Em Guarda!



O sol dardejava sobre os jardins da Escola, iluminando em matizes de amarelo o relvado que, por sua vez, respondia em verde-esmeralda. Sirius tinha os braços colocados para trás, numa posição quase cerimonial, segurando a varinha com a mão direita. Tinha a cabeça altiva, um sorriso torto no rosto jovial, intenções enuviadas pela postura quase cética. Remus Lupin não desperdiçava suas energias. Tinha as pernas ligeiramente abertas, um pouco arqueadas, firmes sobre o solo de modo a dar-lhe uma base fixa. Uma das mãos ao lado do corpo, a outra empunhando a varinha em riste, com a ponta na direção do jovem Black.

— Vamos, Sirius, até quando essa embromação? – disse Lupin, contendo um sorriso infantil.
— Aluado, meu amigo peludo, a pressa conspira contra a perfeição... – parou, estacado diante da figura de Remus, alguns metros afastado. Entre eles, a tensão de um duelo amistoso.

Mediram-se, olhos nos olhos, e o contraste de suas figuras era um choque estético na atmosfera que se formava. A beleza de Sirius cingia o ar com uma delicadeza nobre, traços harmônicos numa expressão ligeiramente arrogante, embora o caráter humilde lhe fosse inerente. Remus tinha um rosto mais agressivo, traços mais expressivos e uma atitude introspectiva, ainda que sua essência rugisse em seu interior como uma fera bestial.
Sirius apontou a varinha na direção do amigo e disparou, em alto e bom som, “Expelliarmus”. Remus já esperava algo daquele gênero, e apenas ergueu a varinha no ar, brandindo-a com segurança. “Protego”. A massa de energia acertou o escudo que se formou ao redor de Lupin, retornando sobre Sirius, que se esquivou com alguma dificuldade.

— Andou treinando, Remus? – sorriu, batendo a poeira das roupas.
— Não muito, Almofadinha, você é que está mais previsível – e se moveu de súbito, lançando um feitiço contra Sirius. “Confundus”.
Sirius tentou imaginar algo para bloquear o ataque, mas seu forte nunca fora a defesa. Seu cérebro trabalhou o mais rápido que pôde, mas tudo que conseguiu pensar foi num ataque eficiente como defesa. “Impedimenta”. As massas de energia confrontaram-se no ar, espalhando fagulhas ao redor, iluminando o centro do duelo como uma pira incandescente. Sirius recebeu parte do feitiço sobre si e Remus também, ambos caindo para trás. Lupin levantou-se, lentamente, sentindo os próprios reflexos comprometidos por uma lentidão intensa, enquanto Sirius lutava para ficar de pé, completamente tonto, tropeçando sobre os próprios pés. Caíram de costas no solo pueril e começaram a rir, em altos brados.

— Boa, Aluado, dessa vez você foi mais esperto – ria Sirius, sentindo a terra sob ele girar como se estivesse bêbado.
— Você também, Almofadinha, eu tô tão lerdo que para coçar o nariz parece que vai levar um ano – e riam, com as faces afogueadas pelo esforço. Sentiram a aproximação de alguém e temeram o pior. Será que lhes haviam entregado a Dumbledore, ou pior, a McGonnagal? Tentaram se endireitar, sem qualquer sucesso. Contra o sol escaldante, viram surgir uma figura cujos traços estavam encobertos pela luz. Seus corações saltaram no peito, mas a voz que surgiu no ar os fez voltar a rir como duas crianças.

— Eu não acredito que não me chamaram. Ótimos amigos, vocês, hein? Eu devia transformar os dois em um bando de furúnculos ambulantes! – disse James, limpando o suor da testa. Deu as mãos aos amigos que, com alguma melhora, levantaram-se.
— James, nós até pensamos em te chamar, mas sabe como é... – Lupin pareceu um pouco desconcertado.
— O quê? Vamos, Remus... – James cruzou os braços.
— Ele quer dizer que poderíamos ter te convidado, se você não estivesse passando o dia inteiro babando em cima da Lílian, James. Eu fiquei com medo de escorregar naquele melado todo. – disse Sirius, e Remus riu, afastando-se um pouco.
— Ora, vocês dois! Eu, babando? Lílian? Ela é tão pretensiosa que nem mesmo um séqüito de babões lhe bastaria. Não, mesmo. – apontou a varinha para Lupin. E você, seu espertinho, tire essas idéias da sua cabeça. James sorriu, e Lupin apenas ergueu as mãos para o alto, como que tentando eximir-se de qualquer pensamento sobre o assunto.
Brincaram, um pouco, implicando uns com os outros, como faria qualquer grupo de adolescentes, até que a atmosfera pesada os fez parar. Ouviram passos e vozes que soaram como silvos.

— Ora, ora, mas veja se não são os três porquinhos... – disse Lucius, afastando do rosto a massa de cabelos. Bellatrix fuzilava o primo com os olhos, numa expressão escarnecedora. Será que Dumbledore sabe que vocês passaram o tempo da aula de Poções brincando de gato e rato?
— Será que Dumbledore sabe que você passa o seu tempo livre ensebando esse cabelo de moça? – disse Sirius, tomando a frente do grupo, sendo pego pelo braço, por James.
— Se acalma, Sirius, não faça besteira... – mas Sirius parecia obstinado.
— Sempre você, não é, Black? Sempre se achando forte o bastante... – Lucius sorriu de forma sarcástica, destilando seu veneno sobre cada palavra. Bellatrix tomou a dianteira, olhando Sirius com um desdém palpável.
— Black? Não, Lucius, não chame esse... bastardo de Black. Ele é tudo, menos um Black. Não representa em nada a estirpe da Família. Seu tolo, por que não se toca de uma vez e deixa esses trouxas de lado? Você desperdiça tudo que tem nas mãos para se juntar a um bando de... – e Sirius atravessou as palavras com uma fúria gritante.
— Bando de quê, Bellatrix? Hein? Coloque as malditas palavras para fora e eu fecho sua boca para sempre, compreendeu, prima? – por mais que fossem tão diferentes, os dois tinham nos olhos um mesmo brilho fulgurante, algo que não lhes negava o parentesco. A varinha de Lucius ergueu-se, direto sobre o rosto de Sirius.
— Se voltar a ameaçá-la, seu maldito bastar... – e as palavras de Lucius se perderam no meio da surpresa que lhe atingiu como um raio. A varinha escapou-lhe da mão, um golpe seco que lhe fez cambalear para trás. Remus tinha os olhos fixos nos olhos aturdidos de Lucius.
— Se voltar a apontar essa varinha para um de meus amigos, Lucius Malfoy, vou fazer com que se arrependa amargamente de cada segundo de sua vida. – e Lucius estreitou os olhos. Bellatrix apontou a varinha para os três, tão cheia de si quanto Sirius, que fitava a prima com desprezo.
— São três contra dois, mas eu garanto que acabamos com vocês. Pegue a varinha, Lucius, vamos ensiná-los um pouco de bons costumes... – e Lucius pegou a varinha, ficando lado a lado com a comparsa.
— James, volte para a Escola. Isso é comigo e com o Remus. Você estava na aula, não tem que participar disso aqui. Nós cuidamos deles. – Sirius disse cada palavra sem tirar os olhos da dupla que os ameaçava com as varinhas em riste.
James atravessou o caminho de ambos e parou no meio do campo de batalha.

— Escutem aqui, todos vocês. Por mais que não se suportem – e James moveu os olhos aos dois inimigos. E eu não suporto vocês, mesmo. Não devem fazer isso aqui, dessa forma. Estão malucos? Em algum tempo nós temos que estar na aula do Flitwick, e ele com certeza vai fazer um alvoroço se não aparecermos. Vamos deixar esse confronto para mais tarde, depois das aulas. Nos encontramos aqui, ao cair da noite... – e Remus manifestou-se.
— James, eu... – mas James ergueu a mão, em protesto.
— Sem mais, Remus, ou vamos achar que você é um covarde. Aqui, neste lugar, depois das aulas. – e olhou Lucius e Bellatrix, severamente.
— Vou fazer com que se curvem diante de nós. – Lucius sussurrou, entre dentes, saindo ao lado de Bellatrix, que só tinha olhos para o primo.
— Vamos nos curvar, sim, mas sobre suas caras cheias de furúnculos, para rir como loucos! – Sirius atirou-se sobre os dois, mas foi seguro pela jaqueta, por James, que esforçava-se para conter as imprecações do amigo. E eu vou transformar essa sua cara numa pinta peluda, seu grande idiota!
— Calma, Sirius! – James forçava o corpo contra o movimento ofensivo de Sirius.
— Eu estou calmo, James, você sabe que eu estou. Quando eu estiver nervoso, vou fazer aqueles dois se arrependerem dessa... – e James segurou-o pelos ombros.
— Nós vamos, Sirius, confie em mim. – e James sorriu de uma forma que fez com que Sirius sorrisse também, os olhos de ambos flamejando como se as idéias convergissem para um único cérebro que agora dividiam com entusiasmo.
— James, você tem certeza do que vai fazer? – Remus aproximou-se.
James e Sirius, com os braços um sobre o ombro do outro, balançaram a cabeça em afirmação, tirando de Remus um sorriso contido.

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