Matéria de primeira página



Primeiro dia de trabalho! Isso sempre significaria muita coisa a fazer, e sempre é melhor “começar pelo começo”. Por isso, Sarah conversava com as crianças, anotando suas histórias e peculiaridades, uma forma de ir conhecendo cada uma e também de colher dados para alguma pesquisa que se fizesse necessária, quando Snape mandou chamá-la. Tinham visitas importantes.

Curiosa sobre quem seria, Sarah se encaminhou para o seu escritório. Bateu ligeiramente na porta e entrou.
- Sarah, ou melhor, Serenna, venha conhecer a Sra Creevey. Mas... – ele sorriu, enquanto ela chegava até ele, deixando-se conduzir por sua mão até o casal que se ergueu à sua entrada – Talvez você se recorde dela simplesmente como Luna Lovegood.
Sarah, quer dizer, Serenna – é bom irmos nos acostumando – arregalou os olhos, surpresa, enquanto olhos muito doces mas atentos a examinavam detidamente.

Se pudesse ler os pensamentos do fotógrafo, saberia que Colin a observava com certa expectativa e um início de protesto: “Lá vem aquela história do Neville de novo...”. Mas Serenna, que mal tivera tempo para andar especulando sobre quem seria o par de quem nos futuros livros de Harry Potter, o surpreendeu:
- Luna... e Colin Creevey! Mas. Claro! Eu devia ter imaginado. A editora de um jornal e o fotógrafo! Perfeito! Será... que ela...
Sarah não conseguiu por em palavras seu pensamento. Imaginava se a autora dos livros algum dia havia imaginado esse desfecho para esses “personagens”. Eles, por sua vez, a fitavam de forma estranha, abismados com sua afirmativa tão diferente do que esperavam. E Snape sorriu de forma ainda mais estranha, mas não a deixou perceber o que pensava.
Depois de cumprimentar a ambos, foi postar-se ao lado dele, apoiando a mão em seu ombro. Os olhos de Colin brilharam, e ele pediu licença para fazer uma foto dos dois naquela posição.
Quando Snape acenou afirmativamente, Sarah estranhou, mas sorriu para a objetiva.
E Snape falou:
- Como eu ia dizendo, Sra Creevey, um feliz acaso do destino nos aproximou, depois de três décadas. Em nosso primeiro encontro, minha querida irmã acionou sem saber uma chave de portal, que nos levou a um encontro bastante... inusitado. A princípio, não sabia ao menos quem eu era, pois fui atingido por um feitiço muito forte que me tirou a memória... Depois, em nossa convivência “forçada”, fui levado a recordar, e também a descobrir sua verdadeira identidade, que ela mesma desconhecia.
- E porque não a trouxe consigo, assim que voltou? – Luna perguntou com voz firme, demonstrando o quanto já estava segura em sua profissão de repórter.
- Porque eu precisava antes, certificar-me de que as coisas estariam em ordem, e ela não correria riscos desnecessários. Minha preocupação foi zelar por sua segurança. Não queria perdê-la, depois de tanto tempo que levara para reencontrá-la.
Enquanto Snape continuava seu relato, Sarah sorria, emocionada, mantendo-se em pé ao seu lado.. Ele estava expondo-se como nunca antes, e publicamente, já que a entrevista seria publicada no “Pasquim”.
- E a senhorita, como se sentiu descobrindo a verdade? – Luna se voltou para ela
- Eu... era feliz em minha família adotiva, entretanto, um infeliz acidente desfez tudo isso. Então, descobrir que tinha um irmão biológico, depois de tudo, foi... simplesmente maravilhoso. E Severus é um excelente irmão, acreditem.
- E como está se adaptando à vida como bruxa?
- Ah... por enquanto, ainda estou me acostumando com a idéia. Nem sei se sou mesmo bruxa, não me recordo de nada parecido com poderes mágicos...
- E o caso do carro? – Snape retrucou. Sarah o fitou com olhar dolorido. Não queria se lembrar daquele dia, e ainda não entendia porque ele insistia nisso.
- Que carro? – Luna se empertigou na beirada da cadeira, ávida por novas informações.
- Bem... meus pais... adotivos sofreram um acidente na estrada. Eu vinha com minha irmã em outro veículo e vi tudo. O motorista estava embriagado, ficou dançando na pista e não teve como meu pai se desviar. – ela fez uma pausa, respirando fundo, antes de continuar – Nós corremos para acudir, mas era tarde, estavam mortos, antes mesmo do carro de resgate chegar. E eu... fiquei tão desesperada! Meu Deus, se alguma vez odiei alguém, foi naquele momento. Queria pegar aquele...
Ela suspirou. Caminhou até a cadeira que estava vazia, sentou-se, retorcendo as mãos. Agora, finalmente, contando a história para alguém de fora, entendera o que aconteceu.
- Eu quis explodir tudo... e foi o que fiz. O carro do sujeito explodiu também, por sorte ele já tinha sido retirado de lá, ou teria... morrido. Eu o teria matado.
- As autoridades bruxas do país registraram a ocorrência, mas como eu já fizera contato com eles, não tomaram nenhuma providência, já que não houve danos maiores. Para os trouxas, foi um acidente, vazamento de combustível, algo inevitável. Infelizmente, eu ainda não podia trazê-la para a Inglaterra, tive que aguardar um pouco mais.

Sarah deixou que ele falasse a partir daí. Recordar um instante tão doloroso fora demais para ela. Não registrou nada mais da conversa, sabia apenas que ele resumiu os acontecimentos que culminaram com a adoção de Alan, até o momento em que Colin Creevey tirou algo de sua bolsa: um porta-retratos.
- Eu trouxe um presente para vocês. Achei que gostariam de uma cópia da foto. Claro que a usaremos ao publicar a entrevista, a menos que vocês prefiram que não.
- De forma alguma, Creevey. Pode publicá-la, sim. Como eu disse, ontem, a Família Snape quer se apresentar e dizer ao que veio.
- Certamente. Certamente – o fotográfo sorriu, enquanto Sarah solicitava ver a foto.

Ver os três ali, na bela moldura, sorrindo um para o outro e para frente, lhe trouxe um alívio imediato para sua nostalgia. Lá estavam eles, ao lado do risonho Alan, que agora tinha uma família como qualquer outro garoto. Uma família completa, ou quase isso... E ela esperava sinceramente conseguir fazer por ele o que uma mãe faria, até que Snape resolvesse dar um jeito...
Sorriu, maliciosa: será que isso aconteceria um dia? Mentalmente, ele zangou-se com ela, que deu de ombros. Mas uma idéia súbita lhe passou pela cabeça, ela o interrogou em silêncio, ele sorriu, concordando.
Luna, que a olhava, atenta, e percebeu a comunicação muda entre os dois, perguntou, perspicaz:
- Você também é legilimente?
- O que? – Sarah a olhou, confusa, depois entendeu – Ah, não. Não sou. É só nossa "luz roxa" funcionando.
- Luz... roxa? – ela ficou ainda mais intrigada.
- Desculpe, é uma brincadeira trouxa, que fazemos entre nós... Mas, Sr Creevey, acho que vamos mandar esta foto para o Alan. Pode nos trazer outra cópia, depois? Gostaria de ter uma em minha mesa, sempre.
- Claro que sim.
Então, ela pegou a pena na mesa de Snape e escreveu:
“Te amamos muito” – e assinou – “Serenna”. Snape pegou a pena e completou: “e Severus”
Com um sorriso, ela pediu licença e saiu da sala.

Correu em direção à cozinha, procurando por Molly. Precisava saber como enviar aquilo por uma coruja.
Coincidentemente, ela acabara de receber uma mensagem da filha, trazida por Edwiges.
- Você vai mandar pro Alan, em Hogwarts? Então, acho que Harry não irá se importar se usarmos Edwiges, e ela deve estar com saudades de lá, não é? Vou responder a carta de Gina, e pedir a ela pra mandar Edwiges pra lá, assim que descansar da viagem – Molly acariciou a cabeça da bela coruja branca.
- Mas será que não é pesado? – Sarah parecia em dúvida
- Ah, isso nós resolvemos com um feitiço. Quer escrever um bilhete pra ele? Ali tem pergaminho.
Sarah escreveu um pequeno bilhete para acompanhar o embrulho cuidadoso que fez no porta retratos.
E, abraçada a Molly, viu a bela ave levantar vôo, com sua preciosa carga.

*****

Em Hogwarts, o café da manhã transcorria tranqüilo, quando o correio coruja chegou, como sempre.
Enquanto na mesa da Grifinória, Hector Lupin recebia um exemplar do “Pasquim” mandado pelos pais, uma velha e conhecida ave circulou pelo salão.
- Olhem, é a coruja do Harry Potter! O que será que veio fazer aqui? – um aluno mais velho comentou, e logo os outros murmuravam, atentos ao rodopio da coruja.
Edwiges planou majestosa e bela sobre as mesas e, para surpresa de todos, pousou na mesa da Sonserina, bem em frente a Alan Snape. Este, igualmente surpreendido, leu seu nome no envelope preso à pata da coruja e retirou-o.
Conhecia Edwiges, ela já levara correspondência de Gina Potter para a mãe no “Lar de Elizabeth” algumas vezes... mas o que os Potter estariam enviando pra ele?
- Abra logo. – seu amigo Rupert sussurrou.
Ele o fitou contrafeito, mas o sorriso do amigo era genuíno, então relaxou. Ofereceu à coruja os pedacinhos de bacon do seu prato e só então, abriu o envelope.
“Querido Alan,
Colin Creevey nos presenteou com aquela foto da estação, e imaginei que você gostaria de tê-la, pra sentir menos saudades de nós.
Um beijo,
Tia Serenna”

Um sorriso iluminou seu rosto geralmente sério, e ele então abriu o pacote que Edwiges trouxera. Só então, a coruja voou até a mesa dos professores, onde foi acariciada por Minerva McGonagall, antes de levantar vôo e partir.

Na mesa da Grifinória, Hector mostrava para seus amigos a reportagem da primeira página, enquanto Alan mostrava orgulhoso a Rupert a bela moldura contendo a mesma foto que agora provocava exclamações de surpresa de quantos haviam visto o jornal.
- Quem é Serenna? – Rupert perguntou, curioso, mas delicado
- Minha tia. Ela é irmã de meu pai.
Na foto à sua frente, Snape e Serenna riam um para o outro e para o garoto entre eles, que sorria igualmente, feliz, com sua família.

Joshua Shacklebolt saiu da mesa da Lufa-Lufa, aproveitando que a irmã mais velha, Laine, estava tão absorta nos comentários sobre a matéria do Pasquim que nem notou a sua saída. Puxou Mel da mesa da Corvinal e foi se juntar aos amigos na mesa da Grifinória.
- O que vocês acham disso tudo? – Andrew Benedet perguntou. – Uma irmã perdida de Severus Snape no Brasil!
Josh voltou-se para Mel e Felipe com um sorriso brincalhão:
- Mais uma! Confessem: tem um plano brasileiro de invasão da Inglaterra, não tem não?
A menina limitou-se a revirar os olhos, enquanto Josh estourava de tanto rir.
- Isso é... – Mel não tinha palavras, enquanto olhava para a matéria – Absurdo. Simplesmente não pode ser!
- O quê, a invasão brasileira? – Hector provocou, fazendo todos rirem da expressão irada de Mel para o garoto.
- Ah, é... E vamos obrigar o Príncipe William a se casar comigo! – Mel replicou, em represália.
- Eca! Um príncipe trouxa! – Josh exclamou, numa careta
- Trouxa sim, mas lindo! – Mel respondeu com falsa expressão sonhadora, e Hector a fitou franzindo o nariz, pensando que ela devia ser mesmo louca.
Danna deu um risinho compreensivo para sua amiga, e voltou a olhar atentamente o rosto sorridente de Serenna na fotografia do Pasquim que Andrew segurava, os olhos negros analisando a expressão da mulher desconhecida por entre a massa de cabelos escuros que caía sobre o rosto alvo da menina. Então, Danna sorriu e comentou, simplesmente:
- Ela parece uma boa pessoa.
O silêncio se fez entre os amigos por alguns instantes. Realmente, ela parecia ser uma boa pessoa, mas a opinião emitida por Danna tinha o efeito quase de uma profecia.
- O que prova que não deve ser irmã de verdade do Morcegão. – Mel sentenciou, teimosa.
- Será que isso significa que ele vai amolecer, agora que tem uma irmã? – Josh se referia a Snape, cujos rumores eram que, agora que estava “reabilitado” voltaria a dar aulas de Poções.
- Espero que não. – Hector ponderou, pensativo.
Quatro cabeças voltaram-se para ele, surpresas.
- Olha, gente... – o grifinório se viu na obrigação de explica-se – Snape é um desafio enquanto for... o Snape.
- Desafio, aventura... É só nisso que você pensa, Hector? – Ralhou a corvinal.
- Hector tem razão, Mel. – Josh concordou. – Que graça tem o Snape sem ser o bom e velho Morcegão, Ranhoso, Seboso e Narigudo de sempre? – Ele riu.
A irmã fez pouco caso:
- Você sempre concorda com o Hector.
- Não, você que sempre está errada.
- Escuta aqui garoto... – Mel começou, mas respirou fundo para se acalmar. O amigo sempre a tirava do sério. – Bem, acho que vou dar os parabéns para o Alan, assim que a confusão que a notícia causou passar um pouco.
- Por quê? – Hector levantou uma sobrancelha, intrigado.
- Ora, o garoto ganhou uma tia, deve estar feliz, não é? – Ela olhou para o sonserino, que realmente parecia radiante.
- É... – Hector entendia o que era ser um órfão, e acabou concordando. Sabia o quanto era importante ter alguém a quem chamar de “sua família”.

Completamente despreocupado de ser o centro dos buruburinhos à sua volta, pois não vira o conteúdo do jornal, Alan sorriu mais uma vez, enquanto deixava a mesa sonserina.
Queria guardar logo sua foto no dormitório, em sua mesinha de cabeceira.. E saiu do salão, seguido por muitos olhares curiosos, carregando seu mais precioso tesouro: a foto da Família Snape.

***FIM****

É isso aí, gente. A parte final, o diálogo entre os Novos Marotos, claro, é obra da Belzinha.

E, por enquanto, os nossos personagens descansam um pouco...

(Não é que eu não tenha planos para eles... apenas preciso esperar o final da fic "Harry Potter e o Retorno das trevas" da Sally Owen, e "Harry Potter e o Segredo de Corvinal" da Belzinha. Só então, vamos - é no plural mesmo, não vou dar conta sozinha - dar um jeito na vida de nossos queridos)

Agradeço a todos que leram, mesmo não deixando seu comentário.
Eu apenas brinco de escrever, e foi mesmo muito divertido montar essa história.

Só não as aconselho a ter um irmão como o Snape... não é sempre que ele está de tão bom humor, como vocês sabem...

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