Um di-lu-a em Hogwarts

Luna Lovegood acordou naquela belíssima manhã de Outubro e prontamente verificou, com o auxílio de seus óculos, se algum zonzóbulo estava por perto, bagunçando o cérebro de alguma de suas colegas. Vendo que estavam todas seguras, ela vestiu-se e desceu para a sala comunal, que a esta hora da manhã ainda se encontrava completamente deserta. Luna tinha essa mania de acordar mais cedo que os outros alunos da Corvinal, sua casa na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, para verificar a presença de zonzóbulos e lançar feitiços de proteção contra os narguilés. Ela tinha que fazer isso antes dos outros acordarem, pois era comum algumas pessoas caçoarem dela por isso.


Após proteger todo o salão comunal, Luna sentou-se próxima a lareira e ficou admirando aquele lugar, como fazia em todas as manhãs. A sala comunal era ampla e circular, muito bem arejada. As graciosas janelas em arcos davam uma beleza única às paredes assim como os reposteiros coloridos de azul e bronze que as rodeavam. Ela gostava de ficar olhando para as montanhas à tarde, a vista era linda e a fazia lembrar de seu pai, Xenofílio Lovegood. Haviam ainda estrelas pintadas no teto abobadado e no carpete azul marinho. Entretanto, o que mais chamava a atenção ali era a estátua, sempre imponente, de Rowena Revenclaw, com seu belíssimo diadema perdido, uma das fundadoras de Hogwarts e a autora da frase: "O espírito sem limites é o maior tesouro do homem".


Passados alguns minutos (uns 47 pra ser exato) os demais alunos começaram a acordar. Nenhum deles, porém, pareceu notar a presença de Luna, o que também já era bem comum na verdade. Apenas alguns a cumprimentavam, geralmente Cho Chang e sua amiga Marieta Edgecombe, a última apenas por se sentir forçada a fazê-lo, e um garoto chamado Miguel Corner, quando não está distraído demais pensando em alguma outra coisa. Sempre que ele passava Luna se perguntava se um dia poderia fazer uma visita ao dormitório dos garotos, pois lá deveria estar repleto de zonzóbulos da pior (ou melhor?) espécie. Seus pensamentos eram, no entanto, interrompidos por algo além da compreensão humana: vontade de comer pudim. Nessa hora, ela descia para o salão principal para tomar o café da manhã.


Após o café, ela seguiu para a primeira aula do dia, Feitiços. A aula era em conjunto com os alunos da Grifinória, o que deixava Luna absurdamente feliz, pois ela adorava conversar sobre ameixas dirigíveis e erupentes com eles, em especial com Gina Weasley, a única que passava mais de dois minutos falando com ela.  A aula de feitiços era sempre muito divertida, porém não havia um dia em que ela não se lembrasse de sua mãe enquanto praticava os feitiços ensinados pelo professor Flitwick. Afinal ela morrera devido a um feitiço que deu errado. Ela ficava muito triste por isso às vezes, ainda mais por ela presenciara tal fato. Entretanto, nos momentos tristes, ela sempre pensava em seu pai e em como eles eram felizes. Após o término da aula, Luna olhou bem para sua varinha e decidiu fazer uma visitinha aos testrálios naquela tarde.


A segunda aula do dia era Herbologia, com a Sonserina. Luna descia para as estufas quando, de repente, pisou em uma gosma muito estranha, que não estava ali minutos atrás. Ela pode ver e ouvir as risadas dos garotos da Sonserina (não que eles tenham se escondido) que corriam em direção as estufas. Ela, calmamente, limpou-se com o auxílio da sua varinha, e seguiu saltitante e alegre para a aula. Infelizmente aquilo era comum e ela já estava mais que acostumada. Apesar das dificuldades que teve na aula (aparentemente a Hubre dela era a única que só gritava palavrões, provavelmente enfeitiçada por algum aluno que queria zombar dela), Luna saiu-se bem, arrancando elogios da Professora Sprout e ondas de ódio dos alunos da Sonserina.


Após o almoço, Luna seguiu para a Torre Oeste, passou direto pela escada em espiral que a levaria a entrada do Salão Comunal e se dirigiu a uma sala abandonada, onde costumava ficar conversando por horas com a Dama Cinzenta, o fantasma da Corvinal. Luna já ouvira histórias assombrosas e maravilhosas sobre Hogwarts, nos tempos em que Helena estudara ou depois, quando ela já era o fantasma da Casa a que pertenceu enquanto viva. O fantasma, no entanto, nunca tocou no assunto do diadema perdido e Luna também não insistia. Em geral as conversas eram mais longas, mas nesse dia específico ela foi interrompida pela chegada de Pirraça, de quem Luna gostava muito, embora ele adorasse implicar com ela. Dessa vez ele roubou os sapatos dela e saiu gritando “Eu roubei os sapatos da Di-lua!” pelos corredores da escola. Isso, curiosamente, a lembrou que tinha que se apressar para a aula de poções.


O caminho até as masmorras era longo, e Luna foi saltitando alegremente até lá, despertando risadinhas por onde passasse. Educada, ela cumprimentava a todos que via: pessoas, fantasmas e quadros. Estes dois últimos a adoravam (exceto Pirraça, claro) e sempre faziam cara feia para os garotos que zombavam dela. Chegando à aula, Luna cumprimentou alegremente o Professor Snape e foi se sentar. Ele, no entanto, a questionou sobre o fato de estar descalça e retirou cinco pontos da Corvinal pela desatenção da garota. A aula foi bem complicada, como sempre. A poção que teriam que preparar era extremamente complexa. Sete páginas de instruções e 42 ingredientes diferentes que deveriam ser adicionados em um tempo e em uma temperatura exatas. Ao fim da aula, a poção de Luna era até satisfatória, se comparada as dos demais alunos da Corvinal e da Lufa-Lufa que estavam lá. É claro que o professor Snape não perdeu a oportunidade de retirar mais cinco pontos de cada uma das casas por sua incompetência no preparo de uma poção tão simples.


Luna fez o caminho de volta até a Torre Oeste, mas dessa vez subiu a escada em espiral, encontrando ao final uma porta com uma aldrava de bronze com a forma de uma águia. Ela bateu na aldrava e aguardou até que a pergunta fosse feita. Para aqueles que não sabem, vou explicar: para entrar no salão comunal, o aluno precisa responder uma pergunta. Se errar, ele tem que aguardar até que outro aluno acerte. Dessa forma o aprendizado é estimulado. A pergunta foi:


“Qual é o bicho que tem os olhos na nuca e caminha veloz com os pés voltados para frente?”


Luna pensou por alguns minutos e então respondeu:“O homem. Pois o homem corre velozmente em direção ao futuro, mas seus olhos, sua atenção só conhece o passado.”


“Bem pensado” – respondeu a aldrava – “Pode entrar.”


A porta de madeira envelhecida se abriu revelando um salão comunal lotado. Luna se dirigiu ao dormitório para se trocar. Percebeu que nenhum de seus sapatos se encontrava lá, mas não se importou com isso. A visita aos testrálios ainda era seu principal objetivo. Desceu novamente ao salão comunal e saiu da mesma forma que entrou, sem ser notada. Foi direto para a Floresta, para a clareira onde costumavam ficar aqueles animais fascinantes que só ela, e agora Harry Potter, fato que ela descobrira na primeira noite no castelo podiam ver. Ela gostava de ficar olhando para eles. Criaturas incompreendidas. Ela sempre lembrava de sua mãe enquanto os observava. Aquela tarde, porém não seria como as tantas outras que já tinha passado ali. Dessa vez ela tinha companhia.


“Olá Harry Potter.” 

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