O Pomo



O campo estava uma bagunça e as arquibancadas quase lotadas. A torcida estava dividida. Metade torcia para a Corvinal e metade para a Grifinória. Lily havia ido em muito poucos jogos e não ligava muito para aquilo, mas quando viu os times entrando em campo não pôde deixar de sorrir. Era uma coisa mágica!

Tiago ainda não tinha visto Lily nas arquibancadas. Estava apertando a mão do capitão da Corvinal, olhou para uma arquibancada enfeitada de vermelho e sorriu como nunca. Aquela visão fez o rapaz se encher de força e coragem. Viu que ela ruborizava. O apito soou e quatorze vassouras empinaram e saíram voando ao mesmo tempo.

Ele havia avistado o pomo diversas vezes, enganou o apanhador do outro time e desviou de um balaço particularmente assassino. Ele queria fazer uma coisa que nunca havia feito. Queria surpreender a ruiva, e digamos que ele conseguiu. Apanhou o pomo bem na frente dela. No instante em que capturou o pomo olhou para ela e sorriu. A torcida urrava. Ele dava alguns loops pelo campo quando viu alguma coisa zunindo bem na sua frente. Um balaço mal lançado pelo batedor da Corvinal ia à velocidade da luz em direção a arquibancada em que Lily estava.

Lily olhava distraidamente para Tiago passeando e se pavoneando. Distraiu sua atenção para um barulho metálico que veio da sua esquerda, Tiago estava na frente, não deu para ela ver o que foi. De repente ela o vê: um balaço ficando cada vez mais próximo dela, e ela tinha certeza que aquela bola iria acertar nela. Já estava vendo o filme de sua vida diante dos olhos e fazendo as preces quando...
PAM!

Sentiu um impacto contra o seu corpo, mas não o impacto que esperava. Era um peso dividido, e não algo que a poderia partir em duas. Viu uma lembrança recente de alguém numa vassoura ter se enfiado em sua frente milésimos antes do balaço a atingir. Sentiu seus lábios arderem. Levou uma das mãos a ele e viu que sangravam. Devia estar toda estropiada porque segundos depois ela desmaiou.

- Ele se jogou na frente do balaço – McGonagall sussurrava em algum lugar – Parecia um suicida, mas agora entendo o que ele fez.
- Foi um ato extremo de coragem – Uma voz levemente conhecida sussurrava – E de amor, se formos um pouco mais ousados...
Ela se mexeu e resmungou algo sobre as costelas doendo. Madame Pomfrey, a dona da outra voz foi acudi-la. Ajeitou algumas almofadas e deu uma poção roxo-azulada para a garota.
- Assim – disse ela virando o frasco na boca de Lily – é uma poção que vai aliviar suas dores. Vou pedir para o professor de Poções algumas a mais dessas, o Sr. Potter vai precisar muito delas...
- Então foi ele que me salvou – Lily perguntou virando o pescoço, não se lembrava de tê-lo torcido – Nossa, ele está muito machucado?
A cena era lastimável. Tiago estava deitado confortavelmente na cama, mas parecia desacordado havia muito, tinha vários curativos com uma espécie de ungüento laranja. Tinha o rosto um pouco retorcido de dor e o braço direito estava com certeza quebrado. Havia alguma coisa apertada na mão esquerda, e Lily tinha quase certeza de que fosse o pomo de ouro.

Tiago acordou no dia seguinte, queixando-se muito de dor nas costelas. Madame Pomfrey teve que dar Esquelesce para Tiago, pois descobriu que o garoto havia quebrado duas ou três costelas.
Lily ainda não tinha saído da enfermaria pois havia quebrado o pulso e contundido o tornozelo. Estava preocupada porque o ano letivo terminava naquele dia e ela não teria como ir para casa.
- Madame Pomfrey, eu ficarei curada amanhã – Lily perguntou, certa hora para a enfermeira – Quer dizer, eu tenho que ir para casa, não?
- Oh, minha querida! Não deve se preocupar com isso agora – Pomfrey a olhava com pena – Não vai ficar curada até amanhã e com certeza vai ter que esperar o Sr. Potter para poder ir embora!
Três dias depois Lily estava muito melhor. Apenas alguns arranhões e torções aqui e ali, mas dava para fazer qualquer coisa que não exigisse muita força. Tiago havia melhorado um pouco, mas iria demorar para ficar curado.
- Madame Pomfrey, por que terei que esperar o Potter ficar curado para ir para a casa – Lily perguntou curiosa no quarto dia depois do encerramento do ano letivo.
- Querida, o professor Dumbledore pretende mandá-los para suas casas com uma chave de portal, e isso é bem difícil de se conseguir – a enfermeira explicou calmamente – E ele me disse que a senhorita tirou ótimas notas nos NIEM's para medibruxa. E sugeriu que você faça um pequeno "estágio" aqui comigo.
Lily sorriu. Era uma ótima idéia! Podia aperfeiçoar seus conhecimentos e aprender algumas coisas com Madame Pomfrey, que não era nenhuma iniciante no assunto. O único problema é que ela teria que cuidar de Tiago Potter!
Ela não reclamou de ter que ficar durante toda a noite acordada para cuidar dele. O importante era que ele não estava acordado e não ficava infernizando a vida dela.
Tiago acordou na madrugada do quinto dia e se queixava de dor em todo o corpo.
- Hei! O que você está fazendo aqui? – Tiago perguntou quando viu Lily sentada numa poltrona – E quanto tempo eu fiquei desacordado?
- Estou ajudando Madame Pomfrey - Lily respondeu com sono – E estou aqui porque temos que ir juntos para nossas casas... O ano acabou e teremos que voltar com uma chave de portal. E você está desacordado faz cinco dias.
Tiago soltou um palavrão de surpresa. Nunca havia se machucado tanto em sete anos. Ficou um pouco chateado porque Lily não o agradeceu. Mas achou que fosse por causa do sono dela e achou melhor não comentar nada. Ela estava sendo gentil em cuidar dele.

Amanheceu e Madame Pomfrey pediu para que Lily continuasse a cuidar de Tiago pois ela teria que cuidar de algumas poções de sono que estavam sendo feitas e não poderia ficar lá. Lily não reclamou, mas retorceu o rosto quando a enfermeira saiu da sala. Ela pegou a poção que estava separada para Tiago e foi dá-la ao doente.
- Ah, não! Essa é a pior de todas – Tiago fez uma careta de nojo e Lily riu – E é a que mais tenho que tomar!
- É isso ou morrer de dor – ela respondeu colocando a poção ainda fumegante no copo – Tem alguma dor falando nisso?
- Agora os dentes – ele disse levemente.
- Os dentes? – Lily perguntou surpresa... será que ele iria demorar mais ainda?
- Os dentes. É a única coisa que não dói no momento – Tiago respondeu gemendo um pouco ao se ajeitar. Lily foi ajuda-lo pegando em sua mão para dar apoio – A propósito, muito obrigado por ficar aqui.
- Bem, eu não ficaria se me dessem escolha. Mas saiba que faço de boa vontade – ela respondeu calmamente – E acima de tudo isso é um pagamento, embora não seja só isso que eu tenho que fazer...
Tiago a olhou com cara de desentendido. Lily revirou os olhos, mas ainda assim respondeu calmamente

- Você salvou minha vida, coió! – Ela riu – É o mínimo que eu tenho que fazer.
- Salvei sua vida porque não tinha certeza se você agüentaria uma paulada daquelas – Tiago respondeu fracamente e sussurrou de maneira audível – Mas também fiz de boa vontade!
- Legal! Agora você deve se ajeitar aí e tomar cuidado para não se machucar – Lily disse olhando com dó para Tiago – Deve ser horrível...
- Nem tanto... Sei que tem alguém muito talentosa cuidando de mim – Tiago a olhou com carinho, Lily ruborizou – E sei que você é muito delicada, pelo menos até agora não me machucou.
Silêncio. Lily levou a mão até a boca, percebeu que aquele corte era mais fundo do que ela imaginava que fosse. Foi até um espelhinho que estava na mesa de cabeceira de Tiago e começou a avaliar os machucados em seu rosto.
- Você não está se cuidando – Tiago assustou Lily, que estava sentada na cama dele – Deve cuidar desses cortes também... E falando nisso, como você se cortou tanto?
Lily olhou com simplicidade para Tiago e puxou uma corrente com uma lua crescente de prata, que estava com um pouco de sangue seco.
- Entendo... você não teve tempo nem de limpar o pingente – Tiago disse com pesar – Me sinto tão culpado... você não tem mais tempo para nada e tem que ficar me esperando...
- Largue de ser tonto! Já disse que eu faço de bom grado – Lily sorriu ao ver a cara de Tiago – e outra: é um bom começo para uma curandeira... Estou treinando o que sei... hei!
Tiago se sobressaltou quando Lily gritou. Ela se dirigiu a uma porta que ficava perto da sala de Madame Pomfrey e voltou de lá com um livro novo em folha.
- dá seu braço – Lily disse, e Tiago obedeceu – Espero que não doa...
- O que é que você vai fazer – Tiago perguntou assustado – Pelo amor de Deus, eu prezo muito o meu braço! Ele tem muitas utilidades e...
- Ora, cale a boca – Lily disse impaciente – Ande, tire logo o braço dessa tipóia e sinta...Remendartus
Tiago contorceu o rosto, mas logo em seguida fez uma cara de alívio e sorriu
- Lily, você é um gênio – Tiago a puxou para um abraço, ela foi mesmo relutante – Lily para presidente!
- Ora, foi só uma pequena parte da divida que eu tenho com você – Lily respondeu, ruborizando – e nem deu tanto trabalho assim... Foi só eu pensar um pouco!
- Nem sei como te agradecer – Tiago disse baixo, os olhos se tornando tristes momentaneamente – Se ao menos você... ah, não! De novo não!
- O que houve? – a garota percebeu que segurava as mãos de Tiago entre as suas e as soltou discretamente – Eu não entendo...
- Eu...Nem sei o que dizer, Lily – Tiago ruborizava pela primeira vez – Eu sinto que... Gosto muito de você Lily...
- Ah, Tiago... Eu também gosto muito de você, aprendi a gostar, quero dizer – Lily disse, um pouco nervosa. Sabia o que viria em seguida, e percebia que não se importava muito. Percebeu então, naquele momento que amava Tiago.
- Não como eu queria que você gostasse – Tiago foi claro, e falava tudo de uma vez. Tinha a impressão de que se parasse nunca mais ia abrir a boca – Lily, eu te amo. Te amo mais do que qualquer coisa que esteja pisando nesse mundo!
Lily ficou surpresa com a declaração de Tiago. Sabia que ele sentia qualquer coisa por ela, mas não imaginava que fosse um amor com uma força tão enorme e arrebatadora.
Por um instante os dois ficaram sem falar nada e quando Tiago abriu a boca para voltar a falar...

- Não. Eu não posso mais fugir – Lily estendeu a mão e pegou a mão de Tiago, que se ajeitava melhor na cama – Tiago, eu também te amo. Te amo desde sempre!!
- Lily, por que você... Por que você fugiu? Por que ficava brava toda vez que eu te procurava?
- Tiago, foi a única forma que eu arrumei de me distanciar. Eu não sabia o que sentia direito – Lily olhou bem dentro dos olhos de Tiago procurando coragem – Eu sabia que poderia me enganar, sabia que você poderia me usar. Se aproveitar de mim e me jogar no lixo como qualquer outra depois...
- Eu nunca faria isso com você, meu amor – Tiago se sentou de repente – Nunca, nunca mesmo!
- Tiago, pense comigo: Como eu poderia adivinhar? – Lily foi serena quando podia ter ficado enfezada como de costume – Era o que você fazia com todas as garotas, como eu podia adivinhar que comigo seria diferente? Eu não podia saber o que se passava na sua cabeça... Não sabia o que você queria... Não podia ler seus pensamentos e nem sabia que tinha a chave do seu coração. Eu não podia jogar um sentimento tão forte pela janela.
Tiago sorriu. Lembrando-se da sua (agora parecia estar tão distante) época de escola. Lily tinha toda a razão. Lagrimas brotaram nos olhos do moreno.
- Você está certa. Confesso que se você tivesse se jogado em meus braços na primeira vez, eu teria feito o que você temia. Mas você soube ser diferente, soube ser especial e soube ser exatamente o que eu queria – Tiago disse com suavidade – Eu estou cansado dessas futilidades e caprichos de garotas interesseiras. Lily, fique comigo. Eu preciso de você!
Lily não respondeu. Apenas assentiu com a cabeça. Faltaram palavras naquele momento. Tiago passou o braço pela cintura de Lily, puxando-a mais para perto. Lily apoiou-se na cama pois Tiago estava bastante machucado.
Foi o beijo mais estranho do mundo. Foi calmo e de tempos em tempos, um dos dois contorcia o rosto de dor, fosse na perna, no corte da boca ou num coração que aos poucos esquecia das feridas causadas pela solidão.

H:// Bem naum reparem mais gosto de criar poucos capitulos mais com bastante palavras cada um... Espero que tenham gostado!
Beijos! =*
Tchauzinhu! =D

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