A Travessia do Rei



 | Do Nosso Jeito |




Capítulo Oito - A Travessia do Rei


 


"Oh morte, tu que és tão forte


Que matas o gato, o rato e o homem


Vista-se com a tua mais bela roupa


Quando vieres me buscar"




"O último inimigo que há de ser aniquilado é a morte".


 


 


 


 


 Ele abriu os olhos com cuidado.


A claridade o cegou, fazendo as pupilas muito azuis se dilatarem. Ele respirou profundamente, e se obrigou a levantar. Tudo ao seu redor era imaculadamente branco e iluminado, sendo a única mudança de cor em leves tons cinza.


Quando conseguiu colocar-se de pé, notou que estava num local que lembrava vagamente a Estação King’s Cross. Mas aquela que ele encontrou, parecia muito mais limpa e vazia, sem trens, sem a multidão de crianças bruxas,carregando enormes malões ecorujas presas em gaiolas piando umas para as outras, ou os gatos que enrolavam suas caudas em torno dos pés dos bruxinhos. Não tinha o cheiro distinto que a plataforma 9 ¾ sempre tinha – um que inspirava os espíritos dos novos bruxos que olham para frente a cada verão no começo das aulas. Ou o grande relógio, que exatamente às 11 horas, apitava, anunciando a partida do expresso de Hogwarts seis vezes por ano.


Os olhos azuis – agora acostumados à claridade – detiveram-se em duas pessoas, que estavam sentadas em um banco. Ele se aproximou, receoso, com a leve impressão de que conhecia o homem de cabelos rebeldes e a mulher de rosto bondoso, que mantinham mãos entrelaçadas e, apesar de parecer que estiveram esperando por bastante tempo, pareciam felizes.


–Vocês são os pais de Harry? – Perguntou, sentindo-se inesperadamente tímido.


Os dois concordaram com um pequeno aceno na cabeça.


–O que está acontecendo? – O rapaz perguntou. – Eu estou morto? Eu acho que estou morto. Quer dizer, bem... Onde estamos?


Lily deu um sorriso maternal.


–King’s Cross. Um trem virá em alguns instantes. Você pode embarcar, se quiser, e ele irá levá-lo.


 


Ron se aproximou um pouco mais. Precisava examinar o rosto dos dois bruxos atentamente, capturar cada detalhe daqueles que ele só conhecera por fotos e relatos apaixonados de Sirius ou Lupin. Foi a única vez que desejou voltar, apenas para contar a Harry o quanto ele e James se pareciam, ou como o desenho dos olhos de Lily eram exatamente iguais aos dele, a não ser pelas grossas lentes dos óculos.


Ele sorriu francamente.


–Por que vocês estão aqui sentados? Irão pegar o trem também?


James passou o braço pelos ombros da esposa, trazendo-a um pouco mais para perto e confortando-a em seus braços.


–Estamos esperando – ele sorriu. – Por alguém.


Ron soltou uma exclamação de compreensão.


–Posso fazer uma pergunta?


–Claro, querido – respondeu Lily, parecendo prestes a abraçar o rapaz.


–Bem... – Ron balançou o corpo, trocando o peso de um pé para o outro. – Meu irmão passou por aqui?


–Você diz um ruivo duas vezes mais alto do que eu e cheio de sardas? – Perguntou James, em tom divertido.


–Isso – respondeu Ron, esperançoso.


–Oh, sim, ele passou por aqui, sim. Sentou-se ao meu lado, e disse: “James, se eu lhe disser que seu filho cresceu magricela e desengonçado com as mulheres, e que seus dois melhores amigos são um ruivo e uma nerd, o que você diria?”.


Ron riu, lembrando-se do jeito brincalhão de Fred.


–E eu respondi: “Bem, considerando que minha amada esposa é ruiva e nerd, acho que está tudo bem”.


James parecia muito contente em ter passado algum tempo com alguém com o senso de humor parecido com o seu, o que deixou Ron mais à vontade.


 


–E se... – ia falar, mas deteve-se por um momento. – E se eu quiser esperar por alguém, eu poderia? E se eu não embarcar no trem? Posso sentar aqui e esperar, também?


Os olhos de Lily brilharam de forma intensa, e James segurou um sorriso de compreensão.


–É claro – ela sussurrou. – Se você tem alguém que vale a pena esperar.


Ron sentou-se ao lado da mulher, e sentiu o coração aquecer. Lily afagou sua mão num gesto caloroso.


–Seu irmão está esperando, também – confidenciou James. – Mas em outro lugar. Disse que não iria a lugar nenhum sem seu parceiro de crime.


–Eu diria o mesmo sobre quem estou esperando – falou Ron. – Não seria capaz de dar um passo, sem eles.


Lily roçou o dedo indicador pelas faces do rosto, amparando algumas lágrimas emocionadas quem insistiam em cair de seus olhos verdes.


–Seremos eternamente gratos pelo que você fez pelo nosso filho, Ron – ela disse, e o ruivo sentiu como os conhecesse durante a vida inteira.


–Mas você sabe que não precisava ter se sacrificado assim – falou James, em tom agradecido e ao mesmo tempo duro.


–Tenho certeza que Harry faria o mesmo por mim, Sr. Potter – Ron falou, sem se arrepender do que fizera.


–Sim – respondeu James, sem titubear. – Ele faria.


Nesse momento, um apito soou, e Ron ouviu o som familiar do ferro em atrito com os trilhos do chão quando uma locomotiva vermelha parou na frente deles, soltando fumaça branca. Pelas janelas transparentes, Ron conseguiu ver várias pessoas dentro do trem, sentados, suspirando, esperando.


–Ainda sequelas da Guerra – explicou James, quando notou o olhar curioso do ruivo.


–Muitas pessoas desistem de aguardar – completou Lily. – Ou, simplesmente, não tem ninguém que vale a pena esperar – acrescentou, em tom triste.


Ron se lembrou de quando conheceu Harry e de quando passavam horas jogando Xadrez de Bruxo ou Snap Explosivo na Sala Comunal. Lembrou-se da vez que Hermione lhe deu o primeiro beijo na bochecha, em seu jogo de estreia como goleiro da Grifinória, e de como seu rosto ficavam corado no inverno, ou quando ela bebia Cerveja Amanteigada demais.


Os silvos dos pistões encheram a plataforma quando o trem começou a se mover, rangendo para fora da estação, levando consigo os bruxos e bruxas que padeceram frente à Guerra de Voldemort. Guerra que, graças a Ron, nunca mais voltaria a acontecer.


Sentado naquele branco, ele se sentiu levemente satisfeito. Não se importava se era meses, anos ou décadas que ele tinha que esperar.


Ele iria esperar.


"Oh sim". , concluiu. "Por eles, definitivamente, valia a pena esperar."


 


 


N/A:


 


Trecho no início do capítulo = Canto Para Minha Morte, Raul Seixas


Trecho 2 = Lápide Dos Potter, J.K Rowling



“Oh morte, tu que és tão forte,
Que matas o gato, o rato e o homem.
Vista-se com a tua mais bela roupa


Quando vieres me buscar”.


 


 


“O último inimigo que há de ser aniquilado é a morte”.


 


 


Ele abriu os olhos com cuidado.


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Comentários (14)

  • PamyPotter

    Muito lindo o capítulo! Concordo com a sua N/A, em gênero, número e grau. Eu chorei um pouquinho, abafa! Mas vocÊ tem um jeitinho para tocar as pessoas com o jeito que você escreve, sabe? Essa parada na estação deixa claro que a amizade deles é maior que tudo. O Rony vai 'ver' o que acontece lá em baixo? E ele vai ficar bravo pelo Harry ficar com a Mione? Vai dar pena... Mas, resumindo, AMEIIIIII! E posta assim que puder!

    2011-11-08
  • Thomas Cale

    Curti muito o capitulo extra e acho que faz total sentido Acho muito lindo o fato de Rony esperar pelos amigos, mas afinal, será que ele não ficaria decepcionado com o fato de Harry e Hermione estarem juntos? Tipo, eu adoro o Rony, não ia querer que ele fique triste.  BJO

    2011-11-08
  • Leticia F Malfoy

    Estou chorando. E incrivel como voce sempre me faz chorar. Voce escreve maravilhosamente bem. Céus! Eu me encanto cada vez mais, a cada atualização eu fico louca - e isso e porque eu não gostava da ship H&Hr -, cara, mas isso... Isso não e justo, não agüento emoções fortes como essa. Lindo capitulo. Maravilhoso. 

    2011-11-08
  • leleu_mione

    oiiiiiiiiiii, que lindo, meus olhos ficaram com lágrimas lendo o encontro do roni e dos pais de harry. Obrigada... o capítulo foi pequeno mas emocionante e eu acho que o sacrifício do rony é o que vai salvar ou o harry ou a mione, será que estou indo pelo caminho certo? Porque tanto amor assim não pode passar em branco, não com o rony, que lindo!!!!!!!!!!Amei, esperando sempre por mais, beijos. 

    2011-11-08
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