DESPEDIDAS









Depois do enterro de Dumbledore, Harry ainda segurava o falso Horcrux na mão direita, milhões de pensamentos passavam pela sua cabeça. Passou pelo salão principal e lembrou da primeira vez que o adentrou. Era pequeno e estava nervoso, um novo mundo se revelava aos seus olhos de criança. Hoje esse mundo estava desabando. Voldemort voltara ao poder e conseguira o seu maior triunfo: a morte de Dumbledore. O único bruxo capaz de amedrontar Voldemort havia sucumbido pelas mãos daquele que ele mais confiava. Harry não tirava da sua cabeça a lembrança de Snape lançando o feitiço em Dumbledore. Sua indolência e covardia, Dumbledore estava fraco e desarmado.

Harry passou pelo salão e seguiu em frente, os corredores estavam vazios. Os poucos alunos que ficaram em Hogwarts, ainda estavam nos jardins. O Túmulo de Dumbledore fora conjurado nos jardins da escola numa forma de homenagem póstuma ao melhor diretor que ela tivera.

Ao chegar diante do retrato da Mulher Gorda não foi preciso dizer a senha, ela liberou o caminho com lagrimas nos olhos, na verdade, eram manchas na tinta, perto de seus olhos. Entrou no quarto e desabou sobre a cama desarrumada. O malão encontrava-se aberto na sua frente. Começou a por algumas de suas coisas no malão e o fechou. Uma lagrima rolou pelo seu rosto.

- Você esta bem mesmo? – Rony entrou no quarto e se aproximou de seu amigo.

- Estou. – Imediatamente enxugou as lágrimas e virou o rosto para não transparecer abatido. – Estava só lembrando que talvez seja a ultima vez que eu arrume as coisas aqui nesse quarto. Tive boas lembranças aqui.

- A gente um dia ainda vai voltar para matar as saudades desse lugar. – Rony deu um sorriso. – Você talvez volte côo um professor daqui.

- Essa nunca foi uma de minhas pretensões. – Harry sorriu forçadamente.

- Você devia pensar nisso. Sabe, aprendi um montão de coisas nos tempos da Armada... – Rony se calou, falar daquelas aulas era falar indiretamente de Dumbledore. Afinal, era a Armada de Dumbledore.

- Não importa. – Levantou-se rapidamente. - Tenho coisas mais importantes para pensar agora. Como derrotar Voldemort e aquele traidor do Snape.

- Mas antes você sabe que temos outro compromisso, não é, Harry? – Rony hesitou. – O casamento de Gui e Fleur... Falamos agora a pouco e você concordou.

- Eu não estou dizendo que não vou. – Harry baixou a cabeça com tristeza. - Só estou dizendo que não devo fazer tantos planos para minha vida.

- Ora. Por quê, Harry? – Hermione entrou sem bater. Harry se abaixou e fechou o malão com as suas coisas, fingindo indiferença à pergunta da amiga. – Por que não fazer planos para o futuro?

- Temos que pegar o Expresso. Ele parte em uma hora. – O garoto segurou firme a alça do malão e tentava passar pela porta, mas foi impedido pela garota que ficou parada no caminho.

Harry olhou fixamente para Hermione. Observou aqueles olhos atentamente, estavam longe dos da menina metida e mandona da primeira vez que a vira. Ganharam maturidade. Tudo pelo que passaram, juntos, o impediam de tentar mentir. Virou o rosto para evitar encará-la.

- Você sabe que iremos para onde você for. E isso significa morrer... E para lá que iremos. – Hermione segurou o rosto de Harry e o forçou a olhá-la nos olhos. – Mas, por favor, não perca as esperanças. Isso é algo importante, e nunca devemos perdê-la.

- O pessimista da história sempre fui eu, amigo. – Rony se aproximou e segurou o amigo pelo ombro. – E eu me recuso a admitir que você sucumba à desesperança.

- Eu só estou dizendo que não sei o que pode acontecer. Não devemos ter falsas esperanças.

- Nunca haverá falsas esperanças. – Hermione falou calmamente. – Temos que acreditar nisso. Isso, talvez, seja o que nos ajudará a vencer.

- Sim, mas... – Harry tentou argumentar.

- Isso é o que nos diferencia deles. – Hermione finalizou a argumentação.

- Está bem. – e olhando para Rony. – Mas eu me recuso a ser professor...

- Quem falou em ser professor? – Hermione pareceu confusa.

- Já basta um na turma, não é? – Rony apontou para Hermione e sorriu.

***

Hermione ainda estava confusa com a história de professor quando desceram até os jardins. Harry puxava o malão com dificuldade. Ao levantar a vista, percebeu Scrimgeor se aproximar. Levantou suas coisas com um rápido mexer de varinha e apressou-se na direção contrária. Rony e Hermione entenderam o recado e avançaram em direção ao Ministro para atrasá-lo, impedindo-o de chegar perto de Harry.

Harry passou pelo Túmulo Branco de Dumbledore. Minerva segurava um lenço de seda branca e enxugava o rosto molhado de lágrimas. Hagrid podia ser ouvido chorando nas imediações da Floresta Proibida. Harry ajoelhou-se em frente ao túmulo e baixou a cabeça. Levou a mão direita ao mármore branco.

- Eu juro que vou vingar a sua morte. Snape vai pagar pelo que fez e Voldemort vai preferir nunca ter ressurgido. Se precisar morrer para que eles também morram? Estou pronto para assumir esse risco. Essa é uma promessa que eu faço ao Senhor. – Levantou-se e seguiu em frente.

- Harry? – McGonagal estava às suas costas. Tinha um tom de voz assustado. – Só queria pedir que não faça nada precipitado.

- Precipitada foi a morte dele. Eu sei que você concorda comigo. – O garoto virou de repente para a professora, chorando. – Dumbledore confiava nele... Ele não podia ter feito isso.

- Infelizmente está feito, Harry. Mas Dumbledore não ia querer que você arriscasse a sua vida num movimento precipitado e movido pela raiva. Ele queria a sua segurança...

- Tarde demais. Ninguém está mais seguro. – E, mais uma vez, tentando retomar o seu caminho. – Farei o que ele me pediu que fizesse antes de prosseguir com meu destino.

- Harry... – Mas o garoto não estava mais ouvindo. Seguiu para as carruagens que o levariam à Estação.

***

Gina aguardava Harry em frente de uma das carruagens puxadas pelos Trestálios. A ruiva acenou logo que o viu. Harry se aproximou lentamente. Acomodou seu malão na traseira da carruagem mais próxima e entrou. Gina correu até ele e entrou enfurecida.

- Não pense que vai me ignorar.

- Gina, por favor, é para o seu bem. – Harry abriu a porta para que a sua ex-namorada pudesse sair.

- Eu disse que não ligo para o possível perigo que a sua presença representa. Isso tudo pra mim é besteira. Todo lugar é perigoso agora. Harry.

- Não tanto quanto na minha companhia. – Fez um breve movimento com a mão mostrando a saída.

- E se eu dissesse que me sinto mais protegida ao seu lado.

- Não quero perdê-la também, Gina. Você não entende. – Harry pôs a mão no rosto, não podia encarar aquele rosto tão bonito que passara a amar tão recentemente.

- Nem eu quero perdê-lo. – Gina acariciou a nuca de Harry. – Por favor, Harry, deixe-me ficar ao seu lado.

Os dois se beijaram por um tempo que parecia uma eternidade. Harry passou a mão delicadamente pela face de Gina. Contemplou-a por um instante e, então, mais uma vez mostrou-lhe a saída.

- Eu não quero ter que brigar com você, Gina. Tente me entender.

Gina saiu com a cara emburrada e seguiu até a outra carruagem.

***

O Expresso estava praticamente vazio, Harry nunca o tinha visto assim. Foi direto à cabine mais próxima e acomodou-se nela. Sentou-se diante da janela e esperou o trem partir, o que não demorou muito a acontecer. A paisagem logo tomou a velocidade habitual. Harry observava as arvores passarem rápidas e pensava na longa trajetória que teria pela frente. Todas as coisas que teria que fazer, a procura pelas Horcruxes e a vingança. Rony e Hermione disseram que o seguiriam para onde quer que ele fosse. Ele sabia que podia contar com os amigos, mas tinha tomado uma decisão e não voltaria atrás.

- Ah, então você está aqui? – Hermione abriu a porta do compartimento e entrou segurando Bichento, que parecia um pouco relutante.

- Aquele novo ministro é insistente, sabia? Foi um pouco difícil fazê-lo entender que você não queria falar com ele. – Rony guardou suas coisas e se sentou.

- Depois ele tentou tirar de nós alguma informação relevante. – Hermione soltara Bichento no banco e, posteriormente, retirou de sua bolsa um exemplar do Profeta Diário. Harry percebeu uma longa homenagem a Dumbledore na primeira página.

- Você precisava ver o que a Hermione disse a ele... Harry? – Rony tentou olhar para o que os olhos de Harry fitavam: a foto de Dumbledore. – Harry?

- O que foi? – disse o garoto que parecia ter voltado de um transe.

Rony cutucou Hermione, o que a fez perceber e, imediatamente, guardar o jornal. Tentou se desculpar, mas Harry parecia distante.

- Não precisa se desculpar, Mione. Ele está morto, não posso mais fazer nada.

O resto da viagem, ninguém tocou no assunto. Na verdade, ninguém abriu a boca. Hermione abrira um livro para ler e Rony brincava com Bichento. O gato vez ou outra arranhava o ruivo e ele dava alguns gritos de dor. O que no principio era uma brincadeira, passou a ser uma luta violenta. Hermione logo interferiu e eles pararam.

- Chegamos! – disse Harry que observava o lado de fora com total atenção. – Tenho que enfrentar meus tios agora.

- Você pode ir pr’A Toca conosco, Harry. – Rony sorriu esperançoso.

- Não. Lembro que Dumbledore queria que eu fosse para lá. – Levantou-se e pegou suas coisas. - Pela última vez eu tenho que ir.

- Vai ser estranho, não é? – Hermione guardara o livro e começava a se preparar para o desembarque. – Saber que é a última vez que você volta pra lá?

- Na verdade, era o que eu mais queria, desde que eu soube que era bruxo. – Harry deu um longo suspiro. – Nunca mais voltar lá.

Ao desembarcar, Rony se reuniu aos seus irmãos e aos seus pais. Os pais de Hermione se aproximaram e cumprimentaram Harry com entusiasmo. Mais de uma vez o garoto procurou os seus tios, mas não os encontrou. Eles não tinham ido buscá-lo. Harry sentiu-se mal por um instante, pensou em não ir para lá. Foi, então, que se lembrou do que Dumbledore disse e viu que não podia fugir.

- Podemos levá-lo até lá, Harry. – Hermione se ofereceu. – Método trouxa, os meus pais estão de carro.

- Não quero incomodar. Eu dou um jeito. – esquivou-se Harry.

- Que tipo de amiga eu seria se deixasse o meu melhor amigo na estação sozinho. – Hermione sorriu e puxou o amigo pelo braço a contragosto.

- Olá Harry. Teremos a honra de levá-lo em casa? – Disse o Sr. Granger.

- Fique a vontade. Não é a maneira que você está acostumado a viajar, mas... – a Sra. Granger retirava algumas coisas do banco traseiro. - É eficiente.

- Não se preocupe, eu vivi com uma família trouxa desde pequeno. – Harry acomodou-se no banco traseiro, ao lado de Hermione. Era estranho, nunca havia conversado com os pais da amiga. - Estou acostumado.

A vigem foi bastante agradável. O Sr. e a sra. Granger falavam da facilidade do mundo bruxo para resolver alguns problemas. Hermione estava feliz na presença da família, e Harry percebeu que ela mudara um pouco. Era como se fosse uma criança junto aos pais. Sorria freqüentemente, e ficava encabulada toda vez que eles comentavam alguma coisa sobre a sua infância. O garoto soube que a amiga fizera desaparecer os dentes de um cachorro que a tinha atacado quando tinha cinco anos, antes mesmo de saber que era bruxa.

- Quando nos visitaram para dizer sobre o dom de nossa filhinha, tudo pareceu fazer sentido. Todos aqueles fenômenos inexplicáveis... Sabe como é?

- Mãe! – Hermione estava vermelha.

- Tudo bem que o fato de um mundo bruxo existir... Bem, pareceu um pouco irreal. – A mãe da garota não conseguia parar de falar.

- Chegamos! – O Sr. Granger parou em frente a casa dos tios de Harry. – Rua dos Alfeneiros, 4. – Hermione deu um suspiro aliviado por sua mãe ter parado de falar.

- Quer que o acompanhemos até a porta?

- Não se preocupem. Muito obrigado pela carona. Mas daqui eu posso me virar.

- Não será nenhum incômodo.

- Não quero que vocês sejam tratados mal. Eles têm esse péssimo hábito.

Harry apertou a mão do Sr. Granger, abraçou a mãe de Hermione e deu um grande abraço na amiga. Ficou acenando à porta da casa, para eles.

- Nos vemos no casamento de Gui e Fleur. – gritou Hermione antes do carro sumir de vista.

Harry não tivera coragem de dizer a ela que não estava pensando em ir. Não queria que os seus amigos corressem perigo. Ele decidira prosseguir sozinho. Era o seu destino, não poderia incluir mais ninguém nele. Poderiam dizer que era egoísmo mas, era para o bem de todos eles. Com uma lagrima no olho disse apenas:

- Adeus!


Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.