Sem Nome.



Pathetic (Benign)


Foi encontrada morta em um dos quartos vazios do velho casarão em Little Winnington.


Accept it (Undermined)


O auror chutou a porta entreaberta, a varinha em punho, como se estivesse esperando que algo ou alguém o atacasse. Mas como nada aconteceu, baixou a guarda. Franzindo a fronte diante da bizarrice do que acabara de encontrar, entrou no quarto e, sem se incomodar em pisar no mar de cacos de vidro que cobriam o chão, virou com o pé o corpo da mulher caída sobre o próprio sangue.


Your opinion (My justification)


Quando os encarregados do Ministério trataram de encontrar os seguidores do Lord que haviam escapado vivos da última batalha, invadiram o casarão que supunham estar vazio. Mas havia algo de sinistro pairando através das portas escancaradas, passando pelas poças d’água deixadas pela tempestade da noite anterior e subindo a escadaria que levava ao andar superior.


Happy (Safe)


Água, sangue, vidro e sujeira. O fim. Torrentes de água invadindo os batentes escuros e apodrecidos do que fora uma janela. Haviam cortes profundos por cada centímetro de seu corpo. Se realmente quisesse poderia sobreviver, mas estava cansada, cansada da vertiginosa trilha que traçara desde quando o conhecera até hoje, o dia de sua morte. Queria apenas deitar-se no escuro e sentir a vida se esvair. Sentia raiva. Sentia dor. Sentimentos detestáveis a inflamando cada vez mais. Então, ela não sentia mais nada, como se a própria chuva estancasse de repente. Ela gritou, um último e doloroso grito, como aqueles pássaros fantásticos de cujo nome não se recordava, mas sabia que passavam a vida toda colhendo lamentos e, no seu último instante, os despejavam em um grito horrendo. Suspirou ainda uma vez, mas já não havia ar. Bellatrix Lestrange estava morta.


Servant (Caged)


Recuou dois passos, os ferimentos não a incomodavam, mas em seu último lampejo de lucidez, espantou-se com o que fizera.

Um por um, ela puxou do dorso da mão os cacos do espelho quebrado. O sangue aflorou e escorreu da palma branca até o assoalho envelhecido. Sangue... Vermelho, vivo, brilhando... A tempestade torrencial arrebentara as folhas da janela. A mulher encolheu-se contra a parede, como se sentisse frio. Mas ela sentia ódio, queimava de fúria... Odiava-o por tê-la deixado...

Para sempre!

Ela que fora sempre a mais fiel, a mais dedicada! Entregara a ele tudo que podia e mal acreditava que ele pudesse... Sem ele, ela era nada. Reduzida a nada.

Água, sangue, vidro e sujeira.

Nada.


Malice (Utter weakness)


Pensou de como somente ela viera à última resistência. De como logo a famigerada Ordem estaria lá fora, para arrastá-la de volta a Azkaban. De como ele se fora e, dessa vez, não iria buscá-la.

Subiu as escadas e atravessou o corredor, decidida, embora andasse a esmo. Entrou no último quarto e encarou a janela que resistia bravamente à tempestade.

Nem mesmo a lembrança daquela presença dominante e arrasadora, da luxúria com que o servira, de como ele lhe ensinara os tortuosos caminhos das Artes das Trevas, nenhuma dessas coisas que a mantiveram por 13 anos suportando a prisão e seus guardas, poderia aplacar o desespero que apoderava-se de seu ser. Nem que arrebentasse a garganta de tanto gritar, ele voltaria. Sentiu ódio de como ela fora insignificante em seus planos finais. Um mero joguete que tornara-se inútil e chato. Escancarou a janela, sem se importar com os vidros se partindo e se esparramando pelo assoalho apodrecido. Abriu os braços, deixando-se molhar até os ossos pela pesada chuva a fustigar os campos que cercavam a casa. Chorou como jamais fizera antes, puxou os cabelos e arranhou os braços. Gritava o nome dele.

Tresloucada, arfando em desespero, dando-se cada vez mais conta que estava tudo ferrado, deu duas voltas completas pelo quarto e parou diante de um espelho antiqüíssimo preso à parede.

Entre dois relâmpagos tudo que viu foi um rosto pálido e desfigurado. Lançou o punho sobre a superfície vítrea, como se pudesse, com tal gesto, auto-destruir-se.


No toleration


Olhou todo o salão de entrada da Mansão que pertencera à família Riddle coberto por hera.

A mansão estava vazia. Então... Só restava ela, até mesmo Rodolfo debandaria, se não tivesse perecido em meio à batalha. Inúteis. Covardes. IMUNDOS, TRAIDORES!!!

Derrota! Derrota! Amarga derrota. Era só o que ela conseguia pensar, quando alcançou a escadaria e voltou novamente a rondar a sala.

Tentou acalmar-se, mas foi um momento tênue. Não sabia o que fazer. Só restava ela – O Mestre definitivamente havia perdido.

Ela o havia perdido.

O culpava por isso, se não tivesse deixado darem cabo antes daquele pequeno maldito!

Praguejou mais um pouco até a garganta falhar.

Como se soubesse que a única alternativa que restava, rumou às escadas.


Invade (Commited)


Viu de relance a irmã e o cunhado correndo em busca do filho. O feitiço daquela bruxa gorda a acertara em cheio. Pensou que tivesse morrido, até mesmo o Lord. Ouvira-o gritar por tê-la perdido no momento em que caíra. Mas agora, agora... Onde ele estava? Só havia poeira e corpos caídos pelo saguão de Hogwarts.

Levantou devagar, tendo certeza que não havia ninguém vigiando. Não tinha nem mesmo uma varinha, a antiga fora roubada e a nova devia ter-se perdido na confusão. Procurou novamente, de um modo que logo em seguida considerou infantil e estúpido, pelo Mestre. Arfava, o peito subindo e descendo muito rápido. Se arrastou até uma nicho aberto pelo golpes que os gigantes deram nas paredes e arregaçou a manga das vestes. A Marca Negra – o mero pensamento na imagem que carregava gravada no ante-braço esquerdo fazia-lhe o corpo tremer cheio de desejos carnais regados por violência – mas não havia tempo pra isso. Esfregou o local da Marca com a mão direita. Para seu desespero havia somente uns filetes negros que mal lembravam o desenho de uma cobra escapando pela mandíbula de um crânio.

Acabou!

O pensamento veio acompanhado dos gritos de alguém que repetia a mesma palavra. Eram gritos de júbilo aqueles. Com os olhos arreganhados e mal acreditando no que ouvia, Bellatrix reuniu as últimas forças e, num ato desesperado, conseguiu um filete de magia para levá-la ao último refugio que lhe restava.


Enraged (Admit it)


Ela lutava com uma fúria nunca vista antes, ou com a mesma fúria que empenhava em todas suas batalhas. Mas dessa vez era para recuperar o que havia sido, antes da primeira – e única, ela acreditava piamente – derrocada do Lord das Trevas. Bellatrix sabia que ele a veria acabando com a raça daqueles traidores imundos, rasgando e amaldiçoando os sangues sujos. Ele ficaria orgulhoso dela, repetiria as mesmas palavras de quando ela tinha apenas dezenove anos e promovera diante do Lord sua primeira pequena chacina... Para o deleite dele, para que ele visse como era capaz de acatar os mais terríveis ensinamentos. Iria recuperar essa velha vida e depois receberia as devidas honras. Sonhar com isso a fazia focar-se em usar o máximo de suas capacidades.
Então estava a metros dele. E veio aquela bruxa ruiva, traidora do próprio sangue. Achou que lembrava-se dela, quando estava na escola. Era algo como uma piada irônica: aquela tal tinha um punhado de filhos e Bellatrix já matara um punhado de filhos dos outros. Brandiu a varinha em direção a ela, gargalhando da própria piada.


Don't condescend (Don't even disagree)


Depois do fracasso com o moleque Potter e aqueles seus amigos imundos, Bella sabia que não poderia falhar nessa última batalha. Estava desesperada, o Mestre mal a repreendia desde a desastrosa tentativa de captura. Isso a enchia de desespero. Não temia que ele a matasse, ele poderia sacrificá-la à causa se fosse necessário, mas... – sentiu uma dolorosa pulsão comprimir-lhe o corpo – se a matasse por estar decepcionado... Por não a achar mais “sua Bella”, sua menina obediente e má. Faziam séculos desde a vez que ele lhe sussurrara essas palavras, na cara do Lestrange, o odioso marido. Ela quase contorcera-se quando ele fizera isso. E sempre fez o possível para ser digna dos mais sinceros e irônicos elogios dele. Mas não era mais assim. Precisava recuperar isso. Mataria dezenas, centenas de mestiços essa noite. Mostraria a ele, de como era digna de andar ao seu lado, de ser sua mulher, sua amante, sua Lady num Império das Trevas! O faria... Amá-la!

"Lestrange, cacete, acorda!"

"O que é, Yaxley?" ela encarou o comensal, imprimindo na voz o máximo de desprezo que podia por tê-la despertado de seu devaneio.

Eles estavam nas cercanias de Hogwarts, esperando o sinal para que atacassem. O Lord assistiria de longe a invasão e entraria logo em seguida, sua mera presença certamente apavorando boa parte dos que restassem vivos. É óbvio que Bellatrix entraria no castelo em meio a batalha já começada, ela fazia parte do círculo de honra e, mesmo tendo falhado anteriormente, ambas as vezes fora culpa dos Malfoy. Acompanhou Yaxley até a orla da floresta, fazia mais de vinte anos que não via o castelo de Hogwarts. E agora os gigantes aproximavam-se para pô-lo a baixo. Não sentia nenhum pesar pela velha escola, não tinha nenhuma lembrança de sua vida anterior ao dia que conhecera seu mestre.
Estrondos de pedras quebrando e caindo umas sobre as outras encheram seus ouvidos, porque nesse último minuto ela parara de ver o presente, entregando-se aos flashes de passado sobre seus olhos. Então o vento soprou pelos seus cabelos muito longos e negros e Yaxley a chamou novamente, o impertinente!
Não importava, a guerra rugia frente aos seus olhos. Nunca estivera tão perto de seu grande momento.

Feliz e insana, avançou muito a frente do outro comensal, enquanto vários outros vultos envoltos em capas negras se aproximavam do castelo.


Destroy (Decay)


Vergonha. Todo o furor alegre que a permitira executar tão bem a Cruciatus na sangue ruim Granger desaparecera tão depressa quanto a pouca cor que havia em seu rosto. Pior do que não redimir as falhas no Departamento de Mistérios, acabara de cometer o mesmo erro. Sentia os olhos vermelhos do Lord das Trevas a perscrutando de cima a baixo, mas não era nem um pouco do modo habitual. Ele estava furioso com ela, por tê-lo chamado inutilmente, ou melhor, ter deixado escapar por entre os dedos o motivo para ter interrompido sua missão naquela terra distante no Leste.

Bellatrix caiu de joelhos, sem dizer nenhuma palavra. Esperou que a maldição a atingisse, que ele disparasse humilhações, mas o mago simplesmente virou as costas e afastou-se.

Ela estremeceu. Ele sabia onde feri-la, ele tinha a alma dela em completo e sabia que torturá-la não seria necessariamente um castigo. Mas dar-lhe as costas, fazendo o mais profundo gesto de desapontamento, isso era tão pior, ser a mulher desprezada. Feria o seu orgulho, o sentimento mais entranhado em si. E ele sabia disso e de tantas outras coisas... E agora deixava ordens claras a Malfoy para que este não falhasse novamente e então, sem dirigir mais o olhar a Bellatrix, desaparatou.

Sentiu Narcisa tentando fazê-la levantar-se, mas afastou o braço da irmã e permaneceu no chão, pensando como faria para tê-lo de volta.


Disappoint (Delay)


"Milord, eu..." Bellatrix dirigia-se a alguém sentado em uma das poltronas defronte a grande e rica lareira da sala de estar da mansão dos Malfoy. Porém, com um gesto de mão, a pessoa a quem a mulher falava indicou que ela deveria ficar quieta e aproximar-se.

"O que quer, Bella?"

Estremeceu ao ouvir aquela voz fria chamá-la pelo apelido, mesmo que vazio de qualquer forma de sentimento. Ela curvou-se de modo servil e elegante e, fingindo não ver a serpente dourada enroscada aos pés de Voldemort, pô-se a falar.

"Pergunto-me, mestre, de quando poderei fazer, meu lord, algo para provar-lhe que ainda sou digna..."

"“Ainda”" Voldemort imitou o tom de voz da mulher ajoelhada defronte à poltrona e riu do modo insano com que seus olhos faiscavam "Você tem sido um fracasso, Bella... Azkaban acabou com você."

"Eu..."

"Amanhã parto em missão importante, longe. No leste"

Ao que a mulher acenou que estava entendendo, ele pegou uma caixa de madeira comprida e fina que deveria estar examinando antes que Bellatrix entrasse na sala. Abriu-a. Dentro havia uma espada prateada, com o punho coberto de rubis.

"Vê isso, Bella? Estava em Hogwarts e pertencia a um dos fundadores" Ele explicou a indagação que surgira na face de sua serva "A espada de Gryffindor, sim, e uma das únicas armas capazes de destruir as horcruxes.

Os olhos dela se abriram, daquele modo obsceno sempre que ela estava diante de algo que representasse poder. Havia um brilho cobiçoso em seu olhar, enquanto contemplava a lâmina afiada.

"Devemos destruí-la?" ela perguntou.

"Jamais" replicou Voldemort "Escute Bella, eu estou deixando-a com você, veja bem, para que a guarde, a esconda tão bem quanto puder, como fez com meu cálice, lembra-se? Você pode fazer isso, não pode?"

Bellatrix disse um “sim, Mestre” e fez mais uma reverência, estendendo o corpo o mais próximo que poderia de seu amo.

"Pare de rastejar como um elfo, Lestrange. Veja o que você vai fazer: irá pedir para Severus Snape." Bellatrix fez um barulho de desagrado ao ouvir esse nome, detestava Severus Snape e sua posição à direita de Lord Voldemort "Levá-la a seu cofre em Gringotes e lá deve encerrá-la, para que jamais saia."

"Por que não...?" ela começou a dizer, em um raro atrevimento.

"Quieta! Você, Bella, e seus parentes Malfoy estão sob suspensão. É incrível como vocês gostam de ser humilhados. Ou pensa mesmo que depois de terem falhado tão miseravelmente no Ministério daria uma missão essencial a vocês? Quero somente que guarde essa relíquia com a própria vida até que Severus venha buscá-la. Eu mesmo o faria, mas agora não tenho tempo."

A humilhação atingiu como um tapa a face de Bellatrix. Ela levantou-se e recuou alguns passos. Do mesmo jeito que ele havia feito na noite anterior, durante aquela reunião em que Charity Burbage fora torturada e morta. Logo que escapara de Azkaban e ainda por algum tempo, achou que voltaria a ser como antes, ele e ela, saindo para matar, incendiar, mostrar ao mundo quem dominava. Mas agora havia esses planos e os malditos serviços de Snape. De Snape, o maldito que sequer fora acusado de meio crime da última vez! Ela sentia vontade de puxar os cabelos e arrancá-los quando pensava nisso. Havia também a obsessão por Potter e o Mestre jamais havia contado a ela o que havia de tão importante no garoto, exceto que Potter deveria ser morto somente por Voldemort.

Era tudo chato e irritante, um clichê - parecia às vezes. E tudo que fizesse, tudo que dissesse, se insinuando, quase implorando para que voltasse a ser como antes, parecia-lhe uma mera exaltação ao nada. Nem mesmo a aparência ofídica que o Lord assumira ao recuperar o corpo lhe perturbava mais. Queria a aprovação dele. O encarou, para que ele soubesse disso.

"Ah é?" Ele perguntou, como se estivesse achando divertido. Nagini sibilou baixinho, como se risse de Bellatrix também.

"Faça ser possível. Até agora não foi nada disso que demonstrou."

Mas ela não estava mais ouvindo, completamente absorvida pelas fendas vermelhas, mais em fogo vivo do que nunca, absorvendo a luz das chamas da lareira.

Voldemort riu e fez um sinal para que ela se aproximasse. Nagini arrastou-se para sua redoma de vidro, posta em um canto mais escuro - o mais adequado para um réptil, da saleta. Bella postou-se onde antes estava a serpente, então esticou o corpo, entreabrindo os lábios para beijar o homem. Como se ironizasse qualquer demonstração de afeto, Voldemort enterrou os dedos brancos e compridos na cabeleira negra de Bellatrix, então forçou a cabeça dela para baixo. Ela obedeceu ao comando, fazendo exatamente o que ele queria.


You've suffered then (Now suffer unto me)


Ansiosamente ela esperou. Depois de 13 anos, sozinha e abandonada no escuro, agarrando-se à sua obsessões e insensatez, agora estava tão perto... Dele.
Faziam três dias desde que saíra do estado de dormência, quase um coma, no qual mergulhara desde que fugira daquele lugar imundo. Mas agora estava viva, pulsante, a Marca Negra retorcia-se em seu ante-braço, mostrando o quão próximo se encontrava o motivo de sua existência. Na noite anterior dormira com Rodolfo, ele a queria como nunca após 13 anos, mas logo deu-se conta que ela era apenas uma Bellatrix falsamente voluptuosa, em todos os sentidos, distante do homem que tocava cada centímetro de seu corpo não tão atraente quanto fora antes. Rodolfo jamais a possuiria de verdade, não... Somente a lembrança de um par de olhos castanhos, quase vermelhos, reinava em sua mente. Foi o brilho avermelhado o que ela viu, antes de desfalecer diante dos restos da parede de pedra que a isolava do mundo dos viventes. Ela era dele, era por ele que ela aceitaria qualquer sofrimento imposto. Rastejara, humilhara-se, era hora de ser recompensada, ela, a mais fiel, a única, só dele. Mal seus pensamentos se embrearam por qualquer outro caminho e seu coração agitou-se, descompassado, quando o servo-rato anunciou que ele estava lá. Que ela deveria subir e ir ter com ele.

"Milord" Bellatrix sussurrou, uma paixão absurda impressa em cada sílaba que escapava por entre seus lábios. Ele estava em pé, quase atrás do console da lareira apagada, semi oculto pelas sombras que esta projetava. Ainda assim, a mulher podia enxergar um par de brasas faiscando na escuridão. Ela sorriu, arfando e se ajoelhou. "Milord...!"

Ele saiu das sombras, um sorriso de pura crueldade esboçando-se diante do terror que surgira na face de Bellatrix. Ele também não era o mesmo. Não havia mais nada de... humano. Talvez o modo dele ainda fosse aquele elegante, digno de um Lorde. Talvez seus gestos ainda fosse minimamente medidos. Talvez seus olhos ainda fossem castanhos, faiscando em vermelho vivo. Mas não era mais humano, ou era, mas meio homem, meio serpente. Rosto ofídico, quase uma deformidade. Antes que Bella pudesse conter esse último pensamento, ele alargou ainda mais a expressão demoníaca.

"Te assusta, Bella, meu novo eu?"

Ela não pôde responder. “Bella”. Soava como uma caricia, ainda mais dito dessa forma sibilada, suave... Despejando veneno. Ela era cálice.

Voldemort riu e se abaixou diante da mulher prostrada, como se ela fosse uma garotinha necessitada de alguma palavra de encorajamento.

"Diga-me, Lestrange..." Ele murmurou, apertando firmemente o rosto dela entre os dedos compridos, forçando-a encarar as fendas vermelhas "O que te prende a mim?"

"Milord" Uma lágrima escapou e rolou pela face emagrecida e sem cor de Bellatrix "Eu... amo..."

"Amor não existe" Ele disse simplesmente, afrouxando o toque com que a detinha "Achei que tivesse aprendido. Você tem medo de mim, Bellatrix... Você é obcecada pelo estado de indiferença com que eu abranjo o mundo e você é louca."

Ela fechou os olhos, não por ter se aborrecido, mas por cada palavra resvalar como uma carícia, a atenção dele voltada diretamente a ela, sua serva, sua fiel e temente serva, ele dissera toda a verdade e... e... Bellatrix suspirou, submissa.

"Certo então, Bella." Ele a soltou, parecendo satisfeito, e foi sentar-se na poltrona. Gostava disso, fazia-o sentir-se grandioso. De algum canto, Nagini, a cobra de escamas douradas, veio sibilando e, depois de um silvo mais alto para a ainda prostrada Bellatrix, enroscou-se sob os pés do amo.

Bella não gostava de Nagini. Detestava quando o Mestre conversava com ela, como se ela fosse um ser humano, como se fosse, de alguma forma, racional. E ele parecia considerar muito mais aquela maldita serpente do que a Bella. Então ergueu as costas, numa postura bem ereta, ao ouvi-lo falar novamente.

"Você, Rodolfo e Rabastan, mais o falecido Bartie Crouch foram os únicos que realmente permaneceram fiéis... São tão temerosos quanto os outros, mas mostraram-se confiáveis, embora acredite que você que os tenha convencido dos feitos passados..."

Bella concordou com a cabeça. Ele a estava elogiando. Curvou-se ligeiramente para a frente, como se quisesse evidenciar o decote de suas vestes.

"Assim Bella, provou sua lealdade e pagou por ela durante o tempo de meu exílio, uma verdadeira Comensal, disposta a tudo."

Ela entreabriu os lábios, para agradecer. Detestava quando ele conversava desse modo todo cheio de burocracias, mas o que esperava? A mesma recepção que tivera de Rodolfo? E ele estava dizendo o quanto ela era leal, o quanto se dispunha a tudo... Queria que ele a tocasse, a despeito da repugnante aparência que ele adquirira. Apenas queria ser a fiel Bella de anos atrás... Estava à beira de falar tudo isso, de se entregar a um sentimentalismo incongruente a quem eles eram. Ele a mandou calar-se e continuou o pequeno discurso:

"O Lord das Trevas agradece, você terá toda a honra possível entre os Comensais e irá liderar a concretização da minha glória."

Os olhos dela arregalaram-se. Ele sabia torturá-la com palavras vazias e desnecessárias. Ela tremia de fúria com isso, então ele dizia algo que a agradava em demasiado e ela quase desfazia-se de tamanha felicidade torpe, o prazer mórbido de ser do agrado da antropoformalização de toda a escuridão que a cercava.

"Agradeço, milord" Ela disse. Então se sentiu estranhamente incomodada, ele sequer lhe perguntara do quão desagradável fora a estadia em Azkaban. Mas perguntar seria pura convenção, também. Sentimentalismo barato. De qualquer forma a alma de Bellatrix dispunha-se a ele como um livro aberto, jamais precisaria perguntar o que fosse.

Antes que ela pudesse absorver mais da presença nefasta de seu Mestre, antes que ela implorasse pela luxúria com que a tratava anos atrás, o mago finalizou a explicação fazendo um sinal para que ela levantasse e deixasse a sala. Captando a onda de desapontamento aflorar pelo corpo de Bellatrix, ele concluiu a conversa com três frases que, no final, tinham o mesmo sentido.

"Você tem um marido, Bellatrix. Não falhe nessa missão e terá sua honra. Você está um caco..."


Obsession, take another look


"Bellatrix... Você está um caco." Foi a primeira coisa que ele disse à esposa, quando esta adentrou lentamente na sala de jantar dos Malfoy, depois de duas semanas adormecida, recuperando-se de Azkaban. Ela mal encarou o marido, sequer tentou esconder a decepção de ser ele quem a estivesse esperando, um magnífico jantar posto a mesa. Quase havia esquecido que ele também estivera preso. Por um momento, lamentou que ele não tivesse perecido e ficado por lá mesmo, sepultado ao lado da mãe de Bartie Crouch. Espantou o pensamento e sorriu cinicamente ao homem esparramado na cadeira de espaldar alto.

- Rodolfo, meu querido... Veja o velho repugnante que você se tornou.

Ela jamais escondeu o quão enojada ele a deixava. Rodolfo Lestrange costumava ser “bonitão”, mas nunca nada mais que isso. Ela o considerava fraco... E agora ele era uma mera sombra do que fora. Embora mantivesse a pose de superioridade, o queixo proeminente parecia fraco, sua pele tornara-se extremamente enrugada e anos de fome pareciam ter definhado o porte musculoso que ele já exibira.

Mas, com Bellatrix, a passagem dos anos também havia sido muito cruel. Ainda assim, os olhos dela eram os mesmos, o mesmo fogo adolescente que encantara Rodolfo, mesmo jamais pertencendo a ele. Ele simplesmente adorava a maldade da esposa. Ela era perfeita. E tinha que admitir: melhor que ele.

Deu de ombros ao comentário da mulher e levantou-se, puxando uma segunda cadeira para que ela sentasse e se servisse. Ela realmente tinha fome. Quase esquecera desse detalhe, mas agora o perfume dos assados e sopas entrava pelas narinas da mulher e, sem qualquer polidez, pôs no prato tudo que pôde alcançar.

"Definitivamente um caco, Bellatrix..." Rodolfo riu-se, observando-a.



"E ele?" Ela perguntou ansiosa, após deixar cair o garfo sobre o prato vazio.

"Nada quer saber de mim, esposa?" Rodolfo perguntou, carregando a ironia. Ela fingiu que não ouviu e tornou a perguntar. Há tempos, muito antes de serem presos, que o relacionamento deles se resumira aos deveres como Comensais, à adulação de Bellatrix pelo Mestre e a raiva que Rodolfo sentia de não oferecer a ela nem metade do prestigio que ela poderia ter ao lado do Lorde das Trevas.
Dando-se por vencido, Rodolfo lhe disse que ele viria vê-la o quanto antes, pois logo haveriam tarefas a desempenhar.

Bellatrix sorriu. De verdade.

Fingindo que esse sorriso pertencia a si, Rodolfo Lestrange selou um beijo repleto de luxúria.


Remember, every chance you took


Ela, logo a princípio não se deu conta que lestava livre das paredes de pedra escura, dos dementadores loucos para experimentar de sua alma, pois sim, eles se deliciavam tanto com almas puras, tanto com almas corruptas. Quanto mais extremas, melhor, não importando para onde pendesse tal extremo. Então assim que seu corpo recuperou um mínimo de força, ela despertou do estado de torpor que mergulhara desde que respirara o ar livre da poluição nefasta da prisão. Azkaban fedia a merda.

Agora Bellatrix desejava livrar-se de tudo que ficara impregnado em si, sim pois Narcisa viera desperta-lhe e disse-lhe que alguém queria vê-la, desejava falar-lhe desde que estivera novamente livre. A mulher agitou-se, um contentamento incrível a dominando. Ele queria vê-la! Ele a queria...! Bella revirava-se por dentro, ansiosa pelo reencontro. Tratou de arrumar-se com o afinco que por todo esse tempo não mais experimentara. Bela. Tinha que ser como ao seu nome. Queria fazer jus ao apelido que recebera diretamente dos lábios dele. Nenhum dos tormentos que experimentara em Azkaban poderiam fazê-la esquecer-se. Murmurou baixinho, mirando a si mesma na superfície de cristal, que pertencia a ele, a bela dama negra de milord. Agradeceria passionalmente pela sua liberdade. Por tê-la trazido de volta a vida.


Decide, either live with me


Blocos de pedra foram lançados para todas direções quando a parede cinzenta explodiu. Ela protegia o rosto com os braços, mas logo simplesmente os atirou para o alto, um sorriso alucinado desenhando-se no rosto cadavérico. Os dementadores não ousariam atormentá-la, por isso ela avançou com passos decididos até o grande buraco onde há poucos segundos havia uma clarabóia. Ela deixou que a brisa marinha a atingisse – jamais imaginou que morreria num ato tão semelhante – No momento Bellatrix sentia-se viva. Um cadáver saindo da própria sepultura, usando todas as forças para trazer ar de volta aos pulmões. Chegava a doer. Mas dor não a incomodava. Ela estava livre. Para ele. Ela estava viva. Pertencia de novo a ele. Rindo e rindo ela gritou "Mestre! Mestre!" E sentiu-se cair num abismo escuro. Não tinha problema, a última coisa que pode pensar foi que a plena magia dele a seguraria.


Or give up - any thought you had of being free


Ana fala: Mais um pedacinho da fic =P eu não consigo aguentar até teminar para postar... mas falta pouco, muito pouco! Agradeço aos comentários da Pandora, da Vivika e da minha sistah Morganenha *e thanks so much pela betagem, dear!*

Aos leitores novos e/ou mudinhos agradeço também e pesso uma ajudinha para com aquela nota 4,6... =P Eu sou aquela nerd que chora por causa de décimos XD

Continuem comentando, xingando e me ameaçando de morte =D Em breve teremos a fic completa!


Beijos!



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