Tão Longe, Tão Perto



Título: Contra a Parede



Autor: Mari Gallagher



Contato: [email protected] e [email protected]



Shipper: Harry e Hermione



Spoilers:
Livros 1 a 5



Gênero: Romance/Aventura



Status: Em andamento



Sinopse: Eles estão frente a frente após quatro anos, mas desta vez há algo diferente, há uma forte paixão mal resolvida. O que poderá acontecer quando esses dois tiverem que se encontrar em todos os lugares todo o tempo e ainda resolver um misterioso roubo? Harry Potter e Hermione Granger são postos Contra a Parede por seus sentimentos...





Capítulo I – Tão longe, tão perto




“25 years of my life and still

Tryin' to to get up that great big hill of

Hope, for a destination.”

4 Non Blondes – What’s up?






Uma manhã fria e cinzenta se consolidava na tradicional Londres, dias atuais. Uma Londres conturbada, parasitada, consumida, que emanava odores acres e faces de sonhos irrealizáveis a cada esquina, reflexo de um país em vias de subdesenvolvimento, ou uma potência em decadência que é como os economistas costumam circular a anedota. O empobrecimento generalizado de grandes parcelas da população britânica aumentou significativamente nos últimos anos. Sim, ela se lembrava de ter lido algo a respeito disso na semana passada. “Não parece tão ruim para mim, afinal”, pensou sorrindo disfarçadamente. Não queria que reparassem que ela era capaz de rir de seus próprios pensamentos, além do mais, tinha que se concentrar no que estava fazendo.

Relaxou e colocou uma mecha do cabelo que lhe batia no meio das costas para trás da orelha. Estavam diferentes de quando era mais jovem, num tom de chocolate escuro (todos achavam que se tornava mais discreto do que o antigo castanho dourado) e naquele dia estavam, definitivamente lisos, soltos sob uma boina estilo francesa, preta, que combinava com o restante das vestes, camiseta bege, saia preta e Sobretudo. Calçava um coturno preto discreto e que lhe aquecia o suficiente para aquela gélida manhã. Nesse momento se deu conta, de que não só os cabelos, mas todo o resto estava bem diferente, nada lembrava a garota de alguns anos atrás. Fizera vinte e cinco anos com louvor há alguns meses e cada vez que lembrava do seu próprio “eu” de seis ou sete anos antes só uma palavra lhe vinha à mente: “Patética”. Felizmente as coisas evoluem, e no seu caso, fora uma drástica evolução, era consciente disso.

Atravessou a rua a passos um pouco apressados e virou na próxima esquerda. Era uma rua bem movimentada, transeuntes iam e vinham, buzinas. “Caos”. Agora ela caminhava com mais calma, checou o relógio, tinha algum tempo até a hora prevista. Só mais uns três quarteirões e estaria lá, sem atrasos, como sempre. A cerca de vinte metros ela pôde ouvir uma jovem moça gritando em plenos pulmões, chamando atenção de várias pessoas para si, oferecia o jornal do dia.

- MANCHESTER CITY É O PRIMEIRO FINALISTA, SENHORAS E SENHORES! – ouviu a garota gritar, quando se aproximava dela. – LABORATÓRIO DE PESQUISAS DEMOGRÁFICAS É ARROMBADO.

A vendedora trotava de um lado para outro repetindo as palavras, exibindo as manchetes em meio à calçada. Deveria ter mais ou menos a sua idade, tinha os cabelos avermelhados lisos enrolados em um coque e presos sob um boné acinzentado no mesmo tom do restante de sua roupa, feita num tecido de flanela com aparência surrada que contrastava com sua expressão doce e com sua pele clara e fina.

- Hey, o Times, por favor? – pediu à vendedora, chegando-se ao seu lado. A moça dirigiu sua atenção a ela e lhe lançou um olhar de credulidade antes de retirar uma edição dos montes.

- Sim, senhorita. – retrucou entregando o jornal. – Manchester é finalista, vê? – acrescentou.

- Estou vendo. – afirmou tirando uma nota da bolsa e entregando à vendedora. – Não nos conhecemos antes? - observou a olhando intensamente enquanto esperava o troco.

- Não creio. Lembraria se conhecesse uma moça fina como a senhorita. – respondeu a menina entregando três moedas.

- Tem razão... Eu a confundi com alguém - Ela eu um sorriso simplório para a garota e recolheu as moedas. – Desculpe.

- Sem problemas, e obrigada.

Ela virou-se e continuou a andar ouvindo por alguns metros o grito da garota ruiva. Atravessou mais uma rua e chegou em uma pequena praça, já se encontrava na “região negra”, uma espécie de “Hell’s Kitchen” Londrina. Todos os bancos estavam ocupados, com exceção de um, onde apenas um homem de meia idade estava sentado, folheando o The Sun enquanto fumava um charuto. Ela assentou-se ao lado dele e começou a abrir o jornal que acabara de comprar fitando a matéria sobre arrombamento de um laboratório de pesquisas. Permaneceu naquela posição e a leitura seria capaz de distraí-la por horas, o jornal trouxa era bem interessante considerando-se o seu ponto de vista.

- Me parece que não há monstro nenhum no Lago Ness. – comentou o homem após alguns minutos.

- Me parece que só os trouxas acham isso. – respondeu a mulher. O rosto estava escondido pelo jornal aberto, mas ela pode notar pelo canto do olho que lábios do homem tremerem hesitantes e que a vendedora de jornal agora gritava na esquina mais próxima da praça.

- Venha. – disse o homem fechando o jornal e levantando-se.

Ela o seguiu. Atravessaram a rua passando pela vendedora de jornais adentrando em um beco exatamente atrás dela. O homem parou ao lado do que deveria ser a porta dos fundos de um antigo prédio onde várias caixas velhas estavam amontoadas e jogou seu charuto no chão. Ele olhou em volta certificando-se de que não era observado e retirou um pequeno frasco de dentro das vestes contendo um líquido avermelhado. A mulher tocou sutilmente a varinha em seu bolso lateral prontificando-se a retirá-la se necessário e olhou interessadamente para a ponta do beco. Ele retirou então um segundo frasco, ligeiramente maior que o anterior que continha um líquido negro, mostrou os dois na palma da mão.

- O dinheiro. – observou o homem.

- Teste.

Ele a contragosto abriu cuidadosamente o primeiro frasco e pingou cuidadosamente uma gota sobre um formigueiro próximo a uma das caixas. O líquido pareceu se transformar em gás ao tocar a superfície e as formigas instantaneamente pararam de se movimentar. Ele tampou o frasco e passou a mão para o próximo.

- Não é necessário, - interrompeu a moça retirando da bolsa uma sacolinha cheia de galeões de ouro o entregando e pegando os frascos em seguida.

Ela examinou os vidros e quando os guardava num movimento rápido puxou a varinha de dentro das vestes e a apontou diretamente para o peito do homem.

- Sr. Nalchios, considere-se preso. – disse com firmeza.

O homem se empalideceu e um músculo se contraiu abaixo do seu olho esquerdo.

- Por favor, coloque suas mãos à vista e vire de costas. – ordenou a mulher com calma.

Nalchios obedeceu a relutante, abrindo os braços. Ela o olhou imperativa, mas antes que ele pudesse se virar algo preto e peludo passou por entre os pés da mulher. Na fração de segundo que ela se desconcentrou e olhou para o chão para encarar o enorme rato que ali passava Nalchios abriu uma porta da qual estavam próximos e tacou-se para dentro. Na ponta do beco a vendedora de jornais atirou sua sacola de exemplares do chão e caminhou apreensiva para a outra. A morena bateu o pé no chão.

- Melou!! – gritou ela para a vendedora e depois acenou concluindo. – Porta da frente!! VAI!

- Mer-da! – protestou a ruiva correndo para contornar o prédio.

A mulher de boina chutou violentamente a porta pela qual Nalchios havia entrado e tacou-se para dentro, varinha erguida. Parecia ser um prédio residencial, ou pelo menos parecia ter sido algum dia. Ela correu pelos corredores imundos durante alguns minutos sem sinal do fugitivo. Eram longos e mal iluminados. Ela parou por um segundo após ouvir um barulho no cômodo seguinte. Caminhou devagar e se deparou com uma sala enorme. Várias mesas e cadeiras jaziam no que deveria ser um restaurante ou algo assim. UM vulto se movimentou rapidamente passando pela porta do outro lado. Ela seguiu sem hesitar se deparando com mais um corredor. Ao chegar no final desse esbarrou violentamente com a vendedora de jornais.

- Gina! – gritou a morena. – Quer me matar de susto!?

- Desculpe! Eu não te vi... – murmurou acenando para o lado esquerdo da moça. – Eu vou dar a volta, você sabe o que fazer.

Hermione entendeu e caminhou pelo lado indicado pela amiga ruiva. Esperou escondida atrás de uma parede quando começou a ouvir passos. Quase no exato momento que ela irrompeu pela porta apontando sua varinha, Gina Weasley fez o mesmo do outro lado da sala. Haviam encurralado Nalchios.

- Got ya! – comemorou Gina pelas costas de Nalchios.

- Ok, não tem mais nenhum animalzinho ardiloso pra te salvar aqui... Quero ver as mãos, AGORA! – gritou Hermione para o homem exausto na sua frente.

- Gostei do figurino parisiense romântica... – disse Gina com sarcasmo enquanto fazia um feitiço de amarramento em Nalchios.

- Mesmo? – retrucou Hermione sorrindo e analisando a própria roupa. – A nojentinha da butique me disse que essa é a mais nova tendência Outono-inverno!

- Você está cem por cento trouxa nessa roupa de patricinha de Marseille!

- Nossa... Prefiro a parisiense romântica... Mas você está ótima nesses trapos! Gostou do detalhe “Não nos conhecemos antes?” – perguntou a morena sorrindo.

- Ah adorei! O fato de você ter se tornado uma palhaça convicta tornou nossas horas de trabalho juntas menos árduas sabia? – zombou a ruiva.

- Eu sou perfeitamente ciente disto!

- Vocês duas são patéticas! – resmungou Nalchios do canto da sala. As duas se entreolharam indignadas.

- Nossa... E isso te torna o quê? – indagou Gina aterrorizada.

- Um ser inominável que conseguiu a “façanha” de ser pego por duas garotas patéticas! – respondeu Hermione gargalhando.

- Um ser inominável estuporado você quis dizer! – acrescentou Gina enfeitiçando o homem.

- Bem melhor assim...





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- Vocês foram ótimas!

- Obrigada Lupin... – agradeceu Hermione sentando-se de frente para seu ex-professor, Gina fez o mesmo.

- Não foi nada... – completou Gina, sem modéstia.

- Você esta brincando? Eu não pensava que Nalchios fosse pego por pelo menos uma semana! O pessoal lá de cima vinha me pressionando diariamente, tem idéia de como me sinto mais aliviado? Como eu poderia recompensá-las pela eficiência? – perguntou Lupin sorrindo com cortesia.

- Férias. – respondeu Gina retribuindo seu sorriso, Hermione reforçou acenando com a cabeça positivamente.

- Ah... Férias... – disse Lupin, sem sorrir. – Meninas, é claro que como todo funcionário devidamente contratado vocês tem direito a férias e eu de maneira nenhum privaria vocês desse descanso...

- Mas...? – interrompeu Hermione.

- Mas... – continuou o homem gentilmente. – Não acredito que esse seja o momento mais adequado para as duas se ausentarem...

- Nunca é! – retrucou Gina sorrindo.

- Gina e Hermione – começou Lupin se levantando e indo na direção do pequeno bar no escritório. - Vocês são sem dúvida as melhores espiãs que eu tenho comigo no momento...

- Lá vem bomba... – sussurrou Hermione para Gina, de modo que Lupin não a ouvisse.

-... vocês se formaram com louvor e desde então conseguiram grandes feitos para a nossa instituição. Então, com isso em mente eu tenho que dizer o quanto vocês são necessárias neste momento para nós. Mais do que nunca eu diria... – falou o homem servindo-se de conhaque.

- Alguma missão? – perguntou Gina.

- Sim... – respondeu com voz mais baixa que a habitual.

- E do que se trata? – ponderou Hermione cruzando os braços, Lupin tomou um gole lentamente e olhou de uma para outra.

- Vocês bebem alguma coisa? – disse finalmente buscando mais dois copos.

- Uma bomba das grandes querida... – murmurou Gina para Hermione.

- Não queremos nada Lupin, obrigada. – disse Hermione detendo o copo que Lupin a entregava - Você estava nos falando da missão...

- Ah... Na verdade, discutiremos esse assunto minuciosamente, - começou tomando mais um gole - , amanhã.

- Amanhã? – indagou Hermione incrédula. – Essa missão me pareceu um pouco urgente já que não pode esperar por nossas férias...

- Ela é muito urgente Hermione, por isso nos reuniremos amanhã. Reunião às dez, espero vocês, não se atrasem. – disse Lupin encerrando o assunto.

- Tudo bem então... Amanhã! – disse Gina solenemente se levantando.

- E não se esqueçam de logo mais. Tonks e eu contamos por vocês! – falou o homem sorrindo para as duas.

- Ah não perderíamos o aniversário do pequeno Huey por nada! – retrucou Hermione animada.

As duas saíram da sala ainda sob um olhar hesitante de Remus Lupin.

- Reunião amanhã?

- Também achei bem estranho Ginny... Conhecendo bem o Lupin ele teria nos mandado bolar estratégias durante a tarde inteira!

- Pode ter certeza que está vindo um abacaxi para nós duas... – disse a ruiva desanimada. – Aonde vai agora?

- Vou dar uma olhada na minha sala, deve estar uma zona depois de tantos dias fora...

- Vai estar exatamente como você deixou! O que teria acontecido, não havia ninguém lá se lembra? – disse a ruiva em tom zombeteiro contrariando Hermione.

- Mesmo assim. – retrucou simplesmente.

- Eu vou...

- Eu sei aonde você vai, não precisa explicar. Quando tiver em mãos a edição de “O que aconteceu nos últimos quinze dias: affairs e maldições” pode vim e me contar! – brincou a mulher dando uma piscadela e abrindo a porta ao seu lado com as seguintes inscrições grafadas em tom vermelho:

“HERMIONE GRANGER – AUROR”

Ela encarou a sala com as mãos apoiadas sobre a cintura e uma discreta expressão de satisfação no rosto. A sala estava sim, como Gina dissera, exatamente do jeito que ela havia deixado. Nada fora do lugar, uma organização impecável reinava no lugar. “Algumas coisas nunca mudam”, pensou. A sala era ampla e tinha uma bela “vista encantada” que naquela tarde estava, ao contrário dos dias anteriores, um pouco ensolarada. Trabalhava no quartel-general dos aurores há três anos em uma divisão ultra-secreta e que a cada dia a fascinava mais: a de espionagem. Era um trabalho árduo e perigoso, mas definitivamente ela estava certa de que não poderia ter feito escolha melhor. Ela respirou fundo com disposição e sentou diante de sua mesa. Pegou alguns pergaminhos, pena e começou a fazer um relatório sucinto de sua última missão. Tinha que se apressar, logo Gina chegaria com as últimas novidades e ela seguramente não conseguiria trabalhar. Terminou o mais rápido que pôde, mas apenas o tempo suficiente para Gina entrar desembestada batendo a porta.

- Bem na hora... – cantarolou Hermione.

- Murdoc e Haynes terminaram. – disse Gina com voz catastrófica, mas um relutante sorriso nos lábios.

- Não! – retrucou Hermione chocada.

- Sim...

- Impossível! Eles estavam bem há...

- Há quinze dias querida... Não estão mais... Não-estão!

- Que bom pra você... – provocou a morena sorrindo.

- O que está querendo insinuar? – indagou Gina falsamente ofendida.

- Nada... Nadinha mesmo... Porque não desfaz essa cara de colegial imaculada e me conta o que aconteceu com o romance deles?

Gina sorriu e narrou detalhadamente os fatos que culminaram na separação do casal vinte do quartel-general. Havia um interesse ímpar da ruiva nesse caso. Ela e Murdoc alimentavam um doce flerte desde que o homem havia sido transferido de Praga para Londres. Chegaram a jantar juntos algumas vezes, mas Haynes Binney havia sido mais rápida e fisgara o estrangeiro bonitão. Mesmo assim, Hermione pode reparar que Gina ainda estava sedenta pelo rapaz e ouviu várias vezes comentários do tipo “Ah, admita que os Tchecos tem um charme especial!” Quando tentava conscientizá-la que se tratava de um homem comprometido. Ela parou o seu relato após cerca de vinte minutos. Hermione agora arquivava uma infinidade de papéis em ficheiros na sua estante de mogno. Gina agora estava perigosamente calada o que não era comum quando ela deveria ter tantas notícias para narrar, e mesmo estando de costas sentiu uma certa tensão vindo da amiga.

- Eu soube que... – começou a ruiva hesitante. – As missões de Bangcoc foram bem sucedidas.

Ao ouvir a última frase Hermione reteve uma pilha de papéis nas mãos. Elas pareciam não querer se mover e sua respiração se tornou um pouco difícil. Sempre tinha uma reação similar a essa quando ouvia algo que pudesse estar relacionado de alguma forma a Harry Potter. Ela recompôs-se após alguns segundos e como Gina permanecia calada se pronunciou.

- Mesmo? Que bom.

- É... Muito bom mesmo... Isso foi, há alguns dias sabe, enquanto estávamos fora.

Começou a se preocupar com o modo que Gina abordava o assunto. Ela sempre era cuidadosa ao falar de Harry, mas alguma coisa fez Hermione achar não era apenas isso que ela pretendia lhe contar. Suas suspeitas se confirmaram quando ela continuou.

- Hermione... Eu soube de algo.

- E o que foi? – perguntou a mulher tentando parecer o mais natural possível.

- Foi que os aurores que estavam lá, em Bangcoc... Eles...

- O que houve Ginny? – indagou Hermione agora impaciente. Por um momento lhe ocorreu que algo de grave pudesse ter acontecido a Harry naquela missão. Ela encarou a amiga antes que pudesse pensar no que falaria – Ele está bem?

- Está sim, calma, não aconteceu nada a ele. – tranqüilizou a ruiva.

- Então o que diabos você quer me falar?

- É só que... Eles, os aurores que estavam lá sabe, - começou Gina hesitante, Hermione a olhou interrogativa. – Eles voltaram para Londres.

Hermione demorou alguns segundos para digerir o que acabara de ouvir. Refletiu se realmente estava escutando direito ou se era apenas a sua imaginação. Havia ouvido que Harry estava de volta a Londres? Sim, era isso. Definitivamente. Seu estado era de visível choque e nenhum músculo de seu corpo parecia querer se mover. Quem a visse não conseguiria notar reação alguma, mas o seu estado era de total abalo interior. Rever Harry após quatro anos? Não era nada que ela pudesse esperar, ou que ela estivesse preparada para enfrentar. Nos últimos anos havia tratado de repetir a si mesma todos os dias que nunca mais veria Harry Potter, que ele não fazia mais parte de sua vida e que nunca mais faria. Desejou intimamente que as coisas acontecessem assim. Mas agora, seu brilhante plano fora por água abaixo. Gina a olhava apreensiva, só então Hermione voltou a si e reparou que a amiga esperava alguma manifestação da parte dela.

- Como assim voltaram para Londres? – perguntou rapidamente. – Estão de férias? – continuou esperançosa

- Não creio... Pelo que eu sei, eles voltaram, sabe, definitivamente, ou pelo menos por tempo indeterminado. – respondeu a ruiva – Você está bem?

- Claro... – respondeu Hermione sem emoção. – Eles voltaram mesmo então. – afirmou Hermione, Gina assentiu. – Mas por quê? Foram chamados?

- Não foram, eles simplesmente decidiram voltar após a última missão. Resolveram trabalhar aqui.

- O que exatamente você quer dizer com aqui? Aqui nesta área da Europa ou aqui, bem aqui, onde nós estamos agora? – indagou Hermione gesticulando nervosamente.

- Bem... Eu suponho que, para se trabalhar nessa área da Europa, fazendo o que nós fazemos, só pode ser bem aqui onde nós estamos agora. Não concorda? – indagou Gina prendendo os dentes.

Hermione não podia acreditar que ela estava sendo irônica num momento delicado como aquele. Bastou olhar mais uma vez para a ruiva para ter certeza que era exatamente isso que ela estava fazendo.

- Que... Ótimo. – disse Hermione secamente, largando os ficheiros e voltando a sentar-se.

- Você tem algum problema com isso Srta. Granger? – indagou Gina visivelmente sarcástica. Hermione a olhou com cara de que dizia “Mas você não sabe?”.

- Não... Nenhum! – respondeu contrariando suas expressões. – Esse departamento é bem grande não é mesmo? Além do mais ainda temos o laboratório.

- Certo... Com essa última declaração, posso entender que você está bem? – perguntou atenciosamente se levantando e apoiando as mãos na mesa.

- Sim... Estou bem, não se preocupe. – respondeu Hermione tentando inutilmente parecer ocupada com alguns papéis.

- Ok... Te vejo no fim do expediente, podemos combinar uma farrinha pra logo mais... – concluiu Gina sacolejando os ombros ao sair da sala.

- Não podemos, lembra da festa do pequeno Huey?

- Isso não interfere em nada queridinha... – falou a ruiva apenas com a cabeça na porta de Hermione. – Eu me referia a depois das vinte e duas horas!

Ela saiu sem deixar que Hermione argumentasse algo. Na verdade ela não estava certa se teria como retorquir ou brincar de volta, sobre sua cabeça ainda pairava uma nuvem desagradável que carregava visivelmente a mensagem flutuante: “Harry Potter voltou”. Isso a perturbava muito. As coisas haviam mudado muito desde o tempo que estar com Harry seria a coisa mais natural do mundo. Este Harry que Hermione estava prestes a reencontrar nem de longe lembrava o que algum dia no passado fora seu melhor amigo e muito menos seu grande amor.

O Harry doce, sensível, cuidadoso que ela conhecera parecia ter simplesmente morrido junto com Voldemort dando lugar a um homem frio, calculista, vingativo, capaz de se encher de rancor e ser extremamente agressivo com as pessoas próximas. Um homem que fora incapaz de retribuir o amor que ela lhe oferecia, que não lhe deixou alternativa a não ser esquecê-lo... Um homem que lhe proporcionou os melhores e os piores momentos da sua vida, que lhe fez sentir o pós-máximo em amor e ódio, prazer e dor. Seria duro encará-lo de frente agora, justamente quando já se considerava bem e recuperada. Respirou fundo tomando coragem. Enfrentaria tudo de cabeça erguida, também não era mais a adolescente apaixonada que Harry conhecera. Era uma mulher decidida, madura e bem capaz de se defender sozinha.

“Isso não é nada... Não vou me abalar... Não mais...”





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“And all I can taste is this moment

And all I can breathe is your life

'Cause sooner or later it's over

I just don't want to miss you tonight



And I don't want the world to see me

'Cause I don't think that they'd understand

When everything's made to be broken

I just want you to know who I am”

Goo Goo Dolls – Iris




Harry James Potter abria cuidadosamente a porta familiar na sua frente. Depois de quase quatro anos lá estava ele, de volta ao seu aconchegante apartamento em Londres. Há duas semanas estava na cidade, mas hospedado em um hotel, enquanto uma faxina necessária era feita no seu lar. Ele observou a ampla sala atentamente antes de entrar por total no local. Estava tinindo, o serviço de limpeza realmente havia sido eficiente, todos seus objetos pareciam estar exatamente como ele havia deixado. “É claro...”, disse uma vozinha nada tímida em sua mente “Não havia ninguém aqui para remexê-los”.

Ele atravessou o cômodo passando por um corredor e finalmente chegando ao que costumava ser...

“Seu quarto?”

“Poderá ser Nosso quarto”, corrigiu ele.

“Você sabe o que eu quis dizer mocinho...”

“E você bem sabe o meu objetivo dizendo isso mocinha...”

Ele a beijou apaixonadamente por longos minutos.

“Eu juro que não te entendo às vezes, Harry Potter”.

“Você não precisa entender nada. Você só precisa saber, o que eu sinto”.

“Mas eu não sei, pelo menos não o tempo todo”.

“Porque nós, simplesmente não ficamos juntos?”.

“Não há um dia sequer na minha vida que eu não me pergunte isso”.

“Você tem interesse por outra pessoa”?

“Se você está falando do Rony, você já deveria saber que a resposta para essa pergunta é não”.

“Desculpe.”

“Por que você não me diz se tem interesse em outra pessoa”?

“Sabe que não”.

Ele a abraçou.

“Por que você não é sempre assim gentil e carinhoso com as pessoas?” – indagou ela acariciando sua face macia. Ele a olhou com uma expressão severa.

“Porque nem sempre a vida a gentil conosco Hermione” – respondeu secamente se dirigindo para a janela.

“Você se esforça para ser indelicado com as pessoas Harry. Você não é assim, eu sei disso...” – afirmou Hermione com voz trêmula. Ela se aproximou e encostou a mão no ombro dele.

“Não você não sabe. Sinto muito se isso se isso fere seus nobres sentimentos, mas eu sou assim”.– retrucou ele com a voz mais fria que se julgava capaz de fazer. Ele retirou brutalmente a mão dela pousada sobre seu ombro.

Hermione não tentou se aproximar. Por alguns segundos Harry pensou tê-la ouvido chorar. Ficou imóvel, preso por sua trava de proteção. Só saiu da janela ao ouvir a porta da frente bater. Ela não estava mais ali.

Lá estava ele, parado na porta, assistindo àquela cena. Assim como antes ela não estava mais ali. Em um certo dia ela havia se cansado e não voltara após bater a porta. Harry achou que ela nunca faria aquilo de verdade, estava enganado. Na verdade se enganou duas vezes. A segunda foi por achar que seu estado emocional não poderia piorar. Sem Hermione, ele ficou totalmente dilacerado. Foi tomado por um misto de ódio, por ela ter simplesmente o abandonado, e arrependimento, pelo seu comportamento tão infantil durante todo o relacionamento, se é que poderia ser considerado um relacionamento. Ela não teve paciência suficiente para entender o que ele realmente estava sentindo. Harry também não se esforçou para explicar. No fim aquele quarto nunca se tornou deles. Independentemente disso tinha que aceitar o fim, o que fez com que o ódio e o arrependimento fossem substituídos por uma angústia e solidão.

A combinação perfeita para fazer com que ele terminasse o curso de aurores em uma escola diferente da dela e principalmente motivá-lo a aceitar o trabalho de espião em outro continente. Achou que era a escolha certa. E realmente fora por algum tempo. Pelo menos no trabalho ele havia conseguido ser razoavelmente brilhante. Apesar disso algo lhe dizia que era a hora de voltar, aquele não era o seu lugar. Queria sentir-se em casa novamente. Encarou com minúcia sua imagem que agora estava refletida no enorme espelho sobre a cômoda. Nem mil aos poderiam amenizar o aspecto indomável de seu cabelo, que estava maior, mas ainda deixando o pescoço à vista, num corte desfiado. Sua face antes limpa agora tinha uma escassa barba, não por descaso, por opção. Havia crescido, sua expressão era de um homem com experiência demais para pouca idade. Não podia negar que encontrar certas pessoas nessa altura do campeonato poderia piorar radicalmente seu humor. Repetia mentalmente para si mesmo que havia passado, que não se importava. Por que se importaria com alguém que o desprezou no momento mais solitário de sua vida, em que só precisava de compreensão e companhia. Não se importava. Não poderia se importar e definitivamente, não deveria.

“Pare de pensar nisso Harry... Você tem uma festa para ir...”





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No próximo capítulo...


Hermione e Gina estão produzidíssimas para a noite de quinta-feira, mas elas não são as únicas, e o que tinha tudo para ser uma simples e agradável festa infantil com os colegas de trabalho acaba se tornando um “inoportuno” reencontro.

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