Reflexões e propostas



Capítulo X

You’re sick of all the rules
Well, I’m sick of all your lies!



Lord Voldemort acabara de acordar. De extremo mau-humor, diga-se de passagem.

Ele sentiu os efeitos da poção sonífera passando, ao mesmo tempo em que era violentamente puxado para fora do confortável mundo dos sonhos. Não que sonhasse, claro. Há muito tempo que havia tomado providências contra aquilo. Mas àquela noite... Seus sonhos haviam se materializado. Mas em forma de pesadelo.

Voldemort sabia o quão frio e impessoal fora. Porque fora exatamente o que planejara... E seus planos em geral se revelavam sábios. O problema era, e a causa de seu mau-humor, que dessa vez não tinha plena certeza de que aquilo tinha sido uma boa idéia.

Isolou-se em seu escritório, jurando a Rabicho que o mataria se ele ousasse interrompê-lo.
Esperava encontrar paz – a Penseira nunca lhe parecera um objeto tão útil quanto naquele momento – mas Nagini o esperava, enrolada na cadeira em frente à lareira apagada, como gostava de ficar.

Por que você fez isso?” – Nagini sibilou.
Isso o quê?
Por que dormiu com ela?”
“Porque eu prometi.”
“Seu tolo” – Nagini sibilou, furiosa – “Você não prometeu sexo, prometeu a si mesmo”
“Não vejo diferença.”
“Pode estar certo de que essa Lestrange quererá muito mais do que apenas dormir com você.


Voldemort deu um muxoxo de impaciência e virou as costas. Nagini se arrastou para fora do escritório, sibilando furiosa.
Voldemort ergueu a varinha nas têmporas, retirando um fio de pensamento prateado, que caiu na bacia da penseira e rodou por um momento, até que uma imagem tornou-se nítida. Os olhos inexpressivos de Bellatrix encaravam os seus por um breve instante, para depois se desviarem para o outro lado e tornarem a encarar a parede de seu quarto.
Desconfortável, ele deu as costas ao próprio pensamento que flutuava na bacia. O outro problema era que sabia que não podia retirar os sonhos de sua mente, nem as emoções contraditórias que começavam a aflorar em si.


[...]


“E agora?” – Rodolfo Lestrange perguntava ao teto – “Que droga é que eu vou fazer?”
“Ora, fique calado” – Respondeu Rabastan.
“Minha mulher está tendo um caso com o Lorde das Trevas!” – Tornou a exclamar, ignorando as palavras do irmão e passando as mãos nos cabelos, numa expressão de total incredulidade.
“Engraçado como são sempre os últimos a saber, não?” – Insinuou Rabastan. Ante ao olhar mortífero do irmão, completou – “OK, OK, não está mais aqui quem falou!”
E saiu porta afora, deixando Rodolfo imerso em pensamentos homicidas.

Bella nunca havia sido a mulher mais fiel do mundo. Tudo bem, ele também não era um perfeito exemplo de moralidade. Mas pelo menos... pelo menos nunca nenhum dos dois nunca fizera questão que esfregar na cara do outro, ora essa!
E a sensação de impotência... O ciúme o corroia por dentro. Porque sabia que o Lorde das Trevas era infinitamente melhor que ele, em tudo. Era... O Lorde das Trevas! Que é que poderia fazer? Desafia-lo para um duelo em nome de sua honra? A simples idéia era por demais ridícula.

Talvez, se conversasse com Bella... Sacudiu a cabeça. Não adiantaria. Bella era muito mais sua dona do que ele mesmo.

[...]


Uma grande e absolutamente inexplicável felicidade tomava conta do coração de Bellatrix. Ela pensava no porquê daquele sentimento tê-la invadido tão de repente. Acabou concluindo que era devido ao dia ensolarado e quente que apresentava-se do lado de fora da casa, onde o céu azul-anil de poucas nuvens combinava-se com o sol, que brilhava forte e altivo, e pássaros que cantavam alegremente no jardim descuidado. Algo lá no fundo de sua mente, ou talvez o que houvesse restado de sua razão, lhe dizia que não deveria estar feliz, que uma noite como a anterior deveria tê-la deixado arrasada. Mas nada daquilo importava porque... Bem, porque estava feliz!

Passou por Rabastan quando se dirigia à cozinha O cunhado lhe dirigiu um olhar enigmático – ou talvez Bella simplesmente não estivesse com paciência suficiente para decifrá-lo – e saiu, abanando a cabeça. Bella riu, sem saber porque o fazia. De repente a coisa mais correta a fazer era rir. E Bella riu, riu como nunca havia rido. Riu porque se sentia livre. Riu porque finalmente compreendera a infantilidade de seus atos. Que lhe importavam os boatos maldosos? Que lhe importava se a noite anterior fora a coisa mais repugnante que já lhe acontecera? Estava livre.

Não o amava mais.

Aliás, perguntava-se se um dia teria realmente o amado. Talvez fosse somente desejo, puro capricho. Já o satisfizera, e agora buscava sensações... novas. Ou quem sabe, renovar as antigas. Olhou para Rodolfo e sorriu marotamente.


[...]


Por Slytherin, Lord Voldemort, qual é o seu problema? – O Lorde das Trevas pensava, ainda isolado em seu escritório. Estava lá desde de manhã, havia muitas horas, e o sol já começava a se pôr. Rabicho cumpria sua promessa de não perturba-lo, mas Nagini não estava sendo tão delicada. Os comentários maldosos da cobra não ajudavam.

Bateu a testa uma vez contra a parede. Outra vez, e após, uma terceira. Tentou extrair um pensamento incômodo da mente, mas nada saiu. A verdade é que jamais sairia, por mais que tentasse, nem que tivesse mil penseiras à sua disposição. Penseiras não armazenavam lembranças de sonhos, nem muito menos de visões intuitivas. Ou cores. Ou cheiros. Ou sensações.

Chame-a novamente esta noite, ora essa. Estou para ver o dia em que Lord Voldemort não terá um desejo satisfeito.

Voldemort xingou baixinho. Tinha certeza absoluta de que se Nagini pudesse rir, estaria às gargalhadas.

As coisas não são tão simples assim...
Claro que são. Não foi você quem disse que não havia distinção entre o que Bella sente por você e puro desejo? Não me lembro de você se importar com qualquer coisa ao tomar qualquer mulher que o agradasse.

Voldemort não respondeu. Apenas bateu a testa contra a parede uma quarta vez.

Você se mima demais.
Não estou com medo” – disse, mesmo que a cobra não tivesse lhe perguntado nada.

Nagini deslizou para fora da sala. O Lorde das Trevas se entregou a mais uma sessão de intermináveis perguntas que estouravam em sua mente, a maioria delas sem respostas. Ou quem sabe as respostas fossem óbvias demais para sua compreensão.

...Por que ela buscara tanto aquilo?
...Por que a havia expulsado de sua cama em maio, enquanto em seus sonhos a tomava tantas vezes daquela mesma forma?
...Por que fizera questão de algo frio e impessoal, quando seu maior prazer era vê-la delirar sob cada mínimo toque seu, cada mínima palavra que lhe dirigia?
...Por que sentia que nunca teria respostas se não a tivesse novamente?

E, por Slytherin, por que não conseguia esquecer o toque macio e o cheiro inebriante de sua pele, e o modo como suas curvas pareciam encaixar perfeitamente em
seu corpo?

Bateu a testa na parede pela quinta vez com mais força do que pretendia.

[...]


A Marca Negra ardia novamente em seu braço, sem que a de Rodolfo também o fizesse.
“Ele está me chamando” – Bella avisou
Ela desvencilhou-se dos braços do marido que a abraçavam possessivamente.
Vestiu-se e aparatou na Mansão Riddle; uma leve intuição obscena martelando em sua cabeça.

Seguiu pelo corredor sombrio que conhecia tão bem. A última porta do segundo andar, a de pesada madeira escura, sobre a qual havia um grande “R” floreado marcado em alto-relevo encontrava-se aberta à sua espera.

“Sente-se Bella”

Ela reparou que ele havia disposto duas cadeiras em frente à janela de modo que uma encarasse a outra, promovendo algo que ela chamaria de discussão tête-à-tête. Subitamente, a intuição obscena desapareceu de sua mente, e Bella sentiu-se aliviada por isso. Não fosse o fato de estarem no quarto, poderia-se dizer que estavam ali para tratar de negócios. Fossem eles quais fossem.

“Serei direto” – O Lorde das Trevas falou, manifestando claro desconforto – “Tenho pensado muito no que vem acontecendo entre nós nos últimos meses...”
“Mestre, eu...” – mas ele ergueu a mão e silenciou-a.
“Percebi, obviamente, que você demonstra um certo interesse na minha... ah, companhia.”
“Mestre, eu...” – ele silenciou-a novamente com um gesto.
“Acho que ficará agradavelmente surpresa em constatar que eu igualmente aprecio sua...companhia.” – seus olhos brilharam – “E também estou bastante ciente dos boatos a nosso respeito.”
Bella sequer se deu ao trabalho de responder. Receava estar entendendo onde ele queria chegar, mas não o ajudaria.
“Os boatos, você sabe, não poderiam ser mais falsos. Falo, claro, daqueles que a classificam como minha amante.” – seus olhos tornaram a brilhar mais intensamente – “Que acha de os tornarmos legítimos?”

A ficha caiu.

Ele estava pedindo para se tornarem amantes?

“Não.”
“O quê?” – perguntou Voldemort surpreso.
“Não” – ela repetiu.
“Você não...?”
“Não serei.”

Voldemort levantou-se de sua cadeira, olhando-a confuso. Era como se ela tivesse falado em uma língua totalmente incompreensível.

“Há uns dias atrás você daria tudo por isso.” – Ele falou, erguendo uma sobrancelha
“Não mais. Já tive o que pedi, meu desejo foi satisfeito.”
“Bellatrix...” – ele falou ameaçadoramente – “Eu sei que você quer. Não brinque comigo.”
“O mestre pode ordenar qualquer coisa a mim, que eu obedecerei. Se é seu desejo que eu me deite com o senhor, então assim será.”
Voldemort demorou alguns segundo para captar a fina ironia contida naquelas palavras. Então sorriu.
“Não obrigo ninguém a se deitar comigo, Bella. Não preciso.”
“Sim, senhor” – Bella sorriu em resposta – “Só não entendo, então, a necessidade de me chamar.”
Ele riu alto e debochadamente.
“Eu gosto de desafios.”
“Mas eu não sou um desafio. Sou sua serva.” – Ela disse, levantando-se e ficando de costas para esconder um sorriso de triunfo que se espalhava por seu rosto.

Ele se aproximou e apoiou o queixo em seu ombro, abraçando-a por trás. Bella sentiu o hálito quente em seu pescoço, e a proximidade dos corpos lhe deu uma imensa sensação de poder. Os lábios dele encontraram o ponto exato em seu pescoço que a fez sentir cada pêlo eriçar-se ao contato da pele.

“Farei você me desejar novamente, como jamais desejou. Eu prometo. E sou um homem de palavra.” – ele sussurrou em seu ouvido. E soltou-a.
“Seja como milorde desejar.” – Disse, ocultando um novo sorriso. E desaparatou.

[...]

A chuva castigava as janelas da casa. Era uma noite especialmente escura, ainda mais sombria devido à ausência de lua, e as nuvens indistintas que cobriam o céu ocultavam as estrelas. O calor, enfim, havia servido a seu propósito, e todo o mormaço e umidade dos últimos dias desabava sobre o país em forma de temporal.

No meio de toda aquela água, cercada por um imenso e veludoso gramado verde, estava a luxuosa Mansão Malfoy. Dentro dela, duas pessoas conversavam aos cochichos. Uma delas, uma figura feminina, alta e magra, de cabelos escuros e rosto bonito, era Bellatrix. A outra, um garoto de dezesseis anos recém-completados, ainda mais alto que a tia, de cabelos loiro-brancos e rosto fino, era Draco Malfoy.

“Estou aqui para ensina-lo Oclumência, Draco.” – Disse Bella muito séria. – “A defesa da mente contra penetrações externas.”
“E por que eu tenho de aprender isso?” – Ele perguntou rispidamente.
“Por que Dumbledore é perito em Legilimência. O Lorde das Trevas, obviamente, não deseja que seu plano seja descoberto e ponha toda a missão a perder.”
“Dumbledore pode ler meus pensamentos?” – Perguntou Draco aflito.
“Exatamente.” – Bella respondeu, crispando os lábios num sorriso de desdém. – “Então, quando eu apontar minha varinha para você, você irá tentar tirar todo e qualquer pensamento ou emoção de sua mente, deixa-la vazia.”
Draco concordou com a cabeça. Segurava a própria varinha com firmeza.
“Pronto? Legilimens!

Dezenas de imagens coloridas vieram à sua cabeça...

Um garotinho loiro montava uma pequena vassoura de brinquedo... Um garoto um pouco maior voava numa Nimbus e colidia contra uma árvore... Lúcio gritava alguma coisa sobre Draco fazer feitiços fora da escola... Ele estendia a mão a Harry Potter, que a rejeitava... Crabbe e Goyle transformavam-se em Potter e Weasley... Draco levava uma imensa bronca do capitão do time de quadribol... Pansy Parkinson se aproximava dele para beija-lo... A Marca Negra desenhava-se na pele branca...

“NÃO!” – Draco gritou, enquanto a mão direita massageava furiosamente o antebraço esquerdo.
O garoto estava ajoelhado no chão, tremendo; os cabelos loiros caindo-lhe no rosto banhado de suor frio.
“Levante-se, Draco” – Falou Bella impiedosamente. Draco obedeceu, ficando de pé, embora ainda tremesse. – “Vou penetrar sua mente novamente. Dessa vez tente bloquear o feitiço; não permita que visualize seus pensamentos. Agora... Legilimens!

Bella se viu flutuando novamente num mar de lembranças alheias.

Draco consolava Narcisa, que chorava sobre uma manchete de jornal... Ele brincava com a varinha de Potter entre os dedos, enquanto o outro lhe gritava impropérios... Sob a Marca Negra no céu, pessoas corriam apavoradas... Um hipogrifo avançava sobre seu braço e o bicava; um jato de sangue vazava de si... Harry Potter saía do labirinto com o cadáver de um garoto... Draco apanhava o pomo debaixo do nariz do apanhador da Lufa-Lufa...

De repente, as lembranças tornaram-se conhecidas...

Uma garotinha de cabelos negros roubava a varinha do pai e brincava de torturar um cachorro... Tinha uma discussão inflamada com a irmã mais nova e cortava as tranças de seus cabelos... O Chapéu Seletor resmungava coisas ininteligíveis sobre sua cabeça antes de anunciar “Sonserina!”... Uma adolescente pálida levava uma vela na mão e invadia a sessão reservada da biblioteca... A mesma adolescente nadava na grande banheira do Banheiro dos Monitores... Guardas a empurravam para dentro de uma cela... Um vulto encapuzado a erguia nos braços e a transportava para fora da mesma cela... Bella observava o Lorde das Trevas dormir, enquanto aproximava o rosto para beija-lo... Rabicho a prendia contra a parede... Sobre a grande cama da suíte da Mansão, ela e o Lorde das Trevas faziam amor...

“NÃO!” – Foi a vez de Bella gritar.

Draco a encarava, pálido de surpresa.




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Geeente, eu não sei explicar o que foi esse capítulo! Foi mais reflexivo, não teve muita ação, e tal. Mas se eu não me engano, postei um capítulo anteontem! É, como diria minha amiga Morgana Black, parece que baixou o “Caboclo Escrevedô” em mim hehe... Se bem que essa semana eu estarei muito ocupada, então é provável que eu demore mais para postar o próximo capítulo... Obrigada pelos comentários, viu? Espero que estejam gostando ^^

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