Correio-Coruja



...


- Fique aqui! – Harry disse levantando-se em um salto e correndo para a barraca com a varinha erguida.


Rony também se ergueu o mais depressa que pode. Nada o deixaria ali parado se Hermione estivesse em perigo. Mancando ele se dirigiu para a barraca


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­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­Um frasco cheio de uma poção venenosa atravessava o ar na direção dela, Rony se atirava entre o projétil, ele é acertado em cheio pelo frasco bem no meio de peito. Uma pequena explosão e uma nuvem fétida de fumaça e o corpo de Rony cai desacordado no chão.

Rony sendo levado numa maca por uma equipe de medibruxos, a camisa fora rasgada, revelando uma cicatriz próxima ao coração, ao redor as veias enegrecidas pelo veneno do frasco.

Uma acromântula gigantesca investia na direção de Rony, as pinças batendo furiosamente.

Hermione apontava uma varinha na direção de Rony, ela tentava se controlar, mas uma voz maléfica sussurrava em seu ouvido. Ela mandava Hermione matar o ruivo.

Rony caia da vassoura, quinze metros no ar indo em direção ao solo do quintal d’A Toca.

Uma gargalhada sinistra, proferida por uma velha senhora que usava um lenço com moedas de prata adornadas. Em seguida o tilintar de ossos caindo sobre uma bacia. Gina gritando, Harry caído tentando alcançar algo desesperadamente.

Rony ensangüentado num chão de mármore. Os olhos sem vida contemplando o vazio... Morto.

“Se algo acontecer... Será sua culpa”.
 


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Rony correu em direção à barraca o mais depressa que as muletas permitiam; Harry a sua frente, os dois com as varinhas sacadas e prontas. O coração do ruivo batia acelerado, ele havia deixado a garota sozinha, ele não estava lá para protegê-la quando ela precisara, ele a havia deixado sozinha com Draco...  Era isso.

“A maldita serpentezinha deve ter entrado em pânico quando eu o acusei.” Rony pensou. “Está atacando Hermione para tentar escapar”.

Os dois avançaram em direção ao quarto em que Mione dormia, e foi com surpresa que viram a garota abraçada a Astória na cama, Draco estava próximo, com os braços cruzados observando Hermione com uma expressão séria no rosto. Hermione tremia nos braços de Astória, lagrimas corriam pelo rosto dela, estava pálida e sem ar.

- O que houve? – Harry perguntou ofegante, sem baixar a varinha.

- Hermione teve um pesadelo. – Astória falou ainda abraçada a garota.

Harry abaixou lentamente a varinha, Rony foi depressa até Mione, Astória abriu espaço e Hermione estendeu os braços quase como uma criança para que Rony a abraçasse.

- Está tudo bem Mione... – Rony sussurrou ao ouvido dela. – Eu estou aqui...

Mas Hermione não conseguia dizer absolutamente nada, ela apenas tremia e chorava, apertava com toda força que tinha o corpo de Rony.

Passaram alguns segundos sem que ninguém dissesse nada; Era um momento estranhamente constrangedor, Harry trocava olhares preocupados com Astória, e Draco continuava a encarar a garota com um olhar indecifrável.

- A comida está pronta. – Astória falou baixa e timidamente. – Quando a Hermione estiver se sentindo melhor, acho que vai ser uma boa idéia ela comer alguma coisa...

Astória saiu devagar do quarto, da maneira mais sorrateira que encontrou. Harry imaginou que ela estivesse desconfortável lá dentro, e ao lançar um olhar para Hermione ele compreendeu perfeitamente, ela e Rony estavam trocando um abraço muito intimo e ele soube que seria melhor deixá-los sozinhos.

- Foi só um sonho ruim Mione. – Harry disse se aproximando e acariciando o topo da cabeça dela. – Está tudo bem agora.

Harry saiu lançando um último olhar preocupado a amiga, Draco estava já estava saindo com ele, quando parou de súbito, e de costas sem arriscar olhar para Hermione o loiro disse com a voz calma e audível.

- Eu disse que isso aconteceria. – Depois de dizer isso Draco saiu depressa do quarto.

Rony imaginou por um momento o que aquelas palavras significavam, mas os segredos de Hermione e Draco teriam de esperar, por que ela havia começado a tremer mais violentamente. Rony teve de abraçá-la com mais força para conte-la.

- Eu não agüento mais Rony... – Ela disse baixo entre os soluços.

- Fica calma Mione. – Ele plantou um beijo nela. – Foi só um sonho ruim... Mais nada.

- Eu não agüento mais ver você morrendo toda vez que eu tento dormir... – Ela disse, e mais uma torrente de lagrimas começou a cair.

Naquele momento Rony não soube o que dizer. Ele apenas a deixou chorar. 


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Depois de cerca de meia hora, Rony conduziu uma Mione extremamente trêmula para fora do quarto. Harry, Draco e Astória estavam sentados numa pequena mesinha de jantar, pratos vazios diante deles.

- Eu preparei um pouco de chá para você Mione... – Astória falou gentilmente. – Tem sopa no caldeirão logo ali Rony...

Hermione se sentou junto aos outros, Rony apressou-se em servir um chá morno para ela e tirar uma tigela de sopa fumegante para si mesmo.

- Quem vai vasculhar o cemitério amanhã? – Hermione perguntou espantando a todos pela seriedade repentina da garota.

- Potter e eu. – Draco falou, num tom estranho. Era como se ele estivesse dando uma ordem à Mione.

Rony procurou o olhar de Harry, tentando ver se o amigo também percebera o tom estranho de Malfoy, mas Harry olhava atentamente para outra coisa.
Uma coruja parda entrou veloz na barraca e pousou pesadamente sobre a mesa.
Draco e Rony sacaram imediatamente as varinhas, Draco foi correndo verificar o lado de fora da barraca, voltou acenando negativamente com a cabeça. Harry retirava o embrulho da coruja, no momento em que a carga dela havia sido entregue, ela abriu as assas e levantou vôo, deixando a barraca com a mesma velocidade com a qual havia chegado.

Harry imediatamente reconheceu a letra inclinada e arredondada - É da Gina! – Ele exclamou;

Harry abriu apressado o pacote, sem o menor cuidado de rasgar a embalagem. Havia dois pergaminhos, e o que claramente parecia ser o Profeta Diário. Em um dos pergaminhos estava escrito:“Somente Para Harry”.
Harry pegou esse pergaminho, abriu e correu os olhos rapidamente pelas palavras escritas, com um sorriso no rosto ele voltou a enrolá-lo e o guardou no bolso interno das vestes, ignorando o olhar curioso de Rony. Astória estava lendo intrigada o Profeta Diário, Hermione abria o segundo pergaminho, ela limpou a garganta e leu em voz alta:

“Querido Harry,
Não sei quanto tempo vai demorar a que você receba essa carta, então desculpe por manter todos na expectativa.
Em primeiro lugar, saiba que todos os Weasleys estão bem. (Diga ao meu irmão que já pode parar de se preocupar... Se eu o conheço bem ele deve estar uma pilha de nervos), o único de nós que se feriu foi Carlinhos, ele teve uma queimadura feia na perna e nos braços... Mas ele diz que já está acostumado com queimaduras por causa dos dragões.
Foi uma sorte você ter dado a moto do Sirius para meu pai, como Hagrid não passava pela lareira, ele conseguiu se esgueirar até onde ela estava guardada. Ele fugiu de lá pouco depois de vocês, carregou Carlinhos até a moto e fugiu de lá com ele no Sidecar.
Grande parte d’A Toca foi completamente destruída. Papai não se importou muito, ele disse que vem guardando dinheiro desde o fim da guerra... Pretende reconstruir A Tocar maior e melhor. Obvio que a mamãe chorou um bocado dizendo que “A casa onde ela criou os filhos” está arruinada.
Jorge pediu para agradecer ao Malfoy por ter salvado o pequeno Fred. Ele disse que estará em eterna divida com o Draco.”

Draco se mexeu na cadeira, tentando esconder o fato de estar encabulado. Rony bufou desdenhosamente.
 
“Em segundo lugar, é triste ter de dar uma noticia ruim por carta, mas houve uma baixa do nosso lado. Nigel está morto.”

Hermione parou de ler, e todos olharam surpresos para ela.

“O corpo dele foi encontrado entre as arvores da propriedade no dia seguinte a batalha, um grupo de aurores foi até A Toca investigar o local. Eles disseram que os bruxos que nos atacaram vasculharam a floresta toda atrás de vocês, mas vocês já haviam usado a chave de portal... O pobre Nigel ainda estava lá, sozinho ele não teve chance. Eu sinto muito Harry, eu sei que ele era seu amigo.”

Inevitavelmente Rony se recordou que há alguns dias atrás Nigel estava dando conselhos sobre Hermione. Mesmo tento conhecido pouco o Auror, Rony sentiu uma pontada de tristeza.

“Os aurores do ministério pedem para que vocês tenham mais cuidado do que nunca. Os bruxos que nos atacaram levaram a pasta do Nigel, e nela continham vários documentos sobre o caso de vocês, com eles vai ser mais fácil localizar vocês.
Eu também estou mandando um exemplar do Profeta Diário, tenho certeza de que a noticia principal das manchetes te interessa Harry.
Sinto saudades de você, da Mione e do Rony. Todos aqui torcem para que vocês retornem em breve.

Atenciosamente, Gina.”

- Isso é horrível! – Hermione disse com uma voz aguda. – Nigel não merecia isso! Ele era uma boa pessoa... Fez todo o possível para nos tirar de lá com segurança...

- Na verdade... – Astória falou baixando lentamente o Profeta Diário. – Não acho que ele estivesse preocupado com nossa segurança... Lembra que ele queria que deixássemos o Harry e o Draco pra trás?

Draco e Harry olharam confusos para a loira, nenhum deles sabia que Nigel queria que eles fossem deixados para trás. Hermione parecia estar constrangida com o pensamento.

- O que ele realmente queria era que você e a caixa de rubi fossem transportadas com segurança... – Astória continuou. – Ele só se importava com o trabalho dele de Auror.

- Nigel era um bom homem. – Harry falou sobriamente. – Ele sempre foi muito dedicado, um dos melhores aurores do ministério... – Ele respirou profundamente.

- Bom... – Rony falou lentamente – Ao menos Hagrid e a minha família estão bem...

- Mas o circulo de Fazel agora tem documentos sobre nós. – Draco disse. – Tenho certeza de que nesses documentos havia o nome dessa aérea na Escócia, e o local de chegada da chave de portal.

- Significa que em breve vão conseguir nos encontrar? – Astória perguntou, sem conseguir disfarçar o pânico na voz.

- Minhas proteções mágicas em volta da barraca vão nos manter seguros. – Hermione disse firmemente, tentando acalmar Astória.

- Mesmo assim vai ser melhor se um de nós vigiar a entrada durante a noite. – Draco disse com rispidez. - O que dizem as manchetes do Profeta Diário? – Ele perguntou claramente tentando mudar de assunto.

Astória entregou o jornal a Harry. - É meio estranho... – Ela disse claramente confusa.

Harry leu espantado a manchete, isso deve ter ficado claro na expressão do rosto dele, por que Rony se apressou em perguntar.

- O que foi? Alguma coisa ruim?

- Alguém invadiu Azkaban! – Harry exclamou.

- O que? – Rony indagou sem entender. – Por que alguém iria querer entrar naquele lugar? Achei que as pessoas queriam fugir de lá!

- Aqui diz que alguém invadiu Azkaban, entrou numa das celas antigas da prisão, matou o prisioneiro que a ocupava, e depois desapareceu... E os Dementadores não fizeram nada para impedir! – Harry ia falando à medida que lia.

- Isso não faz absolutamente nenhum sentido! – Hermione disse.

- Qual prisioneiro foi morto? – Draco perguntou sem se importar muito com a manchete.

- Inóquio Plisken... – Harry falou ainda lendo atentamente o jornal. – Foi preso há alguns meses por ter atacado alguns trouxas.

Harry passou o Profeta Diário para Draco, que leu a matéria interessado. Passado alguns minutos, em que Rony atacava a sopa, Hermione (agora já muito calma) conversava com Astória. Harry se levantou repentinamente.

- Já que agora teremos de vigiar a entrada, eu me candidato a ser o vigia essa noite. – Harry disse caminhando lentamente até a entrada, vestindo um dos casacos que ficavam pendurados no cabide da porta. – Boa noite para vocês. – Ele disse antes de sair para o vento gelado da Escócia. Eles desejaram uma boa noite a Harry (com exceção de Draco), depois que Rony terminou a sopa e Hermione o chá, eles voltaram para o quarto que dividiam, Draco esperou que Astória fosse dormir para que voltasse para o quarto que dividia com Harry. 


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Harry conjurou um banquinho, sentou-se na porta da barraca olhando atentamente em todas as direções. Nada a não ser a luz da lua, o barulho das ondas se chocando contra as rochas, o vento frio balançando a grama verde, e os sons do pequeno vilarejo vizinho. Nem mesmo o farol velho que ficava numa ilhota próxima se movia ou iluminava alguma coisa.
Ele respirou profundamente e retirou do bolso a carta marcada com a etiqueta “somente para Harry”. Ele abriu o pergaminho com cuidado.

“Meu amor...

Eu tive de escrever uma carta um pouco mais pessoal para você.
Você só está fora há dois dias, mas para mim parece que não lhe vejo há anos... Irresistivelmente continuo lembrando a sua caça a Horcuxes anos atrás; eu me sentia exatamente do mesmo jeito. É difícil amar alguém, sem essa pessoa por perto. É difícil passar o dia todo com saudades da sua voz, do seu toque, do seu beijo...
Mas nada é mais difícil para mim do que saber que você está correndo perigo e eu não posso fazer nada sobre isso. Eu mal tenho dormido durante a noite, eu fico imaginando você ferido em algum lugar... Fico me lembrando de você sendo carregado pelo Hagrid para fora da floresta proibida no meu sexto ano, durante a batalha em Hogwarts.
Eu não consigo evitar essa sensação de impotência. De ficar recordando como parecia que meu mundo havia se dissolvido quando eu pensei que você estava morto, de como parecia que haviam arrancado um pedaço meu quando eu achei que tinha te perdido para sempre... Mas você voltou. Você voltou para mim.
Eu me agarro à esperança da promessa que você fez: Você vai voltar para mim e para o bebê.
Eu estive pensando, poderíamos fazer uma homenagem, usar o nome dos seus pais... Se for menino, Tiago. Se for menina, Lilian. O que você acha da idéia meu amor?
Nosso bebê ainda nem nasceu e eu já o amo tanto... Saber que um pouco de nós dois está crescendo aqui dentro de mim é a única coisa que me impede de deixar tudo pra trás e ir atrás de você.
Você sabe que todo esse sentimentalismo não é meu estilo querido, então tudo que eu queria dizer é:
Eu te amo,
Eu sinto saudades,
Eu preciso muito de você,
Acabe logo com a raça daqueles bruxos das trevas e volta pra sua ruivinha tá?

Com todo o meu amor, Gina”.

Ao terminar de ler Harry sentiu uma sensação estranha. Estava sorrindo, mas ao mesmo tempo, uma lagrima solitária corria pelo seu rosto, sentio os olhos ardendo de forma incomoda. Ele releu a carta diversas vezes, e a cada linha, sentia um aperto maior no coração. Sentiu-se culpado por deixar a esposa para trás, sentiu-se culpado por deixá-la preocupada, e o mais importante: sentiu-se culpado por não estar lá durante a gravidez, um momento que ele sabia, sua presença era mais do que importante.

- Só mais alguns meses Harry... – Ele disse para si mesmo. – São só mais alguns meses, é tudo que você vai precisar para juntar todas as chaves e voltar para ela.


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- Rony... – Hermione chamou timidamente depois que ele a conduziu para o quarto. – Você pode dormir comigo? – Ela sussurrou meio envergonhada, algo que fez com que Rony sentisse um arrepio percorrendo a espinha dele. – Ou prefere descansar sozinho até que seus ferimentos melhorem?

Rony atirou as muletas em cima da cama onde deveria dormir, depois foi se aninhando na cama de Hermione. - Por você Hermione... – Ele disse com a voz zombeteira – Acho que vale a pena dormir abraçado, mesmo coberto de ataduras.

Ela deu uma risada abafada, depois ficou um pouco corada. – Você pode fechar os olhos?

- Por quê? – Rony perguntou sem entender.

- Eu preciso colocar meu pijama. – Hermione disse numa voz fraquinha, ela agora definitivamente estava vermelha.

Rony sorriu da vergonha dela, mas fechou os olhos. Demoraram alguns minutos, nos quais mais de uma vez, Rony se sentiu tentado a abrir os olhos, até que Hermione anunciou. – Você pode abrir agora.

Hermione usava uma calça e uma blusa de cores acinzentadas, o conjunto era um tanto quanto justo no corpo da garota, algo que valorizava consideravelmente as curvas dela. Ela deitou ao lado de Rony, ele passou um braço em volta dela.

- Mione... Eu posso te perguntar uma coisa? – Rony disse baixo no ouvido dela.

- Claro. – Hermione disse meio receosa sem saber o que ele iria perguntar.

- O sonho que você teve... – ele foi dizendo. – Você disse que me viu morrendo?

Hermione tremeu de leve. – Rony eu não quero falar sobre isso...

- Foi tão ruim assim? – Ele perguntou interessado.

- Foi. – Ela girou o corpo, para não encará-lo.

- Eu detesto te forçar a falar sobre isso... – Rony falou no ouvido dela. – Mas eu realmente quero saber, como foi que eu morri no seu sonho?

Hermione forçou a memória ao máximo, e percebeu algo que nunca havia realmente lhe ocorrido em todas as vezes que teve os sonhos. - Eu não sei. Eu nunca te vi morrer... Eu vejo você morto, e vejo outras coisas...

- Que coisas Mione? – Rony não pode conter a curiosidade.

Ela parou um tempo refletindo no sonho. – Eu vejo aquele dia em que você foi parar no St. Mungus, o dia em que você ganhou a cicatriz no seu peito...

- Cinco anos atrás? Quando aquele velho atirou o veneno em você? – Rony perguntou baixinho acariciando o braço de Hermione.

- É... E eu vejo uma acromântula te atacando... Vejo eu me preparando para te amaldiçoar na mansão da Astória, vejo você caindo da vassoura n’A Toca... – Ela parou e respirou fundo - Vejo você caído sangrando...

Rony ficou calado, o único som dentro do quarto era a respiração descompassada de Hermione. - Se você quiser dentro do meu casaco tem bastante poção pra dormir sem sonhos. – Ele disse com a voz rouca.

- Onde foi que você arrumou isso? – Hermione voltou a encarar o ruivo. – Essa poção é difícil de achar!

- Do estoque de poções dos Aurores, é procedimento padrão trazer um punhado de poções quando ficamos fora por muito tempo em algum caso. – Ele falou.

- E o que você trouxe? – Ela perguntou em parte interessada, em parte para mudar de assunto.

- Poção pra dormir sem sonho, Poção revigorante, Poção do Morto-Vivo, eu queria ter trago um pouco de Polissuco... Mas não tinha nenhuma pronta no estoque...

- Impressionante Rony!

- É trabalho dos Aurores pensar em todas as possibilidades. – Rony disse fingindo estar se gabando. – Vai querer a poção?

- Não. – Ela se aproximou mais. – Se você ficar aqui comigo eu sei que não vou ter nenhum pesadelo.

Rony abraçou um pouco mais forte, mas ele duvidava que a presença dele afastasse os pesadelos. Hermione estava tendo sonhos onde via os acidentes que haviam acontecido com Rony.

“Ela só está preocupada comigo...” Rony pensou. “Está preocupada com minha segurança”.

Mas um fato o incomodava; incomodava ao ponto de Rony sentir como se arranhasse no fundo de sua mente: Ele nunca havia contado a ninguém que antes de retornar a Londres ele havia sido atacado por uma Acromântula, e mesmo assim Hermione sabia disso através de um sonho. Ela também havia sonhado com ele caído e ensangüentado. Um calafrio mórbido percorreu a espinha dele.
Seria possível que Hermione estivesse sonhando com o futuro?


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- Posso entrar? – Astória perguntou parando na entrada do quarto de Draco e Harry.

Ela havia ficado vários minutos sozinha no outro quarto decidindo-se o que deveria fazer e dizer. Agora havia reunido coragem suficiente.

- Claro... – Draco falou sem compreender o que ela estava fazendo ali.

- Desculpe, mas... Será que eu posso dormir com você? – Ela perguntou corando violentamente. Draco parecia ter levado um choque. Astória pareceu ter percebido o que havia acabado de dizer, pois começou a falar muito rápido. - Eu quero dizer... Dormir aqui nesse quarto, com você... – Ela apertava o robe de lã com a ponta dos dedos. – Digo, em camas separadas... Só dormir... Não dormir... Entende?

Draco deu uma risada abafada. – Entendo sim... Mas, posso saber o motivo?

- Harry vai passar a noite lá fora, e eu quis passar a noite com você. – Ela se sentou na cama de Harry. – Eu não tenho dormido bem ultimamente, acho que me acostumei com você me observando enquanto eu durmo.

- Fique à-vontade. – Draco disse. – Vai ser melhor que ter o imbecil do Potter como ‘companheiro de quarto’.

- Você não devia falar do Harry assim! – Astória falou em tom de reprovação, tentando esconder um sorriso que o comentário havia gerado. Ela tirou o robe de lã, revelando uma longa camisola de seda preta.

Draco engoliu em seco. A pele dela era alvíssima, absolutamente perfeita. Ela prendeu o longo cabelo loiro platinado num coque comportado, e pelas finas alças da camisola Draco viu melhor que nunca que ela possuía seios fartos. Ele sentiu um calor subindo pelo pescoço e uma fisgada abaixo do ventre, que ele teve certeza, não tinha absolutamente nada haver com clima estranho da Escócia.

- Talvez não seja uma boa idéia você dormir aqui. – Draco desviou o olhar. – Os outros podem interpretar de maneira errada. – ele falou a primeira desculpa que lhe veio à cabeça.

- Não me importo com o que eles acham... Eu gosto de ficar com você.

Ela se deitou, e puxou o cobertor até a altura do pescoço, Draco ficou muito mais calmo. - Tem alguma garota te esperando em Londres quando você voltar? – Astória perguntou.

- Garota? – ele indagou.

- É... – Astória falou baixinho. – Uma namorada ou algo do tipo...

Draco sorriu. – Não, não tem nenhuma garota... Para dizer a verdade, eu nunca tive uma namorada... Houve algumas mulheres desde que eu terminei Hogwarts, mas nunca foi nada serio.

- Por que não?

- Eu não gostava realmente de nenhuma delas... E nenhuma delas gostava realmente de mim. – Ele disse displicente. 

Astória encarou o sonserino confusa. – Como elas puderam não gostar de você?

Draco riu abertamente. – Se você conhecesse como eu sou de verdade, acho que não gostaria de mim também.

Astória ergueu-se e caminhou até a cama de Draco, ela se sentou ao lado dele, o garoto se afastou, tentando ao máximo parecer indiferente a ela. - Me mostra então. – Astória falou.

- O que? – Draco perguntou.

- Me mostra quem você é de verdade. – ela falou pausadamente. – Me faz deixar de gostar de você.

Os olhos cinzentos dele olharam chocados para os verdes dela. - Me faz te odiar Draco Malfoy. – Ela disse respirando pesadamente, num tom desafiante. – Parte meu coração... Por que acho que é a única maneira de eu parar de te desejar.

- Astória...

- Desde que eu acordei e te vi no Caldeirão Furado eu soube... – Ela falou firmemente.

Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, ela pousou gentilmente uma das mãos sobre o rosto dele. Ele engoliu em seco, buscou alguma palavra para dizer, mas naquele momento parecia que os pensamentos haviam derretido dentro da cabeça dele, ele não conseguia raciocinar, toda a atenção dele, todos os pensamentos estavam voltados para os lábios rosados de Astória que estavam diante dele. Ele a puxou pela cintura para um beijo, uma das mãos dela o envolveu num abraço buscando mais contato, a outra continuava gentilmente sobre o rosto do rapaz.
O beijo era voraz, cheio de desejo, ela forçava cada vez mais o corpo contra o dele, aos poucos eles iam desabando sobre a cama de Draco. O sonserino pareceu voltar a raciocinar, aos poucos, e foi afastando Astória.

- Nós não deveriamos fazer isso. - Ele disse com a voz rouca.

- O que? Por que não? - Astória tinha a respiração descompassada, estava sobre Draco.

- Você não está pensando direito, Senhorita Greengrass. - Draco tentou se endireitar na cama. - Você mal me conhece, e eu entendo que esteja vulnerável desde que seus pais... - Ele parou um momento, medindo melhor as palavras. - Eu não quero tirar vantagem de você Astória. Na verdade eu quero, mas não devo.

- Ainda querendo bancar o herói, e limpar sua reputação Sr. Malfoy? - Astória cuspiu as palavras com irritação. Draco permaneceu calado. - Você não entende Draco... Eu tenho pesadelos, eu sinto o bafo fedido daquele bruxo das trevas, eu sinto a mão pesada dele me arrastando... Eu sinto que estou em torpor, que estou enloquecendo...

Draco encarou fundo nos olhos de Astória.

- Eu preciso sentir algo diferente. - Astória disse decidida. - Nem que seja por um momento breve, eu não quero me sentir como uma vítima, não quero sentir que aquele monstro ainda está me arrastando pra lá e pra cá, eu não quero sentir a dor de lembrar dos meus pais... Então pare de tentar ser uma pessoa boa. Seja quem eu preciso que você seja nesse momento. Tire proveito de mim. Me faça esquecer um pouco toda essa coisa horrível que eu tenho presa dentro de mim.

Draco a encarou com atenção por um instante, e vendo a decisão nos olhos da jovem, ele se aproximou decidido e a beijou vorazmente. 


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Harry levantou-se de um salto. Por um momento ele pode jurar que havia alguém entre as rochas da praia.
Ele piscou varias vezes, mas não havia sinal de ninguém.

- Gina? – Ele perguntou baixinho, mais para ele do que para qualquer outro.

Talvez estivesse imaginando, pois havia cochilado por alguns segundos e estivera sonhando com a esposa. De qualquer modo ele se levantou e correu em direção as rochas. Não havia ninguém lá. Olhou ao redor, mas só havia rochas e ondas, até as luzes do vilarejo de Dryburgh estavam apagadas, a única luz vinha do velho farol numa ilhota distante.

“Deve ser tarde.” Harry pensou.

Ele caminhou lentamente de volta a barraca, mas quando chegou ao banquinho na entrada onde estava montando vigília ele ouviu vozes soando do lado de dentro.

- Acordada há essa hora Granger? – A voz de Draco falou.

- Não consegui dormir. – Hermione respondeu. – E você Malfoy? O que faz fora do seu quarto há essa hora?

Draco limpou a garganta, meio constrangido. – Apenas vim pegar um copo d’água.

- Você poderia ter conjurado a água do seu quarto mesmo.

Um silêncio se abateu.

- Não te interessa o que estou fazendo fora do meu quarto Granger. – Ele respondeu secamente.

Harry sabia que não deveria ficar ali escutando os dois conversando, mas achou que seria igualmente errado entrar lá nesse momento.

- Por que você faz tanta questão de ir como Harry em busca da chave amanhã? – Hermione perguntou.

- Por dois simples motivos... – Draco disse. – Primeiro por que ao contrario de você, ele realmente está tentando encontrar a chave. Segundo, por que você não está em condições de ir comigo.

- Do que você está falando? – Hermione indagou, num tom que Harry julgou ser de indignação. – Eu quero que nós encontremos essa chave tanto quanto qualquer um!

- E mesmo assim ao invés de procurá-la como deveriamos, você me arrasta pra uma colina qualquer e nos faz desperdiçar a metade da tarde com suas besteiras! – Draco respondeu com voz pastosa e debochada.

- Não é besteira nenhuma! – Hermione gemeu. – É importante para mim! Acho que eu devia voltar lá amanhã com você e...

- Eu já disse que você não está em condições! – Draco a interrompeu. – Além disso, nosso trato era apenas um dia por semana, e nada mais.

- Mas Draco, você sabe o quanto eu preciso! Você viu o que aconteceu! – ela falou.

- Aquilo aconteceu por que você continua agindo feito uma criança. – Ele falou rispidamente. – Volte a dormir Granger... O que você acha que seu namoradinho vai pensar se acordar e não te encontrar deitada ao lado dele?

Harry escutou Hermione caminhando.

- Eu realmente preciso da sua ajuda Malfoy. – ela disse com a voz muito mais contida do que antes.

Draco respirou profundamente. – Descanse o resto da semana e treine por conta própria. Quem sabe da próxima vez haja ao menos o mínimo de progresso.

Depois disso um silêncio mórbido se abateu, pontuado pelo barulho das ondas acertando a praia, no qual Harry presumiu que os dois haviam voltado para os seus respectivos quartos. Mas aquela conversa havia despertado uma curiosidade em Harry. Se Hermione não estava procurando pela chave quando saiu com Draco durante a tarde, o que ela esteve fazendo?


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