Sozinho



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"Se você está sozinho é porque construiu muros ao invés de pontes”
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Capítulo I - Sozinho


Ele terminara a pouco a prova que lhe daria a permissão para nunca mais voltar àquele castelo. Tudo que ele queria era se livrar das pessoas com quem se encontrava todos os dias, aqueles indivíduos indignos de sua presença. Era assim que pensava Draco Malfoy com seus dezessete anos.

Nesse tempo que estudou em Hogwarts, criara muitas inimizades, odiara muitas pessoas, desejando a algumas delas um destino pior que a morte.

Por seu pai ter sido um comensal da morte e ter ficado durante muito tempo ao lado de Voldemort, naquela época pós-caos, Draco tornara-se um adolescente afastado dos demais, apenas por precisar do apoio do pai e não poder negar-lhe o direito de vê-lo e trata-lo como filho.

Quando era mais jovem havia tido alguns amigos, mas agora já não havia mais ninguém ao seu lado. Os jovens passavam nos corredores e não notavam a presença dele e ele também não notava os outros. Vivia recluso em seu mundo, distante de qualquer pessoa e distante de si próprio.

Tudo que restara a Draco fora se dedicar aos estudos e nisso acabara se tornando o melhor. Era inteligente, centrado e audacioso. Não havia nada que alguém pudesse saber que ele também não soubesse.

Andava por um corredor distraído, e nem se preocupava com a prova que tinha feito, já que sabia que tinha ido bem. Estava na ala sul do castelo, procurando o melhor caminho para chegar às masmorras, quando se deparou com o professor Snape à sua frente.

- Malfoy, quero vê-lo em minha sala exatamente às duas horas da tarde, entendeu? – O professor Snape continuava o mesmo com os outros alunos, mas com Draco havia mudado radicalmente, talvez o tratando como tratava os demais, com indiferença, descaso, como se ele fosse apenas mais um, e não o garoto que por tanto tempo, tratou como seu favorito.

– Sim, senhor professor – respondeu do mesmo modo seco com que fora tratado.

Deu as costas ao mestre de poções e voltou seu caminho até as masmorras.

Assim que chegou ao quarto, deparou-se com vários de seus colegas arrumando as malas para no sábado pela manhã, voltar aos seus lares e encontrarem seus pais, esperando-os de braços abertos.

Apesar de odiar o castelo, também já não sentia mais prazer em estar em casa. Depois que seu pai fora preso pela segunda vez após a derrota do Lorde das Trevas, sua mãe entrara em depressão e acabara morrendo, por isso agora não tinha ninguém para esperá-lo em casa, a não ser os elfos, sujos e enfadonhos. Para ver o pai, Draco tinha que ir até Azkaban e esse trajeto era cansativo e tortuoso.

Ficou deitado em sua cama, fingindo não notar o movimento ao redor, esperando que o relógio finalmente informasse a hora do almoço.

Após algum tempo o alvoroço no quarto se desfez, e este se encontrava no mais absoluto silêncio, de forma que Draco pudesse ouvir sua própria respiração, podendo enfim pensar em paz no que Snape queria lhe falar.

De forma alguma poderia ser uma bronca, mas também não esperava ser elogiado por sua conduta na sala de aula. Não conseguia enxergar até onde o professor iria naquela tarde.

Sentiu seu estômago roncar, e aquilo era sinal suficiente para que se desse conta de que era hora do almoço, mas antes de descer para almoçar resolveu tomar banho.

Entrou no banheiro com paredes de pedra, olhou seu reflexo muito pálido no espelho e viu que havia olheiras sob seus olhos, que ganhara após tantas noites mal dormidas pensando na mãe e na vida infeliz que tinha.

Ligou o chuveiro e logo que achou que este estava quente o suficiente, foi para de baixo d’água, tomando um rápido banho.

Assim que terminou, enrolou-se em uma toalha e voltou para o quarto, dirigiu-se ao malão e escolheu sua roupa.

As aulas haviam acabado naquela manhã e por isso já não precisava mais usar o uniforme da escola. Contemplou-o sobre sua cama e só então se deu conta de todo o tempo que o usara. Pensou se em algum momento de sua vida sentiria saudade dos momentos em que o usou.

Optou por usar uma calça jeans escura, camiseta preta e um par de tênis velho, que sempre colocava quando não estava a fim de pensar em algo melhor para por.

Saiu do quarto e foi direto à cozinha, já não ia mais ao Salão Principal para comer, pois ali não encontraria presença que lhe bastasse, apesar de ter que aturar os elfos espalhafatosos durante todo o almoço poderia simplesmente ignorá-los ou insultá-los. Comeu rapidamente seu bolo de carne, arroz com uvas passas e bolo de batata e assim que deu a ultima garfada em seu prato, saiu da cozinha.

Olhou o relógio e pôde ver que faltavam poucos minutos para as duas horas da tarde. Como não havia mais nada a fazer se dirigiu até a sala de Snape, batendo suavemente na porta, esperando ouvir o consentimento do professor para que entrasse.

- Entre – Foi tudo que ouviu o professor dizer do lado de dentro da sala.

A sala de Snape continuava como sempre, cheia de frascos com os mais diversos ingredientes para as poções mais complicadas possíveis. Havia inúmeros caldeirões e muitos frascos com bebidas e gases coloridos.

- O que o senhor deseja comigo, professor? – Perguntou tentando parecer descontraído naquele ambiente pouco confortável.

- Sente-se Draco, precisamos conversar – Fazia muito tempo que não ouvia o professor chamar daquela forma, e a cada segundo que passava dentro daquela sala, sentia-se mais ansioso para saber do que se tratava aquela conversa.

Sentou-se sem dizer nada, perpassou os olhos por todos os objetos da sala, lembrando-se de todas as poções que fizera, algumas que tiveram utilidade e outras que foram totalmente inúteis.

- Você terminou seu sétimo e ultimo ano hoje, e não acredito que você tenha tido alguma dificuldade em passar de ano – Snape olhou sério para o garoto a sua frente – O que você pretende fazer da sua vida agora, Draco?

- Porque o interesse professor? – Draco já não estava mais acostumado com aquele tratamento vindo de Snape, e na verdade, nem queria que ele se envolvesse em sua vida. Tudo que queria era distância daquilo, mas na realidade, nem havia parado pra pensar no que faria dali para frente.

- Apesar de ter me mantido afastado, ainda me preocupo com você e com seu futuro – Olhou para o lado, como tentando esconder algo que Draco poderia notar usando Legimilência – E agora que sua mãe não está mais aqui e seu pai está em Azkaban, queria saber o que você pretende fazer, já que me parece bastante improvável que você continue naquela casa sozinho.

- Professor seja mais direto, aonde o senhor pretende chegar? – mantinha os olhos fixos no rosto de Snape – Sinceramente não me parece possível que o senhor esteja preocupado com o meu futuro. Isso seria algo que esperaria do Dumbledore, não do senhor.

- Esta bem Draco – Olhou o garoto nos olhos – Gostaria de saber se você não gostaria de passar as férias na minha casa enquanto você não arruma outro lugar para ficar. Querendo ou não, você sabe da amizade que eu mantive com seu pai, e do trato que fiz com sua mãe para cuidar de você.

Draco estava perplexo, como o professor, depois de todo aquele tempo, tratando-o de forma seca e insensível, a ponto de nem lhe dar os pêsames quando a mãe morrera, poderia vir ali olhá-lo nos olhos e convidá-lo para morar com ele? Realmente aquele homem estava ficando louco.

– Professor – Parou e pensou no que iria dizer – Sinto muito, mas me parece que o senhor tem usado algo que não deveria, ou fazendo a posologia errada de alguma de suas poções. Não me parece coerente que eu vá para sua casa nas férias. Primeiro porque eu ainda tenho uma casa, segundo porque ainda tenho um pai para visitar, e terceiro e mais importante, eu não seria louco de me enfiar naquele lugar deserto, onde o mais próximo de um ser vivo que encontrarei por lá será um rato, ou um trouxa vagabundo.

Snape ficou quieto, fez menção de abrir a boca para falar algo, mas logo em seguida a fechou. Draco ficou olhando para o professor, como se ele fosse realmente louco, e em nenhum momento pensou em pedir desculpas ao professor pelo que dissera.

- Então era só isso, Professor? – Perguntou o sonserino querendo dar aquela conversa por encerrada.

- Eu voltarei a te ver algum dia? – Sim, Snape ainda tinha coisas a dizer.

- Não sei dizer professor, se o mundo assim quiser, se nossos caminhos tiverem um porque de se cruzarem, quem sabe?

- Espero te ver novamente – Levantou-se da cadeira, e estendeu a mão para Draco.

Draco não disse nada, queria sair dali o mais rápido possível, definitivamente aquela fora à gota d’água, por sorte nunca mais teria de voltar a Hogwarts. Estendeu a mão para Snape e esperou pelas ultimas palavras que ouviria da boca do professor.

- Boa sorte em sua vida Draco – Soltou a mão do garoto e se virou para sua prateleira cheia de antídotos e começou a procurar algo.

Draco levantou-se da cadeira e saiu da sala.

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Era sábado pela manhã. Seu último dia em Hogwarts, seus últimos minutos naquele lugar que, por tanto tempo fora sua segunda casa.

Havia decidido ir para casa e ficar lá até achar algo que quisesse fazer, ou algum lugar para ir.

Pela primeira vez em muito tempo, e pela última vez em sua vida, resolveu tomar o café da manhã no Salão Principal. Viu ali muitas pessoas que nunca havia notado, e algumas que já havia esquecido que existiam.

Na ponta do salão, podia ver a mesa dos professores, e pode notar que Snape não estava lá. Dumbledore com suas vestes nada discretas, seus olhos azuis bondosos brilhando e as mãos se agitando todo o tempo, criava inúmeras bolas coloridas, que caiam do teto enfeitiçado que mostrava o céu azul lá fora.

O café da manhã estava maravilhoso, Draco chegou a se perguntar por que fugia tanto daquele lugar, mas só de olhar ao redor e ver que todos estavam felizes e sorrindo lembrou-se do porque. Ele mais uma vez estava sentado sozinho, distante de todos e ninguém se importava com ele.

Terminou seu café, e continuou sentado à espera do discurso final de Dumbledore, que não demorou nada a se levantar e todo o salão ficar no mais absoluto silêncio.

- Mais um ano se encerra aqui em Hogwarts – Começou com sua voz firme e ao mesmo tempo melódica – Mais um ano em que muitas coisas boas aconteceram e outras nem tanto. Onde novas pessoas se juntaram a nós e agora outras vão ter de partir.

“Um ano que se encerra não é algo triste, e sim a maior prova de que a vida continua independente do que aconteça. Espero que novos anos se juntem a esse em magia e esplendor, e que cada um de nós, encontre aquilo que lhe é reservado”.

“Há muito estamos vivendo um momento mais calmo e mais sublime do que qualquer outro momento que possamos ter vivido, mas isso não nos impede de continuarmos atentos a tudo que se passa ao nosso redor, e que nos protejamos assim que a primeira pedra cair”.

“Espero que todos sigam felizes para essas férias e que tenham um bom retorno no próximo ano letivo e para aqueles que não voltarão, que tenham sucesso em suas aventuras!”.

Dumbledore continuou seu discurso, mas agora voltado às casas da escola para anunciar o campeão, e Draco não se surpreendeu ao saber que Grifinória havia ganhado.

Levantou-se da mesa antes que o estardalhaço começasse e dirigiu-se para seu dormitório, onde seu malão o esperava para poder ir para casa.

Pegou o malão, passou pelo saguão de entrada e logo estava nos jardins ensolarados de Hogwarts, procurando um coche que o levasse até a estação de Hogsmead.

Todos ao seu redor pareciam felizes com a proximidade das férias e pode ver que alguns alunos choravam de saudades antecipadas dos amigos que não iriam ver nas férias e por um momento sentiu inveja daquele sentimento.

Quando finalmente chegou a estação de King’s Cross muito tempo depois daquele café da manhã magnífico, sabia que não haveria ali ninguém que pudesse estar vindo buscá-lo, sentiu-se solitário.

Andava distraído pela estação quando sentiu uma mão segurar-lhe pelo ombro.

- Sr. Malfoy? – O dono daquela mão era um homem com idade já avançada, que parecia tão confuso com a situação quanto o próprio Draco.

- Sim – respondeu meio incerto.

- Mandaram-me busca-lo para te levar a Azkaban, parece que aconteceu algo com o seu pai.

Draco se sentiu atordoado, não esperava por aquela abordagem, e ao saber que algo havia acontecido com seu pai sentiu um leve temor.

- O que aconteceu com o meu pai? – Perguntou rápido, já começando a andar ao lado do homem.

- Não sei senhor, apenas me disseram para vir buscá-lo.

Pararam em frente a um carro, e Draco entrou no banco de trás junto com o senhor que o abordara. De repente passou pela cabeça do loiro que aquilo poderia ser um seqüestro, não era muito difícil descobrir quem ele era, e muito menos saber que sua família tinha muito dinheiro.

- O que aconteceu com meu pai? – Perguntou pela segunda vez, esperando ouvir alguma resposta.

- Já lhe disse senhor – respondeu o homem – não sei o que houve.

- Para onde estamos indo? – Tentou outra pergunta para ver se conseguia uma nova resposta.

- Estamos indo para Azkaban. Na verdade vamos para o litoral, de lá aparataremos para uma ilha próxima à prisão e em seguida vamos ver o seu pai.

Draco ficou quieto, não adiantava fazer mais perguntas, e muito menos indagar sobre o que acontecera com seu pai.

Após um longo tempo estavam em frente à prisão de Azkaban. Malfoy pôde sentir todo o frio que emanava do corpo dos Dementadores e desejou sair dali o mais rápido possível, mas ao invés disso teve que entrar naquele lugar.

Eram poucos os homens que trabalhavam ali, já que muitas pessoas tinham aversão a Dementadores, e Draco sabia exatamente o porque daquilo. Aqueles seres que guardavam a prisão dos bruxos pareciam roubar a felicidade que habitava dentro de cada um e parecia fazer vir à tona os medos e frustrações de todos.

O homem que o abordara o levou para dentro da prisão. Lá havia algumas pessoas trabalhando em um local que parecia uma secretária, e o senhor foi até lá conversar com alguém. Após algum tempo um outro homem veio falar com Draco.

- Olá, eu sou o Sr. Stephens – o homem não tinha mais de quarenta anos, mas aparentava ter muita experiência, e tinha olhos atentos e incrivelmente azuis.

Draco apertou a mão do homem, e buscou com o olhar o outro homem que o acompanhara, mas este já não estava mais presente, e perguntou-se quem ele seria.

- O senhor deve estar se perguntando porque foi trazido aqui – o Sr. Stephens parecia muito centrado ao falar – e tudo que posso lhe dizer é que sentimos muito, mas seu pai faleceu.

Draco estava estupefato, seu pai morrera, e ele nem estava próximo dele, não ouvira suas ultimas palavras, e não pode dizer ao pai o quanto o amava apesar de tudo.

- Quando aconteceu? – perguntou engolindo em seco.

- Bom, pelo que pudemos observar deve ter ocorrido hoje pela manhã. Quando estávamos fazendo a ronda, vimos que estava tudo muito quieto nas celas, e isso só acontece quando alguém morre.

Não havia palavras de consolo mais uma vez, apenas a verdade era mostrada a Draco e não podendo mais agüentar, deixou que as lágrimas rolassem, pela opressão que sofrera, pela solidão que sentia, pela família que perdera.

Draco estava sozinho no mundo.
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Sem ter mais o que fazer em Azkaban, Draco voltou para casa. Encontrou os elfos parados à porta e teve vontade de chutá-los. Não queria ter que aturá-los naquele momento.

- Senhor Malfoy, nós sentimos muito pelo que aconteceu – disse um elfo vindo em direção ao seu único patrão, e o que menos precisava deles, já que o loiro preferia fazer as coisas por si só.

- E vocês por acaso sabem o que aconteceu? Por acaso algum de vocês já perdeu a família toda e ficou sozinho no mundo? – Draco respondeu aos berros, sabia que não era culpa dos elfos, mas naquele momento precisava soltar todos aqueles sentimentos.

- Senhor, por favor, não nos trate assim.

Ele estava cheio de tudo aquilo, precisava ficar só, virou as costas ao elfo e subiu as escadas até seu quarto, que há muito não via.

O quarto continuava no mesmo tom de prata que sempre teve. Tudo que lhe pertencia nos mesmos lugares, a cama no meio do quarto, a porta do closet à direita, a porta do banheiro à esquerda.

Draco andava de um lado para o outro do quarto, olhava tudo ao seu redor e aquele lugar o enervava.

Jogou-se sobre a cama, e lágrimas escorriam de seus olhos. Lembrava-se da mãe e dos poucos momentos em que vira seu pai feliz ao lado dela.

Agora Draco já não conseguia mais sentir raiva do pai por todos os momentos em que ele o destratara, só o que conseguia sentir era uma falta crescente de vê-lo. Apesar de no ultimo ano só poder ver o pai em Azkaban, achava aquilo muito melhor do que não ter essa oportunidade.

Estava cansado e faminto, levantou-se da cama, dirigiu-se ao banheiro, queria mais do que nunca tirar aquela roupa que não o aquecera quando estava perto dos dementadores, e que se encostara ao sangue seco que seu pai vertera pela boca.

Todas as vezes que se via diante de um espelho, observava-se, mas não era por vaidade, era simplesmente uma forma de se analisar. Cada ano que passava conseguia ver que sua beleza se ressaltava, mesmo com olhos cansados e tristes, mesmo com aquela palidez chocante. Cada ano que passava, Draco sentia-se mais homem e menos menino.

Encheu a banheira com água e entrou nela. Precisava relaxar, mas se perguntava como isso seria possível, já que ainda precisava preparar o enterro do pai.

Passou algum tempo dentro da banheira e quando a água já estava quase gelada e seus dedos enrugados saiu desta.

Voltou ao quarto e olhou o malão que o Sr. Stephens provavelmente mandara entregar em sua casa. O loiro precisava desfaze-lo e se desfazer de inúmeras coisas que havia dentro deste.

Foi ao closet e escolheu as primeiras peças de roupa que encontrou, uma cueca branca e uma calça de moletom preta. Agora que estava em casa esquecia-se das camisas, já que sem elas se sentia muito mais à vontade.

Voltou ao quarto e abriu o malão. Dentro dele havia uniformes, roupas comuns, livros, frascos e muitas outras coisas, que Draco foi tirando uma a uma, separando o que ainda precisaria e o que era supérfluo.

Estavam batendo na porta do quarto quando o loiro começara a guardar suas coisas.

- Entre. – foi tudo que disse.

- Senhor, há alguém lá embaixo que quer vê-lo. – respondeu o minúsculo elfo, fazendo uma reverência exagerada.

- Quem é? – perguntou, se fosse alguém indesejável mandaria o elfo dizer que ele estava dormindo e que era para a pessoa voltar depois.

- Não sei, senhor Malfoy – disse o elfo com sua voz esganiçada e educação soberba para um elfo – Não fui eu que atendi a porta, apenas me mandaram avisá-lo.

- Você é um imprestável mesmo, dá próxima vez só me suba aqui depois que souber quem é, entendido? – Draco sabia muito bem que os elfos só faziam aquilo que eram mandados, por isso sabia que não seria mais incomodado daquela forma. – Diga que já vou.

O elfo fez outra reverência e saiu do quarto.

Draco perguntava-se quem seria. Será que alguém já ficara sabendo da morte de seu pai? Saiu do quarto e foi até o escritório onde a visita estava esperando.

Entrou silenciosamente, tudo que via eram os cabelos pretos e ensebados de Severo Snape.

- O que você faz aqui? – perguntou seco.

- Não fale assim comigo Draco, como se eu fosse apenas um dos seus elfos.

- Ora, Snape – agora que não estudava mais em Hogwarts poderia deixar de lado as formalidades e tratar o ex-professor com igualdade – Que eu me lembre foi você quem me tratou como apenas mais um naquela escola, apenas um dos seus alunos que você olhava com desdém.

Olhava para Snape com um olhar questionador, tudo que queria era que ele dissesse logo á que veio e partisse. Andou até o outro lado da mesa e se encostou ali, cruzando os braços sobre o peito.

- Draco, aquilo era simplesmente para não levantar suspeitas – olhava para o loiro suplicante – Eu poderia ser preso se continuasse tratando você como antes, poderiam achar que eu ajudei seu pai durante todo esse tempo.

- Então quer dizer que você como todos os outros, me excluiu e se afastou de mim, por causa dos erros de meu pai? – Draco já não sentia mais raiva do pai, mas sentia raiva de todas aquelas pessoas que o repudiaram como se ele fosse um verme.

- Não é isso – Snape parecia atordoado – Tente entender! Se fosse ao contrário tenho certeza que você faria o mesmo.

- Não tenha tanta certeza. Ele era meu pai e nunca foi a melhor pessoa do mundo comigo, mas eu não deixei de ficar ao lado dele, em nenhum momento, nem antes nem depois dele ir para Azkaban! – o garoto sentia raiva e amargura – E não estou cobrando o fato de você nunca ter ido vê-lo, ou que você fingia que nunca foram amigos. Estou te cobrando o fato de que você me abandonou! Você se esqueceu que também sou um ser humano e que a cada dia que passava eu estava mais sozinho!

- Draco me perdoe – o professor de poções procurava os olhos do loiro que já não o encaravam – Eu posso ter errado, mas nunca deixei de me importar com você, nunca deixei de te apoiar mesmo que de longe. Você nunca deixou de ser meu preferido.

Draco entendia cada palavra de Snape como um insulto, além de esquece-lo por tanto tempo, achava que vir ali dizer aquelas coisas, dizer que sempre tivera o garoto como seu preferido iria mudar algo.

- Entenda uma coisa Snape: eu não queria ser o preferido de ninguém, não queria ser tratado como o melhor, nem como o mais importante, só queria ser lembrado, só queria que alguém tivesse me perguntado se eu estava bem, ou se eu precisava de algo. – Sua amargura transparecia na sua voz a cada palavra que dizia.

- E é isso que estou fazendo agora – A voz de Snape estava trêmula, como se tudo aquilo que Draco estava lhe dizendo o afetasse de alguma forma – Estou aqui te oferecendo apoio, te perguntando se você quer vir morar comigo, se você precisa de ajuda.

- Agora já não preciso disso, sabe porque? Porque fiquei tanto tempo sozinho, que só eu posso me entender e me ajudar agora – Sentia-se triste, sozinho, mas já não queria pensar nisso.

- Mas eu quero te ajudar a mudar isso, eu quero te acompanhar daqui para frente, quero ser seu amigo e sua família – Snape parecia sincero no que dizia, mas Draco não queria ouvir aquelas coisas. Não era daquilo que precisava.

- Minha família morreu – Era duro dizer e aceitar aquela verdade – E meus amigos me deixaram assim que descobriram que meu pai estava ajudando Você- Sabe- Quem.

- Eu estou aqui agora, só depende de você aceitar meu apoio ou não – Snape abaixou a cabeça, mas continuou falando – Se você não quer viver naquela casa onde vivo, posso vir morar aqui com você, ou então... – ficou quieto como se soubesse que Draco repudiaria aquela idéia.

- Então o que? – Perguntou frio.

- Bom, agora você é herdeiro de toda a fortuna de se pai, você poderia comprar outra casa e irmos morar em outro lugar.

Draco até aquele momento não encarara diretamente Snape, mas agora se aproximara da mesa e fitava o rosto do ex-professor.

- O senhor está completamente louco – disse com a voz baixa, quase um sussurro – Se o senhor quer uma casa, peça a Dumbledore um aumento e não me venha dizer que quer me dar uma família e como prêmio por isso ganhar um novo lar.

- Não foi isso que quis dizer – Snape estava temeroso, Draco parecia que ia explodir a qualquer momento.

- Pois para mim parece muito clara a sua intenção – O loiro acabara de por um ponto final naquela história – Por favor, saia.

- Mas ainda não terminei o que tinha a dizer... – Antes que pudesse dizer o resto Draco já se dirigira à porta e o deixara sozinho.

Então era aquilo? Snape o tinha esquecido e de um momento para o outro vinha lhe dizer que queria lhe dar uma família, que queria ser seu amigo, e no fim das contas tudo que queria era uma casa nova!

Draco estava borbulhando de raiva, sentia que ia explodir a qualquer momento, que a qualquer palavra de um elfo ridículo estouraria.

Correu ao quarto, vestiu uma roupa melhor, calçou sapatos, pegou seu casaco e saiu. Queria ficar distante daquela casa por alguns momentos e o melhor que poderia fazer era providenciar o enterro do pai, e informar a quem era preciso que ele havia falecido.

Passou o resto da noite fazendo os preparativos para o enterro do pai na manhã seguinte, enviou algumas corujas e fez tudo de forma que o enterro agradasse ao pai.
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Naquela manhã o céu estava cinzento apesar de estarem no começo do verão. As poucas pessoas que compareceram ao velório lhe deram condolências, mas ninguém parecia realmente estar triste com o que aconteceu.

Draco passou toda a manhã no velório e aquele clima o estava deixando cada vez mais triste, fazendo com que se sentisse cada vez mais solitário.

Ele optara por deixar o caixão do pai fechado, não que o corpo já tivesse entrado em estado de decomposição, mas simplesmente porque não achava que as pessoas precisassem se lembrar dele daquela forma.

Dumbledore chegou tarde à cerimônia, provavelmente estava ocupado com a arrumação do castelo, ou então resolvendo algum problema pessoal. Ele era a única pessoa que parecia perceber o quanto Draco estava abatido.

- Olá Draco. Como você está? – A voz bondosa de Dumbledore fez com que o garoto saísse de seu devaneio.

- Como eu poderia estar professor? – Não soube porque continuar a tratar Dumbledore daquela forma – Estou me sentindo sozinho. – E também não sabia porque lhe dizer aquilo.

- Não haveria outra forma para se sentir. Você pode estar se sentindo fraco e cansado, mas isso logo passará, você é muito forte Draco.

- Ser forte não vai trazer minha família de volta – respondeu sério e penalizado.

- Não trará mesmo, mas te ajudará a superar. – Dumbledore pousou a mão sobre o ombro de Draco – Gostaria que você fosse ao castelo em breve, queria conversar melhor com você, sem ser num ambiente como este. Tenho certeza de que há mais pessoas querendo lhe dar condolências.

- Duvido que alguém esteja sendo sincero. – Olhou para as pessoas próximas ao caixão. – Obrigado professor.

- Não há o que agradecer. – Dumbledore deu as costas a Draco, cumprimentou algumas pessoas e aparatou para algum lugar que Draco não sabia qual era.

O garoto queria que aquilo andasse logo, já não agüentava mais aquele lugar, aquelas pessoas, aquela dor. Tudo que queria era ir para algum lugar que sentisse que era seu. Perguntou-se se Dumbledore tinha uma família a sua espera, mas logo afastou tais pensamentos.

O resto da manhã passou lentamente e quando Lúcio Malfoy foi enterrado já passava das onze da manhã. Todos se despediram de Draco e ele ficou mais uma vez sozinho.
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Dumbledore lhe enviara uma coruja pedindo que comparecesse ao castelo para poderem conversar. Draco temeu que fosse outra conversa sobre seu futuro. A questão não era que ele ainda não se decidira sobre o que fazer, era que ele simplesmente não queria ninguém interferindo em sua vida.

O loiro aparatara em Hogsmead. Aproveitara para passar no Três Vassouras, desde que acabaram as aulas não voltara mais lá, então resolveu entrar para tomar uma cerveja amanteigada.

Ainda era cedo, e o bar estava vazio. Assim que entrou, Madame Rosmerta veio atendê-lo.

- Senhor Malfoy, que prazer vê-lo aqui. – Ela era uma mulher muito bonita e encantadora. Apesar de ser mais velha que Draco e que todos os outros estudantes que vinham ali, acabava encantando a todos. – O que te trouxe aqui nessa época do ano?

- Vou me encontrar com Dumbledore no castelo daqui a pouco – Respondeu aproximando-se do balcão.

- Hum, entendo – Ela sorria abertamente – Só ele para trazer alguém como você aqui.

- Porque diz isso?

- Senhor Malfoy, por acaso você esqueceu de todas as vezes que me disse que nunca mais voltaria a esse lugar?

- Realmente havia me esquecido, mas vamos ver o que ele tem a dizer não é? – Sentou-se em um banco próximo ao balcão – Mas, por favor, me traga uma cerveja amanteigada.

Bebeu-a rápido, pois já estava na hora de ir para o castelo. Despediu-se de Madame Rosmerta e se dirigiu para lá.

Quando chegou ao castelo, pela primeira vez sentiu falta daquele lugar. Lembrou-se de todos os momentos em que ficara sentado na beira do lago, olhando a lula gigante nadar de um lado a outro.

Subiu a longa escadaria e se deparou com o Saguão de Entrada, observou os quadros nas paredes, as escadas e tudo que havia ao seu redor.

Draco não sabia se deveria esperar até que alguém viesse falar com ele, ou se iria direto a sala de Dumbledore, mas para seu alívio a professora McGonagall veio em sua direção.

- Sr. Malfoy venha por aqui, o professor Dumbledore está à sua espera. – Disse ela formalmente, com sua característica voz seca.

Caminharam até a sala do diretor. Eles passavam pelos corredores e em alguns o loiro se lembrava de momentos que passara ali dentro das paredes do castelo. Não podia negar que nos primeiros anos fora muito feliz, mas com o tempo tudo aquilo se perdeu e sobraram apenas as lembranças.

- Delicias Gasosas – A profª. McGonagall disse a senha e assim a gárgula deu-lhes passagem.

Subiram a escada em espiral e bateram a porta, que se abriu sozinha.

Draco entrou na sala e por de trás da mesa pôde ver Dumbledore sentado olhando a penseira. A sala continuava adornada com os mais diversos e curiosos objetos e Draco teve vontade de descobrir o que cada um fazia.

- Obrigado por trazê-lo aqui Minerva. – Agradeceu antes que a professora saísse da sala.

O diretor apontou para a cadeira a sua frente, mostrando a Draco que se sentasse nela e ele o obedeceu.

- Que bom que atendeu ao meu chamado Draco – começou a falar de forma suave. – Assim que eu soube o que havia acontecido com seu pai logo quis tomar a melhor atitude para o seu futuro.

- Agora já sou adulto, não preciso que ninguém mais se importe com o meu caminho a não ser eu próprio – Draco não quis ser rude, mas precisava dizer aquilo. Primeiro Snape, agora Dumbledore: quando as pessoas iriam ver que ele crescera e não precisava mais de ajuda?

- Você pode não precisar que te digam o que fazer, mas todos nós precisamos que se importem com a gente, ninguém consegue viver bem sozinho. – Dumbledore mesmo com aquele jeito calmo de falar, parecia que estava lhe repreendendo pelo que dissera.

Draco manteve-se calado, não havia como retrucar Dumbledore, apesar de ter dito aquilo, o ex-sonserino realmente precisava agora mais do que nunca de alguém ao seu lado, desde que essa pessoa não fosse um idiota que tudo que queria era uma casa nova.

- Na verdade eu te chamei aqui porque tenho uma proposta a te fazer – o Diretor olhou Draco, como se esperasse ver alguma reação nos olhos do rapaz, mas como não encontrou, continuou – Bom, eu queria saber se você não gostaria de dar aulas aqui em Hogwarts.

- Aulas? – Agora sim o garoto parecia interessado no que Dumbledore dizia.

- Sim, aulas – Dumbledore sorria, como se quisesse confirmar a Draco que ele não ouvira errado. – Como você sabe, nunca conseguimos deixar alguém no cargo de Defesa Contra Arte das Trevas e mais uma vez estamos sem alguém para dar aulas dessa matéria, então gostaria de saber se você não estaria interessado em preencher essa vaga.

- Porque eu, professor? – A idéia de dar aulas naquele lugar que tanto odiara, nunca passara pela cabeça de Draco, mas para sua surpresa não a rejeitou de imediato.

- Escolhi você Draco, porque querendo ou não, durante muito tempo você esteve ligado a esse lado obscuro da magia e quem melhor do que alguém que conhece esse lado para tal cargo? – Os olhos de Dumbledore brilhavam intensamente.

Nunca havia passado pela cabeça de Draco assumir tal cargo, aliás, nunca nem havia passado por sua cabeça dar aulas a alguém. Primeiro porque achava que não teria paciência, segundo porque não queria compartilhar com os outros tudo que vivera e presenciara e terceiro e mais importante, sempre odiara seus professores.

- Diretor, não sei realmente o que dizer – Draco começou confuso, tentando colocar as idéias no lugar - A princípio não me parece má idéia, mas não posso te responder de imediato, preciso pensar a respeito. Espero que eu tenha direito a pensar sobre o assunto.

- Claro que tem Draco, pode pensar o quanto quiser até uma semana antes do início do próximo ano letivo. – Dumbledore levantou-se e apertou a mão de Draco – Obrigado por ter vindo.
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Draco saíra da sala de Dumbledore e antes que a porta se fechasse às suas costas, a professora McGonagall passou por esta.

- Alvo, você tem certeza que quer este menino dando aulas aqui em Hogwarts? – Mesmo que ele não quisesse ouvir o que ela falara, não havia como, já que a professora nem se importara em ver se ele havia ido embora ou não.

- Não vejo por que não Minerva – a voz de Dumbledore soava calma e Draco quis aproveitar aquele momento para entender porque fora o escolhido para tal cargo.

- Ele ainda é um menino, acabou de se formar, você deveria dar tempo para ele crescer na vida, adquirir experiência.

- A experiência ele já trás de sua vida, de sua casa e você sabe muito bem que ele foi nosso melhor aluno, não só nessa matéria, como em todas as outras – aquela era uma verdade que a professora de Transfigurações não podia questionar.

- Mas Alvo, você se lembra quando Tom Riddle veio lhe pedir um emprego e você não lhe deu, pois achava que ele era muito jovem. Não entendo porque querer fazer Malfoy um professor com tão pouca idade.

- Bem lembrado. Quando Tom veio aqui me pedir um emprego, não lhe dei porque sabia que não poderia confiar nele. Eu o conhecia melhor do que qualquer um aqui dentro e não confiava nele. Mas eu confio em Draco e sei que apesar do seu jeito, ele vai fazer um bom trabalho.

- Alvo só porque ele perdeu a família, não quer dizer que você tenha que assumir esse lugar.

- Não estou assumindo lugar nenhum – A voz de Dumbledore estava calma e ele tinha um sorriso sereno nos lábios – Pois sei muito bem que não posso substituir ninguém. Caso você não se lembre, Draco não é o primeiro órfão que temos aqui e mesmo se fosse, ele já é um homem.

Draco continuava à porta e não conseguia entender porque Dumbledore o protegia daquela forma. Se fosse mesmo verdade que um dia Voldemort havia ido à Hogwarts pedir um emprego e Dumbledore não o aceitara como professor, por que ele? Porque naquele momento?

Pensava em inúmeros motivos para aquela situação, mas não encontrava as respostas. Apesar de ter achado que a professora McGonagall não o queria trabalhando ali, conseguia entender o porque da indignação dela.

- Espero que você não se arrependa de ter escolhido ele para o cargo – Quando a professora disse aquilo, Draco teve uma sensação estranha e pela primeira vez na vida, teve vontade de provar para alguém que era capaz.

Não precisava ouvir mais nada, desceu as escadas em espiral e procurou o melhor caminho para voltar ao saguão do castelo e poder tomar seu rumo até a rua.

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N/B: Uia, e começamos essa fic perfeita! Vamos falar sério em gente, só nesse primeiro cap. você já imagina o quão maravilhosa vai ser Entre a Escuridão e o Fogo! Portanto faça essa escritora iniciante (que escreve perfeitamente bem) super feliz, afinal de contas ela merece não? Sophi, você merece todas as reviews do mundo!

Milhares de beijos para a escritora perfeita e para vocês, leitoras!

Bruna Lupin Black
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N/A: Hmm.. Oi?! Tudo bem? Tem alguém ai?? ‘ espiando ‘... Ahh você.. É você... Não foge!! Eii volta aqui!

Shit.. fugiu!

Falando sério agora! Bom antes de tudo quero dedicar esse primeiro capitulo e todos os outros a minha beta linda maravilhosa, e antes de tudo minha amiga Bruna Lupin Black.

Sei lá... minha primeira fic, primeira vez que faço algo assim e por incrível que pareça gostei muitão desse começo.

Espero que vocês também gostem. E please ouçam minha beta, me deixem reviews vai!? Não sejam más! Eu preciso de incentivo!! Hehe

Brigadão por terem lido esse primeiro capitulo de Entre a Escuridão e o Fogo! Em breve tem mais!

Beijos!! Se cuidem!

Ps: Cap 1 revisado!

Sophia D.

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