Winter´s lover



Pensamentos que me vêem a cabeça, não me deixam em paz. Sinto-me exausto, exaurido, como se algo sugasse todas as minhas energias. Tudo, por isso, o que mais queria era nunca mais me levantar. Minhas pálpebras parecem pesar toneladas, e o meu corpo está completamente entorpecido. Será que morri? Tudo o que vejo, ou melhor não vejo, são as trevas, a escuridão que me cerca. Meu olfato, porém, se aguça e posso distinguir cheiros diversos a meu redor. É como se eu estivesse deitado na relva, sentindo os diversos aromas, das diversas rosas a me cercar. O que diriam meus amigos se eu contasse tudo isso que sinto? Achariam-me maluco?

Do nada começo a sentir que alguém acaricia meu rosto. Mas quem? Não consigo ver, não consigo falar. Apenas consigo sentir seu aroma, pois até minha audição me falha. Aos poucos consigo sentir onde estou deitado. Sinto terra em minhas mãos, meus braços e na minha cabeça. Tento me mecher, mas em vão. Estou completamente paralisado. De repente meu corpo abandona a terra. Alguém me levitava. O aroma, que apenas agora identifico, como sendo de jasmim, segue a meu lado. Sinto dedos finos e delicados a segurar minha mão, que não reage.

Sinto, lentamente, que meu corpo entra em contato com algo macio, delicado. Presumo que seja uma cama. As mesmas mãos delicadas seguram minha cabeça, e a coloca sob um travesseiro. As mãos passeiam pelos meus cabelos, delicadamente, removendo alguns fios de meu rosto. Ela, eu acho que era ela, por causa de suas mãos delicadas, segurou meu braço. Do nada, um cheiro horrível invade minhas narinas, enquanto sinto algo gelado e úmido, sendo passado pelo meu braço, o qual começa a formigar. A voz, agora tinha certeza ser de uma mulher, delicada e suave, pronuncia um feitiço, e a formigação, instantaneamente, se vai. Ela, então, deposita meu braço na cama e se vai. Um segundo depois a sinto novamente a meu lado. De repente, um líquido é posto entre meus lábios. Desceu queimando, e os últimos sentidos que eu tinha se foram, antes de eu cair num sono profundo.

Cheiros. Sons. Sentidos. O que será que está acontecendo? Começo a ouvir vozes confusas, gritos de dor e desespero, choros. O que está acontecendo? Luz! Posso ver uma luz branca ao abrir meus olhos, cegando-me, e me forçando a fecha-los novamente. Que luz é essa? Sinto-me enjoado. Talvez seja da poção que a jovem misteriosa me dera. Tento me mecher, porém, meu braço e meu dorso doloridos não deixam. Passo a mão esquerda, a que não dói, no meu tórax e constato que ele está machucado. Levo minha mão a cabeça e sinto pequenos arranhões, além de pequenos curativos e uma barba rala. A quanto tempo será que eu fiquei inconsciente?

Esfrego os olhos com força e os abro novamente. Desta vez, porém, abro-os com cautela para me adaptar a claridade. Quando o consigo, vejo tudo turvo e borrado. A primeira coisa que vejo é o teto, branco como as nuvens num dia ensolarado. Lentamente viro minha cabeça para a direita, e vejo que minha cama está cercada por um biombo, isolando-me de todas as outras pessoas. As imagens, aos pouco, se tornavam menos turvas, e mais visíveis. Com um pouco de dificuldade, devido aos ferimentos, me ajeitei na cama, de um modo a ficar mais confortável. Viro-me, então, para a esquerda, e encontro o que procurava. Peguei-o e o coloquei em meu pescoço, de onde jurei nunca tirar.

FLASHBACK

Você jura que nunca irá tira-lo do pescoço? Jura? – a voz dela era doce, e exprimia a angústia que sentia naquela ocasião. Claro que sim! – ele responde com um sorriso, tentando consola-la – Eu juro que nunca o tirarei do pescoço! Aconteça o que acontecer! – ele disse em tom solene e a beijou.

FIM DO FLASHBACK

Já fazia, desde que se lembrava, um ano que não se viam. Um ano de agonia, de sofrimento, de solidão. Separados pelo espaço, porém, unidos no coração, e na alma. Era só ele fechar os olhos que conseguia vê-la, sua fada. O olhar apaixonado, o sorriso meigo, os gestos delicados, a sua fada. Que jurara nunca a fazer sofrer. O que, pensou, já o estava a fazer. Passou as mãos pelos cabelos, que deixara crescer até os ombros e que estavam, devido ao tempo desacordado, agora desgrenhados, mais bagunçados como ele jamais os vira. Tentou não pensar na sua aparência, e voltou seu olhar para o medalhão.

O cordão era simples, porém, muito bonito. Era feito de madeira com desenhos em alto relevo. Tinha o formato ovalado, e em seu centro, havia uma flor esculpida, pintada em diversos tons de vermelho. Ao redor dela pequenas folhas verdes compunham a peça, dando a impressão de que elas caíram ali e ali permaneceram. Para terminar esse designer tão singelo, um cordão preto, não muito grosso o qual destacava a peça ovalada e que ele dera o nome de “Winter´s lover”. Isso porque ele se apaixonara pela sua fada em um natal.

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