Capítulo 36



36. Capítulo 36


 


 


Draco Malfoy


 


 


Era tarde da noite e ele estava preso na Catedral sabendo que perdera o jantar com Hermione e sua mãe em casa. Ao menos podia dizer que não ficara o dia inteiro longe delas. Tomara café com sua mãe e passara boa parte do dia com Hermione reprogramando a tomada de Ordem, o que os fizeram passar basicamente quase metade do dia discutindo e sendo rudes um com o outro.


 


Ele sabia que Hermione não era uma mulher fácil, da mesma forma como sabia que ele também não conseguia ser nada compreensível, principalmente quando lhe feriam o orgulho, e se havia alguém que sabia ferir seu orgulho, esse alguém era Hermione.


 


Ela voltara para casa frustrada e com raiva. Ele sabia que boa parte era sua culpa. Não que ele quisesse causar todos aqueles sentimentos nela, mas Hermione não conseguia engolir o fato de que ele não poderia apresentar para Voldemort um plano que possivelmente incluiria capturar Harry Potter, cheio de falhas ou pontos cegos. Além de colocar em risco sua posição, colocaria em dúvida sua lealdade e sem sombra de dúvida, seria vetado pelo mestre.


 


Resumindo, ela estava frustrada com ele por estar defendendo um plano completo, severo e brutal, e ele estrava frustrado com ela por estar tornando impossível que eles concordassem em algo e principalmente por estar atrasando toda sua operação. Draco não conseguia entender como Hermione podia frustrá-lo até aquele ponto, mas ainda assim fazê-lo ter tanta certeza do que sentia por ela. Apesar de terem tido um péssimo dia, ele não deixava de contar os segundos para voltar para casa e vê-la uma última vez antes de dormir simplesmente porque não havia mais a tensão de antes que os separavam, a tensão que colocava milhões de anos luz de distância entre eles, mesmo estando na mesma cama.


 


Conseguiu finalmente terminar sua última reunião com os líderes das zonas mais altas. Sabia que todos eles questionavam o fato de toda a operação ter entrado em status de espera e Draco gostava de ter uma relação direta com quem trabalhava com ele e esclarecimentos sempre deveriam ser feitos antes que começassem conversinhas e murmurinhos as suas costas. Não tinha problemas em deixar claro a todos que eles entrariam em ação somente quando ele e Hermione estivessem em acordo. Achava importante que todos tivessem a ideia de que ele sempre operara em acordo com ela e que só havia conquistado o que conquistara por causa disso. Sentia-se como seu pai quando pensava em família e nome, daquela forma, mas no fundo, sentia-se satisfeito por ver como todos de seu departamento enxergavam ele e Hermione como sendo um. Era como ter mais um par de olhos e ouvidos confiáveis.


 


Enquanto imergia do subsolo e deixava a zona do quartel de volta para o lobby principal da Catedral, diminuiu o passo quando passou perto das escadas que davam para a subida da torre onde Pansy ainda residia. Ficou surpreso por não se lembrar da última vez que tomara aquele caminho. No passado aquele era um caminho quase diário.


 


Parou.


 


Queria voltar para casa. Queria porque Hermione estava lá. Queria estar com ela, queria dormir com ela, queria sentir seus filhos se movendo dentro dela, queria discutir sobre o futuro e se livrar de todo peso das discussões que haviam tido durante o dia. Era um sentimento e uma sensação que ele nunca tivera com ninguém, nem com Pansy, uma mulher que ele achara que fosse tão especial. Não conseguia acreditar no quão insignificante tudo com relação a Pansy se tornara agora que ele colocava em ordem sua vida com Hermione. Ainda se questionava se aquilo seria duradouro, e se fosse passageiro, por quanto tempo duraria. Será que ele voltaria a enxergar Pansy como a enxergara no passado? Será que ele se arrependeria?


 


Apesar de suas certezas se tornarem mais certezas conforme os dias se passavam e ele construía mais e mais sua vida com Hermione, sentia que devia algum tipo de respeito pela história que tinha com Pansy. E foi esse exato pensamento que o levou a subir aquelas escadas até o quarto dela.


 


Não sabia se ela ainda deixava a porta destrancada somente para ele quando conseguiu entrar no quarto vazio sem ter qualquer problema, um enorme peso e senso de piedade tomou conta dele. Havia contribuído para a obsessão que Pansy tinha por ele e precisava se responsabilizar por isso.


 


Aonde você está, Pansy? Quero ir para casa! Pensou.


 


Andou calmamente pelo quarto analisando o espaço que Pansy redecorava quase todo final de semana. Era exagerado, porém fino. Era Pansy. E tudo aquilo o incomodava muito estranhamente. Era como se finalmente estivesse enxergando que o bolo de decisões erradas que havia tomado com relação a ela. Surpreendia-se com o fato de que estar consciente do que sentia por Hermione e estar vivendo a vida que tinham juntos era capaz de fazê-lo enxergar decisões que ele nunca julgara como erradas no passado, o fazia estar em constante alerta do presente e muito certo do que queria para o futuro.


 


Encostou-se num dos móveis e cruzou os braços para não se fazer confortável demais. Esperou. Queria ir para casa, na verdade, mas sentia que precisava estar ali. Devia algo a Pansy. Sentia que sempre devia algo a ela. Não porque eles haviam sido a primeira vez um do outro, mas porque eles tinham uma longa história. De todas as crianças da sua infância, o que não haviam sido muitas, ela fora a única que o acompanhara até hoje. E por isso ele devia a ela. Embora a parte de terem sido a primeira vez um do outro também contasse bastante.


 


Enquanto a esperava, todos os seus pensamentos se voltaram para ela. Algo que fazia um bom tempo que não acontecia. O que era, sem dúvidas, surpreendente. Não que Pansy fizesse parte de seus pensamentos constantemente no passado, mas ele podia dizer que ela era uma figura bem presente neles. Aquilo começava a fazê-lo se questionar loucamente até onde sua racionalidade ia e suas vontades começavam naquele jogo em que ele e Hermione haviam entrado.


 


Será que realmente duraria? Sabia que tinha uma imensa vontade por Hermione e sempre quando estava com ela agora, com sua mente bem consciente de que a queria por inteiro, seu mundo inteiro parecia sair de órbita par entrar num maravilhoso estado de dormência e inércia pelo espaço. Mas esse era o problema com vontades, elas iam e vinham e saber dessa inconstância o incomodava.


 


Quanto tempo duraria?


 


Será que ele deveria mesmo esperar por Pansy? Talvez, se aquela sua vontade passasse, ele poderia voltar para ela... como sempre havia feito. Talvez Hermione fosse só uma vontade prolongada, um pouco diferente das mulheres que já havia desejado e levado para cama outras vezes. Talvez quando aquela vontade fosse propriamente saciada ele voltasse para Pansy, para sua vida de antes. Talvez ele não devesse encerrar nada com Pansy, mesmo que imaginar perder a vontade que tinha por Hermione fosse incrivelmente triste.


 


Ficou grato quando seus pensamentos foram interrompidos finalmente pela chegada dela. Segundos depois, não ficou tão grato assim. Não era difícil desejar Pansy. A sensualidade parecia ter nascido com ela, parecia ter sido criada por ela. Mas ele conhecia aquele campo. Não era como a sensualidade de Hermione, Hermione era doce no ponto certo, Pansy era doce demais, uma colher dela e já bastava, diferente de Hermione onde uma colher lhe fazia desejar outra, e mais outra e mais outra...


 


-       Hum... – foi o que Pansy soltou assim que o viu quando abriu a porta. Ela passou para o lado de dentro, jogou suas coisas no carpete mesmo e cruzou os braços sem nem mesmo tirar os olhos dele. – Eu sabia que você iria aparecer mais cedo ou mais tarde. Seja honesto e diga que eu realmente te fiz pensar. – ela não era capaz de esconder o sorriso. - Os jornais estão comentando sobre a discussão que você e ela tiveram na frente de toda a sua equipe. E não só isso. Não faz muito tempo que ouvi comentários sobre novamente se envolvendo com outras mulheres. – a maldade nas palavras dela ativaram seu desgosto num piscar de olhos, a esperança nos olhos dela de estar voltando a ver seu antigo estilo de vida florescer novamente era triste.


 


-       Não acredite em rumores. Você faz parte do mesmo mundo que eu faço. Sabe que eles não são confiáveis. – foi tudo que ele disse.


 


Ela deu de ombros.


 


-       Não importa. – aproximou-se. – Sei que você e eu não estamos nos nossos melhores dias ultimamente, mas sabe como podemos resolver isso e só de estarmos eu, você e uma cama, sozinhos,  já é quase um caminho inteiro andado para o fim dos nossos piores dias. – ela moveu um dedos e as velas se acenderam criando uma meia luz e uma atmosfera que ele conhecia muito bem naquele quarto.


 


Fez o favor de erguer uma mão com agilidade e aceder o restante das velas iluminando o quarto o suficiente para quebrar toda aquela ambientação.


 


-       Eu não vim aqui para isso. – apressou-se para cortá-la antes que ela se aproximasse mais. Ela parou e ergueu as sobrancelhas surpresa. – Vim apenas para te informar de uma decisão que tomei. Sinto que te devo essa satisfação.


 


Ela se mostrou curiosa.


 


-       Uma decisão?


 


Será que ele deveria mesmo fazer aquilo? Deveria mesmo? Poderia destruí-la... Ele não sabia se estava pronto para ver Pansy destruída.


 


-       Eu... – puxou o ar e concentrou-se. – Tomei a decisão de fazer de Hermione a única mulher da minha vida.


 


Pansy ficou em silêncio sem expressar qualquer reação por alguns longos segundos.


 


-       Você quem tomou essa decisão? – foi tudo que ela perguntou.


 


-       Sim. – respondeu.


 


-       O que está tentando provar para si mesmo dessa vez? – ela perguntou e ele não conseguiu entender o sentido da pergunta. – A última vez que tentou ser de uma mulher apenas, estava tentando provar para si mesmo de que poderia ser capaz de se apaixonar por alguém que escolhesse.


 


-       Eu tinha dezesseis anos, Pansy. Não pode me julgar por uma decisão estúpida que fiz quando era adolescente.


 


-       Então não continue tomando decisões como se fosse um.


 


-       Está dizendo que a decisão que tomei com relação é Hermione é estúpida.


 


-       Me surpreende que você mesmo não consiga enxergar isso. – ela disse e ele nem mesmo hesitou para se sentir ofendido. – Você claramente não é homem de uma mulher só, Draco. Sempre soube disso.


 


-       Sim, definitivamente não sou, mas nunca quis nada na minha vida como quero Hermione, Pansy, e quando eu estou com ela eu não sinto a falta de ninguém, nem a necessidade de nenhuma outra mulher. Se tiver que ser assim para tê-la, eu realmente não me importo. Eu gosto que ela seja mais do que suficiente, gosto de ser só dela, gosto que exista apenas ela. Não seria justo se ela não fosse exclusiva, mesmo que eu não sentisse que ela fosse suficiente, porque a mulher que ela é merece essa posição.


 


Pansy uniu as sobrancelhas como se estivesse encarando um estranho.


 


-       Está apaixonada por ela. – ela soltou por baixo de sua respiração.


 


Draco deu de ombros.


 


-       Talvez eu esteja. – mostrou as mãos. – Mas realmente não me importo se estou ou não. Passei boa parte da vida me perguntando se um dia eu me apaixonaria ou não, outra boa parte me convencendo que eu não era esse tipo de homem. Agora eu realmente não me importo.


 


-       Não se importa porque está apaixonado por ela. – ela começou a mostrar seu desprezo. Draco apenas deu de ombros novamente mostrando sua indiferença. Não se importava se o que sentia por Hermione tinha nome. Ele sentia, e era isso que importava. – O que é ridículo, por sinal. Não sei como não é capaz de desprezar a si mesmo. Não faz o menor sentido que simplesmente decida se entregar para uma mulher que sempre odiou. Rápido assim! Nós dois temos uma história muito mais longa, nos conhecemos muito melhor, fizemos parte do mesmo mundo por muito mais tempo, estamos juntos e já passamos por muito mais do que você e ela.


 


Respirou fundo e soltou o ar com calma. Queria ter uma explicação para aquilo também. Mas não ficava surpreso, ele acreditava que injustiça deveria ser vivida por todos, senão nada no mundo seria verdadeiramente justo.


 


-       Pansy, não vim para discutir com você. O que me trouxe até aqui foi a história que temos. Eu acredito que devo, a tudo que já tivemos, um fim. Sabe que costumo pensar nas decisões que tomo com cuidado e da mesma forma que decidi fazer de Hermione a única mulher da minha vida, decidi também não dar simplesmente as costas a seja lá o que for que tivemos.


 


Ela ergueu as sobrancelhas assumindo um ar de surpresa irônico.


 


-       Desde quando você dá valor para caráter, Draco?


 


Ele não gostou daquilo.


 


-       Todo ser humano dá algum tipo de valor a caráter, Pansy. Até mesmo o mestre exige dos Comensais o mínimo de senso e respeito para com o império dele.


-       Não quer dizer que eles tem algum tipo de caráter.


 


-       Está dizendo que eu não tenho caráter, por tanto não deveria dar valor a ele? Talvez você quem nunca teve o interesse de realmente saber sobre o meu caráter, Pansy. – soltou o ar. – Mas esse não é o ponto. – precisava manter o foco. – Você significa algo para mim. Eu não poderia simplesmente te dar as costas.


 


-       Na verdade, você já deu. Há muito tempo, se não percebeu. – ela deu as costas e sem aviso começou a se desfazer do vestido que usava numa casualidade que Draco havia esquecido ser da personalidade dela. Teve que desviar o olhar quase que imediatamente. Podia sentir o que sentisse por Hermione, mas ainda continuava sendo um ser humano. – Você não me procura como me procurava antes há quase dois anos. Desde que se casou com a Sangue-Ruim, se quer saber. E não tente me dar nenhum discurso sobre a exclusividade dela na sua vida, porque há algumas semanas, eu conseguia escutar comentários cheios de expectativas, de algumas mulheres com quem já esteve, e você sabe bem que quando isso acontece é porque alguém com quem esteve recentemente abriu a boca de alguma forma. – ela passeou pelo quarto usando apenas suas peças íntimas até encontrar seu robe. – A pergunta é: - ela meio que deitou e meio que deitou na cama arrastando-se para fazer seu teatro sensual de sempre. - Por que você não quer mais estar comigo? – ele sabia os jogos dela. Não entraria ali. Especialmente porque sabia que Pansy conhecia bem o que o atraia para cama.


 


-       Eu não vim aqui para justificar nada. Vim apenas para lhe passar uma informação. – por um rápido segundo, seu olhar fixou-se no colar que ele havia dado a ela anos atrás. A pedra dos Malfoy brilhava contra a pele dela logo abaixo da linha de sua garganta e Draco se questionou no segundo seguinte se ela tinha mesmo o direito de carregar aquilo. Não que tivesse qualquer pretensão de exigir de volta algo que havia dado a ela, numa época em que ele percebera o quanto ela tinha significado em sua vida. Pansy fazia parte de sua história, ela precisava ter algo de especial, porque querendo ou não, ela era diferente. – Quero que entenda que não tenho planos para voltarmos a ter a relação que sempre tivemos, não porque não gosto de você ou porque nunca gostei, mas porque quero que Hermione seja exclusiva.


 


Ela não mostrou nenhuma reação intensa ou contrária ao que ele havia dito.


 


-       Você já me disse isso uma vez. Quando começou a namorar Astória. Não espere que eu vá acreditar. Não acreditei no passado e não vou acreditar agora. Sabe que vou ficar esperando por você. – Ela se levantou. - Sempre. – concluiu.


 


Ele, sinceramente, não sabia o que dizer. Nem ele mesmo confiava em sua própria atitude. Não precisava de Pansy para desencorajá-lo, mas ela fazia parte do processo de sua decisão, ela era uma das etapas para que ele tivesse certeza sobre sua vida com Hermione e mesmo que sua decisão com ela fosse completamente diferente de sua decisão com Astória, não era a primeira vez que tentava ser de uma mulher apenas.


 


-       Eu não preciso que você acredite, eu preciso que você fique bem sem precisar se apegar a qualquer expectativa de que nós dois podemos voltar. – porque querendo ou não, ela não deixava de ser importante. Ele não tinha o poder de apagar a história que tinham juntos. Ela era especial. E céus, como ele queria poder vê-la apenas como uma irmã, mas era absolutamente impossível, principalmente quando sua imaginação voava ao vê-la apenas com aquele robe.


 


-       Você sabe bem que é absolutamente impossível que eu fiquei bem sem você. – foi até ele e Draco precisou se convencer de que deveria recuar antes de realmente o fazer.


 


-       Mantenha distância, Pansy. – a avisou.


 


-       Por que? – ela parou. – Sabe que pode acabar indo para cama comigo se eu te tocar, não sabe?


 


-       Sei. – ele não estava contente. – E é exatamente por isso que quero que mantenha distância. Eu fiz uma escolha, Pansy. Soube respeitar quando foi com Astória, saberá respeitar agora também.


 


-       Respeitei porque não foi duradouro e eu sabia que não seria. Não posso dizer o mesmo de você e a possível fada, se os rumores são mesmo verdadeiros. Eu não confio no fato de você estar gostando de brincar de casinha com ela. Sei que sempre foi frustrado por ter uma família esquisita e não duvido que pode ser facilmente comprado pela ilusão da chance de acabar tendo uma perfeita. Foi isso que o fez tentar algo com Astória, inclusive. – ela foi direto ao ponto.


 


-       Você sabe que colocar minha família nessa conversa não é a coisa mais inteligente de se fazer. – ele passou por ela. – Sair daqui com raiva de você não estava nos meus planos embora as últimas vezes que acabei vindo aqui tive que sair desejando que morresse de alguma forma. O que eu tinha para dizer foi dito. Sei que quando comecei a namorar Astória, soube da informação pela boca de terceiros depois que passei uma semana sem te procurar. Naquela época eu sabia que não era justo, mas simplesmente não me importava. Queria fazer diferente dessa vez. – queria fazer diferente porque era diferente do Draco de Hogwarts. O Draco de Hogwarts vivia num patético mundo de ilusões.


 


Ele quis tomar o rumo da porta e ir embora. Sua intenção na verdade, era realmente dizer aquilo e ir embora. Mas seu olhar se pregou nela, que simplesmente não respondeu nada, apenas cruzou os braços. Ele encarou os incríveis olhos azuis dela, a pele pálida, as bochechas rosada, o formato do rosto enquadrado agora pelos cabelos negros e curtos. A forma como ela o olhava agora, era o olhar da Pansy vulnerável, a menina que ele conhecera quando criança, aquela que ele talvez teria chances de se apaixonar. Eles tinham uma história de cumplicidade que atravessava anos...


 


Eu estou deixando você ir, Pansy. Pensou. Nunca mais será minha como sempre foi. Estou abrindo mão de você.


 


Seu Draco possessivo não estava contente. Na verdade, seu Draco possessivo não acreditava naquilo. Podia sentir o quanto não fazia sentido estar abrindo mão de algo que lhe pertencera por tanto tempo. Conseguia escutar seu próprio cérebro lhe gritando que não deveria estar fazendo aquilo.


 


-       Eu sou sua, Draco. Você me fez ser sua. Isso não vai mudar só porque não quer mais que eu seja. – ela concluiu, com aquela voz que ele só havia escutado poucas vezes na vida. A última vez que escutara fora no dia em que ela vira o anel de noivado que ele colocaria no dedo de Hermione em poucos minutos.


 


Naquele ponto, mentalizar Hermione era difícil. Buscar por ela foi quase que um desafio, mas não deixou de lhe falhar. Deu as costas e finalmente foi até a porta. Não estava gostando de deixar o quarto dela sentindo que poderia voltar a qualquer momento. Seria bem mais fácil se eles tivessem brigado. Seria mais fácil se ele estivesse querendo mata-la naquele momento.


 


No segundo em que tocou a maçaneta alguém bateu do outro lado. Ele parou sem saber exatamente qual reação tomar até se lembrar de que Pansy certamente continuava com os outros relacionamentos que sempre tivera. Apenas tomou aquilo como um incentivo e abriu a porta pretendendo desocupar o quarto para que ela recebesse o amante que a estaria procurando.


 


Seus sentidos travaram no mesmo segundo em que se deparou com a figura de ninguém menos que Lúcio Malfoy do outro lado. O outro travou igualmente parando de desabotoar a camisa que já estava aberta pela metade e então o tempo congelou.


 


A falta de reação preencheu os segundos seguintes enquanto Draco encarava o pai e Lúcio encarava o filho. Na cabeça de Draco, uma sequência de fatos e obviedades começaram a se encaixar, mas ainda sim, ele procurou ignorar. Simplesmente porque... Simplesmente porque... Não! Não. Não. Não.


 


-       O que está fazendo aqui? – perguntou e se sentiu estúpido logo no segundo seguinte. Era a pergunta mais idiota que já fizera em sua vida, talvez. Afastou-se de volta para dentro do quarto procurando ver se a distância amenizava a ânsia que lhe subia desesperadamente pelo estômago. Não. Não. Não. Seus olhos pularam de Pansy para Lúcio repetidas vezes enquanto seu cérebro trabalhava. A reação de Pansy havia trocado para um estado de alerta que piorava toda a situação.  Apenas pergunte. Seu cérebro insistiu. Pergunte logo. Pergunte de uma vez. Ele torceu para que fosse um sonho, mas mesmo assim procurou a coragem. Olhou fundo nos olhos de Pansy, porque seu pai sempre fora uma decepção de qualquer forma. Não iria lidar com ele agora. – Desde quando? – perguntou de uma vez.


 


-       Não interessa, Draco. – o estado de alerta dela entregava tudo.


 


-       Desde quando? – repetiu pausadamente.


 


-       Draco, não intere...


 


-       Desde quando a família dela entrou para o círculo de Comensais. – seu pai respondeu por ela, o que especificamente havia acontecido três anos depois que haviam saído de Hogwarts.


 


Uma onda de desgosto lhe subiu a garganta e a vontade de agredir Pansy veio como consequência de toda a sua frustração. Mas ele não ousaria. Jamais ousaria. Sua cabeça começou a pulsar enquanto seu sangue corria quente pelas veias de ser corpo.


 


Não podia acreditar. Seu estômago revirou. Nunca teve problemas em saber que Pansy adorava estar com outros homens, mas não-seu-pai! Ela conhecia toda a frustração que ele guardava pela falta de compromisso que seu pai tinha com sua mãe. Ela conhecia toda raiva que ele tinha pela vida que seu pai vivia e pelo imenso número amantes que possuía.


 


-       E você era uma delas. – ele vociferou. – Durante todos esses anos. – sentia como se algo estivesse o corroendo por dentro. – Como pode fazer isso? Você... Você sabia... – ela sabia o quanto ele tinha um ódio especial e guardado por cada amante de seu pai. Aproximou-se dela. – Você me enganou. Você é corrupta, mentirosa, dissimulada, desleal... – ele queria explodir a cabeça dela. Engoliu o próprio ar notando finalmente o papel ao qual estava se prestando. Ajeitou a postura quase que imediatamente e procurou o homem racional que havia dentro de si. Encarou seu pai. Ele não parecia abalado ou sequer comovido. – Não é nenhuma surpresa para mim da sua parte. Mas você... – tornou a encarar Pansy. Seu olhar focou o colar que havia dado a ela. – Pensei que fosse mais leal ao que sempre disse ter por mim.


 


Foi naquele exato momento que percebeu que na verdade sempre esperou pela Pansy que havia conhecido quando criança. A Pansy ingênua, divertida, espontânea e companheira. Sempre esperara pelo momento em que ela fosse se livrar das máscaras que escondiam a criança que ele havia conhecido, simplesmente porque sabia que poderia se apaixonar por ela, mas a verdade é que agora entendia que aquela criança havia morrido. Aquela não era Pansy com máscaras, aquela mulher era apenas Pansy Parkinson, e sempre que ele conseguia enxergar o brilho da criança que ela havia sido um dia naqueles olhos profundos e azuis, era na verdade, nada mais que a frustração da ambição de se tornar uma Malfoy. Uma ambição que ela passara uma vida alimentando.


 


-       Você não merece isso. – sua mão arrancou o colar do pescoço dela. Pansy protestou instantaneamente. Sem aquele colar ela não tinha mais o tamanho da influência que normalmente se gabava ter. Aquele colar dava a ela a posição de uma extensão da família Malfoy, dava a ela uma segurança que ninguém mais tinha dentro da ditadura de Voldemort.


 


-       Draco, não...


 


-       Lide com ele agora. – apontou seu pai com a cabeça. – Faça ele te dar o poder que eu te dei carregando isso todos esses anos. Faça ele se importar com você como eu me importei. Faça ele ser sua companhia como eu fui por tanto tempo. Tenho pena de você por isso, porque sei que vai desejar que ele tivesse o mesmo senso de


 


E foi embora.


 


**


 


Virou o último gole de whisky em seu copo e sentiu a textura do cordão de ouro branco que havia ficado contra a pele de Pansy por tanto tempo contra seus dedos. Esforçou-se para que o silêncio servisse como distração para seus pensamentos por um ou dois minutos enquanto girava fazia os gelos em seu copo irem de um lado para o outro distraidamente. Não teve muito sucesso.


 


Fechou os olhos e colocou o copo gelado contra sua têmpora esperando que pudesse ser uma solução para os pensamentos que ferviam em sua cabeça. Era tarde da noite. Ele já deveria estar dormindo. Mas sabia bem que se deitasse, não conseguiria pegar no sono e muito provavelmente perturbaria o de Hermione, o que ele não ousaria fazer.


 


Tentava não se focar no nojo que sentia por ter se deitado com a mesma mulher que seu pai também levava para cama por tanto tempo sem saber, mas isso acabava o fazendo se concentrar na frustração que sentia pela traição de Pansy e aquilo o consumia.


 


Ele nunca havia chorado a situação de sua família para Pansy. Nunca. Mas eles já haviam passado tempo o suficiente juntos para ela saber que nada no comportamento de seu pai o agradava, principalmente por causa de sua mãe, e que isso o incomodava intensamente, por mais que não demonstrasse com frequência.


 


Soltou o ar com calma para tentar controlar a raiva que sentia e manter seu estado de racionalidade intacto. Desejou que fosse inverno. Certamente ficaria do lado de fora por algumas boas horas. Girou o gelo em seu copo novamente e começou a contar quantas horas de sono teria se fosse dormir naquele exato momento. Talvez aquilo servisse de distração. Mas a verdade era que não sabia como deveria digerir aquilo ou o que deveria fazer para que pudesse digerir. O colar que arrancara do pescoço dela queimava em sua mão e ele queria ter o poder de voltar no tempo para mudar tudo aquilo, para nunca ter se envolvido com ela, para nunca ter dado a ela aquele colar, para nunca ter feito dela alguém especial.


 


Temeu que pudesse passar o mesmo com Hermione. Ele já tivera experiências o suficiente para ter certeza de que não deveria colocar nenhuma, absolutamente nenhuma, mulher em qualquer posição especial em sua vida. Estava arriscando colocar Hermione no mais alto das posições naquele momento e ele temia absurdamente pela tragédia que aquilo poderia acabar sendo. Não que não confiasse no que ele sentia por ela, o que na verdade ele realmente não confiava, mas porque sabia que a relação que tinham ainda era frágil demais, instável demais. Eles tinham um passado conturbado e isso não ajudava. Ele sabia que não ajudava. Talvez ele se ele tivesse resistido por mais tempo...


 


Seus olhos foram direto para a porta quando ela se abriu. Hermione revelou-se cuidadosamente e passou para o lado de dentro de seu escritório tão silenciosamente que se ele não estivesse a olhando muito provavelmente não perceberia a presença dela. Estava vestida na longa camisola de seda vinho com o robe por cima. Descansa como sempre. Eles se encararam em silêncio enquanto ela se encostava na porta. Era incrível, e estranho ao mesmo temo, a forma como ele conseguia ver o sobrenome Malfoy nela agora. A postura que ela assumia, cansada, descalça, com sua roupa de dormir, em casa. Havia orgulho dentro dela. Não o orgulho que ela sempre carregara, mas um orgulho esnobe. O orgulho de um Malfoy. Será que aquilo estava a estragando ou a fortalecendo? Ele queria poder entrar dentro da cabeça dela. Tudo que podia fazer era suposições e sempre se via perdido nelas quando tentava organizá-las.


 


-       Eu ia perguntar o porque não quer it para a cama, mas me parece que se fosse talvez pudesse acabar achando um desafio ter que dormir. - Hermione manifestou-se depois de passar um longo tempo o analisando.


 


Ele podia acabar rindo pelo quão bem ela havia conseguido o decifrar em apenas alguns minutos de silêncio, mas acabou somente suspirando e desviando o olhar. Hermione atravessou a distância que os separava e parou logo a sua frente estendendo o braço e tocando a mão que ele segurava o copo muito delicadamente. O toque dela era bom. Ela perguntou se ele precisava de mais bebida usando uma voz suave e ele respondeu soltando o copo na mão dela.


 


Não foi capaz de se concentrar nos passos dela pelo cômodo nem no som do tilintar de vidro ou da bebida enchendo o copo, simplesmente porque não queria se esforçar. Esperou até que Hermione viesse por trás do sofá onde estava sentado e estendesse o copo para ele por cima de seu ombro. Ele o pegou agradecendo e fechou os olhos quando os dedos dela desceram por sua nuca e massagearam seu ombro muito distraidamente por somente um segundo.


 


O valor que o toque dela tinha era indescritível quando o recebia. Era como se seu cérebro imediatamente o lembrasse como havia sido ruim o tempo em que não o tivera. Segurou a mão dela inalou o resquício do perfume que ainda havia em seu pulso e o beijou.


 


Ela deu a volta no sofá, puxou a saia de sua camisola e sentou ao lado dele colocando as pernas sobre as dele. Draco deslizou os dedos distraidamente sobre perna dela e a encarou enquanto ela apoiava o rosto no punho do braço que descansava sobre o espaldar do sofá. Ela estava completamente despida de sua maquiagem e ele adorava ver o rosto dela limpo. Gostava do rosado natural das maças de seu rosto, do vermelho meio pêssego que parecia sumir quase que em degrade em seus lábios, do intenso dourado que seus olhos destacavam sem nada para distrair ao redor deles. Gostava até mesmo das imperfeições que podia ver tão de perto. Desenhou o rosto dela com a ponta dos dedo e tocou uma minúscula cicatriz que ela um pouco abaixo do queixo.


 


-       Onde conseguiu isso? – Perguntou. Sua voz saiu rouca.


 


Ela também tocou a cicatriz.


 


-       Eu tinha três anos. Estava escalando a estante do escritório do meu pai e caí. – ela respondeu.


 


Ele ergueu as sobrancelhas.


 


-       Lembra disso?


 


Ela negou com a cabeça.


 


-       Meu pai me contou.


 


-       Por que não a curou depois que descobriu ser uma bruxa?


 


Ela deu de ombros.


 


-       Não me incomoda. A única coisa que mudei, e por conveniência, foram meus dentes. Não sou perfeita, portanto também não preciso me esforçar em parecer. Além do mais, me faz pensar que até mesmo quando não tinha muita noção do mundo, já amava livros.


 


Ela sorriu e ele também não foi capaz de conter o seu. Inclinou-se e selou seus lábios nos dela. Hermione segurou seu rosto e quando ele se afastou minimamente, ela enterrou os dedos em seu cabelo carinhosamente.


 


-       Sinto muito por ter gritado com você hoje. Eu não esperava que fosse te perturbar tanto. – ela sussurrou.


 


Ele soltou o ar e afastou-se. A expressão de preocupação no rosto dela apareceu instantaneamente.


 


-       Não é você, Hermione. – disse e virou um longo gole em sua bebida.


 


Eles não falaram nada por um longo minuto. Sentia Hermione o analisando novamente. Aquilo o incomodava, mas sabia que estaria fazendo o mesmo se fosse ela.


 


-       Posso ir embora se preferir ficar soz...


 


-       Fique. – ele a interrompeu. Ela fora a primeira distração que tivera algum efeito positivo.


 


O longo silêncio novamente fez com que as coisas não ficassem confortáveis entre eles como antes.


 


-       Sei que o colar que tem em sua mão é de Parkinson. – ela finalmente comentou.


 


Ele encarou o fio de ouro branco entre seus dedos.


 


-       Era. – foi tudo que ele disse.


 


-       Era? – ela ergueu as sobrancelhas parecendo surpresa. O silêncio se instalou entre eles mais uma vez e ela começou a não parecer nada contente. – Vai mesmo me deixar sem nenhuma explicação?


 


Ele soltou o ar e revirou os olhos.


 


-       Passamos o dia inteiro brigando, Hermione. Não acho prudente continuarmos essa conversa.


 


-       Você tem sempre evitado conversas! – ela exclamou aborrecida.


 


-       Você também! E não acredito que seja alheia ao fato de que estamos fazendo isso por causa dos medos de expor um para o outro a insegurança que temos a respeito... disso que estamos fazendo. Dessa decisão que tomamos.


 


Ela estreitou os olhos.


 


-       Disso? – ela não gostou do nome que ele deu. – Eu estou te dando meu coração por inteiro, Draco. Não trate como “isso”. Todo relacionamento vem com inseguranças se é isso que quer saber.


 


-       E você quer tratar como algo casual? Se quer mesmo tratar como casual, deve ser capaz de responder o porque me beijou. Você sabe que foi puramente instinto. Sabe que foi impulsivo. Tomamos a decisão de nos fazermos exclusivos um para o outro baseado em algo totalmente não racional. Sabe que não sou alguém que confio no não racional, Hermione. Sinto muito, esse não sou eu.


 


-       Então se arrepende? É isso?


 


-       Claro que não me arrependo. Não me arrependo agora. Tenho sentimentos por você, Hermione, mas sentimentos são passageiros. Eles vem e vão em um piscar de olhos.


 


Hermione desviou o olhar se afastando dele. Levantou-se após alguns segundos de silêncio.


 


-       Você duvida de... nós? – indagou.


 


-       Não diga que você também não duvida. – foi o que ele respondeu.


 


-       Ao menos estou sendo positiva a respeito. – ela o encarou aborrecida.


 


-       Eu estou sendo racional. – porque sempre priorizava o racional.


 


-       Por isso precisou ir até Pansy Parkinson para ter a certeza de que quer mesmo escolher alguém com quem tem um péssimo passado ao invés de alguém com quem teve uma boa história? – ela indagou.


 


-       Podemos, por favor, não falar de Pansy Parkinson?


 


-       Por que? Porque sabe que o que está o levando a perder o sono, por causa dela, pode nos afetar.


 


-       Porque você não seria compreensiva!


 


Dessa vez ela realmente pareceu aborrecida.


 


-       Sabe que eu posso ser a pessoa mais compreensiva do universo quando se diz respeito a você, Draco!


 


Ele estreitou os olhos para ela sentindo a fisgada.


 


-       Você jamais entenderia o que Pansy significa para mim, Hermione!


 


-       Então porque está me escolhendo ao invés dela?


 


-       Porque o que você significa para mim e o que ela significa para mim fazem parte de lados muito opostos!


 


-       Ela está te roubando o sono!


 


-       Ela está me roubando o sono hoje! Você tem me roubado o sono desde o dia que te conheci! Será que essa realidade te faz se sentir melhor? Se sente especial o suficiente agora para poder simplesmente fechar a boca e entender que não estou pronto para expor o que eu sinto a respeito da história que tenho com ela agora? – levantou-se aborrecido, virou a bebida de uma vez e deu as costas a ela para poder encher outro copo. Hermione não disse nada enquanto ele virava mais bebida em seu corpo. Ele soltou o ar cansado. – Saia, Hermione.


 


-       Draco, eu não...


 


-       Apenas saia, Hermione. – ele a cortou.


 


Ela resistiu por alguns segundos. Então finalmente foi embora.


 


Ele quis jogar o copo longe e com força. Por que eles tinham que ser assim? Tão instáveis. Tão inconstantes. Era aquilo que o dava incertezas, inseguranças, medos. Conhecia os defeitos de Hermione. Havia os maximizado por boa parte de sua vida. Era estranho que conseguisse aceita-los naturalmente agora, mesmo que eles ainda o incomodassem.


 


Soltou  ar encarando o copo entre seus dedos. Aquilo havia sido estúpido. Estúpido como todas as discussões que constantemente tinham. Mas embora fosse desgastante, ele ainda preferia que a maioria de suas conversas dessem em um discussão do que não ter a chance de conversar com ela de forma alguma. O silêncio que haviam vivido no tão recente passado que haviam tido era terrível demais para que desejasse voltar para aquele estado.


 


Mas não era sua culpa que Hermione e ele tivessem sido programados de forma tão incrivelmente distinta. Era frustrante ver que tudo que o unia a ela naquele momento não fosse o suficiente para que os conflitos que tinham suavizasse.


 


Pegou o copo e o levou até a boca. Parou antes de beber seu whisky. Não deveria estar fazendo aquilo. Não deveria estar se desgastando em bebida e paz mental por causa de Pansy. Não deveria estar entrando em argumentos com Hermione por causa de Pansy. Sim, ela significara muito em sua vida, mas não importava mais. Ela não merecia. Mas ainda se aborrecia pelo fato de ter sido enganado.


 


Deixou o copo de lado e deu as costas pensando em como deveria agir agora que havia o ido fundo em sua falta de paciência com Hermione. Discussões, argumentações e brigas não o faziam a querer menos e essa era a pior parte, porque o fato de querê-la, mesmo quando brigavam, tornava tudo mais difícil de suportar. Agora ele não tinha apenas que lidar com a frustração por causa de Pansy, também tinha que lhe dar com a frustração por causa de seu relacionamento com Hermione.


 


Encarou o colar em sua mão e passou os dedos pelo cabelo. Precisava se desapegar daquele artefato. Estava o fazendo se odiar. Ainda se lembrava do dia que o encontrara numa das partes mais inusitadas do cofre de sua família. Pansy havia invadido sua cabeça no segundo em que colocara os olhos sobre ele e naquele momento ficara extremamente surpreso porque raramente seu cérebro não associava Pansy a sexo. Lembrava-se de como havia pensado sobre ela aquele dia. Lembrava-se de como havia a preparado durante a noite, após terem gastado bastante tempo com sexo, para lhe dar o colar. Lembrava-se do curto e despretensioso discurso que fizera antes de lhe entregar a joia e de como os olhos dela haviam brilhado. De como a Pansy criança e ingênua havia o encantado aquele dia. De como ele havia colocado em sua cabeça a certeza de que não se importaria realmente se caso seus pais acabassem o forçando a se casar com ela.


 


Sentia-se estúpido e ficar ali remoendo aquilo provavelmente lhe tomaria anos de suas idades finais na vida. E a verdade era que também se sentia mais tentado a resolver sua situação com Hermione.


 


Largou em qualquer lugar aquele maldito colar e saiu de seu casulo atrás da mulher que decidira tornar exclusiva em sua vida. Ela tinha valor, mesmo que a o passado que tivessem contasse o contrário.


 


Encontrou-a no quarto. Ela estava sentada em seu lado da cama com as pernas cruzadas e as mãos sobre o volume de sua barriga que a cada dia que se passava ficava maior. Ela ergueu os olhos para ele e ele viu raiva, frustração, orgulho ferido e decepção. Tudo ao mesmo tempo. No mesmo segundo, sentiu que não deveria estar ali. Hermione era orgulhosa o suficiente para afastá-lo pelo que ele havia feito, pela ferida que ele havia aberto. Ela havia entregado seu coração a ele, e ele deveria estar dando o melhor de si para mantê-lo saudável e ao invés disso ele havia o machucado mais uma vez.


 


Aproximou-se sabendo que deveria começar com algum tipo de pedido de desculpas, mas a verdade é que não tinha a menor ideia de como deveria proceder seu pedido de desculpas. Podia usar uma mão apenas para contar quantas vezes se desculpara por algum erro seu em sua vida. Não era algo frequente, mesmo que soubesse que cometia erros todos os dias. Era um Malfoy.


 


Sentou-se na beira do colchão próximo a ela. Encarou as próprias mãos enquanto as esfregava apoiando os cotovelos em cada joelho. Pensou em milhões de possibilidades de começar aquilo e sentiu-se frustrado ao repassar todas elas em sua cabeça. Respirou fundo para cair de cabeça e quando pensou em abrir a boca ela fez sua linda voz soar antes da dele:


 


-       Desculpe por ter te confrontado em um momento ruim. – foi o que ela disse. Ele ficou totalmente surpreso e ergueu os olhos para ela. – Sei que teve um dia ruim, tenho uma boa parcela de culpa nisso, e ainda assim, quando queria minha companhia, não me fiz ser alguém agradável.


 


Ele puxou o ar completamente sem reação.  Ah, céus! Por que ela tinha que ser assim? Ela o quebrava por inteiro.


 


-       Por que está fazendo isso, Hermione? – ele conseguia ver claramente que aquilo era a última coisa que ela parecia estar a fim de dizer.


 


-       Me comprometi a você quando te entreguei meu coração. Preciso ser consciente dos meus erros e das minhas falhas para ter certeza de estou dando meu melhor.


 


Draco respirou fundo e encarou as próprias mãos novamente. Relacionamentos eram muito mais complicados do que imaginava. Queria que seus sentimentos a respeito dela fossem suficientes, mas a verdade é que realmente não acreditava que sentimentos eram suficientes para nada de qualquer forma. Seu pai costumava lhe dizer com frequência quando criança que objetivos eram nada mais do sonhos se você não estipulasse prazos. E sonhos são desejos, desejos são sentimentos e sentimentos são instáveis.


 


-       Também me comprometi a você. Desculpe por ter te machucado mais uma vez, por não estar sendo compreensivo com o seu lado com relação ao ataque a Ordem ou por não ter coragem o suficiente para me mostrar por inteiro. Não gosto de me sentir vulnerável e existem partes de mim que guardo para mim mesmo porque sei que elas me deixam vulneráveis.


 


Hermione não respondeu nada por alguns segundos. Quando tornou a olhá-la, não havia mais nenhum sinal de rejeição. Ela o encarava com um olhar tão sincero que era acolhedor.


 


-       Não pense que eu também não gosto. Não acredito que exista alguém no mundo que goste de se sentir vulnerável. Também existem partes de mim que não mostro a ninguém e acredite, Draco, não precisamos mostrar um para o outro essas partes se não nos sentirmos seguros. Ainda não confio em você totalmente como sei que também não confia em mim. Estamos construindo isso. Vai levar tempo. Apenas espero que sejamos persistentes a respeito.


 


Ele apenas concordou. O silêncio se alongou entre eles por alguns longos minutos e quando ele tornou a abrir a boca, foi para expor todo o caso sobre Pansy. Contou sobre o que o levou até ela, contou sobre o que conversara com ela, contou sobre como se sentiu a respeito, e contou sobre seu pai. Contou como vê-lo lá estava o consumindo. Odiava se sentir traído e sentia que Pansy havia o traído em todos os sentidos.


 


Hermione apenas suspirou no final de tudo que ele havia dito e ficou em silêncio. Ele sentiu como se tivessem voltado no tempo, quando ele costumava contar coisas aleatórios que o incomodavam no meio da noite, quando tudo estava escuro e eles estavam tentando dormir. A forma como ela o escutava era quase mágica, era como se ela simplesmente absorvesse tudo aquilo e fizesse com que instantaneamente o peso que aquilo o trazia fosse divido em dois embora ela não fizesse simplesmente nada além de escutá-lo.


 


-       Detesto o modo como ela faz com que eu me sinta fraca por causa da longa história que vocês dividem. – foi tudo que ela disse depois dos longos minutos de silêncio.


 


Ele sorriu ao como ela não tinha medo de colocar aquilo na mesa.


 


-       Minha história com você foi mais honesta do que qualquer história que tive com Pansy, Hermione. Nosso ódio foi recíproco, nossa aversão um pelo outro sempre esteve no mesmo patamar. Até mesmo agora, sinto que procuramos ser o mais honestos um como outro possível, para podermos estar no mesmo nível. Minha relação com Pansy, por melhor que fosse, durante todos esses anos, nunca foi honesta, sincera ou recíproca. Sempre estivemos usando um ao outro e nunca estivemos no mesmo nível. É diferente com você. Principalmente agora. Não quero te usar, não me interessa te usar, não me interessa que você seja ou não seja usável. Apenas a quero. O que me faz ter a certeza que não tomei a decisão que tomei por conveniência, porque já somos casados ou porque está grávida dos meus filhos. Eu apenas a quero.


 


Hermione não conseguiu conter seu lindo sorriso. Ela fechou os olhos suspirando e depois encarou a própria barriga enquanto usava as mãos para acaricia-la com cuidado.


 


-       Gosto de como você consegue ser sexy quando é sincero. – ela disse e ele teve que rir. – É surpreendente. - Deslizou a mão pela barriga. – A propósito, seus filhos só podem estar brigando aqui dentro.


 


Ele aproximou-se mais para ter a chance de poder senti-los se mover. Hermione direcionou a mão dele para o exato lugar onde conseguia sentir a interação deles. Draco não conseguia processar como aquilo era incrível, esquisito, surreal e lindo ao mesmo tempo. Hermione estava produzindo vida. Dentro de alguns meses haveriam novas pessoas naquela casa e ele estaria para sempre comprometido a elas.


 


Encarou Hermione e ela fez o mesmo sem tirar seu sorriso do rosto. Aquilo a encantava. Ele conseguia sentir pelo olhar e pelo sorriso dela. Filhos. Ao menos tempo que a encantava, também a levava a loucura. Tinha que se aproveitar dos momentos em que ela se sentia encantada, porque sempre se achava uma péssima companhia para os que ela beirava a insanidade por saber o prazo deles estava acabando e ela não queria ver os filhos nas mãos de Voldemort.


 


-       Podemos nos comprometer a não brigar pelo menos pelos próximos cinco minutos? – sugeriu a ela.


 


Hermione riu suavemente.


 


-       Podemos estender para uma hora. Sabe o que temos que fazer.


 


Ele ergueu as sobrancelhas e riu.


 


-       Sabe muito bem que podemos brigar enquanto fazemos sexo, Hermione. – era só o que faziam logo quando se casaram e ele havia adorado, havia aproveitado, havia viciado. Talvez um dia eles tornassem a visitar aquele tipo de sexo por diversão. Agora ele não conseguia, nem queria. Tê-la na cama era como ter o vislumbre de seu bem mais precioso e em toda sua glória. Era como se toda vez que estivesse com ela, ali, seus laços se tornassem mais fortes, suas conexões se unissem ainda mais, suas vidas se tornassem cada vez mais, uma. Ele era incapaz de descrever o significado agora que havia um entendimento de que estavam comprometidos um com o outro. Mudava tudo e ele não desejava que nada daquilo fosse de alguma outra forma, diferente.


 


-       Não estamos vivendo essa fase agora. – ela disse com seu sorriso.


 


-       Não. Não estamos. – ele se aproximou, segurou seu rosto e a beijou. Não sabia qual seria a próxima fase deles, apenas queria que não fosse uma em que eles estivessem se odiando, porque os sentimentos que tinha quando a tocava, quando a tinha na cama, quando se lembrava de que ela era só dele e que as vidas que haviam criado juntos estava dentro dela naquele momento era precioso demais para ser perdido ou esquecido. – Sabe que tenho um objetivo com tudo isso, não sabe? – afastou-se minimamente. – Com a decisão que tomei, com tudo isso que me comprometi. Eu e você.


 


-       Você sempre tem um objetivo, Draco. – ela segurou sua mão. – Só não sei quanto do seu sentimental e quanto do seu racional completa esse objetivo. Não haveria qualquer chance de estar comigo agora se não existisse sequer um pingo de racional envolvendo tudo isso e as vezes temo que essa racionalidade seja a conveniência de estarmos casados, de eu estar carregando seus filhos e de já estar preso a mim por termos um sobrenome em comum.


 


-       Por isso ainda resiste em permitir que eu ataque a Ordem?


 


Ela suspirou e ele se afastou para dar espaço a expressão conflituosa que surgiu em seu olhar.


 


-       Sim e não. – ela desviou o olhar. – Eu não sei o que te motiva com relação a nós dois, Draco. Eu sei o que me motiva e isso me dá medo porque não é nada com que eu seja familiar. Eu não sei até onde pode me levar. Tenho receio de quem ou no que posso me tornar.


 


-       E ainda assim vale a pena. – tinha que valer, porque ela havia escolhido estar com ele. Ela havia escolhido beijá-lo aquele dia. Ela havia escolhido lhe entregar seu coração.


 


-       Quando estou com você vale. – ela o encarou. – Mas meu psicológico ainda é incapaz de confiar em Draco Malfoy por causa de tudo que já vivemos desde que nos conhecemos. A parte de mim que sempre acreditou que o mundo seria melhor sem você. – era a vez dela ser sincera. – Desde que me trouxe para Brampton Fort, desde que me tornei uma Comensal, desde que nos casamos, desde quando as coisas mudaram para nós, em algum lugar da minha cabeça, a Ordem sempre foi o lugar para o qual eu deveria voltar. Por mais que os meses se passassem, por mais que eu me afundasse nessa vida, por mais que minhas preferencias e prioridades mudassem, em minha cabeça, a Ordem sempre foi o lugar onde eu deveria estar, desde o começo, mesmo que eu sinta que tenha deixado de ser parte dela há tanto tempo. Eu queria estar pronta para destruí-la definitivamente. Eu queria estar pronta para não ter nenhuma outra opção além dessa vida. Eu queria estar inteiramente disposta a ser responsável pela destruição dela, pela destruição daquilo que ainda me segura, que me impede de entrar de cabeça na minha vida de agora, no futuro que eu e você temos. – ela suspirou e abaixou os olhos para o volume em sua barriga. – Você não faz a menor ideia do conflito que eu tenho com aquilo que realmente importa para mim. Eu queria que perder os meus filhos, que eu e você, que o fim de Voldemort pudesse ser mais do que o suficiente para me permitir mudar, para abrir mão de todo o passado que me segura, principalmente da Ordem. – tornou a encará-lo. Havia frustração, indignação e sinceridade ao mesmo tempo em seu olhar. – Mas não é.


 


Ele se afastou. Encararam-se por alguns segundos.


 


-       E como você queria que isso fosse diferente?


 


-       Eu não sei. – ela deu de ombros confusa. – Eu não sei o que eu prefiro. Eu não sei se preferiria nunca ter vivido nenhum segundo do que vivi desde que vim parar aqui, se prefiro ainda estar trancada na utopia da Ordem com a proteção e o amor das pessoas que me cercavam lá. Ou se prefiro isso. Nós dois, nossos filhos, o mundo livre de Voldemort. – ela respirou fundo. – Eu só queria ter a certeza de que todos os sacrifícios que terei que fazer não vão me impedir de ser feliz.


 


Ele segurou a mão dela.


 


-       Posso te fazer feliz. – lembrou-se do dia em que a vira por acidente no closet que dividiam. A forma como ela tentava procurar forças dentro de si para não desabar. Ele não queria ser responsável por aquilo se pudesse evitar.


 


Mas o olhar que Hermione assumiu ao escutar aquelas palavras foram de total carinho. Ela estendeu a mão e lhe tocou o rosto. Seu sorriso saiu triste.


 


-       Draco, as vezes eu não acredito que você seja feliz. – ela foi sutil e doce, mas não deixou de confrontá-lo. Ele quis retrucar imediatamente, mas a falta de palavras deu a ele tempo o suficiente para que pudesse fazer sua própria avaliação sobre aquele comentário. – As vezes tenho dúvidas de que até mesmo saiba o que ela seja.


 


-       O que você acredita que felicidade seja? – ele perguntou tentando evitar que seu receio por aquele assunto fosse demonstrado de alguma forma.


 


Ela deu de ombros.


 


-       Paz. – respondeu. – E eu não sei se seria capaz de tê-la depois de tantos sacrifícios e decisões loucas que venho tendo que tomar para ter um futuro com meus filhos.


 


Talvez ela tivesse razão, mesmo que ele ainda se sentisse tentado a acreditar que felicidade estava relacionado a alegria. O que provavelmente era um pensamento estúpido. Já havia tido bons momento de satisfação em sua vida e mesmo assim ainda se sentia vazio. Talvez se conseguisse paz, também conseguisse alegria. Mas duvidava que um dia conseguiria. Já havia matado e torturado pessoas demais para que conseguisse se livrar do nome de cada uma delas, do rosto, das expressões, do ódio.


 


-       Eu não quero ser responsável por estar te colocando em uma posição que te faça responsável pela queda da Ordem, Hermione. Se não quiser tomar parte na decisão final, não precisa.


 


-       Quero ser corajosa. Sou corajosa.


 


-       Mas você também é leal.


 


-       Não posso mais ser leal, Draco. Não a eles. Preciso salvar meus filhos. Preciso salvar meu futuro. Preciso salvar o mundo de Voldemort.


 


Ele soltou o ar e entendeu finalmente o impasse dela. Eles poderiam ficar naquilo a noite inteira. E certamente ficariam meses e mais meses discutindo, argumentando e entrando em brigas, sobre o caso de invadir a Ordem se ele continuasse a dar espaço a ela naquela decisão


 


-       Eu não posso deixar você fazer isso. Por mais que eu queria que meu departamento entenda que tomamos decisões juntos, não quero te fazer tomar uma decisão se não está pronta para ela ainda.


 


-       Eu pensei que fosse ser capaz. Fui tão longe. Trabalhei com a Comissão. Entreguei os segredos da Ordem. Falei com Harry...


 


-       Não importa, Hermione. Se não está pronta. Não está pronta.


 


Ela quis continuar vomitando suas justificativas. Justificativa que ela deveria tentar usar o tempo todo para se conversar a concordar com os planos de invasão da Ordem. Mas sua boca abriu e fechou diversas vezes até que ela finalmente desistisse.


 


Eles entraram em um longo e duradouro silêncio. Ele a encarava. Ela não. Quando Hermione finalmente ergueu os olhos para ele, ainda havia confusão ali, mas ao mesmo tempo, algum tipo de alívio. Talvez deixar que ele soubesse do impasse que ela vivia a fizesse sentir alívio.


 


-       Draco. – ela foi até ele. Subiu em seu colo passando as pernas por ele. Segurou seu rosto e o beijou. Ele só teve uma palavra para descrever. Intenso. – Faça amor comigo. – ela pediu e ele entendeu que na verdade ela estava implorando: “Me distraia.”


 


Ela não precisava pedir duas vezes por aquilo.


 


 


Hermione Malfoy


 


 


Acordou sozinha e sem roupa mais uma vez naquela semana. Eles não paravam agora que haviam finalmente voltado a se tocarem. Mas diferente dos outros dias, ela sabia que ele não havia deixado a cama fazia alguns minutos. Ele muito provavelmente saíra no meio da madrugada e ela tinha certeza do porque.


 


Não aparecia na Catedral fazia alguns dias. Sabia que Draco estava tomando todas as providencias para seguir em frente com o ataque da Ordem com a ausência dela agora. Ela fingia que não sabia e ele fingia que ela não sabia. Não havia brigas, mas também não havia tantos sorrisos. O que realmente já não estavam acostumados a ter.


 


Encarou o teto por longos minutos enrolada em seu lençol. Sua mente estava em constante conflito desde a manhã que decidira não ir para a Catedral. Draco não havia sugerido que ela ficasse aquele dia, mas a sugestão ficara oculta na conversa da noite anterior o no quanto ele precisara ser uma distração para ela durante a noite. O que ela acreditou que fora recíproco visto que ele também precisava de uma distração com relação a Pansy aquela noite.


 


Acariciou sua barriga quando sentiu as vidas ali dentro pela milésima vez. Era delicioso. Suspirou e continuou a encarar o teto. Aquele debate interno constante. Aquilo a consumia. Sugava sua energia mais do que seus próprios filhos. Talvez se ela dormisse novamente fosse capaz de passar aquele dia sem ter que lhe dar com sua ansiedade.


 


Você é fraca.


 


Sentou-se, sendo incapaz de ficar imóvel sempre que escutava aquele exclamação contra ela mesmo dentro de sua cabeça. Soltou o ar e passou as mãos pelos cabelos tentando se distrair com todos os nós que Draco fizera neles na noite anterior.


 


Sabe o que realmente importa agora, Hermione. Não pode voltar para o passado, não se prenda a ele.


 


Mas ela sabia que não teria paz se tivesse que carregar a morte de tantos. Carregava a de Fred e de muitos outros membros da Ordem que mal conhecia e já era um tormento. Como poderia viver com a culpa da queda da Ordem.


 


Levantou-se e arrumou-se para o dia. Desceu, tomou seu desjejum na companhia da silenciosa Narcisa Malfoy e a cada dia que se passava parecia ser mais sugada pela solidão embora permanecesse em suas roupas perfeitas, sua postura perfeita e sua maquiagem perfeita. Elas não conversaram, o que já estava se tornando rotina, e isso deu espaço para que Hermione continuasse enfrentando sua batalha mental. Tentou se distrair com o jornal. Não funcionou. Com a comida. Também não funcionou. Tentou conversar com Narcisa. Definitivamente não funcionou.


 


Subiu para a Casa de Poções no sótão e tentou se distrair. Precisou estragar uma poção que vinha trabalhando há dias para simplesmente abandonar tudo aquilo, preparar uma carruagem e ir para a Catedral.


 


Seus passos a levaram direto para o quartel. A sala de aparatação e o salão de chaves de portais estava abarrotava de membros do exército. A formação deles a fez se lembrar com rapidez de qual era aquele plano. A rotação de homens e mulheres seria grande no campo de batalha. Eles estavam seguindo ordens.


 


Entrou na antessala da Comissão. Ninguém contestou ou pareceu surpreso quando ela apareceu. Ao contrário do que ela pensou. Eles deram espaço para que ela tomasse o lugar que lhe era de direito pela posição que tinha no departamento de seu marido.


 


Olhou a enorme mesa a sua frente com o mapa da sede da Ordem. O mapa que ela havia providenciado. Já haviam pontos espalhados por todo o lugar e eles se moviam. O que fez Hermione saber que a operação já havia começado. Eles já haviam lançado a magia de identificação sobre o edifício, o que a fazia poder ver naquele mapa qualquer ser humano vivo que se movia dentro daquele espaço. Azul, Ordem. Vermelho, Comensais. Eles ainda eram poucos e ocupavam áreas muito discretas próximo a rua do Largo Grimmaud.


 


-       Estamos esperando autorização do general para podermos mandar a primeira equipe de Comensais. – informou a bruxa que estava no comando antes de sua chegada.


 


-       Draco já está lá? – pergunto, embora visse um ponto um ponto vermelho maior do que todos os outros. Sabia que era ele.


 


-       Sim. – apontou a mulher.


 


Hermione assentiu.


 


-       Me ligue com ele. – ordenou.


 


-       Agora? – A mulher perguntou incerta. Hermione precisou apenas lhe lançar um olhar para que não precisasse ordenar novamente.


 


Não demorou e escutou a voz de Draco. Ele não mostrou surpresa ao escutar a voz dela, mas se fez entender que não esperava.


 


-       Vou estar no comando da Comissão. Estamos apenas esperando suas Ordens para enviar a primeira leva de Comensais.


 


-       Perfeito. – foi o que ele respondeu. Um silêncio momentâneo fez com que ela capturasse o receio que ele sentia sem nem mesmo está-lo vendo. – Hermione. – a chamou. – Não vamos mudar o plano agora.


 


Ela respirou fundo.


 


-       Não quero que mude nada. – foi tudo que disse.


 


Ele não respondeu imediatamente. Talvez ele quisesse perguntar se ela tinha mesmo certeza daquilo, mas pessoas demais estavam escutando aquela conversa.


 


-       Então você tem o seu sinal agora. Me envie o primeiro grupo. 5 segundos. – ele deveria ter desligado depois daquilo, mas não desligou.


 


-       Ative as chaves. – Hermione ordenou para a Comissão.


 


As chaves foram ativadas e o primeiro grupo de Comensais sumiu.


 


-       Hermione. – a voz dele soou novamente. Ela respondeu que estava o escutando. Ele hesitou por um segundo. – Vamos ser felizes. – disse finalmente.


 


Ela suspirou. Sorriu. Mas foi doloroso.


 


-       Sim. Vamos ser. – respondeu e desligou.


 


Duvidava.

















NA: 4 horas de diferença do Brasil agora de novo. Me perdoem pelo pequeno atraso. Fui lembrar disso no meio do dia. :( 

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Comentários (15)

  • Cindy

    Nem tem o que falar. como sempre maravilhoso. 

    2015-11-05
  • TTS

    Fran, nossa rainha da perfeição! Primeiramente, gostaria de dizer que no capítulo passado - quando o Draco e a Hermione deram seus corações um para o outro, e derreteram o meu por inteiro - eu escrevi um comentário cheio de glitter, lantejoulas, purpurinas, flores, corações, e tudo mais. Porém, como nunca havia me acontecido antes, o site da Floreios não salvou, eu só fui ver isso agora, quando tive tempo de ler os comentários das meninas no capítulo 35 e até mesmo - com muita ansiedade e desespero- ler o 36! Desculpe. Eu deveria ter verificado se o comentário havia sido computado, mas também pelo meu pouco tempo, acabei não fazendo.   Bem, eu amo CdP. É a fanfic que mais amo, e não sei se haverá outra que a superará. Visto, é claro, que você pode vir a escrever outras, e aí então, sim, essa possibilidade se tornará real, já que você é maravilhosa. Mas enquanto isso não acontece, CIDADE DAS PEDRAS é meu grande amor, e único há muito tempo. Eu não tenho acompanhado e nem lido outras fanfics - Dramiones, ou quaisquer outros gêneros, unversos e casais. Ok, meu tempo está curtíssimo, mas não é só isso. Eu não consigo mais deixar de exigir perfeição em cada ponto e vírgula das outras estórias, e isso acaba comigo, que me frusto com outras escritoras e suas fanfics que, infelizmente, não chegam nem perto das suas e do seu potencial e talento. Enfim, vamos ao que interessa, afinal, meu tempo tb está estreito hoje. Adorei o capítulo. Gostei da atitude de Draco para com a Pansy. Achei uma atitude madura, correta. Eu não sei, mas a história deles dois, os significados dela na vida dele, o envolvimento de uma vida um ao lado do outro, mesmo Pansy sendo a vaca que é, tem mesmo um peso muito relevante. Eu me envolvi completamente nesta parte dos dois. Foi adulto, foi importante acontecer. Draco se mostrou comprometido com seus sentimentos. Tanto por Parkinson quanto por Hermione. E as dúvidas mais que humanas e sinceras dele, em não ter completa certeza de estar fazendo o certo em encerrar sua posse sob Pansy, mostra o quanto essa fanfic é tão perfeita, que parece ser real e não uma estória fictícia. São sentimentos, questões que todos os seres humanos estão sujeitos a ter dentro deles. Realmente gostei. Ah, e eu cheguei a sentir por Pansy em um momento. Eu a odeio a meu modo, mas ninguém sabe do outro melhor do que ele mesmo... Então, eu estava sentida por ela. Não, pera. O Lúcio bateu a porta dela, e eu quis que ela morresse junto com aquele cretino. ESQUECE, o que eu disse por lamentar o que quer que fosse. Pansy tem que se ferrar, Lúcio. E Draco, bem, foi dele que me deu uma peninha, em seguida. Eu não sei, mas sou muito sentimental haha . Foi visivelmente difícil para ele descobrir aquela traição. Ele nunca amou Pansy, mas, até a chegada de Hermione, ela havia sido o mais especial e importante na vida de Draco. E então, seu pai, aquele traidor imundo, dormia com ela por tantos anos, dividia a mesma mulher com Draco. A tal mulher que ele chegara a dar uma jóia da famíla Malfoy em nome de tê-la como alguém realmente especial na vida dele. FODA, meu bem. FODA de aceitar. Bom, ao menos, isso serviu para que ele não tivesse mais nenhuma dúvida sobre voltar a procurá-la ou não. Agora, vamos ao casal mais tempestuoso, difícil, instável, sexy, envolvente, lindo, inteligente, e poderoso. Draquito e nossa Fada, Herms. Eles ainda são uma incógnita para mim. Eu desejo de todo o meu coração que eles sejam realmente felizes, como Draco prometeu à Hermione. Mas você sabe tão bem o que escreve, o que faz com CdP, que cada parágrafo que lemos, podemos mudar nosso ponto de vista, ou parar de enchergar só o amor que queremos que prevaleça neles, para vermos a realidade do que os dois carregam dentro deles, o que eles são e o que as vidas deles impõem para eles. É fantástico, Fran. Meio deprimente, pois os fardos que Draco e Hermione carregam, parecem se sentidos por mim também. Mas eu ainda quero ter esperança. Sei lá, nem que a felicidade deles seja alcançada em um epílogo - que tenha se passado muito anos. Acho que depois de toda essa evolução dos dois, e quando Voldemort cair - se e que isso vai acontecer, já que você é terrivelmente imprevísivel haha - eu acredito que Draco e Hermione, em algum momento de suas vidas, mereceriam sentir felicidade.   P.S: Eu adoro as suas NC‘S deles. E não tem como negar que dá saudade de ler o amor que eles aprenderam a fazer juntos, mas, honestamente, a essa altura do campeonato, os carinhos que eles trocam, os beijos singelos, mas cheios de significados, são realmente muito mais especiais do que sexo. Olha, eu suspirei e sorri feito uma afetada quando ele beijou o pulso dela hahaha. É lindo imaginar a cena de um Draco carinhoso, sereno. E sobre os gêmeos? Não tem amor maior do que ler essas cenas.   Bem, Fran, eu torço muito por eles, de coração. E estou em cólicas agora. Vou definhar até dia 04/12. Meu Deus!!! A Ordem vai ser atacada! Quero muuuuitooooooooo saber a loucura que vai ser todo o caos após essa invasão e a queda da Ordem. Quem vai morrer?! Não mata o Rony!! haha E os dramas em relação ao Harry e a Gina??? Estão de pé, ainda? Eu quero hahahahahaha, até porque, o "Eu te amo" tão esperado, não aconteceu entre Draco e Hermione. Põe drama aí, Fran!! Olha, eu tenho milhares de perguntas, de dúvidas, de suposições. Mas eu se que não adianta te perguntar kkkk. Então, vou me remoer até o mês que vem, pq é o jeito. Ah, a Narcisa está me preocupando, mulher de Deus! O que vai acontecer com ela??!!! :‘( E agora, para terminar: "Eu... – puxou o ar e concentrou-se. – Tomei a decisão de fazer de Hermione a única mulher da minha vida." " -       Sim, definitivamente não sou, mas nunca quis nada na minha vida como quero Hermione, Pansy, e quando eu estou com ela eu não sinto a falta de ninguém, nem a necessidade de nenhuma outra mulher. Se tiver que ser assim para tê-la, eu realmente não me importo. Eu gosto que ela seja mais do que suficiente, gosto de ser só dela, gosto que exista apenas ela. Não seria justo se ela não fosse exclusiva, mesmo que eu não sentisse que ela fosse suficiente, porque a mulher que ela é merece essa posição."   Draco lacrando meu coração para a eternidade! Tão liiiiindo *-*   Parabéns por mais uma perfeição de capítulo, Fran! Ah, e meu 2016 vai começar muito bem! Vai ter capítulo de CdPs!!!!!!!!! hahahahahahahaha

    2015-11-05
  • jakelinealvesleal

    Mas é claro que vocês serão felizes(não me desaponte). O melhor capítulo <3Capítulo que vem tem que ser especial, o último do ano, então deveria ser 2 em 1 sla kkkkkkVc é a pessoa mais diva do mundoooo 

    2015-11-05
  • Landa MS

    Perfeitoooo. Queria poder dizer muito mais coisas a repeito desse cap, mas eu juro que já esgotei minha cota de elogios ao longo desses 36 caps. Se um dia eu fizer um top vinte das fic‘s que eu mais gosto, essa com certeza vai estar no podium.

    2015-11-05
  • Mimi Potter

    Ai mais que merda maldita da Pansy estar esse tempo todo transandk com o lúcio.  Na moral, q nojo do Lúcio. Mas vendo o copo meio cheio, nunca mais o draco toca nela hahaha ele e hermione vao ser muito dificeis de lidar juntos, né nem imagino o massacre q vai ser esse ataque e quem sobreviver ainda vai ter q encarrar a hermione. Deus, Voldemorte vai dar um baile em comemoração a derrubada da Ordem Vai ser uma treta só.  já imagino a Gina dizendo que estava certa sobre ela e blablabla   boa sorte e bom casamento!                                

    2015-11-04
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