Estação de King's Cross



Enquanto andavam pela loja, Lily procurava artigos para pregar peças em James. Segundo ela, o irmão não perdia uma oportunidade de assustá-la ou fazê-la de idiota e sempre merecia um troco ou dois. Olharam por entre as estantes e Sarah se empenhou em ajuda-la, mas havia uma coisa em que estivera pensando desde que ouvira dela, então indagou:



- Lily, esse tal de... Voldemort. Fale sobre ele.



- O que quer saber?



- Quem foi ele?



- Um bruxo das Trevas. Mas porque isso vem ao caso agora?



- Foi só... curiosidade.



A amiga ficou quieta por um momento. Parecia refletir alguma coisa. Talvez algo sobre Voldemort? Pegou os dois pelo pulso e os arrastou até um canto mais escondido da loja.



- Quero contar uma historia pra vocês dois – disse finalmente – É sobre Voldemort. Ele e meu pai.



- Seu pai? – questionou Tom, sem entender.



- Sim. Foi papai quem derrotou o bruxo que até os grandes magos temiam. É por isso e outras coisas que ele é tão famoso.



- Como? – indagou Sarah, muito interessada.



- Não sei. Nunca nos contam a história inteira. Papai e mamãe vivem dizendo que somos muito novos para compreender. Só sei a história por cima.



            - Mas ele conseguiu sozinho?



            - Em parte. Foi ele quem derrotou, mas teve ajuda do tio Ron e da tia Hermione.



            - Mas como...?



            - Foi assim.... – e Lily iniciou um monólogo sobre os avós dela e como o pai ficara famoso mesmo antes de andar, sobre os tempos depois que o Lord das Trevas se reergueu, os tempos horríveis para ser nascido-trouxa ou se opor aos Comensais e como tudo aquilo terminou em uma batalha que quase destruiu toda Hogwarts.



            - Puxa vida! – comentou Tom quando ela terminou.



            - Pois é.... Mas graças a Deus isso já acabou há anos. Victoire recebeu esse nome em homenagem à vitória na batalha. Mas sabe, acho que isso que nos contam tem muitos furos, é difícil de entender. De vez em quando eu e James ficamos imaginando o que aconteceu realmente.



- Eu também tenho uma pergunta – falou Tom.



- Qual?



- Porque Lupin é da família Weasley?



Ela e Sarah quase riram da pergunta. Ele estava em um raciocínio totalmente diferente da conversa.



- Ele é afilhado do papai. Janta lá em casa sempre que pode, o que acaba sendo quase a semana toda.



- E porque não come em casa?



- Ele come, mas gosta de ficar com a gente. A vovó Andromeda nem faz mais comida nos dias que ele sai.



- Sua avó não se chama Molly?



- Sim... – tornou ela, impaciente – A vovó Andromeda é avó só do Ted, mas a chamamos assim. Ele mora com ela desde bebê. Os pais dele morreram na Batalha de Hogwarts.



- Puxa! – exclamou, pesaroso. Sarah se sentiu triste por ele, mas se consolou com o fato dele ter a família Potter e os Weasley com parte em sua criação. Foi muito mais do que ela teve.



- Uma dúvida também – disse ela – Como Ted muda a cor do cabelo, o rosto ou qualquer coisa?



- Ainda bem que perguntou, quase achei que não estivessem curiosos. Ele é um Metamorphmagus, alguém que pode se metamorfosear no que quiser, sem precisar de feitiço. A mãe dele, Tonks, também era uma. Acho que deve ser algo hereditário ou sei lá, mas não tenho certeza porque nenhum dos pais dela eram. Metamorphmagus são realmente raros, você vê.



- E aí, calourinhos? – disse alguém atrás de Sarah. Ao se virar, deparou com James, que estava sozinho e não com um amigo, como dissera.



- Não ia se encontrar com David? – quis saber Lily.



- Não. Resolvi vir atrás da minha irmã mais querida. A vovó está mandando todo mundo de volta para o Leaky Cauldron para arrumar as coisas de amanhã. Sabe como foi difícil achar você? – ele soprou teatralmente passando a mão pela testa como se estivesse suada. Sarah riu intimamente.



Lily suspirou de forma audível.



- Ok, vamos então.



Pagaram pelo que tinham escolhido (Sarah carregando alegremente uma bazuca de bomba de bosta) e foram com James.



Chegaram ao Leaky Cauldron e subiram direto para o quarto para fazer as malas. Sarah tinha comprado algumas roupas de bruxo, como capas, botas e alguns vestidos bem bonitos. Ia levando tudo para a escola com as vestes de trouxa, mais o material e outros pertences.



Lily lhe apresentara o malão que os alunos levavam para a escola, o que continha um Feitiço de Expansão que fazia o interior ser muito maior que sua aparência levava a crer. Sarah comprou um para si, achando-se muito esperta.



Enquanto organizava tudo, um frio na barriga foi crescendo ao imaginar as coisas que poderia ver e fazer a partiu daquele momento, naquela sua nova realidade. Tom também parecia não caber em si, quase dando pulinhos de ansiedade. Apenas Lily estava mais tranquila, ou aparentava estar.



Naquela noite Sarah demorou a pegar no sono, sua cabeça rodando com tudo o que lhe tinha acontecido até então. Depois de rolar muito e derrubar os cobertores da cama, o sono chegou.



 



Parecia que dormira por apenas dois minutos quando a voz da Sra. Weasley chegou para acordá-los. Eles se apressaram para ficar prontos a tempo e bufaram escada abaixo carregando toda a bagagem.



Estavam todos no bar quando desceram. Sarah pensou que precisariam de uma chamada para contar todos, mas a Sra. Weasley se virava muito bem enquanto verificava alegremente os netos, dos mais velhos para os mais novos. Uma garota de rosto arredondado, cabelos ruivos ondulados e olhos verdes conversava freneticamente com Lucy. Sarah não a tinha visto ainda, mas Lily a apresentou como Molly, irmã de Lucy e filha de Percy (outro tio, usando óculos e com cara de poucos amigos) e Audrey (uma mulher de cabelo escuro e ar eficiente). Os adultos conversavam seriamente a um canto. Só não estavam ali as famílias de Bill e George.



            Sarah se pôs a pensar no embarque e seu estômago recomeçou a borboletear.



            - Ok, – exclamou a Sra. Weasley - só estão faltando Sarah e Tom aqui na fila, onde estão os dois?        



            - Estamos aqui, Sra. Weasley – apressou-se Tom a dizer.



            - Ótimo então. – interviu o Sr. Weasley – Vamos logo porque já estamos atrasados. Precisamos de tempo para levar a família toda para a estação. – e então alguns desapareceram no momento em que ele terminou de falar (aquilo era “desaparatar” e “aparatar”, como Sarah acabara aprendendo) e ficou outra metade, que provavelmente os acompanhariam.



            Saíram então do estabelecimento e, estacionados na rua, estavam exatamente cinco carros verde-escuros, mas mesmo que fossem em exagero, não daria para levar todos até a estação.



            Sarah, Lily, Ginny, Tom, James e a Sra. Weasley foram selecionados para ir com o primeiro carro. Sarah já abrira a boca para dizer que não caberiam todos ali, mas se calou ao pôr a cabeça para dentro. O interior dele era enorme, com espaço para o dobro de pessoas que agora se sentavam confortavelmente em seus assentos. A garota riu para si mesma. Adorava mágica.



            Percorreram com rapidez – não saberia dizer como – as ruas movimentadas de Londres. Uns vinte minutos depois já estavam na estação e ali se encontrava o primeiro grupo, que tinha desaparatado. Sarah imaginou que já virara rotina essa ida da família toda à estação, tal a organização. Desembarcaram do primeiro carro e, à medida que os outros estacionavam, a turma aumentava. Então, mais uma vez, a Sra. Weasley foi pôr ordem na casa.



            - Ok. Vamos fazer de três em três. Percy, Lucy e Audrey, vocês vão primeiro.



            Eles se encostaram discretamente na parede entre as plataformas nove e dez e sumiram por ela. Sarah engasgou e esfregou os olhos. Então Teddy quisera dizer para entrarem pela parede literalmente.



- Nós temos que ir em pequenos grupos para não atrair a atenção dos Muggles – sussurrou Lily. Sarah assentiu, engolindo em seco.



            - Ginny, Albus e James. – e estes também atravessaram a barreira sem que os Muggles reparassem.



            - Harry, Lily e Sarah.



            Ela foi com o bruxo, levando sua enorme bagagem. Sarah achava difícil admitir, mas seu coração batia muito forte em receio. Apertando Moon talvez um pouco forte demais, ela se recostou com os outros dois na parede entre as plataformas nove e dez e ficaram ali, fingindo conversar. A única coisa em que conseguia pensar era quebrar o nariz no que parecia ser um tijolo muito sólido e parecer uma idiota na frente de toda aquela gente. Lily desapareceu. Ela respirou fundo, sentiu um leve empurrãozinho do Sr. Potter e foi em direção à parede.



Num piscar de olhos, estava em um lugar diferente, coberto pela fumaça de um trem vermelho de aparência antiga parado ali, tomando conta de uma estação completamente nova. Uma placa acima tinha os dizeres “Plataforma nove três quartos”.



Todo seu nervosismo pareceu evaporar junto com a fumaça do trem e Sarah pôde respirar normalmente, se enchendo de ansiedade e expectativa.



            O lugar estava apinhado de bruxos e bruxas conversando com crianças e adolescentes, todos com roupas bruxas estranhamente mescladas com a dos Muggles. Vários pios de corujas ecoavam das gaiolas. Conversas e recomendações de última hora dos pais chegavam até o ouvido dela. Estudantes embarcavam no trem e acenavam para os parentes.



            Em poucos minutos estavam todos do outro lado da estação. Tom foi ao encontro das garotas, também maravilhado com o que via. Distraído e com olhar abobado, deu um encontrão em um garoto próximo, fazendo-o se estatelar no chão.



            - Que acha que está fazendo hein? – resmungou ele, aborrecido, esfregando o joelho ralado. Lily e Sarah correram para ajudá-lo a se levantar, ambas com ar de riso.



            - Desculpe – disse Tom apressado – não te vi na frente.



- Tanto faz – resmungou o outro e se afastou, o cabelo escuro esvoaçando dos lados com o movimento.



- Este lugar é incrível! – exclamou Sarah – Você sempre vem? – perguntou a Lily.



            - Desde que James começou a estudar – explicou ela – Ele não tinha esse ar descontraído e quase zombador no ano passado – acrescentou olhando o irmão, que estava mais à frente – Estava muito nervoso. Anda dizendo que pra entrar para uma casa você tem que fazer testes. Tipo, Gryffindor precisa de coragem, então ele fala que enfrentou um dragão para entrar para a casa.



            - Um dragão? – Tom se assustou.



            - Não ligue para metade do que ele diz, está sempre fazendo piadinhas, desde pequeno. Mas agora o único que cai nelas é Albus.



            Lily conduziu-os até uma cabine, onde colocaram os malões e mochilas no bagageiro e deixaram Moon e Ed, a coruja de Lily, no banco para poderem se despedir de todos.



            Sarah se acomodou com os amigos e deu um último adeus para os Weasley na plataforma, preenchida pelo sentimento de gratidão que tinha por toda a família.


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