A Notícia



“É incrível como os anos diminuem uma lembrança. O que foi intenso e verdadeiro quando ocorreu depois de alguns anos parece que aconteceu com outra pessoa. Um sentimento, uma frase, um momento. Tudo parece distante, distante demais até - algo como um sonho do qual você acorda bruscamente, e os detalhes tão perfeitos esvaecem com o tempo. E depois parece algo tão improvável de ter realmente ocorrido que você chega a pensar que tudo foi um sonho bonito e surreal”.

Gina foi desperta desse pensamento pelo pequeno Arthur, que puxava a barra de sua saia.
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- “O que foi, meu bem?”- perguntou Gina pegando-o no colo.
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- “Eu estou como fome! E quero que meu pai chegue logo, para eu mostrar a ele o que eu consegui fazer com a vassoura!” - disse o menino aborrecido.
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- “Seu pai não demora, Arthur. E o jantar está quase pronto. Agora me deixe voltar para as minhas panelas.” - Gina colocou o menino de volta ao chão. -
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- “Pode voltar a brincar com a sua irmã.”
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- “Ah não, tia! Ela está brincando de boneca!” - disse Arthur muito contrariado, saindo da cozinha.
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- “Crianças” - murmurou Gina ao voltar sua atenção para o fogão.

Outro pensamento invadiu Gina, mas era totalmente diferente do anterior. Ela via crianças rindo, correndo e gritando “mãe!”, e pulando em seu pescoço. Essa imagem fez com que ela esquecesse completamente sobre o que havia pensado minutos antes.

Ela varreu as crianças de sua mente e voltou novamente sua atenção para o jantar. Não demorou muito e alguém colocou as mãos na sua cintura, abraçando-a por trás.
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- “Está cheirando otimamente bem.”
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- “Exatamente como ontem à noite, Harry.” - disse Gina virando-se para ele.
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- “Você cozinha muito bem, meu amor.” - justificou-se Harry, dando um beijo na testa de Gina.
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- “E você é um ótimo puxa-saco”.- Harry sorriu - “Como foi seu dia?”
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- “Proveitoso. Encontramos um praticante das Artes das Trevas. Um lunático. Acreditava ser uma mistura de Grindelwald com Voldemort “- disse Harry, que agora trabalhava como auror - “mas ele não era sério. Louco, apenas” - acrescentou vendo a expressão preocupada de Gina - “Foi direto para o St. Mungos.”
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- “Por falar em St. Mungos, não podemos esquecer de visitar mamãe. Já faz quase duas semanas que não vamos.” - Gina falou séria.
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- “Iremos no sábado.” - assegurou Harry.

Gina ficou um pouco triste ao lembrar de sua mãe, que agora morava no St. Mungos, coincidentemente no mesmo quarto que a mãe de Neville Longbottom, já que o pai dele havia morrido anos antes. Mas Gina tratou de recobrar seu bom-humor quando viu Hermione entrando na cozinha segurando seus gêmeos no colo.
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- “Olá, Hermione. Faz muito tempo que chegou?” - perguntou Gina.
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- “Acabei de entrar.” - respondeu Hermione. - “Alô, Harry.”
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- “Oi, Mione. Muito trabalho, suponho.” - disse Harry. Hermione trabalhava no ministério, no Controle do Mau Uso dos Artefatos dos Trouxas, cargo que pertencera a Arthur Weasley.
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- “Vocês nem imaginam. Rony ainda não chegou?” - perguntou enquanto colocava Arthur e Lisa sentados à mesa.

Gina balançou a cabeça negativamente.
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- “É sempre assim nas vésperas de jogos.” - disse Hermione, e Harry e Gina concordaram.

Gina serviu o jantar, e logo Rony chegou contando como tinha sido duro o treino daquele dia. O Chudley Cannons disputaria a semifinal do Campeonato Britânico com o Puddlemore United no dia seguinte. Rony, como goleiro do Chudley Cannons, estava excitadíssimo.
Durante o jantar, Hermione e Harry tentavam explicar a Gina como funcionava uma televisão, e ela prestava a maior atenção, soltando apenas alguns “Oh!” e “é mesmo?”. Já Rony conversava com os filhos sobre quadribol. Os gêmeos de Rony e Hermione tinham 4 anos e possuíam praticamente o mesmo temperamento. Os dois eram inteligentíssimos, mas também amavam quadribol.
- “Bem, crianças. Para a cama, agora.” - disse Hermione ao fim do jantar.
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- “Conta uma história?” - pediram os gêmeos em uníssono.
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- “Sim, eu conto.” - E virando-se para Gina - Já desço para nós conversarmos.
- “Ok” - respondeu a ruiva.
- “E eu vou tomar um banho” - disse Rony - “a propósito, que dia Fred e Jorge voltam?”
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- “Creio que amanhã” - respondeu Gina.
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Logo que ouviu a resposta, Rony despediu-se e saiu da cozinha.
Harry ajudava Gina a tirar a mesa, quando comentou distraidamente:
- “Eu vi Malfoy hoje.”
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- “Malfoy? Você quer dizer, Draco Malfoy?”
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- “Sim, o próprio.”
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Ficaram alguns instantes em silêncio.
- “Por que, Harry? Por que você me contou isso?”
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- “Ora, Gina, foi um acontecimento casual. Eu e alguns colegas fomos almoçar no Caldeirão Furado, aproveitei e passei pelo Beco Diagonal para comprar um novo par de sapatos. Pois bem, eu estava andando pelo Beco quando vi Malfoy parado na porta de uma loja nova. Loja dele, por sinal. Achei estranho ele dar as caras após tantos anos, e comentei com um colega. Ele me disse que Malfoy foi julgado e considerado inocente pelo Wizengamot ao fim da guerra. Entregou dois comensais, negou até a morte que era culpado, e até pediu perdão ao ministro. Não havia sido visto desde então, até quando abriu uma loja de artigos esportivos no Beco Diagonal. Não pensei que fosse te perturbar.”
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- “Não me perturba. Desculpe, meu bem. Eu só pensei... Que ele estivesse morto, ou preso em Azkaban”. - disse Gina perdendo a voz. Na verdade, nunca havia acreditado que ele realmente estivesse morto. Apenas usava esta desculpa para enganar a si mesma. Agora sabia, ele estava vivo.
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- “Pois não está. Desculpe-me também, Gina.” - disse Harry beijando sua testa.- “Mudando de assunto...” - mas Gina já não o ouvia. Frases desconexas inundavam sua mente.
“Eu te amo, Draco”, “Não podemos continuar”, “Volte para o Potter e para sua família imunda, Weasley”, “Fique comigo”, “Saia de perto de mim!”, “Não adianta negar, você gosta de mim e nunca conseguirá me esquecer”.
- “Gina, você está me escutando?” - perguntou Harry.
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- “Sim, claro Harry. Prossiga.”
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- “Eu estava dizendo que a reforma está indo de vento em popa. Em poucos meses ninguém que tenha visto aquela casa irá reconhecê-la.”
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- “Que ótimo” - disse Gina sem entusiasmo. Lutava para prestar atenção às palavras de Harry. - “ela era realmente horrível.”


Mais tarde naquele dia, Gina e Hermione conversavam na sala.
- “Como assim, ele pediu perdão e entregou dois colegas? E nós nunca soubemos?” - perguntava Hermione incrédula.
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- “Eu também não entendo. Isso não é típico do Dra... do Malfoy. Quero dizer, eles tinham orgulho de serem comensais, os Malfoys. Ele morreria, e com prazer, pelo Lord. Não me parece que ele iria sair por aí pedindo perdão... ele é tão orgulhoso...”
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- “Pessoas são imprevisíveis, Gina.”
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- “Realmente.” - concordou.



Gina não conseguiu dormir naquela noite. As frases desconexas transformaram-se em passagens inteiras, cenas que Gina assistia como a um filme. Precisava vê-lo. “Não, Gina, você não precisa vê-lo. Você não precisa de Malfoy. Você tem a Harry. Você é noiva de Harry. Esqueça isso, Gina. Esqueça.” Sua razão lhe dizia, mas por mais que ela repetisse essas afirmações, ela não conseguia livrar-se das lembranças. Apenas quando amanheceu Gina conseguiu cair num sono agitado.
Acordou um pouco tarde, e com olheiras terríveis que Gina tratou logo de fazer um feitiço para elas sumirem. Desceu para a cozinha e já encontrou lá Rony, Harry, Hermione e as crianças. Rony estava servindo panquecas.
- “Bom dia, Bela Adormecida.” - disse Rony.
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- “Bom dia a todos. Quem?”
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- “Bela Adormecida. Uma história trouxa que ouvi Hermione contar às crianças.” - explicou Rony.
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- “É um ótimo conto de fadas.” - disse Hermione.
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- “Fadas? Elas são tão estúpidas!” - disse Gina, ainda sem entender nada.
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- “Esquece.” - Disse Hermione rindo.
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Gina sentou-se entre o pequeno Arthur e Harry.
- “E então, todos preparados para o grande jogo?” - perguntou Rony muito animado.
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Gina reparou que Rony, Harry e as crianças estavam vestindo as blusas laranjas do uniforme do Chudley Cannons.

- “Claro que estamos, papai.”- respondeu Lisa.
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- “Harry, você não vai trabalhar com essa blusa, vai?” - perguntou Gina.
- “Claro que não, meu amor. Só estou ajudando Rony a se empolgar.” - respondeu Harry.
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- “Como se ele precisasse...”- caçoou Gina. Engataram uma conversa animada sobre o comportamento de Rony em véspera de jogo, e até ele estava rindo bastante.

Esse assunto fez com que Gina esquecesse Draco momentaneamente. Mas quando Harry e Hermione saíram para trabalhar e Rony foi para a concentração, Gina perdeu-se novamente em seus devaneios. Chegou até a quebrar dois copos de tão avoada. Deu graças ao Merlin por estar apenas com as crianças em casa, senão todos notariam seu comportamento. De fato, Arthur notou.
- “O que houve, tia? Tá parecendo tão preocupada...”
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- “Não é nada, meu bem. Eu estou bem. Só um pouco nervosa por que... por causa do jogo de hoje à noite” - mentiu Gina.
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- “Eu também estou tia! Mas tenho certeza que iremos ganhar!” - disse Arthur tentando acalma-la.
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- “Também tenho, querido.”
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- Logo depois chegaram Fred e Jorge, animadíssimos e super bronzeados.
- “Como foi na América?” - perguntou Gina
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- “Perfeito, maninha... Como eles diriam lá, foi radical.” - disse Fred
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- “Mais do que radical” - disse Jorge - “fechamos um mega negócio com um bruxo de Salem. Cem quilos de creme de canário.” - completou com um sorriso maroto.
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- “Maninha, seus irmãos estão ficando famosos.” - Disse Fred com um sorriso idêntico ao do irmão. E virando-se para Arthur - “Como vai essa força, Ronione?” - Fred chamava-o assim porque sabia que o menino odiava, mas ele justificava-se dizendo que ele era a mistura exata de Rony e Hermione.
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- “Não enche, tio Fred.”

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