Hogwarts...



O trem deu o seu assovio e começou a se locomover.



            - Tenham cuidado! – gritou alguma mãe do lado de fora da janela – Não façam muita bagunça!



            Sarah sentiu uma excitação enorme; estava indo para Hogwarts! Seu estômago deu uma nova guinada.



            - Como será lá? – perguntou Sarah aos dois, acariciando Moon.



            - Não sei como é porque nunca vi também... Mas James, mamãe e papai dizem que é um castelo incrível. Esconde vários segredos. Acho que vou gostar. E você também, que gosta de encrenca – disse Lily.



Sarah lhe mostrou a língua e riu.



            - Em qual casa você acha que vai ficar? – indagou Tom.



            - Não sei. Mas quase toda a família saiu para Gryffindor. Victoire, Roxanne e Lucy estão em Ravenclaw e Dominique é a única que saiu em Hufflepuff, mas vovó diz que elas sempre foram da pá virada.



            A viagem continuou com risadas e histórias de todo tipo. As de Lily eram as mais fascinantes, mesmo que as de Sarah fossem as mais mirabolantes, com sua propensão para problemas.



            - O que aconteceu com seus pais Sarah? – perguntou Lily, descontraída, depois de algumas histórias do orfanato da Sra. Newell.



            - Não sei. – respondeu simplesmente.



            - Como assim não sabe? Ninguém lhe contou? – admirou-se ela.



            - Não... Ao que parece, ninguém realmente sabe. Foi o que Teddy disse. E eu ouvi, por acaso, uma conversa do seu pai com o seu tio sobre isso. Disseram que uma pessoa entrou na casa, limpou qualquer coisa incriminadora que pudesse existir e me pegou. Até achavam que eu estava morta. Isso porque não encontraram os corpos dos meus pais, só de um bruxo chamado Roger Pearson, do qual nunca ouvi falar.



            - Puxa... Não sei se você sabe, mas todo mundo já ouviu falar dessa história. Na época, os jornais publicaram o mistério que foi você desaparecer assim. Acho que só quem trabalhava no Ministério ficou sabendo que você estava viva.



- Como assim? – indagou Sarah, muito interessada.



- Bruxos menores de idade têm um rastreador. Sabe, para detectar indícios de magia. Ele começa a funcionar depois da primeira vez que mostramos ter poderes. Isso normalmente acontece aos sete anos...



- Humm... – ela pensou no que conseguia fazer acontecer desde muito cedo, mas não disse nada. Não queria mais coisas para se sentir diferente.



- Mas sinto muito por você, Sarah. Eu não consigo me imaginar sem papai e mamãe. – continuou a amiga.



            - Isso é porque você os tem desde sempre. Eu daria tudo para me ver livre da minha casa, que foi um dos motivos que me fez aceitar Hogwarts tão rapidamente. – falou Sarah em voz baixa. Lily apenas anuiu com a cabeça.



            - Pois eu gostei de você ter crescido na casa da Sra. Newell. Se não tivesse, nunca seríamos tão amigos – falou Tom. Sarah o olhou com carinho e os dois fizeram o toque de mãos que tinham inventado, algo com o bater de mãos e cotovelos.



            Depois de um tempo de mais conversa e brincadeira, resolveram colocar os uniformes. Pouco tempo depois, a senhora do carrinho de doces bateu à porta. Assim que olhou para tudo aquilo, o queixo de Sarah caiu. Bem na sua frente estavam todos os tipos de doces que ela só podia imaginar. Feijõezinhos de todos os sabores, balas de goma, chicles de bola, sapos de chocolate, tortinhas de abóbora, bolos de caldeirão, varinhas de alcaçus, caneta de açúcar, e várias outras coisas bizarras. Lily ria de seu assombro.



            Aproveitando a primeira vez que tinha muito dinheiro e podia gastar com o que quisesse, ela e os amigos encheram a cabine com um pouco de tudo e se empanturraram durante toda a tarde, Sarah sentindo-se tão cheia que seu estômago poderia explodir a qualquer momento.



            À tardezinha, James e sua turma apareceram na cabine para conversar um pouco. Eram todos garotos de Gryffindor do segundo ano – Fred, James, um magro e negro, outro alto e loiro, e por último um de cabelo castanho que Sarah achou bonito. Fizeram todos rir.



            Enquanto se divertiam, um menino muito nervoso apareceu à porta. Ele era todo torto e desajeitado em suas vestes curtas demais. Tinha o rosto sardento, cabelo claro, olhos miúdos e seus dentes da frente eram bem salientes. Ele usava uniforme com detalhes em cor amarela.



            - Alô – disse ele sem jeito – eu sou Bob Greengrass – ele olhava nervosamente para Fred – estou no segundo ano, o mesmo que o seu, está bem? – acrescentou rapidamente – algum de vocês quer comprar uma rifa? É para ganhar a minha barata! Só tenho que encontra-la a tempo, eu acho – acrescentou olhando ao redor.



            Sarah olhou para o garoto, enojada. Tudo bem que ela já havia matado algumas baratas a chineladas, mas não queria dizer que não sentia nojo delas. A expressão de horror no rosto de Lily denunciava sentimentos piores. Talvez Bob Greengrass tenha percebido, porque sorriu e acrescentou:



            - Ah! Não se preocupem! Ela é muito linda! Linda como você! – exclamou abrindo um largo sorriso para Sarah.



            Ela teve vontade de enfiar a cara em um buraco. Todos os garotos da turma de James começaram a rir e o tal Bob Greengrass saiu, mais vermelho que um tomate. “Ótimo!”, pensou Sarah quando todos no vagão caíram na gargalhada, “nem bem cheguei na escola e já sou motivo de gozação”. Se bem que eles podiam estar rindo do garoto, que saiu tão rápido que tropeçou nos próprios pés e quase caiu.



            - Acho que já conseguiu um admirador, Sarah! – exclamou James – Pena que não seja um normal. Sabe... – continuou observando-a sarcasticamente – Talvez você lembre uma baratinha.



            Ele e os colegas saíram, ainda rindo, e desapareceram no corredor.



            Ela suspirou fundo e olhou pela janela, tentando ignorar os sorrisinhos dos amigos.



 



            Quando a noite chegou e estavam cansados de esperar pela chegada à estação, o trem começou a reduzir a velocidade. Uma garota gorda e baixinha com um grande distintivo de um “M” amarelo sobre um fundo preto entrou na cabine deles.



- Olá. Sou Alissa Noksle. Monitora de Hufflepuff do sétimo ano. Os alunos do primeiro ano devem acompanhar o guarda-caça Hagrid para a travessia do lago até o castelo. Depois sigam as ordens da professora Minerva McGonagall. – recitou maquinalmente – Sejam bem-vindos! – acrescentou num sorriso mais do que forçado e saiu da cabine revirando os olhos.



- Obrigada! – exclamou Tom com um grande sorriso. As duas olharam-no, o que o deixou muito vermelho – Hã... só estou animado – e riu sem graça.



Assim que não havia mais sinal de deslocamento do trem, ouviram o zum-zum-zum de vozes no corredor, o que significava que já estavam desembarcando. Os três precipitaram-se para segui-los. Já na estação, depararam com uma aglomeração de alunos que falavam sem parar. Desviaram-se deles e foram procurar o tal Hagrid, Lily à frente depois de afirmar que o conhecia muito bem.



Na ponta da pequena estação, Sarah se sobressaltou, havia um homem enorme. Tinha pelo menos a altura de dois homens e a largura de três. Possuía um emaranhado de barba grisalha no rosto e usava roupas feitas de retalhos que pareciam ter sido remendadas por ele mesmo. Ele gritava:



            - Alunos do primeiro ano aqui! Os alunos do primeiro ano que me sigam! Primeiro ano aqui!



            Sarah, Lily e Tom correram até lá e Lily o abraçou, ou uma parte dele, bem forte. Sarah achou mais do que legal a amiga conhecer um homem como aquele.



- Então finalmente é a sua vez, hã? – ele tinha uma voz grossa que vinha de dentro do emaranhado da barba negra.



- Não aguentava mais esperar – riu-se a ruiva.



Hagrid soltou uma risada quente e deu algumas palminhas no ombro da garota, cujos joelhos dobraram sob sua força. Ele manteve Lily ao seu lado e mirou os outros dois lá de cima.



            - Alô! – cumprimentou o gigante, sorridente.



            - Olá – disse Sarah e Tom. Ele e Lily foram observar o lago, negro àquela hora da noite, logo atrás deles, deixando-a na companhia do guarda-caças. Algo se mexeu dentro da água e Lily soltou um gritinho.



            - Sou Rubeus Hagrid, o guardião das chaves de Hogwarts. – apresentou-se o gigante, trazendo a atenção da garota de volta a ele.



            - Sou Sarah, Sarah Schaffor. – disse com um sorriso.



            - Finalmente! Sarah Schaffor! – exclamou – Tem uma pessoa que ficará muito feliz de saber que você afinal veio para Hogwarts!



            - É mesmo? Quem? – perguntou, interessada.



            - Hã... Ninguém interessante. – Hagrid ficou ligeiramente incomodado, parecia ter deixado escapar algo que não devia. – Venham! Todos os alunos do primeiro ano comigo! – tornou ele a gritar – Sigam-me!



            Ele os levou para a margem do lago onde descansavam dezenas de barquinhos.



            - Muito bem, subam de pares nos barcos para que possamos chegar até o castelo – explicou.



            Sarah e Lily foram até um dos barquinhos à margem e se sentaram confortavelmente. Tom tinha ido para o outro lado e fez uma careta ao entrar no barco com um garoto que Sarah reconheceu – era o de óculos e aparelho, o metido do Diagon Alley.



            Hagrid estava à frente em um barco quatro vezes maior que os outros. Quando já estavam prontos, os barquinhos começaram a deslizar pela água negra que, refletindo as estrelas, dava a impressão de que estavam flutuando pelo céu.



            Depois de um tempo, Sarah o viu. Um imenso castelo de pedra se esquia no topo de uma encosta, luzes acesas em milhares de janelas, torrinhas e torres que apareciam e desapareciam em seu campo de visão. Mal podia acreditar. Abaixo dele, no caminho até o lago, havia um magnífico jardim. Estava impressionada com tamanha imponência.



            Quando os barcos encostaram à margem que se ligava ao castelo, os alunos saltaram, apressados e ansiosos para entrar. Com Hagrid sempre à frente, subiram pela encosta, passando pelos jardins, e subiram uma escada de pedra na entrada. Pararam diante de uma enorme porta de carvalho e aguardaram.



As portas se abriram de repente, revelando uma bruxa mais velha e de aspecto severo. Usava roupas lustrosas cor de vinho, os cabelos presos em um coque apertado.



            - Alunos do primeiro ano, sejam bem-vindos a Hogwarts!


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