Capítulo Único



Era uma manhã fria e cinzenta. Draco abriu os olhos e olhou assustado ao redor - tivera um pesadelo, apesar de não se recordar dele. Levantou-se, ao mesmo tempo em que tentava se lembrar do que tinha acontecido na noite anterior; ele não lembrava absolutamente de nada. Somente aqueles repentinos flashes diziam a ele o que tinha acontecido.
- "Não fale assim de meu pai" - ele ouviu a si mesmo dizendo.
- "Draco... Não quero dizer nada do que não sei" - era Hermione, e ela tinha um olhar cansado, o que fez Draco imaginar que já estivessem discutindo aquele assunto há algum tempo.
- "Mas eu já lhe disse! Você não o conhece o suficiente, Hermione" - Draco andava por todo o cômodo - "Ele mudou!"
- "Eu sei que ele mudou, querido..."
- "Depois que Voldemort foi derrotado ele pediu perdão! Dumbledore deu a ele o seu perdão".
- "Draco, escute-me..."
- "Ele se redimiu na frente de todos, Hermione! Você acha que se ele não tivesse mudado ele faria isso? Você acha que ele se humilharia?"
- "Não, eu não acho. Só que... Eu ouvi Harry dizer que" - mas Draco não deixou ela continuar.
- "O Potter outra vez, Hermione?" - ele deu um soco na mesa - "Mas é claro... O Potter está sempre por trás de suas acusações. Será que é ele que não consegue acreditar que estamos felizes juntos, ou é você que gosta de arranjar um motivo pra gente brigar?".
- "Olha só, pra mim já chega, Draco. Nós nunca tivemos uma conversa decente sobre isso! Eu odeio brigar com você, e você sabe muito bem disso!"
- "MAS NÃO PARECE!" - ele tinha ganhado um tom avermelhado, e tinha acabado de chutar o pé da cadeira.
- "Então é isso o que você pensa de mim? Pensa que eu gosto de brigar com você? Você acha que estou com você porquê? PRA FAZER CIÚMES AO HARRY? ACHO QUE VOCÊ SE ENGANOU DESTA VEZ, DRACO MALFOY!" - Hermione pegou sua bolsa com brutalidade e saiu do aposento.

E agora era aquela sensação ruim que ele sentia. Haviam discutido, e disso agora ele se lembrava bem, mas por mais que quisesse lembrar, não conseguia saber o que tinha acontecido depois. Não sabia se Hermione ainda estava em casa, ou se ela tinha ido dormir na casa de seus pais - coisa que fazia sempre que eles discutiam. Vestiu-se, e silenciosamente avançou pelo corredor. Avistou-a: maravilhosa, como sempre. Sentada com a cabeça apoiada nas duas mãos, o olhar fixo num Profeta Diário.
- Bom dia - sussurrou ele para ela. Hermione não respondeu. Draco baixou os olhos. Não esperava que ela respondesse. Virou-se para abrir a geladeira, quando ouviu ela suspirar. Voltou-se para olhá-la, e percebeu que haviam lágrimas por toda a sua face avermelhada.
- Não pode ser... NÃO PODE SER! - Hermione ficou de pé, mas ainda não tinha encarado Draco - PORQUÊ ISSO AGORA? Porquê... Porquê, Draco? PORQUÊ FEZ ISSO COMIGO?
- Hermione, me desculpe... Não queria ter dito nada do que disse...
- Porquê me deixou? Eu te amo tanto, Draco... - ele de repente se desesperou por não lembrar de nada que tinha acontecido.
- Eu também te amo, Hermione. Muito. Odeio discutir com você...
- ...o que eu vou fazer da minha vida agora? - e o Profeta Diário continuava aberto na página principal. Hermione caminhou em direção a janela. Permaneceu observando o horizonte por alguns segundos, chorando. Passou a mão pelos cabelos, como se procurasse uma solução. E Draco apenas observava. Ela respirou fundo, e apoiou-se na mesa para não cair. Sua pressão estava ficando baixa.
- Hermione? - ele correu para perto dela - Hermione, acho que devemos conversar...
- ...porquê Draco? - e soluçava - Porquê isso aconteceu conosco? Eu te amo tanto...
- ...isso acontece com todos os casais, Hermione. É normal que isso aconteça de vez em quando...
- ...você era tudo na minha vida, Draco...
- Se isso é por causa da discussão de ontem... - mas ela parecia não ouvir nada do que Draco estava falando. Pôs-se de pé, ainda fraca. Pegou a bolsa, e caminhou decidida até a porta.
- Mione, aonde você vai? - com um pequeno soluço deprimente, seguido de um pequeno grito de desespero, Hermione fechou a porta atrás de si. Draco foi atrás dela, porém ela parecia decidida a fazer o que estava pensando. Foi até a garagem do prédio, e entrou em seu carro. Apoiou-se na direção, e continuou chorando. Chorava desesperadamente. Gritava palavras que eram abafadas dentro do carro.
- Hermione! Abra a porta! Vamos conversar - Draco batia a mão no vidro do carro, mas Hermione olhava fixamente para frente. Parecia que ela não via Draco. Parecia que não via ninguém. Mas ela não tinha condições de dirigir; se ela ligasse o carro... Ele sentiu um calafrio ao pensar nas conseqüências. Mas ela o fez.
- NÃO! HERMIONE, PARE! - gritava ele. Logo Hermione estava do lado de fora do prédio, e ele, com todas as suas forças, tentava correr atrás do carro, mas alcançá-la era quase impossível. Parou em uma esquina e ficou observando o carro se afastando, rezando para que nada acontecesse a ela.

Ele amava ela mais do que tudo.

Mas o pior é que ele não sabia o que tinha feito ela ficar daquele jeito. Ela não era do tipo que se alterava por uma simples discussão.

Então o sinal passou de verde para amarelo, e então estava vermelho. Mas isso Hermione não viu.
- HERMIONE! NÃO! - Draco pôs-se a correr novamente, e com todas as suas forças.
Ela parecia não ligar mais para as regras. Nada lhe importava agora. Mas ele precisava protegê-la. Então, ao mesmo tempo em que o céu desabou e o chão sumiu debaixo de seus pés, ele viu algo que talvez nunca mais fosse sair da frente de seus olhos: um outro carro avançou pela direita, e entrou na lateral do carro em que estava Hermione. E Draco gritou. E chorou desesperado. A multidão começou a se amontoar ao redor do acidente. Tudo de repente pareceu se embaçar, suas pernas ficaram bambas.

Seu amor, sua vida.

Sentiu como se alguém fechasse seus olhos e tampasse seus ouvidos. Nada tinha sentido, e agora Hermione estava, poderia estar, ele rezou para que não estivesse...

Mas como se as duas mãos que antes tinham lhe deixado ferido lhe resgatassem da escuridão, ele a viu.

Por entre mais ou menos cinquenta pessoas, esgueirando-se por aqui e ali, uma mulher de cabelos ondulados e castanhos caminhava em sua direção.

Mas ainda mais estranho era que as pessoas sequer olhavam para ela. Continuavam a olhar espantadas para os destroços do carro, mas ele não se importou com isso. Ele sussurrou o nome dela algumas vezes, mas dizer algo naquele momento era extremamente difícil. Não haviam cortes, não haviam arranhões, não haviam cicatrizes. Somente um enorme sorriso. E sentir o perfume dela e beijá-la como se fosse a última vez era a única coisa que ele queria naquele momento. Segurou firme em sua mão, e andou na direção oposta, para que pudessem voltar á sua casa, para que vivessem felizes do jeito que sempre foram. Passaram em frente á uma livraria, que estava vazia, exceto pelas revistas, livros, e a grande manchete do Profeta Diário:
"JOVEM MORRE EM ACIDENTE DE CARRO
Draco Malfoy, 21 anos, parecia ter uma vida calma e amorosa com a namorada Hermione Granger, 21. Porém, após uma séria discussão com a amada, o jovem Malfoy, filho de Lúcio e Narcisa Malfoy, sem pensar nas consequências, pegou seu carro numa noite chuvosa e, certamente ainda abalado pelo acontecido, entrou na estrada principal que dava acesso a uma via, onde bateu de frente com outro veículo [...]".

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