quando ele entrou em uma daquelas páginas sobre Enologia, lá estava a foto de papai, elegante em um terno azul de uma famosa grife trouxa. As fotos não se moviam, pois eram fotos trouxas, mas ele me mostrou vários vídeos e muitas imagens animadas e me explicou que tudo era programado ou seja, cada coisa que acontecia dependia de um comando inserido por uma pessoa que havia criado o programa. Por Merlin, que incrível! Nós bruxos, principalmente os de sangue puro, consideramos os trouxas como uns simplórios e ignorantes, mas naquele momento compreendi que o mundo é muito maior do que imaginamos e que ignorante é quem se isola.”
“Mas quando éramos crianças, não estávamos nem aí para a Ordem das Trevas, só queríamos saber de brincar. Embora eu tenha outros primos, tais como Nadine e Remy, filhos de Tia Danielle, que vivem em Marselha, além de Ferdinand e Anne-Marie, filhos do meu outro tio, Jacques e que vivem em Portugal, sempre tive mais proximidade com Draco. Talvez pelo fato de ambos sermos filhos únicos e muito parecidos, até mesmo fisicamente. Tanto que havia gente que pensava que éramos irmãos: loiros, cabelos bem lisos e olhos cinza-azulados, características marcantes dos Malfoy. Eu adorava ir à Inglaterra com papai, para visitar Tio Lucius e Tia Narcisa em Wiltshire. Nem sabia que eram reuniões da Ordem das Trevas e que Tio Lucius, o segundo em comando do Lorde, coordenava tudo, com a presença de pessoas tidas como respeitáveis na Bruxidade mas que, na verdade, eram partidários de Lord Voldemort (ora, vejam! Estou falando o nome dele sem gaguejar!) e vários deles, principalmente Tio Lucius, eram Death Eaters. Enquanto eles ficavam nas suas reuniões e planos, as crianças tinham todo o restante da Mansão Malfoy para brincar. Os elfos ficavam sempre de olho para que ninguém se machucasse e depois arrumavam a nossa bagunça. Nós, bruxos, sempre tivemos um grande desprezo por elfos domésticos, considerando-os como seres inferiores, mas era impossível não gostar de duas criaturas tão dedicadas como eram Dobby e Ziggy, dois irmãos elfos que serviam à Mansão Malfoy. Dobby era criado pessoal de Tio Lucius e passava sempre por muitos apuros e castigos, pois meu tio não tinha a menor pena. Acabou sendo libertado em uma manobra habilmente arquitetada por Harry Potter e hoje é criado de sua família. Já Ziggy era criado pessoal de Draco e embora meu primo tivesse de aparentar tratá-lo com severidade, era tudo fingimento, pois Ziggy sempre foi um grande confidente de Draco. Tanto que as provas que ele reuniu quando estava me investigando ficavam sob a guarda do elfo. Bem, voltando às nossas brincadeiras, a velha casa senhorial de Wiltshire era o nosso parque de diversões particular. Enquanto os adultos ficavam fazendo planos para procurar Voldemort e reerguer a Ordem das Trevas, nós brincávamos por toda a casa. Na hora do esconde-esconde, eu era a campeã, por motivos óbvios, já que sou uma Metamorfomaga. Só que sempre fiz segredo disso, a pedido de meu pai. Então eu dexava que, de vez em quando, me achassem para não dar na vista.”
“Que turminha endiabrada nós éramos. Mas em nossa inocência de crianças, jamais suspeitamos da verdadeira razão pela qual duas das garotas só se escondiam juntas. Eram uma menina linda de cabelos negros e olhos castanhos, que falava com um leve sotaque italiano, chamada Blaise Zabini e a outra era uma loirinha de olhos azuis um pouco mais reforçada e com uma cara meio brava, que lembrava um buldoguinho, chamada Millicent Bulstrode. Somente depois é que ficamos sabendo que as duas eram apaixonadas uma pela outra e namoradas, desde crianças. Não condeno nem discrimino, pois ninguém manda en le coeur. Se a pessoa só consegue amar alguém do mesmo sexo, o que se pode fazer? Lembro-me de que em Beauxbatons também haviam vários casos assim, envolvendo garotas e mesmo rapazes. Madame Maxime sempre pedia para que as pessoas fossem discretas, pois a Bruxidade é muito mais intolerante do que os trouxas quanto à bissexualidade e à homossexualidade. Eu mesma já fui alvo de muitas cantadas de outras garotas na escola. Nada contra, só que n’est pas ma plage. Haja diplomacia para contornar sem deixar ressentimentos. Mas aquelas duas ficaram até bem bonitas juntas, ainda mais depois que Milly fez a Reformatação Facial Mágica e elas foram morar em um apartamento que adquiriram, em Londres. Foi um espanto quando, depois de uma viagem ao Brasil, elas anunciaram que estavam namorando dois militares trouxas, com os quais acabaram se casando. Marino e Daniel. Daniel Wiesenthal... meu ombro direito ainda dói quando me lembro daquela bala de borracha que ele disparou em mim com sua pistola. Bien, assim não amaldiçoei Janine. Aliás, que brasileirinha especial. Foi principalmente por amor a ela que Draco rompeu com as Trevas e ela ainda criou ‘apelidos carinhosos’ para Milly e Blaise. ‘Coturno e Sandalhinha’, vê se pode! E as duas aceitaram numa boa.”
“Mas haviam mais crianças, entre elas dois garotos bem reforçados, chamados Vincent Crabbe e Gregory Goyle que, depois, eu soube que eram guarda-costas de Draco sem que ele soubesse, por ordens de Tio Lucius para que nada ameaçasse a integridade física do prometido sucessor de Voldemort, que era bem magrinho na infância. Quem diria, também romperam com as Trevas e tornaram-se jogadores profissionais de Quadribol, Crabbe no time onde Cho Chang Donovan já havia jogado, os Tutshill Tornados, assim como sua esposa, Demelza Robbins, Artilheira-Reserva da Grifinória quando estudante. E Goyle foi jogar nos Kenmare Kestrels, casando-se com Heloísa Midgeon, uma garota que tinha sérios problemas de acne, mas que livrou-se deles com um tratamento intensivo. Outro garoto que brincava conosco era o irmão gêmeo de Blaise Zabini, Blasius. Eu cheguei a namorá-lo e era apaixonada por ele. Grande Merlin, não acredito que eu ia matá-lo, sacrificá-lo como meu cordeiro de lealdade às Trevas! Mais uma vez Janine interveio e defletiu minha Avada Kedavra com um Olho de Shiva, o único feitiço capaz de bloquear a Maldição da Morte e que não é qualquer bruxo que consegue fazer. Ele agora está noivo de uma jovem trouxa, Lauren Collingwood. Parece que o pai dela foi morto no mesmo atentado que vitimou Fudge. Mas ainda haviam mais crianças na nossa turma, lembro-me de Fabian Sheldrake, um pouco mais velho do que nós, além de Theodore Nott, os pequenos Carrow e, principalmente, a filha dos Parkinson, Pansy.”
“Ela era um caso à parte. Apaixonada por Draco desde as primeiras fraldas, não desgrudava dele e tinha ciúmes de mim com ele. Tio Lucius e o pai dela fizeram um acordo no qual ela e Draco iriam casar-se ao atingirem a maioridade. Ele não levava aquilo muito a sério, mas gostava de Pansy. Mais uma vez houve a intervenção de Janine, pois foi com a ajuda dela que Pansy Parkinson superou aquela fixação pelo Draco e hoje está casada com Fabian Sheldrake, um famoso locutor e comentarista esportivo bruxo. Aliás, foi naquela época que criamos nossos ‘nomes secretos’, que depois já não ficaram mais tão secretos assim.Certo dia, eu dei um beijo no rosto dele e disse: ‘Tu est Mon Petit Dragon’. Ele também deu um beijo no meu rosto e disse: ‘Et tu est ma chérie, petite Valérie. Tu est Ma Petite Valchérie’. Ele criou aquela palavra, fundindo meu nome com ‘querida’, em francês. Eu tinha seis anos e ele sete. Mon Dieu, parece que foi ontem. Aliás, me lembrei de uma história tristemente cômica. Draco estava com oito anos de idade e nossos pais já nos ensinavam a fazer vários tipos de feitiços, inclusive Maldições Imperdoáveis. Eles diziam que, se nós pretendíamos seguir seus passos, teríamos de saber utilizar feitiços fortes e avançados com perfeição. Como a Mansão Malfoy era bem protegida contra a Monitoração do Ministério, não nos preocupávamos. Quando começamos a aprender a Avada Kedavra, nós a lançávamos em insetos e depois em camundongos e hamsters, para treinarmos a potência letal do feitiço e eles nos avisavam para que, nem por sonho, tentássemos lançá-la em um ser humano pois, mesmo que nosso nível de poder não fosse grande naquela época, nunca se sabia o que poderia acontecer. Um dia, estávamos na Sala de Treino e Draco fez uma travessura das grandes.Eu, Blaise, Milly, Pansy, Blasius, Vince, Greg e Theddy havíamos terminado uma série de feitiços e então Draco disse: ‘Vamos ver se funciona em um animal maior. AVADA KEDAVRA!!’ e lançou a Maldição da Morte em um pobre gato que havia entrado no recinto. O infeliz do bichano caiu duro na hora, só tendo tempo de dar um miado bem alto. Tia Narcisa entrou e viu aquilo. Olhou para Draco e eu juro que vi chamas no olhar dela. Ela segurou meu primo pela gola das vestes e disse: ‘Moleque inconseqüente! Como se já não bastasse sua tia Bellatrix estar encerrada para o resto da vida naquela maldita rocha de Azkaban, você ainda me faz o favor de matar o gato dela! Prepare-se, pois essa travessura vai render!’ Juro que nunca vi Tia Narcisa tão furiosa. Draco ficou uma semana de castigo e levou uma surra de tamanha intensidade que ficou uns três dias sem conseguir sentar direito. Mas a gente via que ela fazia aquilo com dor no coração, pois ela o amava muito. Tia Narcisa quase adoeceu por ter de surrar seu filho. Pauvre Tante Narcisse. Espero que esteja em um bom lugar, depois do que Tio Lucius fez. E o pior é que aquele raio era para Draco e Janine.”
“Mas foi por volta dos nove ou dez anos de idade que nossos pais começaram a intensificar nossa ‘doutrinação’ para as Trevas, praticamente fazendo em nós uma lavagem cerebral. E Draco parecia bastante entusiasmado com tudo aquilo. Só depois que eu soube que era tudo fachada. Ele sempre quis romper com as Trevas, mas ainda não havia tido a oportunidade para isso. E, no seu desespero, disfarçava a ansiedade com sua conduta de ‘Malfoy-Sonserino-Padrão’, arrogante e esnobe. E quando ele me falou de Harry Potter, no final do seu primeiro ano! Mon Dieu, como ele xingava o garoto! ‘Testa Aberta’ era o termo menos ofensivo que ele usava. Mas Draco ficou bem quieto quando eu disse que ele sentia era inveja de Harry e que ressentia-se da resposta que havia recebido ao estender sua mão para o garoto e pela Grifinória ter tirado, na última hora e com pontos extras concedidos a Harry e seus amigos por terem salvo a Pedra Filosofal, a Taça das Casas das mãos da Sonserina, naquele ano. Bem-feito. Acabaram sendo inimigos durante cinco anos, mas tornaram-se grandes amigos no sexto, depois que ele começou a namorar Janine e rompeu definitivamente com a Ordem das Trevas, mandando Voldemort para aquele lugar.”
“E quanto a mim? Como foi que eu me envolvi com as Trevas? Eh, bien, acho que era uma tendência natural. Papai era, como eu já disse, o principal agente de Voldemort no Vale do Loire e o líder de um grande serviço de informações, embora jamais tenha precisado matar ninguém. E ele começou a me doutrinar para esse caminho desde os meus nove anos. Ma mére não era das mais fanáticas, não queria que eu corresse riscos. Mas não podia fazer nada e então meu pai prosseguia nas suas lições. E então, quando eu tinha dez anos, ela morreu. Foi pouco depois de eu receber a carta de Beauxbatons, infelizmente ela não me viu ir para a escola, vestindo aquele belo uniforme azul. Logo no primeiro ano, a nossa professora de Poções viu que eu tinha potencial para a área. Afinal de contas, sempre fui fascinada por Química. Meu pai me ensinou tudo o que pôde sobre as sutilezas dos processos de fermentação das uvas para a fabricação do vinho e do Champagne. Aliás, que Champagne delicioso nós fabricávamos. Suave, insinuante, uma verdadeira armadilha. Se a pessoa não tomasse cuidado e não soubesse a hora de parar, o pileque era certo. Bem, eu me tornei uma aluna bastante destacada e a professora viu que eu poderia ir mais além. Seu nome era Midori... Midori Kobayashi. Ela era filha de uma bruxa das Trevas japonesa com um dos filhos de Isamu Kobayashi, Sensei do Ryu Ninja Negro de Kuji-Kiri. Trouxas, porém protegidos de Voldemort, que já havia sido aluno deles.”
“Ela me instruiu no Ninjutsu mais negro que se poderia imaginar e me ajudou a alcançar níveis altíssimos de controle do Ki e me explicou que aquilo só havia sido possível porque eu ainda não tinha meu coração totalmente tomado pelo mal. Aprendi artes marciais, aprimorei meus disfarces metamorfomágicos, comecei a conhecer venenos e outras técnicas, tipo Saiminjutsu, Inton-no-Jutsu, Kunoichi-no-Jutsu e muitas mais, só não conseguindo dominar direito o Bukujutsu. Então o meu primeiro ano terminou e fui para casa nas férias. Foi quando recebi a visita de Draco e ele me mostrou aquelas coisas da internet e, já desde aquele tempo, ele estava gostando de coisas trouxas e questionando a sua lealdade às Trevas. Depois daquilo, passei um tempo sem vê-lo, até que aconteceram todos aqueles fatos e Voldemort retornou. Continuamos nos correspondendo, até que houve o ataque ao Ministério, Harry Potter enfrentou o Lorde e Sirius Black desapareceu. Foi quando meu pai descobriu que Igor Karkaroff havia se entregado ao Ministério, a fim de permanecer vivo. Passou a mensagem a Voldemort, que pediu para que ele designasse alguém para orientar um dos agentes infiltrados no Ministério para matar Karkaroff. Depois de pensar e planejar, papai chegou à conclusão de que não poderiam usar Snape, pois daria muito na vista. Além de que Voldemort queria preservá-lo. Então, eu fui a escolhida para tal missão. Ainda mais que eu havia acabado de chegar de um intercâmbio em Durmstrang, onde tive aulas com a maior especialista em venenos da Europa Oriental, Cicuta Cianevski. Então viajei para a Inglaterra mas de avião, incógnita para a maior parte da Bruxidade. Só que eu não contava com algumas coisas: a identificação por escaneamento de retina no Aeroporto DeGaulle e em Heathrow, a viagem ter sido meio desconfortável, o que me obrigou a voltar para a França com Pó de Flu e os dois grandes erros que cometi, que foram ter ido procurar por Draco em Wiltshire e depois, já que não o encontrei, escrever para ele. Na carta eu comentava sobre os venenos utilizados e dei a maior mancada. O problema é que o Profeta não os mencionou na matéria que noticiava as mortes de Karkaroff e Carpenter e isso foi uma das coisas que Draco usou em sua investigação. Como eu poderia imaginar que meu próprio primo estaria me investigando? E que ele iria me desmascarar em pleno Baile de Formatura? Bem, naquela história eu acabei orientando um jovem Death Eater que era funcionário do Departamento de Esportes Mágicos, chamado Phillip Carpenter, a utilizar a Acqua Tofana em um copo dágua, depois de induzir sede em Karkaroff, disfarçado com a aparência de Kingsley Shacklebolt através de Poção Polissuco. E, no caso dele ser capturado, suicidar-se com um dente falso, carregado de Saxitoxina. O sucesso de minha missão naquele ano levou Voldemort a pedir pessoalmente a meu pai que me designasse para outra missão: envenenar Arthur Weasley e Amélia Bones após a Cerimônia de Posse. Ele já sabia que Fudge iria indicar Arthur como seu sucessor, em vez de Scrimgeour, pois Fudge já estava inclinado a não ceder às pressões da Ordem das Trevas e do Círculo Sombrio. Bien, deu no que deu. Arthur Weasley foi o indicado, Scrimgeour ficou furioso e depois houve aquele atentado.”
“Em função daquilo, fui transferida de Beauxbatons para Hogwarts. Papai até relutou, mas ninguém em sã consciência seria capaz de recusar um pedido pessoal de Lord Voldemort. Ainda mais pelo fato de que o Lorde utilizou argumentos bastante válidos, sem precisar ameaçá-lo. Quem desconfiaria de uma jovem sextanista de Hogwarts, mesmo que de uma família tradicionalmente trevosa como os Malfoy? Isso me deu uma cobertura bastante convincente. Além disso, haviam outras missões paralelas, tipo tentar atingir o Ministro eleito através de atentados contra seus filhos e quase que eu consegui, por três vezes, com a possibilidade de atingir Harry Potter em uma delas. Mesmo assim, aquilo me perturbava e eu não conseguia descobrir a razão pela qual a freqüência vibracional do meu Ki oscilava. Depois descobri porque aquilo acontecia. Convivendo com Harry Potter e os Inseparáveis eu começava a, cada vez mais, gostar deles e isso me angustiava porque eu tinha de cumprir aquelas missões, sob pena de ter minha família ameaçada. Oui, eu poderia ter procurado Dumbledore e pedido sua ajuda, mas não o fiz. E por que? Vou confessar, tive medo e vergonha de admitir que estava no caminho das Trevas, não sabia como seria tratada por todos, não queria ter minha imagem manchada e não sabia se a Ordem da Fênix conseguiria proteger minha família de uma possível represália dos Death Eaters, a mando de Voldemort. Além disso, o meu lado da ‘Natureza Malfoy’ ambicionava poder e fortuna, então ocorria todo aquele conflito interior.”
Mon Dieu, quanta coisa acabei fazendo por medo, vergonha e ambição! Tentei matar Gina Weasley, agora Potter, por duas vezes, bem como ao seu irmão, Ronald. Em uma delas, Milly quase morreu. Só se salvou graças a Harry e ao antídoto que ele providenciou. Isso também foi o que salvou Rony da picada da Naja Presasfortes, que mandei para matá-lo. A Mamba que conjurei morreu, partida por uma alabarda. Mas chegou um dia no qual houve um ponto sem volta e eu acabei matando alguém, ainda que não fosse o meu alvo principal. Acabei matando Winky, a elfo doméstica esposa de Dobby, quando tentei matar Gina com o Gyokuro no chá. Aquilo também mataria Luna Lovegood. Para aquela missão, assumi a aparência de Dobby e preparei o chá, adicionado de Gyokuro em concentração letal. Só que eu não contava que Winky havia percebido que eu não tinha provado o chá para ver se estava no ponto e então o fez. Quando o verdadeiro Dobby chegou, ela morreu aos seus pés e ele mal teve tempo de evitar que as duas o tomassem. Naquela noite, chorei como nunca. Havia selado meu destino, pois uma vida havia sido tirada diretamente por mim e, mesmo hesitando, teria de tentar cumprir minhas missões. Depois daquilo matei Horatio Slughorn e tentei matar Rony. Mas antes daquilo eu já havia deixado preparadas possíveis rotas de fuga, com Chaves de Portal estrategicamente ocultas na Casa dos Gritos e no porão da Dedosdemel. E como foi que eu fiquei sabendo daqueles lugares? Através de Wormtail, pois ele havia sido co-responsável pela confecção de um incrível mapa, junto com Tiago Potter, Sirius Black e Remus Lupin. Esse mapa está em poder de Harry Potter desde o seu terceiro ano em Hogwarts. Wormtail me contou sobre a passagem do Salgueiro Lutador, que levava à Casa dos Gritos e sobre a passagem para o porão da Dedosdemel, que começava na estátua de Gunhilda de Gorsemoor, no meio do corredor do terceiro andar. Na noite do dia em que houve a partida de Quadribol entre Grifinória e Sonserina, na qual Draco foi atingido por um raio e ele e Harry quase morreram, eu fui visitá-lo na ala hospitalar e depois saí para levar as Chaves de Portal e escondê-las. Quase fui descoberta por Janine, pois ela me seguiu com o Ki baixo e, provavelmente, sob Feitiço de Desilusão. Por sorte entrei em um banheiro e lá me transfigurei na aparência de uma garota da Corvinal, Lorraine Smollett. Saí junto com Diana McCorkindale e Paula Benton e consegui despistar Janine. Depois daquilo, achei melhor utilizar a aparência de alguém mais respeitável e me transfigurei na Profª McGonnagall. Foi a minha sorte, pois quase trombei com Janine. Entreguei a ela um passe de corredor e fui para a estátua de Gunhilda. O que eu não sabia era que aqueles garotos, os “Honra e Amizade”, também estavam me seguindo e sabiam baixar o Ki, cortesia dos ensinamentos dos gêmeos Musashi. Enquanto Draco estava me investigando, aqueles pirralhos também estavam conduzindo uma investigação paralela.”
“Mas meu ano em Hogwarts foi muito bom. Não posso deixar de me lembrar de Blasius, o irmão gêmeo de Blaise Zabini. Eu não o via desde que éramos crianças e fiquei admirada em ver que belo rapaz que ele havia se tornado. Ele também me reconheceu e nos apaixonamos logo de cara. Além de namorá-lo, eu também o estava influenciando para as Trevas. Justo ele, que era um rapaz tão tranqüilo, sem a menor inclinação para esse lado e que só pensava em estudar, tendo notas que figuravam entre as melhores da escola, rivalizando com as de Hermione. Eu o amava de verdade e isso tornava as coisas mais difíceis. Voldemort me queria como sua conselheira com o posto de Mestre-Envenenador, que antes pertencia ao Prof. Snape. Ele resolveu que deixaria Severo Snape em paz para cuidar de sua vida, devido à estima pela sua família, mesmo que o professor tenha sido um traidor. Isso prova que Voldemort podia ser maligno, cruel e impiedoso, mas era um bruxo justo. Bem, para ocupar tal posição junto a Voldemort, seria exigido de mim o cordeiro para o sacrifício de lealdade. E, sabendo que ele era meu namorado, o Lorde determinou que fosse Blasius, ainda que fosse filho de Death Eaters. Por Merlin, como relutei em aceitar, ainda mais porque tornamo-nos mais unidos do que nunca. Blasius Zabini foi o primeiro e único rapaz a quem me entreguei por inteiro, na noite do Dia das Bruxas, em um ‘passeio romântico’ depois do horário de recolher. Bem, não fomos os únicos a sair naquela noite, esbarramos em vários casais que saíram com a mesma finalidade, inclusive Milly e Blaise. Blasius sempre aceitou bem a atitude de sua irmã, tendo sido o primeiro a compreendê-la e apoiá-la. Mas nunca vimos tantos sorrisos amarelos quanto naquela noite. Dieu, meu coração sangrava quando, durante o Baile de Formatura, eu tive de dizer que ele seria meu cordeiro. Não tive coragem de encarar seus olhos ao dizer aquilo, pois eu acabaria chorando. Tive de me fazer de forte, durona e malvada para que ninguém percebesse como eu estava a ponto de fraquejar e jogar minha varinha ao chão naquele momento. Mas Scrimgeour estava lá e, se eu não fizesse aquilo, ele certamente daria um jeito de me denunciar a remanescentes da Ordem das Trevas e aquilo comprometeria a segurança de minha família. O máximo que pude fazer foi lançar uma Avada Kedavra um pouco mais fraca que, mesmo que não tivesse sido defletida pelo Olho de Shiva de Janine, iria deixá-lo gravemente doente por algum tempo, mas não o mataria. Agradeci em silêncio quando Draco tomou minha varinha, em sua forma de Animago-Raposa e, quando me preparei para lançar aquele dardo envenenado, fiz pontaria para errar. Eu já não tinha escapatória, não tinha mais para onde fugir e, confesso, tive vontade de dar um beijo no pequeno Jemail Zaidan Bin Laden quando ele lançou o Novelo Constritor que me prendeu. Eu já não poderia fazer mal a mais ninguém e as aparências estavam mantidas. Vir para Azkaban era um preço pequeno a pagar pela segurança do meu pai e dos Malfoy remanescentes. Mas, por prevenção e por querer evitar que ele pudesse fazer mal a mais alguém, delatei Rufus Scrimgeour, que também veio para cá.”
“Dumbledore e o Ministro Weasley negociaram uma redução de pena para mim e conseguiram. Deverei sair daqui dentro de uns doze anos ou até menos, dependendo do meu comportamento. Inclusive também tenho direito a pleitear liberdade condicional, essa bendita invenção jurídica trouxa que a Bruxidade adotou. Um dos que mais procuraram trabalhar para reduzir minha pena foi Harry Potter, juntamente com Gina. Os dois nem ligaram para o fato de eu ter tentado matá-la e ao irmão. Aliás, todos os Inseparáveis acreditaram em mim. Hermione e Luna chegaram a me dizer que havia esperança para mim, pois sentiram oscilações no meu Ki, ainda que eu mesma não as percebesse. Será mesmo? Não tenho certeza, não sei até que ponto as Trevas já me macularam. Harry agora é um Auror. Ele e Gina casaram-se, há algumas semanas atrás. Eles também vieram me visitar, antes do seu casamento e realmente formam um lindo casal. Disseram que iriam passar a lua-de-mel no Brasil e que, assim que retornassem, continuariam a batalhar para que eu pudesse obter a condicional o mais depressa possível. Aqueles dois realmente não possuem maldade no coração e eu tenho certeza de que isso foi importante para que derrotassem Voldemort. A oferta deles foi muito generosa, mas creio que não precisarei esperar tanto. Embora vá me prejudicar, pretendo tentar sair daqui desta rocha. Depois que Moody passou o cargo, acho que será menos difícil, pois não precisaremos temer aquele olho mágico dele. Alguns dos prisioneiros, não sei como, conseguiram neutralizar os colares e braceletes de segurança e pretendem iniciar uma rebelião amanhã. Creio que deve haver o dedo do Círculo nessa história, pois ninguém mais seria capaz de interferir em uma prisão de segurança máxima, como é o caso de Azkaban. Nem todos os prisioneiros aceitaram participar dessa operação. Wormtail e Sibila Trelawney, por exemplo, permanecerão neutros. Eles obtiveram permissão para realizarem seu casamento aqui em Azkaban, casaram-se e pretendem cumprir sua pena e depois saírem daqui, com seu débito para com a Justiça Bruxa totalmente quitado. Tio Lucius pretende participar, pois não agüenta mais ficar aqui e me disse que tem planos para lá fora. E eu irei com ele, pois não posso realizar o que pretendo ficando presa. Sei o que devo fazer e creio que o momento certo de fazê-lo chegou. Valeu a pena não ter tido pressa. Mas também sei que a coisa vai ser perigosa e que alguns de nós poderão acabar morrendo na tentativa de fuga. Eh, bien. Eu e Tio Lucius procuraremos tomar cuidado para que nada afete nossa integridade física. Se bem que ninguém pode prever o futuro. Eu acredito que parte do que acontece conosco depende de nós, mas sempre há aquelas coisas que não podemos evitar e que muitos preferem chamar de Destino. De certa forma, estão certos. Pois quem pode dizer o que acontecerá com certeza? Nem todos são como Cassandra Trelawney, trisavó de Sibila ou como Ayesha Zaidan-Black, verdadeiros videntes. E nem mesmo eles sabem ou podem prever tudo. Bem, saber tudo, ter o dom da Onisciência, tiraria a graça da vida. Pois, afinal de contas, hoje eu estou aqui, presa em Azkaban, fumando meus Gauloises e divagando entre reflexões e lembranças. Sim, hoje eu estou aqui. Amanhã, quem sabe...?





                      Será que é o FIM?

CONTINUA EM “HARRY POTTER E O CÍRCULO SOMBRIO”

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