O Cartão chinês



Harry guardou o envelope e deixou para ler no Salão Comunal. A essa hora não teria ninguém acordado.
Realmente, quando chegaram, Harry sentou em uma poltrona perto da lareira e começou a ler.

Caro Harry,
Veja como a China é um país encantador. Os bruxos chineses são ótimos em enigmas, e fazem isso especialmente em seus testamentos. Assim, dizem eles, haverá diversão para os que ficarem. Eles vão brincar de caça-ao-tesouro. Mas vamos ao que importa, aquele nosso assunto. Eu não consegui descobrir nada além daquilo que você já sabe. Então nos resta apenas 4 peças no quebra-cabeça. Eu sugiro que você comece procurando no castelo, Harry. Eu não acredito que Voldemort tenha enviado inúmeros espiões para atacar você ou a mim. Ele queria outra coisa, que está guardada aqui dentro.

Agora eu devo ir para a Grécia, ou para Porto Rico. Mando um cartão quando chegar.

Não havia assinatura, e o cartão não havia ajudado em nada. Ele guardou-o desanimado e deitou-se para dormir.
Quando Neville o chamou para tomar café, ele sentiu que tinha acabo de adormecer, tamanho foi seu cansaço na noite anterior. Trocou de roupa e desceu ao lado do colega.
_Ahn... Harry, posso te perguntar uma coisa? – falou o jovem rapaz.
_ Claro, Neville!
_ Onde você e a Hermione foram ontem a noite?
_ Como assim?
_ Eu vi quando você se levantou e vestiu aquela sua capa. Depois Hermione entrou embaixo dela e vocês sumiram.
_ Nós fomos... fomos ver o Rony, é isso. – mentiu Harry.
Neville parou de andar e olhou para ele com uma cara engraçada.
_ Eu não idiota, Harry. Fui até a enfermaria e vocês não estavam lá.
_ O quê? Você anda seguindo a gente?
_ Não se pode seguir uma pessoa que a gente não vê, Harry. Eu imaginei que era isso que tinham ido fazer e fui até lá. Mas não vi vocês. Cheguei até a cama do Weasley e procurei vocês. Mas não havia ninguém lá.
_ Como você foi até lá sem ser pego pelo Filch?
_ Não mude de assunto, ta?
Harry reparou que Neville parecia um pouco alterado. Resolveu dizer a verdade, ou melhor, parte da verdade.
_ Está bem, Neville. Eu lhe conto. Acontece que eu ganhei um livro de herança de meu avô e não consigo ler o livro sozinho, porque tem coisas escritas em rúnico e só a Hermione sabe runas aqui. Então eu pedi que ela me ajudasse, e a gente foi até a biblioteca para estudar.
Neville ainda olhou desconfiado, mas resolveu dar o assunto por encerrado. Continuou andando em direção ao salão principal. De repente, virou –se para ele e disse:
_ Permissão especial. Eu tenho permissão especial para ir até a enfermaria sempre que quiser. Peguei uma infecção nas férias e a Madame Pomfrey está me ajudando. E não se preocupe. Eu sei guardar segredo.
Potter ainda ficou um tempo sem entender a atitude de Neville, mas tinha outras coisas mais importantes para pensar. Todas as revelações sobre sua família. Ao que tudo indica, o dom para entrar em guerras e confusão estava no seu sangue.
E ainda tinha aquele estúpido bilhete deixado por Dumbledore.
Harry encontrou-se com Gina e Hermione para o café da manhã. Hermione parecia eufórica.
_ Rony deve sair da enfermaria a qualquer momento. Eu pedi dispensa à professora Sprout do último horário para buscá-lo.
_ E ela deixou? – quis saber a irmã de Ron.
_ Deixou. Ela disse que eu estou mais adiantada que o resto da turma e mesmo que eu faltasse um mês ninguém me alcançaria.
Harry tentou puxar assunto com Gina, mas ela parecia distante. Quando eles deixaram o salão principal, ele segurou a namorada pelo braço e falou:
_ Vamos mais devagar.
Quando eles se distanciaram do resto da turma, ele perguntou:
_ O que está acontecendo?
_ Nada, por quê?
_ Porque você está distante. Quase não fala comigo, não me olha...
_ Foi você quem pediu pra gente não dar bandeira. Eu to fazendo força pra não te agarrar aqui, na frente de todo mundo. Mas é para o nosso bem!
_ Ta, mas não precisa fazer isso quando estivermos sozinhos.
_ Harry, até hoje a gente não ficou sozinho!
O garoto percebeu que ela dizia a verdade. Desde que chegara ele só tivera tempo para o livro de sua família e outras coisas. E nenhuma delas envolvia Gina.
_ Certo, então vamos fazer o seguinte, vamos nos encontrar hoje, depois da minha aula de História da Magia Avançada. No Salão Comunal. Está bom, pra você?
_ Para mim, está ótimo! Só preciso desmarcar a partida de xadrez bruxo com o Neville. Coitado, ele está muito doente.
_ É, ele me contou que pegou uma infecção, né?
_ É, parece que comeu qualquer porcaria na viagem.
A conversa prosseguiu mais um pouco e os dois se separaram para as aulas.
Na hora do almoço, Hermione apareceu no salão com Rony.
_ E aí, cara? Como você está? – perguntou Harry, puxando uma cadeira para ele se sentar.
_ To ótimo! Não sei o que aconteceu. A madame Pomfrey disse que o professor Firenze vai conversar comigo depois. Mas, você estava do meu lado. O que eu fiz?
Harry não sabia se podia contar ao amigo. Eles nunca esconderam nada um do outro. Então, sem entrar em detalhes, disse que ele teve um contato astral e desmaiou. Mas que era melhor perguntar ao professor.
A tarde correu tranqüila. No intervalo antes do jantar os alunos estavam reunidos no Salão Comunal e Harry observou Gina e Neville conversando. Na certa, sua namorada avisava o rapaz que não poderia jogar xadrez com ele. Pela cara de Neville passou um ar de descontentamento e Harry teve uma desconfiança. Será que o menino gostava de sua namorada?
O ciúme estrangulou o coração de Harry, mas ele sabia que Gina gostava dele. Não tinha porque sentir ciúmes.
Então, viu Neville tirar alguma coisa do bolso e entregar a Gina. Ele não se conteve. Levantou da poltrona e foi tirar satisfações.
_ Olá... posso saber o que está acontecendo aqui? – falou emburrado.
_ Ah, oi Harry – respondeu Neville – eu estava contando a Gina sobre a minha viagem. Trouxe até um presente para ela.
_ Um presente? Nossa, que gentil! – retrucou irônico.
_ É, na verdade eu trouxe uma caixa comigo e ela disse que queria ver um, então eu peguei e trouxe para ela. Você quer um também?
A simplicidade de Neville desconcertou Harry.
_ Um o quê? – perguntou, mais manso.
_ Um biscoito da sorte. É muito legal, você quebra o biscoito e lê a mensagem que vem dentro. É lá da China.
A palavra China fez Harry ficar branco. Será que... Seria possível que... Mas era a única explicação! E ele já ia pegar o cartão de Dumbledore, quando Hermione o chamou para irem a aula de História da Magia Avançada.
Ele, Mione e Rony chegaram à sala reservada para a matéria. No entanto, assim que todos estavam em seus lugares, a Prof. Goldrisch pediu que se levantassem e a seguissem. Os alunos saíram do castelo e na porta encontraram com Hagrid. Ele estava com uma tocha acesa na mão.
_ Tudo pronto, professora. – disse o gigante.
_ Ótimo, Hagrid – respondeu ela sorrindo. Vamos meninos, temos ainda uns 15 minutos de caminhada.
Eles entraram na Floresta Proibida guiados pelo guarda-caças e seu fiel Canino. Logo chegaram a uma caverna. Era limpa, tinha uma almofada no chão para cada aluno. No centro uma fogueira iluminava tudo. Havia pinturas nas paredes, potes de barro, galhos de ervas amarrados com um cipó bem fino.
A professora pediu que se sentassem. E começou a aula.
_ Aqui vocês se sentirão mais familiarizados com a matéria, pois era assim que, antigamente, nossos antepassados viviam.
“Não se sabe ao certo como surgiu o sangue bruxo. A verdade é que muitos acreditam que não haja separação entre bruxos e trouxas. Apenas uma diferença de habilidades. Assim como uns sabem dançar bem e outros se identificam mais com ciência. Bruxos e trouxas são todos da mesma família”.
“A separação aconteceu há quase 10 mil anos. Quando um ser não mágico acusou uma bruxa de praticar o mal...”
A professora continuou sua aula, e contou as mesmas coisas que Harry já sabia. Ele prestou atenção durante algum tempo, mas vendo que não havia nenhum detalhe a mais, resolveu se concentrar no problema do biscoito da sorte. Depois da aula ele iria até a sala de Dumbledore estudar o caso do cartão. Mas havia Gina. Ele não poderia desmarcar o compromisso com a namorada.
_ E é isso, pessoal. Como vocês puderam ver hoje, grande parte dos nossos problemas são frutos da falta de confiança.
A professora havia encerrado a aula. Aquela última frase foi dita olhando para ele. Ele sentiu isso. Ela respondera a sua dúvida. Como? Não tinha importância. Agora ele sabia o que devia fazer.
Os alunos começaram a voltar para o castelo. Rony comentava com Hermione sobre o conteúdo da aula. Era a mesma coisa. Eles queriam debater o assunto com Harry, mas o rapaz não lhes deu ouvidos.
Ele precisava fazer uma coisa. Aquela noite. Estava decidido.
Voltou a torre da Grifinória, entrou em seu dormitório, pegou a capa da invisibilidade, o colar de Andriax, o livro de família e o cartão de Dumbledore, colocou tudo na mochila e foi se encontrar com Gina.
Os dois namorados sentaram de mãos dadas e ficaram conversando. Invejavam a liberdade de Rony e Hermione, que podiam contar a todos sobre seu namoro. E assim, as horas se passaram e os alunos começaram a ir deitar.
Gina ia se despedir quando Harry pediu:
_ Fica um pouco mais. Quero te levar em um lugar... especial!
Ela assentiu com a cabeça e quando restaram apenas os dois casais, Harry esperou que Rony e Hermione se beijassem, tirou a capa da mochila e lançou sobre os dois.
_ Fica tranqüila, eles nem vão reparar na nossa ausência.
A garota sorriu e se deixou conduzir. Chegaram até a gárgula, que abriu passagem e deixou que eles subissem.
Quando entraram a garota ficou encantada. Havia estado ali poucas vezes.
_ É a sala de Dumbledore. Mas como? E a nova diretora?
_ Ela decidiu que essa sala ficaria assim. E ficou com outra sala no castelo. Dumbledore me deixou a sala, em uma carta. Eu posso usá-la como quiser.
Vendo o olhar de admiração da namorada para cada pequeno objeto daquele lugar Harry se arrependeu de não tê-la levado ali antes. Era como se pelo menos alguém venerasse o diretor tanto quanto ele.
_ Venha, Gina. Sente-se aqui comigo. Você precisa saber de muitas coisas.
E Harry começou a contar tudo para sua namorada. Desde os tempos na casa dos Dursley, as humilhações, os aniversários perdidos, a tentativa de impedi-lo de ir para Hogwarts. Depois, o primeiro confronto com Voldemort, o segundo ano na escola, quando a conheceu e a salvou dele, o terceiro ano, quando descobriu que não estava sozinho, que tinha seu padrinho. Falou também do quarto ano, da paixão por Cho, da sensação de ver Cedrico sendo assassinado, sem poder fazer nada. Do quanto foi divertido viver no Largo Grimmauld, do quanto a achou bonita, independente. Da perda do padrinho. De como descobriu que gostava dela. Falou sobre os horcruxes e sobre a morte de Dumbledore. Por fim, falou sobre os últimos acontecimentos, a herança, o livro e lhe mostrou a jóia. Também falou do ciúme que sentiu de Neville.
A garota apenas ouvia tudo calada, nem a menção ao nome de Cho a fez expressar qualquer sentimento. Ao final da narrativa, ela deu um beijo apaixonado em Harry, puxou o garoto e o fez deitar em seu colo.
Aquela sensação era nova para ele. Nunca pode deitar no colo de alguém, ficar aconchegado. Ela fazia carinho em seus cabelos enquanto ele olhava em seus olhos. Por fim, ela disse:
_ Agora não tem mais jeito. Eu faço parte da sua vida, Harry Potter. E estou muito feliz com isso.
Quando eles decidiram voltar para torre da Grifinória já estava quase amanhecendo. Eles entraram pelo buraco do retrato e encontraram Rony e Hermione cochilando no Salão Comunal. Eles tiraram a capa e Harry cutucou o amigo para irem para o quarto. Quando este acordou quase bateu em Harry.
_ O que pensam que estão fazendo? Isso são horas? Harry, você... Eu não acredito, vou escrever para mamãe, Gina. Ela vai saber o que vocês fizeram. – disse ele exasperado.
_ O que nós fizemos? Você quer saber o que nós fizemos, Rony? Eu conto. – provocou a irmã.
_ Não, eu não quero saber. Já é embaraçoso demais ver vocês se beijando, ter que ouvir o que vocês fizeram vai ser horrível.
_ Escuta, eu e Harry só fizemos o que vocês três fazem desde que se conheceram.
Rony levantou a cabeça e olhou sem entender para Harry.
_ Isso mesmo, Ron, nós apenas conversamos. Eu contei tudo a Gina. Desde o começo.
Rony não sabia se ficava aliviado ou preocupado da irmã saber.
_ Escuta, eu amo a sua irmã, está bem? Por isso resolvi que era hora de dividir a minha vida com ela. Só aí ela poderia decidir se vale a pena ficar comigo ou não. Todo mundo sabe que não é fácil conviver comigo, mas ela só sabia de um terço de toda história. – explicou Harry.
_ Ah, menos mal, então... eu vou dormir. Noite Gina, noite Harry, beijo Mione.
Eles dormiram um pouco e logo estavam de pé para o café da manhã. Gina parecia muito mais carinhosa com Harry, mesmo que não estivesse ao seu lado. E Rony ainda parecia muito desconfiado.
Assim que se viu sozinho com o amigo, perguntou:
_ Ei cara, sobre ontem a noite... Vocês só conversaram mesmo?
_ Só, ou você acha que eu consigo contar a minha vida em cinco minutos? – respondeu Harry divertido com a insegurança de seu “cunhado”.
Rony riu.
_ É verdade, cara. Você tem razão!
_ Ah, Rony, você se incomodaria de matar aula comigo hoje? – perguntou Harry pouco antes de chegarem a sala de Poções.
_ Eu? Ficar incomodado em matar aula? Cara, eu não sou a Mione! Pra falar a verdade eu estou com muito sono. Se eu colocar alguma coisa no caldeirão tenho certeza que vai explodir. O que você quer fazer?
Harry explicou sua teoria sobre o biscoito ao amigo e os dois correram para a antiga diretoria. Já lá dentro, Harry pegou o cartão e o rasgou.
A princípio nada aconteceu e Harry achou que ia levar bronca da diretora por nada. Mas quando olhou de novo os pedaços do cartão estavam se reorganizando e havia outra coisa escrita neles.

Potter,

Quando eu lhe pedi que continuasse procurando no castelo dei uma pista falsa, caso esse cartão chegasse às mãos de pessoas erradas. Agora, preste atenção. Você já sabe como um horcruxe é feito. Então lembre-se que todos os horcruxes estão diretamente ligados a uma morte. Tom não matou ninguém dentro do colégio. A murta foi morta pelo basilisco e naquela época ele ainda não tinha conhecimento da magia horcruxe. Todos os horcruxes são peças as quais ele teve acesso fora da escola. A minha idéia é ter acesso aos arquivos do Ministério que trazem os nomes dos bruxos mortos diretamente por Tom. Procure Percy, ele está instruído a te ajudar.
E não se esqueça de vir aqui, ainda tenho mais quatro cartões para você.

Ass: Feijãozinho.

Harry e Rony riram da assinatura, era algo bem típico do diretor. Harry tirou a varinha e incendiou o bilhete. Não seria bom deixar aquilo dando sopa.
Quando saíam da sala Rony comentou com o amigo:
_ Então é isso! Papai sabia o tempo todo sobre o serviço de Percy e precisava fingir um rompimento com ele, para que ninguém o descobrisse.
_ Mas Percy fingiu muito bem! Até eu fiquei com raiva dele.
_ O presente que Gui e Fleur receberam. Não tinha cartão. Aposto que foi ele quem mandou. Tinha a cara dele.
_ O que era? – quis saber Harry.
_ Um relógio, igual ao da mamãe.
Harry riu. Aquilo realmente era coisa de Percy, tão afeito a normas e horários. Os dois encontraram as garotas na hora do almoço e só não levaram uma bronca de Hermione quando contaram o que estava fazendo.
_ Sabe, Mione, acho que o amor está lhe fazendo bem. Você ficou muito mais relaxada agora – zombou Harry.
_ Ah, vê se não enche – respondeu a amiga com o rosto corado.

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